sábado, 12 de junho de 2010

PORTUGAL, A CEE E O DIA DOS NAMORADOS



Passou um quarto de século desde que Portugal aderiu à CEE, que depois veio a tornar-se Comunidade Europeia.
Pelo caminho caiu o E, de Económica, supostamente porque a Comunidade passaria a ter um âmbito mais abrangente, o que veio a suceder, embora ainda haja quem critique o facto de, face à inexistência de uma visão económica comum e aproveitando o primado da política, se ter entregue ao tempo a resolução das contradições existentes.
O certo é que o C acabaria por dar lugar ao U e a Comunidade passou a designar-se União Europeia...
Curiosamente, neste mesmo dia, no Brasil, celebra-se o dia dos namorados, que também já foi comemorado nesta data em Portugal, mas acabaria por ser transferido para o dia 14 de Fevereiro. Deve ter sido para ficar mais próximo do Carnaval, digo eu, que esta coisa de namorar pede é muita festa e boa disposição.
Ora sucede que foi há 25 anos que Portugal pôs fim a um longo período de namoro com a CEE, culminando num ansiado matrimónio. Ansiado, da nossa parte, claro está, porque esta coisa de os ricos admitirem os pobrezinhos no seu seio tem sempre muito que se lhe diga...
Mas concentremo-nos no matrimónio, cujo aniversário hoje celebramos.
O noivo, pobre, embora honrado e com antepassados gloriosos, acabara por cair na penúria, perdidas as ricas propriedades e fontes de rendimento que possuía no estrangeiro...
Ela, de boas famílias, da melhor estirpe europeia, acumulava fortuna proveniente das mais diversas origens, passeando a sua riqueza e influência pelos melhores salões mundiais.
Não foi um namoro fácil, até porque os pais da noiva insistiam em colocar o noivo em pé de igualdade com um fidalgo espanhol, rico e poderoso, que também manifestara a pretensão de integrar a família, o que acabaria por acontecer.
Mas lá casaram, jurando amor e fidelidade, apesar dos insistentes rumores sobre a instabilidade emocional da noiva, mais propensa a venalidades do que ás razões do coração...
Os pais da noiva, fazendo jus ao ditado popular de que "mais vale prevenir do que remediar", insistiram num casamento com separação total de bens, como veio a suceder, alegando que o generoso dote da sua filha era mais do que suficiente para garantir uma desafogada vida em comum e que o noivo, se quisesse chegar ao seu nível, teria que fazer pela vida.
Tudo corria ás mil maravilhas, no início, como é frequente nos casamentos, com a mulher a presentear, generosamente, o marido e a facilitar-lhe a ascensão social.
Um fundosinho perdido aqui, um subsidiosinho acolá, tudo na maior das harmonias e a bem da felicidade do casal.
O marido, por sua vez, vivia encantado, desfrutando do convívio da melhor sociedade da época e trajando as melhores indumentárias, graças à generosa contribuição do dote da mulher, pouco fazendo para aumentar os seus rendimentos.
Só que, como tantas vezes sucede nos casamentos, ultrapassado o encantamento inicial, começaram a vir ao de cima as dificuldades da vida em comum, passando cada um dos membros do casal a detectar, no outro, defeitos até aí desconhecidos, ou simplesmente ignorados.
Nos casamentos comuns, é a questão da pasta de dentes, que ele aperta no lugar errado, da tampa da sanita, que ele nunca levanta antes de urinar, daquele ronco nocturno, que antes lembrava a Ode à Alegria, da 9ª sinfonia de Beethoven, e depois se tornou num insuportável grunhido, a ponto de obrigar a esposa a dormir na sala.
Já nas uniões que envolvem as elites, como foi o caso, é frequente serem os gastos excessivos, o incumprimento das regras de etiqueta, o acentuar das diferenças de educação, ou as infidelidades, a estarem na origem das primeiras brigas.
O resto é coisa de pobre...
Claro que toda a regra tem excepção, mas afirmam amigos íntimos que, a partir dos finais da década de 90, a esposa começou a dar-se a intimidades com um primo americano, um liberal com grande ascendente sobre o seu agregado familiar, ao mesmo tempo que agraciava com alguns favores uns fidalgos, de origem prussiana, acabados de entrar na família.
O agregado familiar da esposa, entretanto, engrandecia e enriquecia a olhos vistos, beneficiando do derrube dos muros existentes nas suas propriedades, acelerando a globalização dos seus negócios.
Mas não paravam de chamar a atenção da esposa para os gastos excessivos do marido, lembrando-lhe que não estavam dispostos a sustentar os seus devaneios, até porque os pequenos negócios de que ele era proprietário não tinham nenhum valor estratégico para eles.
Só que o marido já se habituara a um nível de vida que não dispensava a generosa contribuição da mulher e nem o exemplo de humildade vindo de um extravagante cunhado grego, a quem foi imposto que passasse a viver de acordo com seu o rendimento familiar, o convencia de que iria ter que mudar de rumo.
Tanto mais que os filhos do casal se haviam habituado a receber, do pai, generosas mesadas e apesar dos seus frequentes pedidos de contenção teimavam em insistir na tecla dos direitos adquiridos...
A coisa complicou-se muito e conta quem esteve presente nos últimos jantares de família, oferecidos pelos pais da noiva, que tem sido frequentemente aflorada a questão de um possível divórcio, ainda que em surdina, que todos desejam evitar.
Mas não deixa de ser sintomático que a mulher tenha impedido o marido de passar cheques, sem obter a sua prévia aprovação, e exigido controlar o orçamento familiar. Tudo numa tentativa para salvar o casamento.
E com o recente agravamento das tensões entre os ramos francês e alemão da família, o primeiro com maiores afinidades com o marido e um dos grandes patrocinadores do casamento, existem razões para que se tema pelo futuro da união e pela coesão da família da noiva, cuja desagregação só poderia conduzir a uma tragédia de enormes proporções...
O certo é que já passaram 25 anos e as Bodas de Prata, mesmo de um casamento em perigo, são sempre motivo de celebração. Mas que a união já viveu melhores dias, disso não restam dúvidas.
E como "enquanto o pau vai e vem,folgam as costas", a família do noivo vai aproveitando para festejar os santos populares, talvez confiando que Santo António, o santo casamenteiro, se encarregará de fazer o milagre de manter a União...

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