quinta-feira, 10 de junho de 2010

LEMBRANDO HOMERO, A PROPÓSITO DA DAS COMUNIDADES EMIGRANTES...



Hoje celebra-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
A avaliar pelas notícias recentes, não haverá muito para celebrar, no que diz respeito à situação que o País atravessa, com o Presidente da República a reconhecer que Portugal chegou a uma "situação insustentável", apelando ao sentido de responsabilidade dos nossos políticos...
Relativamente a Camões, talvez que a melhor forma de o celebrarmos fosse darmos a conhecer os "Os Lusíadas" aos nossos jovens, mas parece que se tornou possível chegar ao 12º ano de escolaridade sem que os alunos tenham, sequer, tomado contacto com a sua obra, na disciplina de Português. Originalidades do nosso sistema educativo...
Já quanto ás Comunidades Portuguesas, este dia celebra-se, em regra, no domingo mais próximo desta data, já que nos países onde trabalham o 10 de Junho não é um dia feriado, a não ser para os funcionários dos nossos Consulados e Embaixadas.
Os nossos emigrantes celebram, normalmente, o dia que lhes é dedicado a trabalhar, que é aquilo que melhor sabem fazer...
Talvez antecipando que o dia pudesse estar bom para a praia, a sessão solene das comemorações teve lugar em Faro, onde as sardinhas costumam ser melhores e a amenidade do clima contribui para fazer esquecer, momentaneamente, o ambiente depressivo em que o País se encontra mergulhado, face a uma clara prevalência do que a política tem de pior sobre o interesse nacional.
Mas esqueçamos isso, que o dia é de festa...
Do conjunto de notícias que mereceram destaque, na comunicação social, retive a contribuição dos imigrantes para o crescimento da população residente, em Portugal, no ano de 2009, já que as mortes superaram os nascimentos, tal como já havia sucedido em 2007.
Emigração, Imigração, duas faces de uma mesma realidade, sendo a diferença que os segundos procuram obter, em Portugal, as condições que nós pugnamos para que sejam concedidas aos primeiros, nos respectivos países de acolhimento. Só que os primeiros são "dos nossos" e os segundos são estrangeiros...
E neste dia em que se comemora Camões, nada melhor do que recorrer a uma passagem de "A Odisseia", escrita pelo poeta grego Homero, para ilustrar o nosso dever de comportamento para com os estrangeiros, nossos imigrantes. Aliás, uma obra que alguns admitem ter servido de inspiração ao nosso Camões, para escrever a epopeia que o imortalizou.
Ulisses, rei de Ítaca e figura central do poema de Homero, abandonara "a ilha do clima suave", tal como suave é o clima deste nosso pequeno mas lindo País, forçado a participar na guerra de Tróia, do mesmo modo como os nossos emigrantes se viram forçados a abandonar Portugal, para participarem nessa "guerra" que é a procura da melhoria das condições de vida, de quem nasce pobre, num país estrangeiro.
Finda a guerra e de regresso a casa, Ulisses perdeu-se da frota e passou dez anos de provações antes de conseguir regressar a casa, as mesmas provações por que passa quem tem de abandonar o seu país natal, em busca de melhores condições de vida.
Durante a viagem, sobrevivendo ao naufrágio provocado por uma tempestade desencadeada por Neptuno, deus do mar, Ulisses deu consigo em Córcira, a ilha dos Feácios, acabando por ser encontrado pela princesa Nausica, filha do generoso rei Alcino e da rainha Arete.
Ao descobrir Ulisses e vendo que era estrangeiro, a bela Nausica gritou às suas aias e companheiras, que entretanto haviam fugido com o susto:
"(...)Temos de cuidar dele com solicitude e carinho, pois todos os estrangeiros e todos os pobres são enviados dos deuses; o pouco que se lhes dá, vale de muito, faz-lhes muito bem, e sabem-no agradecer(...)".
Assim sucede, também, com as nossas comunidades emigrantes e imigrantes, estas igualmente nossas, apesar de compostas por estrangeiros.
Neste Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, tenhamos presentes as sábias palavras que Homero colocou na boca da princesa Nausica e aproveitemos, também, esta ocasião para prestarmos uma justa homenagem às comunidades imigrantes no nosso País.
Será, apenas, uma outra forma, embora não menos importante, de honrarmos Portugal, Camões e as Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo.

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