segunda-feira, 28 de junho de 2010

ARBITRAGEM: A QUEM APROVEITA O ERRO ?



O meu falecido pai, antigo árbitro de futebol, não acharia muita graça a este meu artigo e muito menos ao "cartoon" escolhido para o ilustrar.
Em minha casa, quando se discutiam erros de arbitragem, o meu pai sempre os justificou com as dificuldades inerentes à aplicação das leis do jogo e quaisquer sugestões, da nossa parte, no sentido da deliberada perversão da verdade desportiva, eram severa e prontamente rejeitadas.
Seguramente que esse terá sido o motivo para eu recusar, desde muito jovem, associar os erros de arbitragem a possíveis casos de corrupção, sendo certo que, nas últimas décadas, com a transformação do futebol numa das principais indústrias mundiais e os escândalos que se foram conhecendo, por esse mundo fora, a minha confiança na imparcialidade dos árbitros viria a ser, seriamente, abalada.
A confiança nos árbitros e nas instituições que tutelam o futebol, porquanto ao avolumar dos erros, quotidianamente expostos nos meios de comunicação social, não têm correspondido iniciativas, sérias, no sentido de os minimizar, ou evitar.
Sendo o golo o principal objectivo a atingir, durante o jogo, e havendo tecnologia disponível para certificar, sem margem para dúvidas, se a bola ultrapassa, ou não, totalmente, a linha de baliza, que motivos levarão a FIFA a impedir a sua utilização?
E se os árbitros são os principais atingidos por erros que, sendo humanos, são facilmente evitáveis, porque motivo não vêm a público exigir a aplicação dessas tecnologias, até para defesa da sua honorabilidade?
E quando existe tanto dinheiro em jogo, porque não assumem os Clubes e as Federações uma posição mais veemente, face às organizações que gerem o futebol, no sentido da utilização das tecnologias que impeçam os erros de arbitragem grosseiros?
Lembro-me de um amigo, infelizmente falecido, já lá vão alguns anos, a propósito de uma conversa sobre questões de justiça, ter chamado a minha atenção para o facto de ser necessário, para percebermos algumas situações, aparentemente incompreensíveis, que tentemos identificar os seus principais beneficiários.
Dizia-me ele: "segue esse princípio, rapaz, e tu verás que aquilo que é aparentemente incompreensível, passa a fazer todo o sentido, com base numa determinada lógica...".
Depois da não validação do golo da Inglaterra, e da validação do primeiro golo da Argentina, dois enormes erros de arbitragem, nos jogos de ontem, do Campeonato do Mundo, lembrei-me das palavras desse meu amigo.
E com base nessa lógica, só consigo encontrar um motivo para que, apesar da sucessão de erros, grosseiros, a FIFA, as Federações, os Árbitros e os Clubes, façam tão pouco, ou quase nada, no sentido de alterar o actual estado de coisas:
No final, tudo pesado e avaliado, são sempre as maiores Federações e os maiores Clubes quem mais beneficia com esses erros e todos sabemos que é nas suas mãos que reside o poder para acabar com este tipo de situações.
E é por isso que, não só não consigo indignar-me com o que se passou, como acredito que só uma elevada frequência de situações escandalosas, nos jogos entre os mais fortes e poderosos, poderá contribuir para que a FIFA se digne aceitar a introdução de novas tecnologias no futebol.
E se eu, que adoro futebol e pugno pela verdade desportiva, tiver uma pontinha de razão que seja, só posso saudar os erros de arbitragem ocorridos no jogo entre a Inglaterra e a Alemanha, dois poderosos do futebol mundial.
É que, como dizia o meu amigo, "só quando o sistema deixa de servir os mais poderosos é que pode haver alguma esperança de mudança"...

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