quarta-feira, 16 de junho de 2010

CONSELHOS COMUNITÁRIOS...



Portugal aprovou medidas de austeridade que representam "o progresso adequado, no sentido de corrigir o deficit excessivo", visando o objectivo de atingir o numero mágico de 3% até 2013. Quem o diz é a Comissão Europeia, pela boca do já tristemente célebre comissário Olli Rehn, o tal que se esqueceu de fazer a diferença entre as situações económicas de Espanha e Portugal e da necessidade de reformas no regime de Segurança Social...
Acrescentou, no entanto, que o Orçamento Geral do Estado, de Portugal, para 2011, deverá conter medidas de austeridade adicionais que permitam a redução do deficit para 4,6% do PIB.
E pediu a especificação dessas medidas, como se até agora e com excepção da derrapagem ocorrida, face à crise internacional que a todos afectou, Portugal não tivesse sido um dos países que mais se esforçou para atingir o tal número mágico dos 3%.
Devo dizer que me irrita a sobranceria do comissário Rehn, mesmo sabendo que se trata apenas de um porta-voz da Comissão, um digno representante da forma desastrada como a União Europeia tem lidado com o problema da dívida dos países que a integram.
Cada economista sua sentença e perante opiniões tão diversas, de economistas tão distintos e reputados, sobre o modo de resolver o problema, não me atrevo, sequer, a opinar sobre as medidas a adoptar.
Mas o que ninguém me explica e eu gostava muito de perceber, é o modo como se chegou a esse número mágico de 3% e qual o critério científico que conduziu à sua determinação.
Se, em vez dos 3%, fossem 4%, qual era o problema? E as consequências?
E porquê esta necessidade de fazer o ajustamento até 2013? Até 2015 não dava? Quais as consequências, num caso e no outro?
A aplicação de medidas recessivas, excessivas, numa conjuntura económica desfavorável, não poderá conduzir à morte do doente, que se pretende, supostamente, curar?
O argumento da defesa do Euro e da sua cotação, dificilmente pode ser utilizado como justificação, pois o seu enfraquecimento favorece as exportações europeias e convém lembrar que o Euro já valeu cerca de 85 cêntimos do dólar, sem que tenha ocorrido qualquer desastre...
É certo que existem, neste momento, dificuldades para alguns Estados se financiarem nos mercados internacionais, mas a União Europeia teve as maiores responsabilidades no agravar da actual crise financeira, por omissão e transmissão aos mercados dos sinais errados...
A crise financeira estendeu-se, como seria natural, aos sistemas bancários dos países mais fragilizados, sendo que os bancos portugueses e espanhóis sentem sérias dificuldades para se refinanciarem no mercado interbancário.
Os seus congéneres europeus preferem colocar o seu dinheiro nos Bancos Centrais, a facultar-lhes o financiamento de que necessitam.
Enquanto isso, o Banco Central Europeu lá vai disponibilizando alguns fundos, mas exigindo a entrega de títulos como colateral desses empréstimos.
A avaliar pelas notícias que chegam de Bruxelas, sob o comando do eixo franco-alemão, a solução poderá passar por um governo económico Comunitário, tão do agrado do presidente Sarkosy mas que não tem merecido o apoio da chanceler Merkel. E como não podia deixar de ser, a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu disputam, entre si, o controlo desse novo "governo".
A verdade é que, até que se encontre uma adequada solução para o problema, não se entende porque motivo a Caixa Geral de Depósitos não surge a financiar-se junto do Banco Central Europeu, com a garantia do Estado Português, assegurando aos restantes bancos portugueses a liquidez necessária ao seu normal funcionamento, assim aliviando a pressão a que se encontram sujeitos, com as consequências que se conhecem.
E se do ponto de vista económico e financeiro a coisa está preta, temos de reconhecer que a política e os políticos europeus não têm dado um bom contributo para que esta crise seja ultrapassada, rapidamente...

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