quarta-feira, 19 de agosto de 2009

CAVACADAS...



Esta polémica entre Belém e São Bento, contráriamente ao que muitos procuram dar a entender, é grave.
Na sua génese esteve um facto que não tem, a meu ver, grande importância, que é o de haverem, ou não, acessores do Presidente a colaborar na elaboração do programa eleitoral do PSD.
A ser verdade, e é bem possível que sim, face ao desconforto manifestado pelo PSD, isso não tem mal nenhum, uma vez que, os assessores do Presidente mantêm todos os seus direitos como cidadãos, não lhes sendo inibido o exercício de actividades partidárias.
É claro que se pode colocar o problema da isenção, no exercício de determinados cargos, mas se fossemos por aí, isso levar-nos-ia muito longe, e nem sei mesmo quem teria legitimidade para atirar a primeira pedra...
Do ponto de vista político, entende-se o desejo do PS em "colar" o Presidente a Manuela Ferreira Leite, posição da qual se pode, ou não, discordar, enquanto estratégia política, mas que não vale mais do que isso. Até porque, convenhamos, o Presidente se tem posto, várias vezes, "a jeito"...
Mas o que é inaceitável, e grave, é que o Presidente da República aceite que um seu assessor venha, ainda que sob a capa do anonimato, levantar a suspeita de que o Governo possa estar a vigiar, ou ter sob escuta, o Palácio de Belém, e se mantenha num silêncio ensurdecedor.
É óbvio que tudo isto se está a passar com a conivência de Cavaco, e isso não pode ser admissível, numa democracia.
Sócrates, tantas vezes acusado de ser arrogante, com razão, esteve bem, ao declarar que as insinuações "são disparates de verão", mas o igualmente arrogante Cavaco está a prestar um péssimo serviço ao País, e á democracia, ao deixar que se alimente este tema, se é que não está a promovê-lo.
Nunca acreditei, ao contrário de muita gente, que a lua-de-mel entre Cavaco e Sócrates pudesse durar, pelo simples motivo de que nunca vi, neste Presidente, um verdadeiro estadista, com uma visão política, global, para o País, mas antes um chefe de executivo cujas ideias, mais cedo ou mais tarde, acabariam por ser conflituais com as de Sócrates.
Além de que, em matéria de arrogância e teimosia, entre Sócrates e Cavaco, venha o diabo e escolha...
Só tenho dificuldade em entender, confesso, a benevolência da comunicação social perante esta atitude do Presidente da República...
Se Cavaco quer ser primeiro ministro, assuma-o, e candidate-se, mas enquanto for Presidente, não pode aspirar a acumular as duas funções, como suspeito que gostaria, até porque a Contituição da República não lho permite.

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