segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

NO ÁTRIO DA IGREJA

Depois da missa de Domingo, como é de costume nas aldeias de Portugal, as famílias ficam á conversa no átrio da igreja. Assim aconteceu, também, na aldeia Fé em Deus, com o padre Manuel, á porta, despedindo-se de cada um dos fiéis.
-Então, senhor padre, como foi a sua consoada, perguntou o Manecas Barbeiro, depois cumprimentar o sacerdote.
-Muito boa, meu filho, como sempre acontece, em casa do presidente Sesismundo. A sua mulher, a senhora Dª Mafalda não deixa escapar nenhum pormenor. Foi uma consoada maravilhosa. E a vossa, meu filho?
-Boa, senhor padre, dentro do possível. Este ano, eu e a minha Laura passámos em casa, só os dois. O senhor padre sabe como é, nestas ocasiões parece que fica, ainda, mais viva, a memória de todos os que partiram, e dos que estão ausentes...
-Eu sei, meu filho, mas há que pensar que os que partiram responderam ao chamamento do Senhor, e quanto aos ausentes, o importante é que estejam bem de saúde, e na Graça de Deus.
-Claro que sim, padre Manuel, mas, apesar disso, não é possível evitar a saudade, insistiu o Manecas, não resistindo a pensar porque é que o Senhor não se lembrou de chamar os seus pais um pouco mais tarde...
-Meu filho, foi essa a vontade de Deus, e temos de a aceitar, insistiu o padre, como que lhe adivinhando o resto dos pensamentos.
Entretanto, a Laura Enfermeira, que acabara de se despedir da Dª Mafalda, fazia, discretamente, sinal ao Manecas, para que se lhe juntasse.
-Bem, padre Manuel, vou indo. Desejo-lhe um bom resto de domingo.
-Obrigado, meu filho, também para ti. Vai em paz, e que o Senhor te acompanhe.
E lá foi o Manecas juntar-se á mulher, a caminho de casa, remoendo as palavras do padre.
-Que chamamento especial teria o Senhor para os meus pais, e avós, para me privar, tão cedo, da sua companhia, cogitava. Tanta gente, que eu conheço, que há muito merecia ter ido, e não foi chamada...
-Então homem, em que pensas, perguntou-lhe a Laura? Algum problema?
-Nada, mulher, nada. Pensava na vida...

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