segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

NA FARMÁCIA



Acabava de sair de casa, ostentando um largo sorriso, que deixava transparecer o que lhe ia na alma.
O seu Benfica ganhara, e o Manecas Barbeiro dirigia-se, a passos largos, para a Farmácia da Fé, do seu amigo Nando, com a intenção de lhe amolar o juízo.
Ao chegar, assomou-se á porta, e atirou:
-Ó Nando, viste por aí o Porto?
-Olha que pardal, exclamou o Nando. Já estava a estranhar o teu atraso. Tás de parabéns, sim senhor.
-Viste como é? Espero que os lagartos tenham aprendido alguma coisa. E nem precisámos do Aimar...
-Deixa-te de bazófias, que o campeonato ainda não acabou.
-Pois sim, mas candeia que vai á frente, alumia duas vezes. e a nossa dá uma luz vermelha, e das fortes.
-Ó que caraças, hoje ninguém te atura.
-Podes crer.
-Vamos mas é tomar o cafezinho ao Silva.
-Vamos, vamos, que eu estou doido para encontrar o Monas Picheleiro. Aposto que a mona lhe cresceu, ainda mais, esta noite.
E lá se puseram a caminho.
Poucos passos andados, avistaram o Monas.
-Acelera, que o morcão não pode fugir, pediu o Manecas, acelerando o passo.
Já mais perto, junto á entrada do café, o Manecas não resistiu:
-Ó Monas, viste por aí o FCP? Que grande banho levaste ontem!
-Olá, já te estranhava.Também não foi bem assim. Não foi nenhum vanho, carago, a não ser pela chuva que caiu.
-Tá bem tá, nem criaste ocasiões de golo, e o Lucílio ainda vos perdoou um penalti, escandaloso. Aquele foi maior do que a Torre do Clérigos.
-Lá bens tu com as tuas coisas. Prontos, ganhaste. E até que ganhastes bem, mas não abuses(os nervos do Monas estavam a começar a evidenciar-se, nas falhas de concordância gramatical).
-Já estás a quatro pontos, é que é, e se não te pões a pau, e o Domingos não der um jeitinho, vais direitinho para a UEFA, que é uma pressa.
-Tu tem lá calma, que o campeonato ainda não acabou. Até parece que já és campeão.
-Campeão, campeão, ainda não sou, mas vou ser. Podes escrever.
-Escrebo, escrebo. Escrebo mas é que tu, com tanta bazófia, ainda te lixas.
-Tá bem, deixa lá, eu lixo-me e tu vai apontando. Mas para te consolar, eu pago o café. A ti e ao Nando, que está aqui caladinho que nem um rato. Levam no toutiço, mas pago eu. É tudo á minha conta, exclamou, rindo.
E lá entraram no café, com o Manecas Barbeiro, ufano, pensando com os seus botões:
-Deixa-me aproveitar a ocasião, que nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Vou amolar-lhes, o juízo o mais que puder. Agora quem ri sou eu, finalmente...

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