sexta-feira, 15 de outubro de 2010

OXALÁ ESTEJA ENGANADO...


A avaliar pelas notícias, os portugueses vão passar um mau bocado, pelo menos até 2012.
Não sei, confesso, se seria possível encontrar soluções substancialmente diferentes daquelas que, inevitavelmente, acabarão por ser aprovadas, mas tenho para mim que, nas actuais circunstâncias, as soluções do PSD, se fosse governo, não seriam radicalmente diferentes daquelas que o Governo acabou de anunciar.
O futuro poderá vir a demonstrar que estou enganado, mas até lá continuarei a basear-me na práxis do PSD, quando no Governo, sem esquecer o enquadramento comunitário a que temos de nos sujeitar.
Seja como for, o que me parecia dispensável era toda a barafunda que se gerou, em torno da aprovação do Orçamento, desde o final do verão, quando todos sabemos que Portugal não se pode dar ao luxo de não aprovar o Orçamento de Estado e que as medidas nele contidas têm de estar em consonância com as exigências de Bruxelas.
Tudo o resto é política, no pior sentido do termo, ou, se preferirem, politiquice.
PSD e PS deram de si uma triste imagem, interna e externamente, sem que algum deles me pareça poder vir a beneficiar muito com isso. E é pena...
Aguardemos, pois, o início do processo de discussão, no Parlamento, não pela incerteza quanto ao resultado final, mas para avaliarmos o comportamento dos dois principais partidos portugueses.
Se optarem por prosseguir o processo de dramatização excessiva, a que temos assistido, estou em crer que isso não só não lhes trará qualquer benefício, como as sondagens parecem indicar, como acabará por ter um impacto extremamente negativo junto dos mercados internacionais, com particular realce para o da dívida pública.
Isto para não falar da péssima imagem que damos do país, para o exterior.
Mas, dito isto, não posso deixar de me interrogar até que ponto estará a União Europeia disposta a esticar a corda, nas exigências que faz aos países economicamente mais frágeis?
E nem sequer me refiro à questão da coesão social, nobre propósito que se evaporou logo no início da crise, mas apenas ao agravamento dos problemas e tensões sociais, resultantes da aplicação das medidas de austeridade impostas ás populações das economias mais frágeis.
E se houver por aí algum colega meu, economista, que se dê ao trabalho de ler estas humildes linhas, grato lhe ficaria que me explicasse qual a fundamentação económica, rigorosa, que levou a que se estabelecesse a necessidade de o défice público não ultrapassar os 3% do PIB, ou de a dívida pública não poder ultrapassar os 60% do PIB, e que obriga a que esse desequilíbrio tenha de ser corrigido num curto espaço de tempo, num contexto de grave crise mundial e perante os estragos sociais a que estamos a assistir.
Será ignorância minha, mas quer-me parecer que estamos perante um caso em que a economia está ao serviço da política, com uma relação custo/benefício extremamente desigual, para as partes envolvidas...
Portugal tem desequilíbrios que precisa corrigir, tal como sucede com outras economias da União Europeia, e é preciso encetar um processo, sério, nesse sentido. Mas precisa de tempo, tal como outros países, para que essas correcções se possam fazer sem provocarem graves problemas e tensões sociais.
A continuarmos assim, ou muito me engano ou a corda vai acabar por partir.
Como sempre, quebrará pelo lado mais fraco, mas dificilmente os mais fortes, que estão a impor a prossecução destas políticas, terão motivos para se regozijar...
Para bem de todos, oxalá eu esteja enganado.

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