terça-feira, 12 de outubro de 2010

A CRISE, ESSA MAGANA...


Por estes dias, por motivos óbvios, ou nem tanto, duas palavras marcam a actualidade nacional: Orçamento e Crise.
O Orçamento, essa coisa que a grande maioria dos portugueses aprendeu a odiar, embora não lhe conheça o significado, digo eu, porque se tornou sinónimo, nos últimos tempos, de más notícias.
E todos sabemos como as más notícias nos ajudam a descarregar a bílis, exercendo um papel anti-depressivo que supera, amplamente, o da maioria dos fármacos existentes no mercado, com a mesma finalidade. Sobretudo quando dizem respeito aos outros...
As más notícias sobre o Orçamento saem mais caras aos contribuintes, embora desapareçam rapidamente, mas o seu efeito purgativo é, inequivocamente, superior ao de um simples aumento do preço dos combustíveis. São mais debatidas e ajudam a atenuar os desequilíbrios financeiros de vários órgãos de comunicação social...
Já a Crise, essa, tem carácter permanente, tendo-se tornado uma figura obrigatória, no quotidiano dos portugueses, desde que, naquela bela madrugada de Abril, corria o ano de 1974, os militares fizeram o favor de nos devolverem o direito de nos expressarmos livremente.
Desde então, a Crise, essa magana, nunca mais deixou de nos apoquentar.
Ora se instala nas instituições, nos partidos políticos, nos valores, ora invade o sistema e pula, despudoradamente, da política para a economia, sem olhar a sectores. Mas quando chega à economia, aí é que são elas...
Como diria um amigo meu, algarvio, essa filha de uma magana, que não nos dá um minuto de descanso, quando chega à economia estraga tudo!
Como poderão imaginar, se a coisa já fica tremida com a Crise, quando se lhe junta o Orçamento, esse palavrão que os economistas inventaram para complicar, ainda mais, a vida das pessoas,(ou terão sido os contabilistas?), temos o caldo entornado.
Sim, que sem essa coisa do Orçamento, não haveria défice e sem défice podíamos todos gastar à vontade, incluindo o Estado, e viveríamos felizes para sempre.
Bem, felizes é uma força de expressão, não só porque a felicidade absoluta não existe, mas também porque temos a magana da Crise sempre a apoquentar-nos.
Mas enfim, sempre era menos um problema...
Sucede é que o País está confrontado com uma grave Crise, acentuada pela necessidade de equilibrar o Orçamento, e isso é mais do que suficiente para que os portugueses estejam preocupados, o que ajuda a explicar o facto de surgirem, nos meios de comunicação social, diversas pessoas, com as mais diferentes formações, raramente em Economia, a comentarem a situação, e os seus efeitos.
Pessoas essas que, é claro, raramente ousam propor quaisquer medidas para solucionar os problemas, até porque corriam o risco de se enganarem, coisa que seria, naturalmente, imperdoável.
Ficando-se pela crítica, não propondo nada, nunca se enganam, nunca erram, e isso permitir-lhes-à continuar a opinar em crises futuras, sem terem que se sujeitar a essa coisa maçadora que é a crítica...
Afinal, de economista, tal como de poeta e louco, parece que todos temos um pouco, e para falar de Crise, Orçamento e Economia, nada como a experiência, que é a mãe de todas as coisas...
E eu, que me sinto, várias vezes, incomodado com a ligeireza do que oiço, e leio, sobre o tema, fico perplexo e triste.
É que ninguém me explicou, atempadamente, que, em Portugal, quando se trata de discutir a Crise, o funcionamento da Economia, ou o Orçamento de Estado, ter formação específica nessas matérias só atrapalha...

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