quarta-feira, 18 de março de 2009

O ESTALO...

"Só me defendi. Dei-lhe um estalo depois de ela me bater. Não me quis explicar porque queria que eu fosse outra vez de castigo para a sala de estudo", explicou ao CM a aluna de 13 anos que agrediu uma professora anteontem na escola EB 2,3 Aires Barbosa, em Esgueira, Aveiro.
"Não tinha o direito de bater na minha filha", continuou a mãe, desempregada, de 32 anos, que tem mais cinco filhos menores. Uma das filhas, com 14 anos, também estuda naquela escola. "Se a professora tivesse carinho pelos alunos isto não tinha acontecido, andava a implicar com ela há três meses", lamentou o pai.
Correio da Manhã, 18 de Março de 2009

A educação está, constantemente, e para mal dos nossos pecados, em evidência, quase sempre pelos piores motivos.
As agressões entre alunos e professores ocupam lugar de destaque na imprensa falada, e escrita, como se de fenómeno novo se tratasse, embora sem a perspectiva crítica que, a meu ver, se impunha.
Sejamos sérios, agressões de alunos a professores sempre houve, do inverso nem se fala, pelo que, o que pode causar espanto não é a sua existência, mas a frequência com que ocorrem.
E mesmo o comportamento de muitos pais, ou "encarregados de educação", ao alhearem-se do comportamento escolar dos filhos, sendo reprovável, não constitui nenhuma novidade.
Pode até nem ser verdade, mas fica-se com a sensação de que é mais importante divulgar, e explorar, o acontecimento, do que em reflectir sobre as causas que lhe estão subjacentes.
E é urgente que se reconheça que a culpa do actual estado de coisas pertence a todos, ninguém está isento.
Os políticos, de todos os quadrantes, para quem a temática da educação parece valer mais como "arma" eleitoral do que como pilar fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
Os sindicatos, para quem os direitos adquiridos parecem ter primazia sobre o interesse social, ou sobre o direito dos alunos a um ensino de qualidade.
Os meios de comunicação social, que, preocupados com as tiragens e as vendas, parecem esquecer a sua função informativa, e formativa, atribuindo a estes casos um relevo absolutamente desproporcionado, enquanto tratam pouco, e muitas vezes mal, a temática que lhe está subjacente.
Os pais, a quem cabe um papel importantíssimo, mas que, por diversos motivos, se demitem de o exercer, dando a ideia de querer transferir para a escola a responsabilidade de educar os seus filhos, o que deveria constituir uma das mais importantes missões da sua vida.
Os alunos, a quem o sistema se destina, ou devia destinar, que procuram obter resultados com o mínimo esforço possível, facto que não é novo, ou de estranhar, transportando para a escola a educação recebida, ou falta dela.
Os professores, a quem incumbe transmitir conhecimentos e avaliar o nível dos alunos, que deixam transparecer a ideia de que não quererem ser avaliados, e parecem mais interessados em defender interesses corporativos, do que em contribuir para a melhoria do sistema.
Neste contexto, o que fazer para ultrapassar a situação ?
Talvez que o melhor fosse começarmos por reconhecer que muito mudou, nas últimas décadas, em matéria social, económica e política e que o sistema de educação, terá se saber integrar, adequadamente, essas transformações. Sob pena de não conseguir cumprir, eficazmente, a função a que se destina.
Não é mais aceite, como foi prática corrente, que o professor pregue um belo tabefe ou um par de réguadas a um aluno, porque preferiu conversar com um colega a dar atenção à sua exposição. Como também não é aceite que um adolescente não cumpra um período mínimo de escolaridade, ou que um pai utilize o seu cinto com outra finalidade que não seja a de lhe segurar as calças.
E não é aceitável que, a política de educação não tenha em conta os interesses de todos os intervenientes, ou que a escola não combine a sua função de transmissora de conhecimento com outras actividades, de natureza cultural e desportiva.
São coisas que deixaram de ser socialmente aceites, e ainda bem, digo eu.
Por isso se torna importante que reconheçamos que, as transformações ocorridas, e foram muitas, e a muitos níveis, afectaram, de forma muito significativa, não só os comportamentos como também as relações de força entre as partes envolvidas no processo. E isso terá que ser reflectido num novo modelo escolar.
A fase de transição, em que o sistema se encontra, embora natural, está a durar demasiado tempo, sendo imperioso definir, e pôr em prática, um modelo que, respeitando os interesses das partes, permita cumprir a função essencial de ensinar a pensar e transmitir conhecimento.
É preciso que a educação deixe de ser joguete nas mãos de governo, partidos, professores e sindicatos, e que todos, em conjunto com os pais, concentrem as suas energias na procura das soluções adequadas.
A questão da violência nas escolas, sendo importante, não é, com certeza, o principal problema do nosso sistema educativo, pelo que não deve ser-lhe dada mais atenção do que aquela que, efectivamente, merece.
Quando todos sabemos que os alunos estão, hoje, muito menos bem preparados do que estavam 35 anos, será bom que, a revolução do 25 de Abril, constantemente, invocada para reclamar direitos, seja também evocada para lembrar deveres.

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