sexta-feira, 8 de abril de 2011

REAVIVANDO A MEMÓRIA...


Permitam-me que comece por dizer que, respeito todas as opiniões, desde que expressas de forma civilizada, ainda que sejam, frontalmente, contrárias ás minhas.
Gosto da determinação do primeiro ministro de Portugal, embora a moda vá noutro sentido, e tenho bons motivos para isso.
Não porque lhe deva algum favor, que nem sequer o conheço, mas porque demonstrou, e demonstra, uma determinação, e coragem política, incomum, entre os nossos políticos.
Para ser mais claro, e sem ser exaustivo:
1. O primeiro governo de Sócrates revelou coragem, e determinação, ao afrontar imensos interesses instalados, na sociedade portuguesa. Lembro, a título de exemplo, a reforma das pensões, e do regime de segurança social, a avaliação dos professores, ou o encerramento de maternidades, e centros de saúde, sem condições, e a redução das férias judiciais;
2. O primeiro governo de Sócrates reduziu o peso da dívida pública, no PIB, para um nível abaixo dos 3%, mesmo sabendo que isso teria custos eleitorais;
3. Na sua maioria, os portugueses aprovaram a governação de Sócrates, dando ao primeiro ministro uma nova vitória, nas eleições de 2009, ainda que sem maioria absoluta.
Sem grandes lucubrações, goste-se, ou não, foi assim que se passou.
Entretanto, em 2008, teve início uma crise internacional, que muitos afirmam ter sido a maior de sempre, cujo impacto nas economias, e não só na nossa, foi subestimado por políticos, banqueiros, analistas e, até, economistas, extremamente reputados, com excepção dos pessimistas incorrigíveis.
Ao novo governo, e a Sócrates, pode censurar-se o facto de ter demorado a reagir, e o seu excessivo optimismo, na análise da situação, mas, até nisso, esteve muito bem acompanhado, internacionalmente, e uma manifestação de optimismo é, a meu ver, o mínimo que se pode pedir a um primeiro ministro, em tempo de crise. Isto apesar de eu saber que existe quem prefira o discurso da "tanga"...
Com a evolução da situação, e depois de, acompanhando os nossos parceiros comunitários, injectar uma fortuna na economia, para evitar a recessão, começam a surgir os problemas de deficit excessivo, em Portugal, e noutros países europeus.
Mas a contribuição das agências de "rating", e dos especuladores, para o agravamento do problema, não pode ser ignorada. Curiosamente, as mesmas agências de "rating" sobre as quais o relatório do Congresso americano, numa análise à sua contribuição para a crise, diz o seguinte:
"Concluímos que as falhas das agências de classificação de créditos foram essenciais no mecanismo de destruição financeira"!
Registo que, a conclusão é do Congresso dos EUA, e não minha, apesar de essas mesma agências continuarem a desenvolver a sua actividade, como se nada se tivesse passado, e com os resultados que todos conhecemos.
Mas, voltando ao tema deste post, o que é certo é que Portugal, com o ajoelhar da Grécia, e da Irlanda, ante a especulação internacional, com a cumplicidade, por omissão, da comunidade europeia, se tornou no alvo seguinte dos especuladores.
Sócrates, e Teixeira dos Santos, tentaram resistir, estoicamente, a quem empurrava Portugal para uma solução "à Grega", ou "à Irlandesa", interna e externamente.
Só que o Governo não tinha maioria absoluta, e todos sabiam, desde o dia em que se conheceram os resultados eleitorais, que a oposição pretendia fazer cair o Governo no final deste ano, como reconheciam diversos analistas políticos, de vários quadrantes.
Acresce que, havia as eleições presidenciais, e Cavaco Silva precisava do apoio de parte do eleitorado do PS, para assegurar a reeleição.
Como bom político que é, apesar de não gostar de ser tratado como tal, refugiou-se no silêncio e evitou confrontos com o Governo, até se apanhar com a reeleição no bolso.
Reeleito, e indiferente à crise, Cavaco Silva proferiu um discurso de tomada de posse arrasador, para o Governo, convidando a oposição a agravar a situação de instabilidade que se vivia, e a provocar eleições.
Tenho para mim, embora admita estar enganado, que o ódio se sobrepôs aos interesses do Estado, mas as coisas são como são.
O resto da estória é mais recente, e está fresca na memória de todos.
Mas será bom lembrar que não houve quatro PEC's, como diz a oposição, mas apenas dois, que tiveram de ser reformulados, face ao, súbito, agravamento do custo da dívida pública. E quem se der ao trabalho de comparar a evolução das taxas para a dívida pública portuguesa, e fizer uma análise, comparativa, da acção do Governo, pode verificar isso mesmo.
Enganar aos portugueses, por omissão, é, por exemplo, pretender ignorar, deliberadamente, o efeito da crise, e comparar números actuais, com números de há seis anos, com o intuito de obter benefícios eleitorais.
E não quero terminar sem referir que, diga-se o que se disser, José Sócrates tem sido alvo de uma campanha, sem precedentes, visando o seu assassinato político, sem quaisquer tipo de escrúpulos por parte dos seus opositores.
Certo que, algumas vezes, se terá posto "a jeito", mas nem isso pode servir para justificar os comportamentos de muitos que se lhe opõem.
A política portuguesa está, infelizmente, a tornar-se cada vez mais parecida com o futebol: no sectarismo, na linguagem, na falta de respeito pelo adversário. E é lamentável que assim seja.
E poucos são os meios de comunicação social, e os analistas políticos, que conseguem disfarçar as suas preferências, na hora relatarem os acontecimentos, como lhes competia.
Melhor seria que declarassem, à partida, os seu interesse, para que ninguém fosse levado a confundir uma análise comprometida com uma análise isenta. Todos teríamos a ganhar com isso.
Chegados à situação actual, vamos, de novo, para eleições, e o povo decidirá, como lhe compete, a quem caberá governar o país, neste momento difícil.
Aguardemos...

Sem comentários:

Enviar um comentário