terça-feira, 5 de abril de 2011

O "SHOW" TEM QUE CONTINUAR...


Confesso-me sem paciência para ler, ou ouvir, mais notícias sobre a situação no Médio Oriente.
Charles Chaplin comparou, um dia, a vida a uma enorme peça de teatro, que não permite ensaios. E eu acrescento que, com a globalização, a peça passou a desenrolar-se num teatro gigantesco, com cada vez menos actores principais, mas muito mais figurantes, e um público de centenas de milhões.
O guião resulta de uma co-autoria entre os principais dramaturgos ocidentais, sendo a encenação ajustada ás audiências, mas com todos os actos a terminarem de forma semelhante, favorecendo os interesses dos patrocinadores.
Os actores principais, como seria de esperar, concentram todas as atenções, e conhecedores da sua força não hesitam em ignorar, ou distorcer, o guião, a seu belo prazer, para defesa dos seus interesses.
Afinal, nesta enorme peça de teatro, como na selva, é o mais forte quem continua a ditar as leis.
Os figurantes, a quem é dado a conhecer o guião, mas vedada a possibilidade de influenciar o desfecho, acabam por se submeter ás exigências dos encenadores, e participar na representação, assegurando, deste modo, um papel nos próximos actos, e o direito à presença em palco, enquanto as primeiras figuras agradecem os aplausos.
Ou seja, garantem um lugar na fotografia, o que é escassa consolação para quem aceita hipotecar a dignidade.
Do outro lado, numa imensa plateia, está o público, na sua maioria seduzido pelo brilho das estrelas, e pela imagem que delas projectam os meios de comunicação social.
Alguns espectadores, rebeldes, contorcem-se nas cadeiras, esperneiam, havendo, até, quem ouse uma ou outra vaia, mas nada com força suficiente para impedir a exibição da peça. Nem a polícia dos costumes o permitiria, naturalmente.
Todos assistem à representação na esperança de um final feliz, como lhes foi vendido, todavia o que lhes oferecem é uma enorme tragédia, normalmente de péssima qualidade.
Mas "show" tem que continuar...

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