terça-feira, 2 de novembro de 2010

LIGUEM AO BARROSO...


O fim-de-semana, prolongado, dera-me, aparentemente, um novo ânimo para enfrentar uma semana que se sabia, à partida, ser dominada por más notícias e previsões catastróficas para a economia e o país.
Aparentemente, digo bem, porque me bastou a leitura do editorial, no jornal i, para voltar a cair no profundo estado de letargia em que me encontrava.
Não há salvação!
Desde logo porque Carlos Ferreira Madeira me pede para imaginar uma reunião com Barroso, Sarkosy e Merkel, o que é exigir demais, para um cidadão deste cantinho à beira mar plantado, que já se vê em palpos de aranha para imaginar uma reunião entre Coelho e Sócrates.
Mas o pior estava para vir...
Discorrendo sobre discordâncias de método mas acordo nos princípios (onde é que eu já terei visto este filme?), Ferreira Madeira avança para o Tratado de Lisboa e o Pacto de Estabilidade e Crescimento, para concluir que, mais dia menos dia, o país entrará em incumprimento e os mecanismos de salvação que ajudaram a Grécia já não estarão disponíveis para os troianos que nós somos.
Caramba, senti cá um arrepio...
Abatido, respirei fundo e ganhei coragem para continuar a leitura.
Como se não bastasse de desgraças, Madeira afinfa-lhe, sem se deter, com o Orçamento de Estado para 2011, que considera mau, ou péssimo, e informa-me que o pior está para vir.
Perdi o fôlego...
Respirei fundo, tomei uma água, e reganhei alento para continuar.
Pumba! Somos o 9º país com maior risco da dívida soberana, bem sei que é baseado no mercado dos "credit default swaps", mas ainda assim, a dívida já ultrapassa os 200% do PIB, a confiança bateu no fundo e não há margem para crescimento económico.
Faltou-me o ar, e parei...
Fui à janela e enchi o peito de ar. Caramba, nem o tempo ajuda, pensei...
Quase refeito, embora cambaleante, obriguei-me a terminar a leitura.
Catrapuz! "A insolvência do país vem aí. Só não se sabe quando".
Madeira acabara de me dar o golpe final.
Já nem a tanga do Barroso, aquele que ele pede para imaginar na reunião, nos resta. Só umas alparcatas rotas e comidas do sol, compradas, em bom tempo, com um subsídio comunitário destinado à Formação...
Pensei em desistir e começar a ler livros sobre a falência dos países. Quem sabe aí encontro alguma solução que possa servir ao nosso caso.
Mas resolvi deixar isso para mais tarde e, num derradeiro esforço, continuei a leitura.
Aleluia! Graças a Deus, afinal, "Portugal não acaba"!
Caramba, também podia ter dito mais cedo. Este tempo todo a convencer-me de que sim e afinal parece que não. Não há direito. Não se faz. Quase me matava do coração. Sim, que eu sou cardíaco e tenho que ter cuidado com as emoções fortes.
Aliviado, decidi prosseguir.
Ora bolas! Vamos ter de "recomeçar do zero". Até as alparcatas vamos ter que devolver. Nem com uma sunga, daquelas muito curtinhas, nova moda para o Verão masculino, podemos ficar. Zero!
Senti-me arrasado. Pobre ainda vá que não vá, mas sem nada?
Voltei à janela, para apanhar ar. Sentia-me desvanecer, mas consegui arribar.
Ganhei coragem, e continuei.
Finalmente, lá estava a solução. "vamos precisar de novo mecanismo europeu" e de "telefonar" a Merkel, Sarkosy e...Barroso.
Caramba, podia ter dito logo. Não se faz uma pessoa sofrer assim, por causa do custo de uma chamada internacional. Bem sei que estão caríssimas, mas mesmo assim.
Enfim, o importante é que há salvação, pensei. É que cheguei a temer o contrário e já me imaginava como um palestiniano, lutando pela reconquista de um Portugal desaparecido. Mas Deus é grande!
Aliviado, voltei a ler a solução.
E eis que do meu espírito se apoderou uma enorme perplexidade.
Ligar à Merkel e ao Sarkosy, está bem, faz sentido, e como o Sócrates até se dá bem com eles, com uma pequena cunha a coisa ajeita-se. Mas ao Barroso?
A menos que seja para lhe pedir para pagar uma parte da factura que cá deixou, quando decidiu mudar de ares...
Mas a minha capacidade intelectual não me permitia mais esforços.
Fechei o jornal, pedi um segundo café, e comecei a trautear o refrão de uma bela canção brasileira: "você abusou, tirou partido de mim, abusou"...

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