quarta-feira, 24 de novembro de 2010

EM NOME DOS MAIS CARENCIADOS...


Os números ainda não estão apurados, mas os sindicatos já se apressam a informar-nos que se trata da maior greve de sempre, com um número de adesões superior ao que se registou em 1988.
Sobre os números, assistiremos, decerto, à trapalhada do costume, com o Governo e sindicatos a indicarem-nos números substancialmente diferentes e os órgãos de comunicação social a inclinarem-se num, ou noutro, sentido, de acordo com as simpatias dos analistas. Enfim, mais do mesmo...
Contudo, e a fazer fé em várias notícias publicadas, a adesão à greve terá sido quase nula, em empresas privadas de vários sectores.
Seja como for, o prejuízo causado à economia do país será enorme, pelo que, apenas numa tentativa de contextualização do tema, aqui deixo algumas reflexões:
1. Sendo esta greve, sobretudo, uma greve da função pública, e existindo muitos mais funcionários públicos do que em 1988, não será normal que o número de grevistas seja superior?
2. Com os professores em greve e as escolas fechadas, quantos dos grevistas terão sido forçados a aderir, por não terem com quem deixar os filhos?
3. Independentemente da sua posição face ao Governo, quantos serão os portugueses convencidos de que haveria alternativa a estas medidas de austeridade e quanto serão os que receiam que as medidas tomadas possam vir a revelar-se insuficientes, para acalmar os mercados financeiros?
Estas são, se me fosse dada essa possibilidade, as três perguntas que eu gostava de ver respondidas, a propósito da greve geral de hoje.
Claro que muitas outras se poderiam colocar, como o efeito da adesão, sempre elevada, dos trabalhadores dos transportes públicos no número de grevistas, ou a curiosidade de a esmagadora maioria dos grevistas serem aqueles que, trabalhando para o Estado, têm os seus postos de trabalho garantidos...
Infelizmente, Portugal atravessa uma situação económica e financeira particularmente difícil e existem sectores da população a passar por momentos muito difíceis.
Mas não deixa de ser irónico que muitos daqueles que mais protestam sejam quem mais beneficia do sistema que nos conduziu à situação actual.
E se o mesmo empenho, mobilização e gastos, para a realização desta greve geral, assim como o valor do dia de trabalho perdido, tivessem sido utilizados para beneficiar os mais carenciados, não teria sido mais útil para todos?

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