Na Tasca do Manuel, na aldeia do Fala Só, em plena serra algarvia de Monchique, o Compadre Zé, alentejano, agricultor e reconhecido benfiquista, conversava com Mestre Luís, homem do mar, algarvio e sportinguista dos quatro costados.
-Ontem tiveram azar, vocemecês. Bem que eu lhe dizia que de Espanha, nem bom vento nem bom casamento...
-Tem razão, Compadre Zé, tem razão. Até que nem jogámos mal mas aquele filho de uma magana do Aguero acabou por nos estragar a festa.
-Pois é, Mestre Luís, é como ê lhe digo, os espanhóis tã sempre prontos pra nos estragar a festa.
Mas o mê Glorioso esteve a grande nível, vocemecê nã acha? Que bela exibição fizeram aqueles moços...
-Verdade, um jogo que deu gosto ver, sim senhor. E para usar um ditado dos nossos, lá se ficaram os franceses a ver navios...
-Essa agora teve boa, ó Mestre Luís, só mesmo um homem do mar para se alembrar dum ditado tã apropriado à situaçã. E já agora, que os ingleses, que sã povo de marinheros, possam meter água suficiente pra que o mê Benfica possa chegar às meias finais.
-Pois que assim seja, já que aqueles maganos do meu Sporting se ficaram pelo caminho...
-Agora que venha o Porto, no domingo, e que o Jesus volte a encontrar a táctica adequada.
-Cuidado Compadre Zé, cuidado, que as coisas com o Porto fiam mais fino...
-Lá tá vocemecê a agoirar. Nunca entendi porque é que vomecês tã sempre a defender os de lá de cima, quando eles tã sempre prontos pra vos enterrare, mas enfim...
-São coisas antigas Compadre Zé, coisas antigas. Do tempo em que o meu Sporting tinha que dividir os títulos com os marafados dos benfiquistas. As coisas mudaram entretanto mas a rivalidade manteve-se.
-Vocemecês preferem que o Benfica perca a que o Sporting ganhe, mas assim nã vão longe nã...
-Também não exagere, ó Compadre, mas que a gente gosta de ver o Benfica perder, lá isso é verdade.
-Pois nã vã ter sorte nenhuma, Mestre Luís, nã vã ter sorte nehuma, que este mê Benfica, este ano, está uma verdadêra máquina de futebole...
E lá se ficaram a conversar, para matar o tempo, enquanto aguardavam a chegada do Carlos da Drogaria, setubalense e adepto do Porto, para fazerem a habitual partida de dominó.
Sem comentários:
Enviar um comentário