Hoje passei nos Correios e lembrei-me do tempo em que a minha mãe me obrigava a mandar postais, para a família, quando estávamos de férias.
Recordei os meus tempos de escola, quando não tinha paciência para a escrita, apesar de ser um aluno bastante razoável que lidava bem com as redacções e os ditados. Tempos em que o futebol falava mais alto...
Ocorreu-me que talvez só tenha começado a gostar de escrever quando, no já longínquo ano de 1980, assumi a responsabilidade, em conjunto com o meu colega Mário Vinga, de elaborar um artigo semanal para o jornal Expresso, intitulado "Euromercados e Câmbios".
O Mário Vinga viria a ser requisitado para a Direcção Geral do Tesouro, pouco tempo depois, pelo que passei a assumir, sozinho, essa tarefa.
Sim, é possível que tenha sido a partir daí que passei a achar graça à escrita, apesar de ter continuado a escrever muito raramente e apenas algumas quadras e pequenas poesias.
Profissionalmente escrevi muito, quase sempre por obrigação, e só agora me apercebo quão recente é este meu gosto pela escrita, a ponto de me levar a criar este blogue.
Relembrei que a escrita é um acto solitário e admiti que isso possa estar na base deste meu repentino desejo. Admiti que a idade me está a tornar mais selectivo e menos sociável, eu que sempre fui um "espalha brasas"...
Reconheci que é a necessidade de passar mais tempo comigo mesmo que me impele a escrever.
E que quanto mais escrevo, maior a vontade de escrever, a ponto de tentar organizar melhor o meu tempo, para poder dedicar mais horas à escrita.
Não que eu me considere um escritor, bem longe disso, mas porque me sabe bem esse tempo de reflexão, para além de que me agrada imaginar que os meus netos terão a possibilidade de saberem o que pensava o avô, sem que tenha de ser o pai a contar-lhes.
E quem sabe possa ser este o meu contributo para que desenvolvam o gosto pela leitura e pela escrita...
Hoje passei nos Correios e lembrei-me do tempo em que para se fazer uma simples chamada telefónica interurbana era exigida a intervenção de uma telefonista, e o tempo de espera chegava a medir-se por horas.
Dei comigo a pensar como foi possível vivermos tanto tempo sem telemóveis, ou internet, e terminei a relembrar o conceito de obsolescência...
Hoje passei nos Correios e lembrei-me da velha estação dos Restauradores, em Lisboa.
Recordei o dia em que a minha mãe me levou, com os meus irmãos, para gravarmos um disco de parabéns, para oferecermos ao meu pai. Foi mais ou menos por esta altura, porque o aniversário dele era a 18 de Abril, vão decorridos uns 45 ou 46 anos.
Reavivei aquele disco branco, que nos fascinou e tanto emocionou o meu pai, o qual viria a desaparecer, depois da morte da minha mãe, sem que alguma vez tenhamos chegado a saber quem teria sido a alma caridosa que resolveu poupar-nos à amplificação do desgosto...
Relembrei a voz do meu irmão, que à época carregava nos erres, dizendo "parrabéns papá, parrabéns" e lembrei-me da voz da minha mãe na mensagem que gravou para o meu pai, dizendo:
" Que possas continuar a ser, pela vida fora, tão bom pai e bom marido como tens sido até aqui."
E lamentei que a minha mãe não tivesse vivido o tempo suficiente para constatar o pai maravilhoso que ele foi.
Hoje passei nos Correios e tive saudades...
Tive saudades dos meus avós, dos meus pais, de todos os que me eram tão queridos e já desapareceram...
Tive saudades da minha juventude, do tempo em que vivia a vida despreocupadamente e em que acreditava que nada, mas nada, neste mundo, poderia alguma vez nos separar...
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