O Monas Picheleiro entrara no Café Central com um ar macambúzio.
A pesada derrota sofrida pelo seu clube, o FCPorto, face ao Arsenal, em Londres, afastando-o da Liga dos Campeões, tivera um efeito demolidor no seu estado de espírito.
-Vom dia, amigo Silba.
-Bom dia Monas. Estás em baixo homem.
-Bocê nem me diga nada, carago. Num é caso para menos. Bocê num acha? Atão num é que aqueles caraças resolberam andar a dormir, logo num jogo daqueles? queixou-se o Monas.
-Deixa lá isso homem. Essas coisas acontecem a todos. É só um jogo de futebol, não te amofines por isso que ele há coisas bem mais importantes na vida...
-Tá bem ó Silba, até que eu entendo o que bocê diz, mas lá que custa muito, custa, carago...
Enquanto a conversa decorria, o Manecas Barbeiro tinha entrado no Central, sorrateiramente,
colocando-se ao lado do Monas, junto ao balcão.
-Bom dia meus senhores. Tudo bem?
-Bom Dia Manecas, tudo bem sim, embora aqui o Monas esteja um bocado em baixo.
-Ai que canudo, só me faltaba este "lampião"...
-Bom dia para ti também, ó Monas, respondeu-lhe, sarcástico, o Manecas.
-Vom dia, desculpa. Mas é que já estaba a imaginar o que aí bem...
-Mas aconteceu alguma coisa? Estás com algum problema? ripostou o Manecas, sem conseguir esconder um sorriso maroto, enquanto piscava o olho ao Silva.
-Olha-me este macacão...Bocê já biu isto, ó Silba? Danadinho pra me amolar o juízo com a derrota de ontem e a fazer-se de nobas...
-Eu? Amolar-te o juízo por causa disso? Nem pensar! Tu até sabes que eu torço sempre por todos os clubes portugueses em jogos internacionais, para que é que estás praí com essa conversa?
-Vem, lá isso é berdade, sim senhor, tenho que admitir. É que pensei que me ias chatear com isso, ó Manecas, e eu já estou em vrasa. Sabes como é...
-Claro que sei, ó Monas, mas por uma questão de princípio, nunca te faria uma coisa dessas.
-Tu? Num fazias? Fazias lá agora...Tás sempre a aprobeitar para dares a vicada...
-Sabes como é, nós, as águias, somos assim, mas nunca em jogos internacionais e quando a tareia é muito grande, como a de ontem...
-Olha agora... Num querem lá ber este...Agora birou santo!
-Santo? Eu? Nada disso, que santo eu sei que não sou. Sou é homem de bons princípios...
-Tá vem tá...
-E o meu pai ensinou-me que é feio bater em mortos, exclamou o Manecas, soltando uma gargalhada.
-Ah meu "lampião" duma figa... Eu savia que num eras homem para te conter. Eu é que sou parbo em ir na tua conbersa...
-Deixa lá isso, homem, estava a brincar. Eu sei que custa quando as coisas correm assim tão mal. Também já nos aconteceu...
Fez-se silêncio, durante uns segundos, com os dois relembrando algumas cabazadas que os seus clubes tinham levado...
-Bem, meus senhores, vou indo, que se faz tarde, disse o Manecas, interrompendo o silêncio, para alívio do Monas.
-Desta já eu me safei, pensou. E o "lampião" até que nem se portou mal desta bez...
O Manecas despediu-se, dirigiu-se para a porta e parou. Voltando-se para trás, disparou:
-Ó Monas, queres ir ver o Glorioso lá a casa, para aprenderes como é que se joga á bola? A propósito, eu não gostei que vocês perdessem, mas já que teve de ser, ainda bem que levaram cinco, que é por causa das tosses...
E desapareceu, para nem dar a possibilidade ao Monas de soltar a sua ira...
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