segunda-feira, 8 de março de 2010

NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Quem acabasse de chegar á aldeia Fé em Deus notaria uma agitação, nada compatível com o remanso que caracteriza a vida das aldeias no interior de Portugal.
No Café Central, o Silva conferenciava com um conjunto de homens, na mais recatada mesa do seu estabelecimento.
-Então está combinado, será um bolo de cinco quilos, com um dedicatória a dizer "Obrigado Mulheres", e preparo o espumante e as rosas para as nove da noite.
Todos concordaram.
-Mas não se esqueçam, ninguém deve abrir o bico sobre isto, que a surpresa é para ser completa, acrescentou o Manecas Barbeiro, entusiasmado com a iniciativa.
-Ó Nando, tens que passar na igreja a avisar o padre Manuel, que eu passo na junta de freguesia a avisar o presidente Sesismundo, que ele faz questão de participar, acrescentou o Silva.
-Bem, meus senhores, então está combinado. Todos aqui por volta das nove, para a festa surpresa em homenagem ás mulheres da nossa aldeia. Agora vamos ao trabalho, sentenciou o Nando.
Enquanto os homens dispersavam, o Manecas e o Nando tinham um interessante diálogo:
-Ó Manecas, podias fazer um poema para logo á noite.
-Qual nada! Existem tantos poemas bonitos dedicados ás mulheres, que o melhor é escolhermos um e pedirmos ao presidente Sesismundo para o ler.
-Ó homem, não é a mesma coisa. O presidente diz umas palavras, como é de costume, mas essa coisa da poesia é contigo, ó Manecas. Faz lá um esforço. As nossas mulheres merecem e tem mais graça ser uma coisa da tua lavra.
-Bom, deixa-me pensar nisso. A inspiração não vem quando a gente quer, mas está bem. Vou ver o que se arranja.
Despediram-se, marcando encontro para as nove da noite.
Todos chegaram á hora aprazada, com as mulheres vestindo os seus melhores vestidos e não conseguindo esconder a surpresa.
-Quem haveria de dizer, interrogavam-se, que os homens, que só pareciam ter olhos para os amigos e para o futebol, se lembrariam de semelhante iniciativa.
A festa foi animada, com as mulheres a aproveitarem a ocasião para lançarem umas farpas sobre o baixo grau de participação masculina nas tarefas domésticas, enquanto os homens se defendiam como podiam, mas nada que perturbasse a cordialidade e a boa disposição.
Cortado o bolo, servido o espumante, e entregue uma rosa amarela a cada senhora, o presidente Sesismundo, disse umas palavrinhas alusivas ao Dia Internacional da Mulher e passou a palavra ao Manecas.
-Minhas senhoras e meus senhores, começou, solene, o Manecas. A pedido do meu amigo Nando, e em representação dos homens presentes, vou recitar um poema da minha autoria, realçando, desde já, que o que me falta em arte e engenho, sobra em amor e respeito por esse ser maravilhoso que é a Mulher.


Mulher
Ser delicado, mas forte
Resistente sem igual
Na vida não perde o norte
Sendo antes o suporte
Do Homem, esse animal.
Cria-lhe os filhos, resiste
Sem amargura ou azedume
Dá-lhe amor, dá-lhe ternura
Para enfrentar a vida dura
Não se lhe ouve um queixume.
Ó mulheres da nossa aldeia
Do mundo, de Portugal
Nós vos homenageamos
E em conjunto celebramos
O Dia Internacional.


Foi um sucesso, e no final da noite havia quem comentasse:
-Na verdade, os nossos homens podem ter os seus defeitos, mas não perderam a sensibilidade...

Sem comentários:

Enviar um comentário