terça-feira, 14 de setembro de 2010

NOVO PROFESSOR, NOVA ESCOLA


Iniciou-se, ontem, mais um ano escolar.
Uma reportagem da RTP, sobre o Colégio Central de Gueifães, na Maia, (http://www.colegiogueifaes.com/identidade.html), que funciona com horários alargados e possui uma vasta gama de actividades extra-curriculares, coisa que não é muito comum em Portugal, motivou-me a abordar este tema.
Afinal, aquela realidade pode perfeitamente ser transposta para a escola pública, eventualmente até com custos inferiores.
Sem prejuízo dos vários avanços conseguidos, permito-me recordar que, desde o 25 de Abril de 1974, sucessivos ministros, da direita à esquerda, foram incapazes de levar a cabo uma reforma que adequasse o sistema educativo à nova realidade social.
Não porque o não desejassem, ou não soubessem como fazê-lo, mas porque a luta política e os interesses corporativos se sobrepuseram ao interesse nacional.
E convém lembrar que passaram pela pasta da Educação ministros com incontestável conhecimento do sector, e reconhecida capacidade e prestígio...
Se tivermos em consideração as transformações sociais ocorridas desde os anos 70, haveremos de reconhecer que os níveis de exigência, em matéria de Educação e não só, se alteraram radicalmente, e isso não podia deixar de se reflectir no quotidiano das escolas, e na vida dos professores.
Hoje, não só as crianças precisam de passar mais tempo na escola, como esta tem o dever de lhes garantir uma qualidade formativa/educativa bem mais exigente do que aquela a que os professores estavam habituados, ou estariam preparados para assegurar.
A realidade dos últimos 36 anos, em matéria de Educação, leva-me a admitir que os intervenientes, tutela, partidos, sindicatos e professores, sintam a necessidade de ver reformulado um conjunto de práticas, mesmo quando alguns incidentes e comportamentos não parecem apontar nesse sentido.
Mas a concretização de verdadeiras reformas só poderá ter lugar quando a Educação deixar de ser palco da batalha política, criando as condições para a definição de um modelo, relativamente consensual, que incorpore uma nova visão do papel da escola e rompa com práticas antigas, hábitos e interesses instalados.
E a participação de alunos e encarregados de educação, se alguma, seja enquadrada de modo a não permitir a perversão dos princípios subjacentes a um adequado modelo escolar.
Os jovens estão na escola para aprender, não para serem mais uma parte no processo de definição e organização do sistema, assim como aos pais, individualmente ou através de comissões, não pode caber outro papel que não o de colaborarem, no sentido da implementação e aperfeiçoamento do sistema.
Não é admissível que, como tantas vezes tem sucedido, em nome de uma suposta democraticidade do sistema, se permita uma enorme bagunça, no funcionamento das nossas escolas.
A transformação do actual sistema de ensino requer uma atitude radicalmente diferente, por parte de todos os que têm responsabilidade na sua definição e implementação, mas, qualquer que seja o modelo a adoptar, todos sabemos que só poderá ser bem sucedido se conseguir reformular o papel destinado aos professores.
Entre outras alterações, é preciso começar por contrariar velhos hábitos, e assegurar que os professores passarão a estar mais horas nas escolas, a acompanhar os jovens nas suas actividades extra-curriculares e a orientá-los no estudo e elaboração dos trabalhos, no período subsequente ao final das aulas.
Por outro lado, para além do seu papel como formadores, os professores terão ainda de aceitar exercer a função de educadores, que a tantos parece desagradar, não transigindo no cumprimento de regras básicas de educação e conduta.
Falo, portanto, de um "novo professor", e de uma "nova escola", onde os professores ensinam e educam, os alunos aprendem e são educados, os pais acompanham e sugerem, e a tutela define, com clareza, os programas e objectivos a atingir por cada estabelecimento de ensino.
Com professores e alunos sujeitos a uma avaliação periódica, baseada em critérios simples e objectivos.
Fácil de sugerir, difícil de concretizar.
Tanto mais quanto nenhuma reforma será verdadeiramente eficaz se estiver condicionada por outros interesses que não os que visam, exclusivamente, a melhoria do sistema educativo...

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