segunda-feira, 13 de setembro de 2010

EM TORNO DA PROBLEMÁTICA...


(Imagem copiada, via Google, do blog geografiassuburbanas.blogspot.com)

Quem já não assistiu à utilização da palavra problemática, a pretexto da análise dos mais diversos temas?
A problemática política, das relações, da saúde, ou do futebol, por exemplo, são expressões que se ouvem frequentemente, e que admito que possam deixar muita gente sem saber, exactamente, o que elas querem significar.
Sugiro, portanto, que comecemos por ver, recorrendo ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa , qual o verdadeiro significado da palavra:

problemática
s. f.
Natureza dos problemas que um filósofo põe a si próprio: A problemática kantiana.

problemático
adj.
1. Duvidoso, incerto.
2. Equívoco.
3. Difícil de interpretar, que se não compreende.

Assim sendo, e nos termos da própria definição, aquilo a que assistimos, muitas vezes, não é mais do que os filósofos, da política, das relações, da saúde, do futebol, ou de outra qualquer coisa, a referirem-se à natureza dos problemas que eles colocam a si próprios, com as suas muitas certezas e poucas, quando algumas, dúvidas.
Em reflexão, atrevo-me a sugerir que possa residir aí um dos grandes males da sociedade portuguesa, ou seja, somos um povo que privilegia a filosofia, em detrimento da acção, mas de convicções inabaláveis.
É comum ouvir dizer-se que é bem mais fácil criticar do que fazer, o que, sendo reconhecidamente verdade, assenta numa lógica elementar: quem nunca faz nada nunca erra e quem nunca erra não corre o risco de ser criticado, bem pelo contrário...
E como até no humor, como é sabido, somos um povo que sempre preferiu explorar as fraquezas dos outros a ironizar sobre as suas, ao contrário do que sucede, por exemplo, com os ingleses, isso acaba por também ter grande influência no nosso comportamento.
Por isso acredito que, o receio da crítica pode ser uma das explicações possíveis para o primado da filosofia, em detrimento da apresentação de soluções para os problemas, e o empenhamento na sua concretização.
Se tivermos em consideração que o reconhecimento dos erros obriga a ter de lidar com a crítica, quando não com a censura, facto para o qual raramente estamos preparados, tudo se torna um pouco mais compreensível.
No fundo, no fundo, a maioria de nós, tal como o nosso Presidente da República, nunca se engana e raramente tem dúvidas, e quando a coisa dá para o torto nada melhor do que encontrar um terceiro em quem colocar a culpa, para que não fique a impressão de que morre solteira...
E é neste contexto que sou levado a pensar que, com menos problemática e mais empenho na procura de soluções talvez as coisas pudessem ser diferentes, para melhor.
Decerto que erraríamos mais e as críticas aumentariam, mas a nossa capacidade para enfrentar as dificuldades melhoraria bastante e estaríamos a dar um passo importante no sentido de um maior pragmatismo na abordagem dos problemas. Para além de que seria um enorme contributo para a mudança das mentalidades.
Mas isto não passa, é claro, da minha perspectiva sobre esta problemática...

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