quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A PROPÓSITO DA MORTE DE UM AMIGO...


Perder, de forma inesperada, um amigo, é um sentimento difícil de descrever.
Mas existem vidas para as quais a morte se transforma num alívio, num merecido descanso, atentas as dificuldades humanas para lidar com situações de angústia e sofrimento, causadas por terceiros...
Morrer de morte natural, repentina, é uma bênção, mesmo quando ela vem aos 58 anos, uma idade bem distante da esperança média de vida, nos nossos dias.
Todos sabemos que a morte é a coisa mais natural da vida, mas comportamo-nos como se fossemos viver indefinidamente, o que torna o mundo infinitamente pior do que seria se tivéssemos presente, diariamente, essa realidade.
O dinheiro gasto em flores, por muitos dos que passaram no velório foi, seguramente, superior ao que gastaram, ao longo da sua vida, para lhe proporcionarem momentos agradáveis e lhe dizerem quanto o apreciavam.
As conversas sobre o que foi, e poderia ter sido, a sua vida excederam, muito provavelmente, os momentos de trocas de impressões, sinceras, que com ele tiveram.
As virtudes que nele descobriram, depois de morto, raramente lhe terão sido expressas em vida, fazendo-lhe saber que podia contar com o seu apoio em momentos de dificuldade, e por tantos ele passou...
Foi cremado, mesmo sem que tenha declarado ser essa a sua vontade, o que é sempre melhor, digo eu, do que estar sepultado numa campa ao abandono, como é minha convicção que acabaria por acontecer...
Por tudo isto, não resisti a uma reflexão, tão fria quanto possível, a este respeito, que mais não fez do que reforçar as minhas convicções, tantas vezes transmitidas ao meu filho e que aproveito para partilhar convosco:
-Quando morrer quero ser cremado, pois o trabalho que dei em vida á família e aos amigos foi mais do que suficiente;
-Dispenso a presença, nas cerimónias fúnebres, de todos os que me trataram mal em vida, ou para quem fui indiferente. Eles poupam tempo, e o defunto agradece;
-Lembrem-me como fui, com as poucas qualidades e os muitos defeitos que tenho, não vá o Senhor enganar-se, tomar-me como um anjo, e atirar-me directamente para o Céu, coisa que não mereço, que me parece ser, numa perspectiva agnóstica e terrena, um local entediante;
- Não chorem a minha ausência, celebrem o meu alívio por já não ter de aturar tanto cinismo, tanta hipocrisia, tanta injustiça e tanta maldade;
-Não gastem dinheiro em flores, que prestam um muito melhor serviço aos vivos quanto viçosas, alegrando um jardim, do que mortas, secando num cemitério. O defunto dispensa, e a natureza agradece.
E para terminar, uma nota final, não menos importante:
Se, por acaso, alguém sentir o desejo de me manifestar a sua amizade ou apreço, agradeço que o faça em vida, enquanto tenho tempo de agradecer e retribuir. Depois de morto, fica dispensado.

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