quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

POSTAIS DE MONTEVIDEO


Este será o último postal, desta pequena série, relacionado com a viagem de comemoração do meu 57º aniversário.
Depois de ter sido bafejado pela sorte, no casino, o dia de aniversário começou com um "tour" pela cidade, que me deu a conhecer várias das suas largas avenidas, alguns dos aprazíveis parques e jardins, belos monumentos e edifícios, e lindas praias, de areia branca.
Ainda a digerir a beleza do passeio, decidi-me por um almoço no Mercado del Puerto, inaugurado em 1868, cuja estrutura metálica foi importada de Inglaterra, e onde não falta o típico relógio inglês.
De seguida, mais um passeio pela Ciudad Vieja, aproveitando para comprar algumas pequenas lembranças, em direcção ao hotel, para dar algum descanso às minhas hérnias.
Á noite, um jantar no restaurante Fun Fun, um dos mais emblemáticos da cidade, onde tive ocasião de provar uma "uvita", uma mistura de vinhos diversos, que, confesso, não recomendaria.
A comida estava excelente, mas a qualidade do serviço merece particular distinção, e espero poder reencontrar o Alvaro, que foi de uma atenção, e simpatia, inexcedíveis.
Dos restantes dias, destaco a visita ao Museo del Futbol, situado no Estadio Centenario, onde tive oportunidade de ver uma cópia da famosa Taça Jules Rimet, entregue ao Uruguai, em 1930, pela sua vitória no primeiro campeonato do mundo de futebol.
Entre várias outras preciosidades, merecem realce as camisolas, autografadas, de Pelé e Maradona, bem como uma fotografia da Selecção Nacional Portuguesa, não datada, na qual não reconheci qualquer jogador, mas que me pareceu ser dos anos 50.
Curiosamente, um chileno, que visitava o museu, na companhia da sua mulher e do seu filho, ao aperceber-se que eu era português, debitou, sem hesitar, o nome dos titulares da selecção portuguesa, na célebre campanha de 1966.
Claro que conversa puxa conversa, e depois de deixar bem claro que a equipa portuguesa tinha sido a melhor, nesse mundial, falou de Eusébio, e do Benfica, mencionando, um por um, os jogadores que ganharam a segunda Taça dos Campeões Europeus.
Foi uma surpresa bem agradável, tanto mais que me falou de Lisboa, de Portugal, e dos portugueses, com uma admiração, e um carinho, que me impressionaram.
Feitas as despedidas, e como o estádio se encontra no esplêndido Parque Battle y Ordóñes, um verdadeiro pulmão da cidade, aproveitei para conhecer outras instalações desportivas, como La Pista de Atletismo e o Velódromo Municipal, num passeio a pé que só terminaria no hotel, depois de percorrer a longa, e bela, 18 de Julio, a principal avenida de Montevideo, com paragem na Plaza Ingeniero Juan P Fabini, como a foto documenta, para um generoso chivito e uma cervejinha.
Um novo jantar, no Fun Fun, desta vez para, além de saciar a fome, assistir a um espectáculo de tango, cantado e dançado, merece ser lembrado, tanto mais que foi uma excelente forma de terminar a noite.
O sábado foi dedicado ao futebol, e ao Carnaval, com o regresso ao Estadio Centenario, para assistir ao jogo Peñarol-Fénix, com o detalhe de Urretavizcaya, emprestado pelo Benfica ao Peñarol, ter tido uma fraca prestação, seguido de um espectáculo de Carnaval, no Velódromo, com grupos de teatro, mascarados, fazendo o mais diverso tipo de sátiras.
Devo confessar que não percebi boa parte do que foi dito, mas os grupos La Clave e La Confradía proporcionaram-me, apesar disso, momentos bem agradáveis, e divertidos.
Em conclusão, digo-vos que se tratou de uma viagem extremamente interessante, e muito agradável, e tenho a esperança de que estes meus breves "postais" possam suscitar a vossa curiosidade, e interesse, por uma cidade que merece ser visitada, e divulgada.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

RONALDO, O FENÓMENO


Ronaldo, que os brasileiros gostam de apelidar de fenómeno, mas a quem, ultimamente, muitos apelidavam de gordo, anunciou, na semana passada, o abandono do futebol.
Segundo o jogador, foi o corpo que o traiu, porque a sua vontade era a de poder jogar mais uns anos, mas não é verdade.
A partir de determinada idade, a prática de um desporto de alta competição fica mais difícil, e foi a idade, e não o corpo, que o traiu, embora não me custe admitir que as lesões sofridas, ao longo da carreira, tenham dado um contributo importante.
Ronaldo foi, de facto, um dos grandes jogadores do futebol mundial, tendo sido eleito, por três vezes, o melhor jogador do mundo, e continua a ser o jogador que mais golos marcou, em campeonatos do mundo.
Mental e fisicamente muito forte, demonstrou uma invulgar determinação ao ressurgir, ao seu melhor nível, quando muitos o davam como acabado para o futebol.
E, até por tudo isso, foi pena que não tivesse sido capaz de avaliar, correctamente, o momento da retirada, e abandonado o futebol no final de 2009.
Goste-se, ou não, trata-se de uma saída pela porta dos fundos, mas que em nada influencia, naturalmente, a brilhante carreira de Ronaldo como jogador. E custa ver aquele que foi uma das grandes estrelas do futebol mundial sair deste modo, num momento em que era um dos alvos da torcida do Corinthians, devido à eliminação, precoce, do clube, na Taça dos Libertadores da América.
Decerto que Ronaldo reconhecia a fraca qualidade do seu rendimento desportivo, por maior que fosse a sua vontade de continuar a jogar, pelo que, apesar de muito difícil, a sua decisão apenas pecou por tardia.
E dizer, como fez o jogador, que se tratou da sua "primeira morte" é um enorme exagero, apenas desculpável pela carga emocional associada à decisão, como desculpável foi a sua explicação para o excesso de peso, contrariada, de seguida, por vários especialistas em medicina desportiva.
Mas as grandes estrelas merecem que lhes perdoemos estes pequenos pecados, e que guardemos delas a esplendorosa imagem das suas prestações. E Ronaldo, com as suas jogadas e os seus golos, foi uma grande estrela, que encantou todos aqueles que gostam de futebol.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

POSTAIS DE MONTEVIDEO


Chegado, a Montevideo, na tarde do dia 15, e após um pequeno período de descanso, para acalmar as hérnias, saí em direcção à Plaza Independência, que faz a transição entre a Ciudad Nueva e a Ciudad Vieja, que a foto reproduz.
O objectivo era passear pela Ciudad Vieja, percorrendo a famosa Calle Sarandi, em direcção ao Rio de la Plata, para seguir até ao Mercado del Puerto, o verdadeiro centro gastronómico da cidade.
Foi o meu primeiro contacto, a pé, com Montevideo, e fiquei de tal forma encantado que abusei dos quilómetros percorridos, mas valeu a pena.
No regresso ao hotel, debaixo de muito calor, uma paragem na Plaza Constitución, ou Plaza Matriz, para comer um "chivito", uma sanduíche de carne, ovo cozido, bacon, tomate, alface, enfim, tudo o que o pão puder comportar, e tomar uma Pilsen, bem geladinha, a cerveja nacional que disputa, com a Patrícia, a liderança do mercado.
À noite, depois de novo período de descanso, e de um banho, uma visita ao belo Teatro Solis, e jantar num café, perto do teatro, com o mesmo nome.
Entretanto, um telefonema do meu filho, antecipando os parabéns, e querendo saber onde iria passar a meia-noite, com a promessa de voltar a ligar, mais tarde.
Indeciso, quanto ao que fazer, optei por entrar num casino, perto da Plaza Independência, disposto a arriscar mil pesos, o equivalente a cinquenta USDólares, nas máquinas, e ali iniciar aquele que seria o dia do meu aniversário.
E quando tinha jogado, apenas, pouco mais de trezentos pesos, a máquina perdeu o tino e começou a piscar por todo o lado, brindando-me com a generosa quantia de dezasseis mil pesos.
Escusado será dizer que, o jogo terminou ali, com a passagem pela caixa, para recolha do dinheirinho.
Cortesia do casino, acabava de receber um presente, de aniversário, de montante equivalente ao custo da viagem e do hotel.
Depois, seguiu-se uma chamada para o meu filho, para lhe dar a boa notícia, e o regresso ao hotel.
O dia de aniversário começava bem, e o tradicional "tour" pela cidade, marcado para as nove horas da manhã, prometia uma boa continuação...

POSTAIS DE MONTEVIDEO


Este ano tive um aniversário diferente. Com o meu filho em viagem, optei por me oferecer, como presente, uma viagem a Montevideo.
Nunca tinha estado no Uruguai, mas, das minhas leituras, ficara com a impressão de que se tratava de um simpático e pequeno país, pacato, acolhedor, e com o atractivo adicional de ser o mais alfabetizado da América Latina.
Viajei sozinho, como frequentemente sucede, mas nem por isso a viagem foi menos agradável.
Numa apreciação global, devo dizer que as minhas expectativas foram superadas, pois estive numa linda cidade, muito arborizada, com belos parques e largas avenidas, sem trânsito excessivo, com preços acessíveis, e onde se come muito bem.
As pessoas foram, sempre, extremamente amáveis, e tive a felicidade de o tempo ter estado excelente, embora com momentos de demasiado calor.
Montevideo, onde acabei por ficar cinco dias, é uma bela cidade, que me fez lembrar Lisboa, em vários aspectos, dos quais saliento os belos monumentos e edifícios, alguns a necessitar de restauro urgente, e o facto de ser banhada por um rio, digno desse nome, o "Rio de la Plata", com belas praias de areia branca, (como se pode ver pela foto, tirada do avião).
Entrei, assim, no meu quinquagésimo sétimo aniversário de forma diferente, aproveitando para conhecer, e aprender, um pouco mais, do mundo, e das suas gentes.
E a verdade é que comecei a aprender logo à chegada, ao tomar conhecimento de que estava na "República Oriental del Uruguay", porquanto desconhecia a inclusão da palavra "Oriental", na designação do país.
Tal como aprendi que, uma das versões quanto à origem do nome da cidade de Montevideo, é a de que teria sido um português que, ao avistar o seu ponto mais alto, um monte com 130 metros, terá dito, "monte, vi eu". Verdade, ou não, não deixa de ser simpático, para um português, ouvir esta versão...
E fiquei, também, a saber que muitos uruguaios se designam, a si mesmos, como "orientales", e que o país acabou por incorporar no nome a designação que lhe foi atribuída enquanto colónia espanhola, por se tratar da mais oriental, da América Latina.
Outra surpresa, bem agradável, foi ter verificado que o meu castelhano chega para as encomendas, o que contribuiu, bastante, para tornar ainda mais agradável a estadia.
De um conjunto de peripécias, interessantes, ligadas a esta viagem, vos darei conta noutros "postais", como este, mas não quero terminar sem dizer, para vos aguçar o apetite, que esta foi a viagem mais barata que me lembro de ter efectuado...
Os motivos, esses, ficam para o próximo postal.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

VIVA O VALENTIM...E O BACALHAU!


Para quem como eu, não conhecia a origem do "Dia de São Valentim", ou Dia dos Namorados", aqui fica a explicação, fornecida pela Wikipédia:

História

A história do Dia de São Valentim remonta a um obscuro dia de jejum já tido em homenagem a São Valentim. A associação com o amor romântico chega depois do final da Idade Média, durante o qual o conceito de amor romântico foi formulado.
O bispo Valentim lutou contra as ordens do imperador Cláudio II, que havia proibido o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros eram melhores combatentes.
Além de continuar celebrando casamentos, ele se casou secretamente, apesar da proibição do imperador. A prática foi descoberta e Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto estava preso, muitos jovens davam flores e bilhetes dizendo que os jovens ainda acreditavam no amor. Enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sua sentença, ele se apaixonou pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes de partir, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para ela, na qual assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”.
Considerado mártir pela Igreja Católica, a data de sua morte - 14 de fevereiro - também marca a véspera de lupercais, festas anuais celebradas na Roma antiga em honra de Juno (deusa da mulher e do matrimônio) e de Pan (deus da natureza). Um dos rituais desse festival era a passeata da fertilidade, em que os sacerdotes caminhavam pela cidade batendo em todas as mulheres com correias de couro de cabra para assegurar a fecundidade.
Outra versão diz que no século XVII, ingleses e franceses passaram a celebrar o Dia de São Valentim como a união do Dia dos Namorados. A data foi adotada um século depois nos Estados Unidos, tornando-se o Valentine's Day. E na Idade Média, dizia-se que o dia 14 de fevereiro era o primeiro dia de acasalamento dos pássaros. Por isso, os namorados da Idade Média usavam esta ocasião para deixar mensagens de amor na soleira da porta da amada.
O dia é hoje muito associado com a troca mútua de recados de amor em forma de objetos simbólicos. Símbolos modernos incluem a silhueta de um coração e a figura de um Cupido com asas. Iniciada no século XIX, a prática de recados manuscritos deu lugar à troca de cartões de felicitação produzidos em massa. Estima-se que, mundo afora, aproximadamente um bilhão de cartões com mensagens românticas são mandados a cada ano, tornando esse dia um dos mais lucrativos do ano. Também se estima que as mulheres comprem aproximadamente 85% de todos os presentes no Brasil.
O dia de São Valentim era até há algumas décadas uma festa comemorada principalmente em países anglo-saxões, mas ao longo do século XX o hábito estendeu-se a muitos outros países.
(fim de citação)

Não deixa de ser curioso que, a homenagem ao santo, promovido a mártir, tenha começado por se fazer jejuando, para se transformar, depois, no Dia dos Namorados. Ou seja, do jejum à barriga cheia foi um instantinho...
E mais curioso, ainda, o facto de este ser um santo que quebrou as regras eclesiásticas, casando, ás escondidas.
Trata-se de mais uma prova, para os cépticos, de que o amor não conhece barreiras, e de um daqueles casos em que se pode dizer, com propriedade, que quando um homem nasce santo, nada pode contrariar o seu destino. Há homens assim...
Seja como for, a verdade é que se começou a honrar a memória do santo por ele apreciar o sexo oposto, e ter lutado em favor do casamento, dando, ele próprio, o exemplo, o que são dois excelentes motivos.
A Wikipédia não explica, pelo que fiquei na dúvida, se a filha do carcereiro, por quem o santo se apaixonou, antes de morrer, seria a mesma mulher com quem casou, mas isso também não é relevante.
O certo é que, por conta do Valentim, tenho, todos os anos, por esta altura, a caixa de correio electrónico invadida, com as mais variadas sugestões de presentes, para oferecer "à amada", como jantares românticos, ou paradisíacas viagens. E são muitos os Valentinos que compram...
A avaliar pelo que leio, nem a crise internacional é suficiente para travar os Valentinos, na sua ânsia de manifestarem o seu amor, e agradarem ao parceiro, para gáudio dos comerciantes. Haja saúde!
Mas embora não sendo um entusiasta destes dias especiais, não deixo de achar uma certa piada ao facto de, por exemplo, também já ser comemorado o Dia do "Sushi", aquele rolinho japonês, de arroz, com recheios de diversa natureza, e que eu não consigo tragar.
Daí que, a propósito de mais um "Dia dos Namorados", e não querendo ficar totalmente arredado das festividades, tenha decidido deixar-vos uma sugestão, para a instituição de mais um dia festivo:
"O Dia do Bacalhau", de preferência, "com todos".
Seria uma forma de honrarmos, condignamente, o "fiel amigo", os amigos fiéis devem ser homenageados, e perpetuar a memória de um animal em vias de extinção.
E se nos lembrarmos do preço a que está o quilo, do dito, perceberemos que, mais dia menos dia, a única lembrança que muitos portugueses terão dele, para além das imagens recolhidas na net, será, quando muito, o cheiro...
Vivam, pois, o Valentim...e o Bacalhau!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

PAI



Dois anos são passados, quem diria,
A morte ali, à espreita, sorrateira,
Para nos privar da tua companhia.
E nós, teus filhos, à tua cabeceira,
Como há tantos anos não acontecia...

Lembrar-te é fácil, difícil é escrever,
Porque a saudade, essa, não se vai.
Estou sem palavras, "chincha", querido Pai,
Para uma homenagem digna do ter Ser...
Homens, como tu, não deviam morrer!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A BRINCAR COM O FOGO...


Diz o povo, e o povo costuma ter razão, que ninguém é bom julgador em causa própria.
Seguramente que isso também se aplica à minha pessoa, o que me levou a ter especiais cuidados, na escrita deste "post".
Confesso-me simpatizante do Partido Socialista, do qual já fui militante, mas acredito que isso não me impede de manter, relativamente ás políticas do partido, e do governo, uma atitude crítica, sempre que entendo que se justifica.
Já aqui escrevi, por diversas vezes, que não me agradam alguns tiques de arrogância de José Sócrates, assim como entendo que o país, o governo, o partido, e ele mesmo, dispensavam algumas das trapalhadas em que se deixou envolver.
Que o homem não é aquilo que se costuma designar por "um santo", já todos percebemos, mas, que diabo, também já só falta acusá-lo de mandar chover...
Acresce que, "santos", em política, é coisa rara, ou nunca vista, seja qual for o partido que queiramos considerar.
Sou de opinião que os portugueses têm, da política, uma visão muito semelhante à que têm do futebol, o mesmo é dizer, quem não é dos meus é contra mim, e todos os meios são bons para destruir o adversário.
E é pena que assim seja, porque se o futebol é, apenas, uma actividade desportiva, a política mexe com a vida de todos os portugueses, e merece ser tratada com outra dignidade.
Mas como também são portugueses, a maior parte dos profissionais da nossa comunicação social, muito do que vemos, lemos, e ouvimos, tem aquela pontinha de parcialidade que costuma estar subjacente ás discussões de café, ainda que disfarçada, com maior, ou menor, habilidade.
Que Sócrates, e o seu governo, cometeram vários erros, sobretudo em matéria de excesso de despesa, não é novidade para ninguém, mas não é por isso que se lhe podem assacar todas as culpas das dificuldades que o país atravessa, ignorando os efeitos da crise internacional, na nossa débil economia.
A acusação de excesso de optimismo, tão frequentemente utilizada, é, a meu ver, uma das suas grandes virtudes, num país onde grassa o pessimismo, e o bota-abaixo, e as pessoas, mesmo as que viram o seu nível de vida, substancialmente, melhorado, nas últimas décadas, continuam a preferir o discurso da "tanga", e do "coitadinho".
Assim como cabe reconhecer que, durante o seu primeiro governo, Sócrates procurou, de facto, efectuar algumas reformas importantes, em diversos sectores da sociedade portuguesa.
Nalguns casos, como na reforma da Segurança Social, teve sucesso, noutros nem tanto, mas muito por razões que têm mais a ver com o peso de algumas corporações, do que com a sua resignação perante as dificuldades.
Lembro-me, por exemplo, da triste figura de um líder da oposição, a propósito do encerramento de algumas maternidades, sem condições, referindo que muitas mães portuguesas teriam que ir ter os seus filhos a Espanha, e do alarido político, em torno desse assunto, que acabou por conduzir à demissão de um dos melhores ministros do governo.
Como também recordo o que tem sido o papel das diferentes forças políticas nas questões relacionadas com a educação, e com os professores, matérias onde me parece ficar claro que, subjacentes ás diferentes posições, estão motivações de natureza eleitoral, em proporção muito superior aos interesses da política educativa, e do país.
Mas a que propósito é que este tipo vem com esta conversa, perguntarão alguns daqueles que se derem ao trabalho de ler este escrito.
A propósito do recente veto do presidente da república, ao diploma sobre as prescrições médicas, e da anunciada disposição do PCP para viabilizar, com o PSD e o CDS, a aprovação de uma moção de censura ao governo, respondo eu.
Não que me pareça que o o veto não seja justificado, pelo contrário, mas considero lamentável o aproveitamento político que já se está a fazer desta situação, como se pode ver pela capa do jornal i, de hoje.
E se uma maioria parlamentar, no seu perfeito juízo, entender que deve derrubar o governo, como defendem várias figuras, ilustres, da política portuguesa, então terei de rever muitos dos meus conceitos, relativamente à política, e aos políticos.
A verdade é que, nos tempos que correm, bate-se em Sócrates, e no seu governo, por dois motivos: Por tudo, e por nada!
O que não me parece, nem sério, nem razoável.
Não sei, nem quero saber, quem tem telhados de vidro, ou rabos de palha, na política nacional, mas, a avaliar pelas insinuações, serão, infelizmente, muito poucos os que passariam incólumes, num escrutínio rigoroso.
O próprio Cavaco Silva, que disse "estar para nascer" um político mais sério do que ele, já provou o fel da suspeição, a propósito do chamado "caso BPN", e não se livra do labéu...
Salvo melhor opinião, o modo como se está a fazer política, em Portugal, afasta os eleitores, e é pena.
As n explicações que se encontram, para justificar os elevados níveis de abstenção, podem ter, todas, algum fundamento, mas não reconhecem, a meu ver, o essencial: As pessoas estão fartas de politiquice, que tem sido a principal forma de fazer política, nos últimos anos, no nosso país.
Quando os políticos se tratam por mentirosos, ou se acusam de falta de credibilidade, e outros mimos semelhantes, demonstrando evidente falta de respeito uns pelos outros, estão a pôr em causa a própria política, e a credibilidade da actividade que desenvolvem. Se não percebem isto, talvez seja tempo de pensarem em mudar de profissão...
E se não arrepiarem caminho, o que também vale para a comunicação social, acredito que já não faltará muito para que, nas eleições para o parlamento, tal como sucedeu com as presidenciais, a abstenção se torne o maior partido português.
E se alguém ainda acredita que, a prazo, isto pode continuar, sem consequências de maior, ou muito me engano, ou está, redondamente, enganado.
Pelo sim, pelo não, seria bom que deixassem de brincar com o fogo...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

EM DEFESA DOS "IMPUROS"...



A notícia tem uns dias, e chegou-me através do jornal "Folha de S.Paulo":
Candidatas a professoras, no Estado de São Paulo, depois de aprovadas, em concursos, chumbaram, no exame médico, por serem obesas.
E não resisti a pensar, para comigo: Depois dos fumadores, chegou a vez da perseguição aos obesos.
Já, em tempos, escrevi, neste mesmo blog, que as movimentações existentes, nos Estados Unidos, contra a obesidade, não indiciava nada de bom, já que, como todos sabemos, é a partir dos EUA que se difundem as grandes limitações aos direitos individuais, em nome do direito colectivo, como sucedeu com o tabaco.
Uma vez adoptadas, essas restrições propagam-se à Europa, via Grã-Bretanha, e à América Latina, via Brasil.
E se tomarmos como exemplo o que sucedeu com o tabaco, com estados americanos a aprovarem a proibição de se fumar nas ruas, mas não a sua venda, poder-se-à dizer que os "gordos" estão em maus lençóis...
Nunca percebi, que não por motivos de mero fundamentalismo, o que leva um país a limitar os direitos dos cidadãos, e de alguns empresários, ao impedir a existência de espaços para fumadores, em locais públicos, desde que assegurada a possibilidade de não contaminação, dos cidadãos "normais".
E não adianta, sequer, a utilização do argumento dos custos, para o estado, com a saúde dos que fumam, porque os impostos que esses "impuros" pagam, pelo consumo do tabaco, chegam, e sobram, para financiar o gasto.
Sucede, apenas, que os "puros, normais e sãos", resolveram acantonar os "impuros, anormais e potencialmente cancerosos", com medo da contaminação, em nome dos superiores interesses da saúde pública.
Nem os contaminados com HIV, ou outras doenças contagiosas, sofrem, publicamente, semelhante discriminação.
E não deixa de ser irónico que esse movimento tenha surgido num país onde a saúde é um dos maiores negócios do mundo, no qual o estado tem feito o que pode para se demitir das suas responsabilidades, para com os cidadãos, nessa matéria...
Mas, neste mundo hipócrita e tão politicamente correcto, ninguém ousou pôr em causa o excesso de zelo, para com os fumadores, e abriu-se a porta para que os "gordos" sejam os senhores que se seguem...
Eu, que nada tenho contra os gordos, pelo contrário, acho, até, que isso lhes confere alguma bonomia, não tenciono, tal como fiz, e faço, com o tabaco, ficar calado, ou conformar-me com a medida.
E porque esta triste notícia me chega de um país que eu adoro, e que tem, entre os seus cidadãos mais ilustres, um dos "gordos" mais famosos do mundo, não resisti a interrogar-me sobre o que pensará, de tudo isto, Jô Soares.
E se, um destes dias, por ser manifestamente "gordo", e se orgulhar disso, (lembram-se do programa "Viva o Gordo e Abaixo o Regime"?), vier a ser proibido de apresentar o seu programa na Globo? Ou de publicar mais um dos seus excelentes livros, pelo simples facto de ser "gordo"?
Vão longe os tempos em que eu ouvia dizer que "gordura é formosura", mas nem o mais profético dos "gordos" poderia imaginar que viria a ser socialmente discriminado, pelo facto de a sua gordura o desconsiderar como pessoa "normal".
E, confesso, temo que esta sociedade de pessoas "normais", que já quase criminaliza o tabaco, mas fala em liberalizar as drogas, não se contente em ficar por aqui...
Há umas décadas, não tão distantes quanto isso, também houve quem pensasse que havia uma raça superior, naturalmente loira e de olhos azuis, e quem, com receio da contaminação, e em nome da sua preservação, ordenasse a prisão e destruição das raças "impuras". Tudo, é claro, em nome de um mundo melhor, e mais "limpo"...
Chamaram-lhe, mais tarde, histeria colectiva, a mesma em que parecem mergulhados, em nome de princípios politicamente correctos, muitos humanos, "normais", do nosso tempo. E nem as democracias, que sobrevieram à guerra, e à perseguição aos "impuros", ou os tão propalados direitos dos cidadãos, parecem capazes de a evitar...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

ATÉ SEMPRE, MÁRIO


O teu genro, o João Vicente Ribeiro, acabou de me informar, Amigo.
Decidiste, Mário Nunes da Silva, fazer a viagem que todos temos reservada, sem me dares tempo para me despedir.
Estou muito mais pobre!
Mas eu sei que não morreste. Tu és daqueles que nunca morrem, tal como o nosso querido Gualter Basílio, com quem te imagino, agora, recordando aquelas famosas histórias da Constituinte, que tantos momentos de boa disposição nos proporcionaram.
A tua partida é, para mim, apenas mais um pequeno interregno, até ao nosso próximo encontro, como várias vezes sucedeu, ao longo das nossas vidas.
As lágrimas que deixei cair, inadvertidamente, ao receber a notícia, e agora que te escrevo estas linhas, são o espelho de tudo o que me vai na alma e que não sou capaz de descrever.
Tu, como eu, sabemos que, ao contrário dos que nos foi dito, tantas vezes, ao longo da nossa juventude, não é feio um homem chorar, e tantas foram as situações em que chorámos juntos, de alegria e de tristeza.
Como naquela primeira campanha eleitoral, em liberdade, para a Assembleia Contituinte, e a madrugada, de 24 para 25 de Abril, de 1975, esperando, ansiosamente, o momento da abertura das urnas, que viria a constituir um importante marco nas nossas vidas. Um dia inesquecível para nós, e para o nosso querido José Magalhães Godinho, que também nos deixou demasiado cedo...
Foi nessas batalhas que nos conhecemos, e foram elas que consolidaram a nossa Amizade.
Com a tua partida, amigo, o GRES nunca mais será o mesmo. Não só porque eras, e serás, o seu eterno presidente, mas porque tenho dificuldade em conceber as reuniões do grupo da Constituinte, sem a tua presença, e a do Gualter.
Resta-me o privilégio de guardar as actas, daqueles que foram momentos maravilhosos, na companhia de verdadeiros Amigos.
Tanta coisa que eu gostava de te dizer, meu querido Mário, mas, confesso, tenho dificuldade em articular as ideias, e a escrita.
Até sempre, querido Amigo, com um abraço do tamanho do mundo. Os Homens, como tu, nunca morrem!

RECORDANDO O IRÃO...


A situação no Egipto continua a concentrar as atenções do mundo inteiro.
As dezenas de milhares de manifestantes, que reclamam a saída de Mubarak, e a instauração de um regime democrático, merecem, genericamente, a simpatia das democracias ocidentais ocidentais, com muita gente a associar-se ao desejo de queda, imediata, do regime.
Mas as cautelas evidenciadas pelos Estados Unidos, e a União Europeia, relativamente ao abandono de Mubarak, parecem fazer sentido, atento o risco de aumento da turbulência, e da influencia islâmica, no pais.
Que me perdoem os mais entusiastas, mas tenho dificuldade em partilhar a sua euforia, quanto a um futuro mais democrático, para o Egipto.
Recordo o que se passou no Irão, e as ilusões que todos tivemos, após o abandono do Xá, com um país que aparentava ter todas as condições para poder tornar-se numa próspera democracia, e acabou nas mãos dos aiatolas, com os resultados que todos conhecemos...
A política das nações, e a de Portugal não foge à regra, não pode deixar de assentar em considerações de natureza estratégica, mesmo que isso implique algumas concessões, no que respeita aos princípios consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Podemos não gostar, mas é assim que as coisas funcionam, e existem, por vezes, muito boas razões para que se defendam processos de transição cautelosos.
Como o Irão demonstrou, não chega defender a democracia, e a aplicação de princípios democráticos, para que tudo corra bem, e o mundo se torne mais justo, mais democrático e mais próspero.
A democracia tem fortes inimigos, e, de entre eles, venha o diabo e escolha...
Só desejo que não se confirmem os meus piores receios, e expectativas, a bem do povo egípcio e da paz no mundo.