quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A BRINCAR COM O FOGO...


Diz o povo, e o povo costuma ter razão, que ninguém é bom julgador em causa própria.
Seguramente que isso também se aplica à minha pessoa, o que me levou a ter especiais cuidados, na escrita deste "post".
Confesso-me simpatizante do Partido Socialista, do qual já fui militante, mas acredito que isso não me impede de manter, relativamente ás políticas do partido, e do governo, uma atitude crítica, sempre que entendo que se justifica.
Já aqui escrevi, por diversas vezes, que não me agradam alguns tiques de arrogância de José Sócrates, assim como entendo que o país, o governo, o partido, e ele mesmo, dispensavam algumas das trapalhadas em que se deixou envolver.
Que o homem não é aquilo que se costuma designar por "um santo", já todos percebemos, mas, que diabo, também já só falta acusá-lo de mandar chover...
Acresce que, "santos", em política, é coisa rara, ou nunca vista, seja qual for o partido que queiramos considerar.
Sou de opinião que os portugueses têm, da política, uma visão muito semelhante à que têm do futebol, o mesmo é dizer, quem não é dos meus é contra mim, e todos os meios são bons para destruir o adversário.
E é pena que assim seja, porque se o futebol é, apenas, uma actividade desportiva, a política mexe com a vida de todos os portugueses, e merece ser tratada com outra dignidade.
Mas como também são portugueses, a maior parte dos profissionais da nossa comunicação social, muito do que vemos, lemos, e ouvimos, tem aquela pontinha de parcialidade que costuma estar subjacente ás discussões de café, ainda que disfarçada, com maior, ou menor, habilidade.
Que Sócrates, e o seu governo, cometeram vários erros, sobretudo em matéria de excesso de despesa, não é novidade para ninguém, mas não é por isso que se lhe podem assacar todas as culpas das dificuldades que o país atravessa, ignorando os efeitos da crise internacional, na nossa débil economia.
A acusação de excesso de optimismo, tão frequentemente utilizada, é, a meu ver, uma das suas grandes virtudes, num país onde grassa o pessimismo, e o bota-abaixo, e as pessoas, mesmo as que viram o seu nível de vida, substancialmente, melhorado, nas últimas décadas, continuam a preferir o discurso da "tanga", e do "coitadinho".
Assim como cabe reconhecer que, durante o seu primeiro governo, Sócrates procurou, de facto, efectuar algumas reformas importantes, em diversos sectores da sociedade portuguesa.
Nalguns casos, como na reforma da Segurança Social, teve sucesso, noutros nem tanto, mas muito por razões que têm mais a ver com o peso de algumas corporações, do que com a sua resignação perante as dificuldades.
Lembro-me, por exemplo, da triste figura de um líder da oposição, a propósito do encerramento de algumas maternidades, sem condições, referindo que muitas mães portuguesas teriam que ir ter os seus filhos a Espanha, e do alarido político, em torno desse assunto, que acabou por conduzir à demissão de um dos melhores ministros do governo.
Como também recordo o que tem sido o papel das diferentes forças políticas nas questões relacionadas com a educação, e com os professores, matérias onde me parece ficar claro que, subjacentes ás diferentes posições, estão motivações de natureza eleitoral, em proporção muito superior aos interesses da política educativa, e do país.
Mas a que propósito é que este tipo vem com esta conversa, perguntarão alguns daqueles que se derem ao trabalho de ler este escrito.
A propósito do recente veto do presidente da república, ao diploma sobre as prescrições médicas, e da anunciada disposição do PCP para viabilizar, com o PSD e o CDS, a aprovação de uma moção de censura ao governo, respondo eu.
Não que me pareça que o o veto não seja justificado, pelo contrário, mas considero lamentável o aproveitamento político que já se está a fazer desta situação, como se pode ver pela capa do jornal i, de hoje.
E se uma maioria parlamentar, no seu perfeito juízo, entender que deve derrubar o governo, como defendem várias figuras, ilustres, da política portuguesa, então terei de rever muitos dos meus conceitos, relativamente à política, e aos políticos.
A verdade é que, nos tempos que correm, bate-se em Sócrates, e no seu governo, por dois motivos: Por tudo, e por nada!
O que não me parece, nem sério, nem razoável.
Não sei, nem quero saber, quem tem telhados de vidro, ou rabos de palha, na política nacional, mas, a avaliar pelas insinuações, serão, infelizmente, muito poucos os que passariam incólumes, num escrutínio rigoroso.
O próprio Cavaco Silva, que disse "estar para nascer" um político mais sério do que ele, já provou o fel da suspeição, a propósito do chamado "caso BPN", e não se livra do labéu...
Salvo melhor opinião, o modo como se está a fazer política, em Portugal, afasta os eleitores, e é pena.
As n explicações que se encontram, para justificar os elevados níveis de abstenção, podem ter, todas, algum fundamento, mas não reconhecem, a meu ver, o essencial: As pessoas estão fartas de politiquice, que tem sido a principal forma de fazer política, nos últimos anos, no nosso país.
Quando os políticos se tratam por mentirosos, ou se acusam de falta de credibilidade, e outros mimos semelhantes, demonstrando evidente falta de respeito uns pelos outros, estão a pôr em causa a própria política, e a credibilidade da actividade que desenvolvem. Se não percebem isto, talvez seja tempo de pensarem em mudar de profissão...
E se não arrepiarem caminho, o que também vale para a comunicação social, acredito que já não faltará muito para que, nas eleições para o parlamento, tal como sucedeu com as presidenciais, a abstenção se torne o maior partido português.
E se alguém ainda acredita que, a prazo, isto pode continuar, sem consequências de maior, ou muito me engano, ou está, redondamente, enganado.
Pelo sim, pelo não, seria bom que deixassem de brincar com o fogo...

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