segunda-feira, 19 de abril de 2010

MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA...


Mário Soares veio, finalmente, dizer-nos, num colóquio, em Lisboa, que "Cabo Verde não deveria ter sido independente".
Pena que Soares, que foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, à época, não se tivesse oposto à independência e lutado com todas as suas forças no sentido de a evitar.
Como seria de esperar, as reacções de algumas personalidades cabo-verdianas não se fizeram esperar, tendo até havido quem evocasse a luta armada do PAIGC para tentar legitimar essa independência.
Tenho para mim, depois de algumas deslocações a Cabo Verde e contacto com gente dos mais diversos estratos sociais que, são muitos os cabo-verdianos que gostariam de ter continuado a ser portugueses, mas não me parece ser esse o aspecto a realçar, agora que o mal está feito e é irreversível.
Mas o que Soares não explicou e devia ter explicado, atenta a sua condição de governante, à época, foram as razões que levaram o governo português a conceder a independência a um território onde não havia vivalma quando da sua descoberta pelos portugueses, à semelhança do que aconteceu com a Madeira e os Açores.
Atenta a sua pequena dimensão e importância económica, aliados a um "revolucionarismo" quase infantil que afectou grande parte da sociedade portuguesa, à época, admito que tenha sido mais fácil abdicar de Cabo Verde e dar-lhe a independência do que resistir à alienação de um território que nunca deveria ter deixado de ser português, como agora vem reconhecer, embora tardiamente, Mário Soares.
E ainda que valha mais tarde do que nunca, como diz a expressão popular, com esta declaração Soares poderá ter tranquilizado a sua consciência, mas não apagará a nódoa na carreira de um dos mais brilhantes políticos portugueses e europeus do século passado.

Sem comentários:

Enviar um comentário