sábado, 2 de janeiro de 2010

DEVE SER DA IDADE...


Quando, em 1974, me filiei no Partido Socialista Português, tinha eu 20 anos, recordo-me que, um amigo, alguns anitos mais velho, me disse que eu me iniciara na política do modo errado.
Portugal acabava de se ver livre de um regime ditatorial, de 50 anos, e uma boa parte da juventude aderira a partidos mais radicais, como a UDP, ou o MRPP.
Segundo esse meu amigo, para quem seria "lógica" a minha filiação num partido "mais á esquerda", atendendo á minha idade, e aos meus ideais, haveria uma ordem "natural" na evolução ideológica, e consequentemente, partidária.
Começava-se "à esquerda", para, com o avançar da idade, terminarmos num dos, então, chamados "partidos burgueses", nos quais ele incluía, "naturalmente", o PS.
Apesar da nossa amizade, não lhe segui o conselho, mas registei a observação, e viria, alguns anos mais tarde, a verificar, que essas mudanças ocorriam, de facto, só que não estou seguro que tivessem por base os motivos que ele evocava...
Há muito que deixei de militar no PS, mas nem por isso deixei de ser um votante no partido, e acredito que assim continuarei, até ao final dos meus dias.
Crítico de algumas das políticas seguidas pelos seus governos, discordando de algumas das medidas tomadas, revejo-me, globalmente, no seu ideário, e na perspectiva social democrata que o enforma.
O que não deixa de ser curioso é que, com o avançar da idade, e ao contrário das teorias desse meu amigo, me vejo mais preocupado com as questões sociais, com os pobres, os doentes, os desprovidos de direitos, e de liberdades fundamentais...
E, talvez por isso, ontem, ao ouvir, e ver, as notícias das celebrações da passagem de ano, por esse mundo fora, fazendo menção ás toneladas de fogo de artifício queimado, não tenha resistido a pensar que algo tem que estar muito errado.
Morrem milhões de pessoas, no mundo, com doenças cuja cura se conhece, desde há muito, e sempre se evocam motivos de ordem financeira para "justificar" a falta de vontade para se corrigir este problema.
No entanto, queimam-se milhões de euros, para celebrar a mudança de ano, ironicamente, poucos dias após o fim de uma quadra em que todos, ou quase todos, apelam á solidariedade, e formulam votos de um mundo mais justo...
Ontem, quando assistia a uma dessas queimas, dei comigo a pensar que muitas vidas se poderiam salvar com metade, apenas metade, dos dinheiros públicos gastos, em fogo de artifício, no final de cada ano...
Sei que muitos dirão que não é por aí que o problema se resolve, só que também sei que, para eles, nunca é por aí, eles que tiveram a felicidade, como eu, de não ter nascido pobres, em países pobres.
A melhor forma de nunca se fazer nada, é buscar a solução perfeita...
E não resisti a pensar que é preciso mudar o paradigma, alterar mentalidades, hábitos, e procedimentos.
O mundo só será melhor, mais justo, quando cada um de nós for menos complacente com a pobreza, com a fome, com a miséria!
Mas isso depende de todos, e de cada um, e se grandes causas, como o aquecimento global do planeta, motivam grandes movimentos de cidadãos, que melhor causa do que a morte por falta de medicamentos, e cuidados médicos, para mobilizar as opiniões públicas mundiais?
No caso vertente, atrevo-me a sugerir, simplesmente, uma redução, para metade, dos gastos, públicos, em fogo de artifício, sendo o seu montante alocado á erradicação da malária.
Será que é pedir muito?

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