Era grande o rebuliço na Fé Em Deus, uma pequena aldeia, no interior do país.
Do Café Central, á barbearia do Manecas, ninguém falava de outra coisa, que não fosse a notícia do casamento entre homossexuais.
Na cadeira, com a cara coberta de espuma, depois de amaciada a pele, com um pano bem quente, que o Manecas Barbeiro era bom de ofício, o Padre Manuel, escutava, pacientemente, o Dr Sesismundo, professor, e presidente da Junta de Freguesia.
- Mas diga-me lá, senhor padre, se já se viu semelhante coisa. Casamento entre homossexuais? Para que precisam eles de casar?, questionava o Sesismundo.
- Como o senhor presidente sabe, a igreja não aprova esses casamentos, embora a decisão da hierarquia seja a de não polemizar esse assunto, excessivamente, ao contrário do que aconteceu em Espanha.
-Eu sei, senhor Padre Manuel, mas confesso que lido mal com este assunto. Reconhecer os direitos a uma união de facto é uma coisa, agora casar ? Para quê ? Se existir igualdade de direitos, que outro motivo pode justificar essa pretensão, senão o de colocar em causa a instituição que é o casamento ?
Eu sei que o meu partido apoia essa causa, embora haja muitas divisões, mas ninguém me consegue explicar, direitinho, os motivos para esse apoio, insistia o Sesismundo.
Foi então que o Manecas, que escutava a conversa, em silêncio, não resistiu e atirou:
- Modernices, é o que é, modernices. Com tanto problema para resolver no país e esta gente nisto...
- Tem razão, ó Manecas, como se já não tivessemos problemas, de sobra, anuiu o Sesismundo.
- Mas é preciso calma, disse o Padre Manuel, porque existem questões legais que não são pacíficas, e ainda hoje li, nos jornais, que alguns contitucionalistas de renome, consideram que o casamento entre homossexuais é inconstitucional. Aguardemos, com serenidade.
Estava a conversa neste ponto quando entra o Edson Brasuca, um mineiro, flamenguista, que trabalhava no Café Central, que todos admiravam, pela sua permanente simpatia e boa disposição.
-Bom Dia! Tudo jóia ? Ainda demora muito, sr Manecas?
-Tem para uma meia hora, que depois do Padre Manuel, ainda tenho o senhor presidente.
-Não tem problema não, eu espero, respondeu o Edson Brasuca, sorridente, sentando-se ao lado do Sesismundo.
-Olhe lá, ó Edson, o que é que você me diz sobre esta questão do casamento entre homossexuais, interrogou o Sesismundo, desejoso de continuar a conversa.
-Xi, presidente, não sei não, viu, essa coisa é complicada mesmo, respondeu o Edson, enquanto magicava uma resposta que lhe permitisse sair da situação, airosamente.
-Então quer dizer que você não tem opinião? Lá no Brasil como é ?, insistiu o Sesismundo.
-Para falar a verdade, senhor presidente, opinião eu não tenho, não senhor. Mas lá no Brasil tinha um carioca, jornalista, e humorista, de nome Sérgio Porto, que escrevia com o pseudónimo de Stanislaw Ponte Preta, que um dia escreveu o seguinte: "Pelo jeito que a coisa vai, em breve, o terceiro sexo estará em segundo.", disse o Edson, sorrindo.
Foi a gargalhada geral.
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