terça-feira, 11 de agosto de 2009

MEMÓRIAS



Corria o ano de 1970 e vários dos alunos que inauguraram o Liceu Passos Manuel, em Sintra, no antigo Casino, como era o meu caso, frequentavam o 5º ano do liceu, a funcionar num edifício recentemente inaugurado, na Portela.
O Passos de Sintra era um liceu misto, com aulas mistas, o que constituia uma raridade, para a época.
Talvez por isso, os alunos estavam impedidos de abandonar as instalações do liceu, durante os intervalos das aulas, e a prática do futebol estava confinada a um reduzido espaço, junto ao ginásio.
Foi um ano divertidissimo, com os "Irmãos da Balda", nome inspirado na série televisiva, francesa, "Les Compagnons de Baal", que passava na RTP1, a cometerem uma série de tropelias, as quais, embora mais ou menos inocentes, irritavam os professores mais conservadores, e o vice-reitor, em particular.
O senhor Bento, chefe dos contínuos, que nos conhecia desde o nosso primeiro ano, no Casino, lá ia encobrindo, como podia, as nossas diabruras.
Dessas tropelias, que acabariam por levar á expulsão do liceu de alguns "Irmãos", irei dando conta neste espaço, e a que passo a contar foi apenas uma, de muitas.
Durante uma futebolada, não autorizada, a bola tomou o freio nos dentes e embateu, com estrondo, num dos vidros do ginásio, tendo o estilhaço motivado a fuga, generalizada, dos futebolistas.
Como sempre sucedia, o processo de investigação, para apuramento dos responsáveis, foi inconclusivo, tendo como consequência a interdição da prática do futebol, por período indeterminado.
Irritados com a situação e feridos no seu amor-próprio, logo os Irmãos trataram de promover uma manifestação de protesto, com os rapazes a fazerem croché junto da reitoria.
Só que os tempos não estavam de feição para essas modernices, e a dispersão deu-se, rápidamente, para evitar consequências maiores...
Mas os Irmãos não eram gente de desistir, e num "furo" inesperado, organizaram uma marcha, espontânea, á volta do liceu, cantando, bem alto, "A mulher da gente", canção apresentada no "Zip Zip", programa que fizera enorme sucesso e terminara em Dezembro do ano anterior.
Ainda a marcha estava no seu início, já o senhor Bento se dirigia a nós, para pôr termo á nossa veleidade, dizendo-nos que estávamos a perturbar as aulas e que tinha instrucções para anotar o nome dos infractores.
Mas a dispersão obrigatória deu lugar a nova concentração, agora á entrada do liceu, entoando a mesma canção, a plenos pulmões, e ao pedido, do senhor Bento, para cantarmos mais baixo, todos nos colocámos de cócoras, cantando o mais alto que podiamos.
No final, os Irmãos, ainda que aclamados pelos colegas, pela sua ousadia, acabariam por cumprir uns dias de suspensão, na sequência de um processo de averiguações confuso e sem direito a defesa, como era de bom tom, á época.
O levantamento da interdição só viria a ocorrer no terceiro período escolar, já com os Irmãos da Balda em fase de extinção, devido á expulsão de alguns dos seus membros, mas o "Zip Zip", de Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado, continuaria a servir de fonte de inspiração para outras tropelias. Mas isso fica para um outro dia.

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