Cetra era o escudo usado pelos Lusitanos. Este é o meu cetra, para defesa das minhas opiniões e evitar que a memória se perca...
sexta-feira, 18 de junho de 2010
O EMAIL DO NOSSO DESCONTENTAMENTO
Acabara de comprar a edição de hoje do jornal i e de apreciar a linda camisola da selecção nacional, que a acompanhava, a qual, ou muito me engano, acabará nas mãos do meu filho, como sucedeu com todas as anteriores, que lhe agradaram...
Partindo para a leitura do jornal vejo, em parangonas, que o Luxemburgo investiga um email xenófobo, contra os emigrantes portugueses.
Avanço, de imediato, para a página 23, onde surge o desenvolvimento da notícia, já que esta coisa da discriminação dos emigrantes fere, profundamente, a minha sensibilidade, tanto mais que fui emigrante durante largos anos.
Basicamente, o email sob investigação apela a uma reflexão dos luxemburgueses quanto ao que aconteceria se emigrassem para o Paquistão, o Afeganistão, o Iraque, a Nigéria, a Turquia, ou Portugal, sem se preocuparem com o cumprimento dos requisitos legais e exigissem tratamento igual ao dos nacionais, em matéria de saúde e educação, e a tradução de toda a documentação oficial para a sua língua. O email termina dizendo:
"Acima de tudo, conserve a sua identidade. Pendure uma bandeira do seu país na janela".
Curiosamente, em entrevista ao deputado do partido "Verdes", Camille Gira, ficamos a saber que o email terá tido origem na Alemanha, sem Portugal incluído, e que só no Luxemburgo é que alguém se lembrou de acrescentar o nosso país, o que torna "o conteúdo da segunda mensagem muito grave".
Segundo o mesmo Camille Gira, "a pessoa que fez circular a mensagem no Luxemburgo é da direcção da polícia", pelo que se apressou a apresentar um requerimento, dirigido ao Ministro do Interior, expressando a sua indignação.
Curiosa, também, é a opinião do cônsul português, José Rosa, quando afirma "Não estou a dizer que deve haver discriminação contra esses países, mas incluir Portugal no grupo de nigerianos, paquistaneses e afegãos...", acrescentando que não pensa tomar qualquer atitude, no imediato.
Na verdade, não fora o facto de Portugal e os portugueses estarem incluídos e o dito cônsul, embora discordando, até nem acharia tão anormal semelhante comportamento. Tal como o deputado Gira, que liga, explicitamente, a gravidade do email ao facto de ter passado a incluir os portugueses. Um comportamento que de "giro" não tem nada...
Para os que não sabem, a principal comunidade imigrante no Luxemburgo é a portuguesa, com cerca de 100.000 pessoas, no total dos menos de 500.000 que habitam o pequeno Grão-Ducado, representando cerca de 20% da população.
Só que isso não lhes dá, ou deveria dar, direito a um tratamento diferente, com exclusão do que resulta do facto de ambos os países integrarem a União Europeia, daquele que é dado aos emigrantes nigerianos, paquistaneses, ou afegãos, digo eu.
Iraquianos, turcos, nigerianos, portugueses, pretos, brancos, amarelos, muçulmanos, católicos ou budistas, todos são, ou deveriam ser, credores do maior respeito, quer por parte dos governos, quer por parte dos nativos, nos países onde vivem. No estrito respeito, como é óbvio, pelas leis desses países.
E se essa deve ser uma exigência universal, é meu entendimento que os países onde a emigração tem sido, através dos tempos, uma alternativa para quem busca uma vida melhor, como sucede com Portugal, têm particulares responsabilidades na defesa dos direitos dessas comunidades.
Sem dúvida que o email é um insultuoso, xenófobo, racista, mas já o era na origem, pelo que a inclusão dos portugueses, entre os visados, em nada alterou a sua essência.
A indignação da comunidade lusa no Luxemburgo é natural e compreende-se o relevo dado pela comunicação social portuguesa, mas será bom não esquecermos as outras comunidades e o tratamento discriminatório de que são alvo.
E é nestes momentos que deveremos aproveitar para verberarmos todos os comportamentos discriminatórios para com as comunidades emigrantes e reflectirmos quanto ao que deveremos fazer para garantirmos, a todos os que escolheram Portugal como país de acolhimento, o pleno respeito pelos seus direitos e a sua completa integração social.
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