Uma conhecida rádio portuguesa noticiava, ontem de manhã, citando um jornal igualmente conhecido, que um grupo de três deputados do Partido Socialista apresentara uma proposta que visava tornar públicas as declarações de rendimento de todos os portugueses.
Cumprindo o seu dever jornalístico, essa mesma rádio entrevistou um dos subscritores dessa proposta, o qual, para além de defender os seus méritos, teve o cuidado de explicar que se tratava de uma proposta subscrita por três deputados, que não tinha sido submetida á discussão do grupo parlamentar e que desconhecia qual a posição do governo sobre a mesma.
Seis horas mais tarde, no noticiário, a mesma estação de rádio referia-se a essa proposta como um "projecto de lei", entrevistava um ex-ministro das finanças sobre o assunto, e pedia a um deputado de um partido da oposição a sua opinião sobre a contitucionalidade da mesma.
Tudo como se de um projecto de lei se tratasse.
Claro que, dirigentes dos partidos de oposição logo se apressaram a comentar, ferozmente, essa medida, aproveitando para desancar o governo...
Eu, que ouvi tudo, em directo, nem queria acreditar.
E lembrei-me dos tempos em que o professor Marcelo Rebelo de Sousa era apelidado de criador de factos políticos, uma imagem que o perseguiu durante muitos anos, do episódio das escutas a Belém, de tudo o que se diz sobre o relacionamento de José Sócrates com os meios de comunicação...
Quando uma notícia pode ser "construída" com esta facilidade, e "credibilizada" pelos comentários e análises de responsáveis políticos, existem fortes razões para duvidarmos da qualidade da nossa democracia.
Numa sociedade cada vez mais dominada pelo "politicamente correcto", talvez fosse tempo de desenvolvermos o conceito de "politicamente decente"...
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