Mário Crespo é jornalista, e nessa qualidade deve manter, digo eu, uma certa contenção em matéria de opinião política.
Mário Crespo escreve artigos de opinião, nos quais esquece a sua condição de jornalista e ataca o primeiro-ministro, os que lhe estão próximos, e o seu governo, no que está no seu direito.
José Sócrates é primeiro-ministro de Portugal, e nessa qualidade deve respeitar, digo eu, os jornalistas, mesmo aqueles que lhe criticam a acção e o comportamento.
José Sócrates, além de primeiro-ministro é também um cidadão, e não nutre particular simpatia por aqueles que o criticam, sobretudo os que, sendo jornalistas, utilizam esse estatuto para o fazer, assistindo-lhe, nessa qualidade, o direito de os criticar.
Sucede que Sócrates se cansou das críticas de Crespo, e terá dito, á mesa de um restaurante, onde jantava com os amigos, e ministros, Pedro Silva Pereira e Jorge Lacão, que Crespo era um problema e precisava ser internado.
Uns amigos, ou conhecidos, de Crespo, também jornalistas, ouviram a conversa, informaram o visado, e este decidiu escrever uma crónica a contar, e criticar, o sucedido.
O Jornal de Notícias, para quem Crespo fazia as crónicas, terá considerado que se tratava de matéria pessoal e impediu a publicação.
Foi o suficiente para que se encrespassem as águas e ressurgissem os ataques ao primeiro-ministro, quanto ao modo como reage ás críticas dos jornalistas, e á sua alegada tentação para controlar a comunicação social.
Crespo, entretanto, concede entrevistas, considerando-se um jornalista incómodo, afirmando-se perseguido e procurando associar o seu caso ao de Moniz, Moura Guedes, e outros, ao mesmo tempo que usa os seus conhecimentos e amizades, ligadas ao principal partido da oposição, para editar, em tempo recorde, um livro de crónicas, incluindo a que esteve na base da polémica.
É verdade, digo eu, que José Sócrates não lida bem com os seus críticos, e revela tiques de autoritarismo nessa, e noutras, matérias.
Mas não é menos verdade que Mário Crespo mistura, intencionalmente, as suas funções de jornalista e de cronista, para atacar, ostensivamente, o primeiro-ministro, com base em opiniões e juízos de valor.
Se Crespo se sente no direito de usar a sua condição de cronista para atacar o primeiro-ministro, terá de aceitar que o cidadão Sócrates o critique, e até entenda que o seu estado de saúde merece cuidados, e um eventual internamento. E que comente esse facto, á mesa, com os amigos, do mesmo modo que Crespo recorreu aos amigos para publicar o livro...
O que Mário Crespo parece pretender, e não me parece razoável, é ter "sol na eira, e chuva no nabal", reclamando, enquanto cronista, um tratamento como jornalista, ao mesmo que nega ao primeiro-ministro o direito de ter opinião como cidadão.
Acredito que talvez Barack Obama não reagisse como Sócrates, como afirma Mário Crespo em entrevista ao jornal Expresso, mas também penso que talvez nenhum jornalista americano, digno desse nome, confundisse as suas funções com as de cronista, do modo como Mário Crespo faz.
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