segunda-feira, 10 de maio de 2010

EM HORA DE BALANÇO


Como normalmente sucede quando chega ao fim um grande empreendimento, é hora de fazer um balanço de mais um campeonato nacional de futebol.
E a primeira conclusão só pode ser a de que é inequívoco que o Benfica foi um justíssimo vencedor, se é que existem vencedores injustos em provas de regularidade, apesar do empenhamento de portistas e bracarenses em provar o contrário.
O Sporting Clube de Braga, contra todas as expectativas, foi a grande revelação, com o seu jovem treinador, Domingos Paciência, a confirmar a competência demonstrada ao serviço da Académica de Coimbra, conquistando o segundo lugar da prova.
O Futebol Clube do Porto, ao contrário do que afirmam alguns comentadores, acabou por fazer uma época ao nível das anteriores, como o comprova a pontuação alcançada, mas que apenas lhe veio a garantir o terceiro lugar, por culpa do brilhantismo de benfiquistas e bracarenses.
Já o Sporting Clube de Portugal acabou por ter mais uma época decepcionante, com problemas e casos sucessivos.
A excelente época do seu principal rival, o Benfica, contribuiu, ainda mais, para evidenciar as fragilidades de um clube que, nos últimos anos, parece ter feito da conquista do segundo lugar no campeonato o seu grande objectivo desportivo.
Decepcionante foi a perda do 5º lugar pelo Guimarães, na última jornada, jogando em casa contra o seu adversário directo, o Marítimo, que está de parabéns e volta a estar presente numa competição europeia.
Um merecido prémio de consolação para muitos madeirenses, depois da tragédia que se abateu sobre a ilha no início do ano...
No fim da tabela, registe-se a despromoção de dois históricos do futebol português, o Leixões e o Belenenses, que serão substituídos por Beira Mar e Portimonense, regressos que se saúdam.
Competitivamente, foi um campeonato fraquinho, como o demonstra a diferença pontual entre o primeiro e o quarto classificado, parecendo acentuar-se o nivelamento, por baixo, entre as equipas portuguesas.
E é por isso que quem gosta de futebol não pode deixar de defender que se faça uma séria reflexão sobre o modo como estão organizados os quadros competitivos nacionais, na procura de um modelo que possa servir os interesses do futebol português, mesmo que contra as conveniências conjunturais de alguns clubes e dirigentes...
Alguém tem que dar o primeiro passo para que essa discussão se faça e eu gostaria de ver os dirigentes do meu Benfica empenhados nessa cruzada, assumindo a liderança do processo.
É urgente rever os regulamentos da Liga, como ficou demonstrado ao longo da época, numa sucessão de casos infelizes, e a direcção que vier a ser eleita terá de dar prioridade a esta tarefa.
O papel dos "stewards" tem de ser reconsiderado e a optar-se pela sua manutenção deverá caber à Liga de Clubes a responsabilidade pela sua contratação.
Caso contrário, não será de estranhar que se assista à repetição de muitas das cenas deploráveis que vimos esta época e de muitas que não vimos, apesar de igualmente graves...
Os castigos a clubes e dirigentes que induzam à violência, directa ou indirectamente, terão de ser exemplares e haverá que ter mão pesada relativamente ao comportamento das claques, dentro e fora dos estádios.
O problema da violência no futebol tem de ser olhado com outros olhos.
Não é apenas um problema de ordem pública, como muitas vezes se pretende fazer crer, e a justiça desportiva não pode ter contemplações para com vulgares desordeiros, mesmo que beneficiando da cobertura, mais ou menos discreta, dos clubes que dizem apoiar.
É urgente que se uniformizem critérios em matéria de arbitragem, mas que não se fiquem apenas pelo papel. A profissionalização dos árbitros pode dar uma ajuda nessa matéria, embora me pareça que, por si só, não resolverá o problema.
Apesar das muitas resistências nesse sentido, estou em crer que a constituição de um Tribunal Desportivo, com magistrados nomeados pelos seus pares, seria um importante contributo para a resolução de muitos dos problemas disciplinares e de segurança que afectam o futebol português, contribuindo, de forma significativa, para pôr termo ao insustentável clima de suspeição que alguns teimam em alimentar.
É preciso criar iniciativas que tragam mais espectadores aos estádios, sendo essencial encontrar um equilíbrio entre os horários dos jogos e os interesses televisivos.
Não acredito que alguém possa esperar ter muitos espectadores a assistir a um jogo de futebol que se inicia ás 21 horas de um domingo...
Uma última palavra relativamente ao papel dos jornalistas e comentadores, o qual, a meu ver, também merece uma reflexão.
A influência crescente da comunicação social está bem evidenciada no número de programas televisivos dedicados ao futebol, sendo legítimo exigir, de jornalistas e comentadores, maior independência e espírito crítico, ao mesmo tempo que lhes devem ser asseguradas condições para que possam cumprir, livre e responsavelmente, o seu trabalho.
Terminou o campeonato nacional e vem aí o campeonato do mundo, com a selecção nacional a congregar o apoio de todos os portugueses que gostam de futebol, na esperança de uma boa prestação.
Nas próximas semanas, todos seremos adeptos de um clube especial: Portugal.
Faço votos para que a nossa selecção possa surpreender o mundo, na África do Sul, tal como o fez Bartolomeu Dias, em 1488, dobrando o Cabo da nossa Boa Esperança desportiva...

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