domingo, 30 de maio de 2010

O BENFICA, O PAPA E A...CGTP

Já ninguém estranha que, de cada vez que existe uma greve ou se realiza uma manifestação, os números das centrais sindicais sejam bastante diferentes dos números oficias, com os primeiros a pecarem por excesso e os segundos por defeito, digo eu.
Acontece que, para a percepção da grandiosidade de determinados eventos, não é indiferente o papel da comunicação social e a facilidade com que aceita, ou não, os números divulgados pelos interessados.
Vem tudo isto a propósito da manifestação de ontem, promovida pela CGTP, com o apoio de PCP, Bloco de Esquerda e outras organizações de esquerda, durante a qual Carvalho da Silva se referiu à presença de 300 mil manifestantes, numero que foi aceite sem contestação e viria a servir de base para a notícia de abertura dos telejornais.
Curiosamente, do que me foi dado ver e ouvir, só o jornal Público fez algum esforço para tentar confirmar estes números, o que não deixa de ser curioso, uma vez que até Isabel Brites, ex-sindicalista da CGTP e habitual responsável pela contabilização de presenças, admitiu ao jornal que, pelos seus cálculos, teriam estado presentes "entre 130 e 150 mil pessoas"...
Se entendo, perfeitamente, que o empolamento do número de manifestantes possa servir os interesses de todos os opositores ao Governo, e não apenas os das forças políticas que se fizeram representar, não me parece sério que a comunicação social aceite tomar como bom e publicitar um número absurdamente exagerado, como me parece ser o caso.
Acresce que, para dois grandes eventos, recentes, realizados no mesmo espaço e que tiveram muito maior adesão popular, verificável a olho nu, foram indicados números bastante inferiores que nunca excederam as 100 mil pessoas.
Deste modo, a ser verdade que estiveram 300 mil pessoa na manifestação da CGTP, terão de ser corrigidos os números relativos ás presenças na missa celebrada por Bento XVI, no Terreiro do Paço, em Lisboa, bem como os que dizem respeito à dimensão da festa benfiquista no Marquês de Pombal e Avenida da Liberdade, quando da recente conquista do campeonato nacional.
E não deixa de ser curioso que, apesar da presença de Jesus, o do Benfica, e de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, nos dois eventos que referi, tenha sido a CGTP a conseguir, junto da comunicação social, o milagre da multiplicação...

domingo, 23 de maio de 2010

SIMPLESMENTE...MOURINHO

Faço parte do grupo dos que não apreciaram o modo como José Mourinho deixou o Benfica.
Não me pareceu adequado o seu comportamento e devo admitir que isso condicionou, durante algum tempo, o modo como passei a olhar a sua pessoa.
Naturalmente que a sua passagem pelo Futebol Clube do Porto e o estilo que adoptou nada contribuíram para melhorar a imagem que tinha dele.
A sua partida para o estrangeiro acabaria, no entanto, por suavizar o meu preconceito, até porque significava o enfraquecimento do principal rival do Glorioso, o que me permitiu começar a olhá-lo com outros olhos.
Os sucessos conseguidos ao serviço do Chelsea já o tornavam, de facto, especial, mas a conquista do seu segundo título de campeão, com o Inter, consagram-no, definitivamente, como o melhor treinador do mundo, na actualidade.
Mourinho venceu a Liga dos Campeões dando uma lição de tácita, de motivação e de liderança.
Mas se a minha antipatia por Mourinho já vinha, desde há muito, sendo atenuada, tanto mais que sou um incondicional apoiante do sucesso de todos os portugueses, no estrangeiro, devo confessar que a sua declaração, recente, de que até tinha vergonha de dizer o que ganhava, quando o mundo atravessa uma das maiores crises de sempre, foi o gesto que faltava para que me tornasse um seu admirador.
E, ontem, Mourinho tornou plena a minha admiração por ele.
Não pelo título que conquistou, que é apenas mais um da sua brilhante carreira, mas quando afirmou, durante uma entrevista à RAI, que era melhor parar por ali, senão iria chorar e perderia a lucidez.
Afinal, por detrás de uma certa arrogância no estilo. esconde-se um homem sensível, que a vitória de ontem esteve perto de conseguir expor. E eu gostei.
O Mourinho treinador já tinha conquistado a minha admiração. O José Félix Mourinho conseguiu isso ontem, mostrando que, como diz o povo, quem sai aos seus não degenera, e o pai Mourinho merece que se conheça, também, esta faceta do seu filho.
Parabéns, pois, aos dois Mourinhos, filho e pai, um pelo sucesso desportivo, o outro pelo sucesso na formação do Homem que o seu filho demonstrou ser.
José está, agora, a caminho do Real Madrid e com ele tenho a certeza que se tornará ainda maior o brilho dessa estrela que é Cristiano Ronaldo.
Ficam os votos de que sejam felizes, não só porque ambos merecem, mas também porque a sua felicidade é a alegria de milhões de portugueses...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

À ESPERA DOS CARAPAUS...


Em dias de sol e calor, como nesta semana, gosto de almoçar junto ao mar, de preferência um peixinho na grelha, que não seja de "aviário".
Nesta época do ano, a minha preferência vai para as sardinhas e os carapaus, mas as sardinhas, este ano, ainda não se recomendam.
Sentado no restaurante, junto à praia, pude observar como tudo muda com a chegada do sol, as tonalidades do verde e azul das águas, a alva espuma das ondas e até o comportamento dos seres humanos.
Nunca percebi os motivos, se será do sol, do calor, da roupa, ou da proximidade da água, mas a verdade é que as pessoas ficam mais sorridentes e bem dispostas com a chegada do bom tempo e a proximidade do mar.
Encomendei uns carapaus na grelha, acompanhados de uma saladinha de alface, cebola e coentros.
Uma cervejinha, um queijinho fresco, pão, azeitonas e café, completaram a refeição.
Enquanto esperava, observei as pessoas na praia e registei alguns aspectos curiosos.
Nas mulheres, por exemplo, parece que, quanto mais mal feitas menor é o tamanho do biquíni. Decerto que haverá uma boa explicação para isso, mas não pode ser, seguramente, uma questão de estética...
Aliás, como dizia um amigo meu, é curiosos que as mulheres mais bonitas e bem feitas são, em regra, bem mais discretas na exibição dos seus atributos físicos.
E fiquei a interrogar-me sobre os motivos que levam algumas gorduchas a enfiar os seios num sutiã com três números a menos do que a sua peitaça recomendaria, embora sem ter chegado, é claro, a qualquer conclusão...
Mas também o fio dental foi objecto da minha atenção, coisa de homens, perguntando-me se aquela coisa, enfiada num rabiosque, não seria incómoda e desconfortável. Mas a avaliar pela amostra, parece que não...
Sendo verdade que, um fio dental, num rabiosque proporcionado, resulta esteticamente interessante, já quando perdido num traseiro enorme e flácido fica sem jeitinho nenhum...
A chegada dos carapaus pôs fim ás minhas divagações. Tamanho médio, bem grelhados, era tempo de passar ao ataque, que comidos frios ficam sem graça.
Estavam deliciosos e estou convicto que, quando é fresco, não há peixe tão saboroso como o nosso. Mas também pode ser uma mania, ou um pouquinho de chauvinismo...
Já quanto ás "sereias" e "baleias" que frequentam as nossas praias, a conclusão só podia ser a de que cada um é como cada qual e se as pessoas se sentem bem na sua pele, façam o favor de ser felizes, como diria o grande Raúl Solnado.
Já temos chatices que cheguem...


quinta-feira, 20 de maio de 2010

PORTUGAL PODIA SER DIFERENTE! MAS NÃO ERA A MESMA COISA...


Estava, pacatamente, dedicado à leitura dos jornais portugueses.
Uma tarefa "de fugir"!...
Salvaguardadas, naturalmente, algumas excepções, que confirmam a regra...
Ocorreu-me, então, um excelente "sketch" publicitário, que estimulou a minha imaginação e de cujo contributo me socorri, para tentar perceber a o momento que o nosso País atravessa:
-Portugal tem um endividamento externo excessivo...
-Tem
-E a culpa é só do endividamento público?
-Não
-Mas é preciso equilibrar as contas públicas...
-E Portugal já teve algum Orçamento equilibrado, desde 1974?
-Não
-Mas este Governo atrasou-se a tomar medidas...
-Atrasou
-E a culpa da crise é só do Governo?
-Não
-Então a crise nos mercados complicou a situação do País...
-Complicou
-Mas então é o chamado "problema do caraças"...
-Mas será que Portugal está mesmo" à rasquinha", como dizem?
-Está
-Mas não vai cair na bancarrota?
-Não
-Mas o Sócrates tentou fazer reformas no Governo anterior...
-Tentou
-E foi por causa dele que algumas reformas não se fizeram?
-Não
-Mas então querem lixar o Sócrates...
-Querem
-Mas o Cavaco tem ajudado à festa...
-Tem
-E ele equilibrou as contas públicas, quando foi primeiro-ministro?
-Não
-Mas a Assembleia da República devia assumir o seu papel, para ajudar a resolver...
-Devia
-E tem estado à altura dessa responsabilidade?
-Não
-Mas o Passos Coelho esteve bem ao cooperar com o Governo, na aprovação de medidas de austeridade...
-Esteve
-E os acontecimentos posteriores revelaram que está de boa fé?
-Não
-Mas o PSD tem razão em querer mais cortes na despesa pública...
-Tem
-E fez esses cortes quando esteve no poder?
-Não
-Mas existem casos e escândalos a mais na sociedade portuguesa...
-Existem
-E a Justiça tem procurado acelerar o seu esclarecimento?
-Não
-Mas existem os órgãos de comunicação, que devem ser verdadeiros e imparciais a tratar estes assuntos...
-Existem
-E é isso que têm estado a fazer?
-Não
-Mas Portugal dispensava bem todas estas trapalhadas e podia estar em muito melhor situação..
-Poder, podia! Mas não era a mesma coisa...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

FALECEU O COMENDADOR HORÁCIO ROQUE


A notícia do falecimento do senhor comendador Horácio Roque não pode deixar de causar uma profunda tristeza em todos os que o conheceram e com ele tiveram a possibilidade de privar, como foi o meu caso.
À família enlutada quero aqui deixar os meus sentidos pêsames.
Descanse em Paz, Senhor Comendador.

terça-feira, 18 de maio de 2010

BRUNA REAL, NUM PAÍS SURREAL...


Bruna Real é uma moçoila de 27 anos, que exercia funções de professora de música, nas actividades extra-curriculares da escola de Torre de Dona Chama, em Mirandela.
Digo exercia porque ontem teve de se apresentar no Arquivo Municipal de Mirandela, para onde foi transferida, após o aparecimento das fotos, onde mostra os atributos com que a Mãe Natureza a favoreceu, na revista "Playboy".
Da indignação de docentes e pais dos discentes até à denuncia foi um pequeno passo e a autarquia apressou-se a colocar a Bruna no Arquivo, até ao final do seu contrato, que nestas coisas não se pode transigir.
Entretanto, ontem, em Belém, o senhor Presidente da República anunciava a sua decisão de promulgar o diploma que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A contragosto, é certo, mas a maioria parlamentar favorável à promulgação tornava inútil o veto presidencial, como teve ocasião de explicar na sua alocução televisiva, e o que tem que ser tem muita força...
Quando da aprovação do diploma na Assembleia da República escrevi e não é demais repetir, que considero inaceitável que este tema não tenha sido submetido a referendo, sendo lamentável e falaciosa a justificação apresentada pelo Partido Socialista para defender a posição que tomou.
Como se não soubessem que nenhum eleitor lê os programas eleitorais, nem mesmo os candidatos, ou se tivessem esquecido que nem tudo o que está nos programas eleitorais é para levar a sério, como a prática política se tem encarregue de demonstrar.
Questões deste melindre deveriam exigir um tratamento cuidado, em vez de se procurar a sua legitimação a reboque de uma molhada de propostas e boas intenções, que são os programas eleitorais, como veio a suceder.
Só que de boas intenções está o inferno cheio e até eu, que votei PS, nunca imaginei que este tema pudesse ser tratado como foi e aprovado sem uma consulta popular, que defendi.
Enganei-me, mas sempre aprendi mais qualquer coisinha para o futuro...
Foi uma importante vitória, num país de maioria católica, da internacional cor-de-rosa e da "opus gay", na sua luta pela destruição de alguns valores tradicionais, tendo como meta final a adopção, perante a passividade de um povo que nem sequer é dado a mariquices. Ou não costumava ser...
Como se apressaram a lembrar-nos, estava em causa o respeito pelos direitos das minorias, só que nós também sabemos que há minorias e minorias...
A minoria que eu integro, a fumadora, não teve direito aos bons ofícios dos nossos parlamentares, nem mesmo por parte dos que, tal como eu, se entregam a esse prazer crescentemente proibido.
Já a homossexualidade, considerada crime, até 1982, soltou-se com a legalização, invadiu o nosso quotidiano e vê agora consagrado o direito ao casamento, com alianças, vestido de noivo e beijos na boca...
E não resisti a tentar imaginar a cena, numa das conservatórias de Mirandela, envolvendo um qualquer professor de música, desposando um "raparigo" da terra, trajado a rigor, o vestido branco e a flor de laranjeira, com direito a molhado beijo e foto no jornal.
Transferido, imediatamente, para o Arquivo Municipal? Duvido!
Já a boa da Bruna Real, que cometeu o crime de se deixar fotografar nua, teve punição imediata, de nada lhe valendo a sua reconhecida capacidade profissional, ou os seus excelentes atributos físicos. Só um exemplar castigo poderia aplacar a ira das pudicas gentes de Mirandela.
Arquivo com ela, que ofende os bons costumes!
Coitada da Bruna, faltou-lhe o "lobby" que empurra a causa "gay", é o que é, que esta coisa dos direitos tem muito que se lhe diga...
E não resisto a interrogar-me se, por este caminho, não viremos a ter que solicitar os bons ofícios de alguns mariquinhas, para assegurarmos a parlamentar defesa dos direitos da futura minoria heterossexual.
Já faltou mais...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O ESTADISTA LULA DA SILVA

Apesar da sua enorme popularidade e do excelente trabalho realizado, ainda são muitos os brasileiros que antipatizam com Lula da Silva.
Alguns não lhe perdoam o seu passado sindicalista, outros criticam-lhe o modo demasiado descontraído e falta de pose protocolar, muitos não esquecem o facto de ser oriundo do PT...
Mais popular no estrangeiro do que no seu país, Lula da Silva não se contenta em deixar marca na política interna, antes se empenhando para que o Brasil assuma importância crescente na política internacional.
Sob o governo Lula, o Brasil assistiu a uma substancial redução do número de famílias em estado de pobreza, ao reforço da classe média, ao equilíbrio das suas contas externas, à afirmação como principal potência da América do Sul, tornando-se na oitava economia mundial.
Claro que existe muita coisa por fazer, num país com dimensão continental, em matéria social, de segurança e combate à corrupção, e os seus críticos não perdem uma oportunidade para o lembrar, mas o presidente Lula ficará na história como um dos grandes presidentes brasileiros.
Com o aproximar do final do seu mandato, têm-se intensificado os esforços do presidente para afirmar o Brasil na cena internacional.
É neste contexto que deve ser olhada a antecipação da sua ida a Teerão, para participar num encontro das 17 economias emergentes no mundo, visando usar a sua magistratura de influência para convencer o presidente do Irão a aceitar um acordo sobre o programa nuclear do país, evitando a aplicação de sanções económicas, como pretendem os Estados Unidos.
Perante a desconfiança americana e inúmeras críticas, internas e externas, a esta iniciativa, o presidente Lula, pragmático, assume-se como interlocutor privilegiado do Irão e afirma a sua capacidade de mediação, enquanto aproveita para reforçar as relações bilaterais e colocar o Brasil em vantagem, em futuras eventuais privatizações no sector petrolífero iraniano.
Vale lembrar que o Brasil é membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU , pelo que o sucesso desta iniciativa poderá ser um importante contributo para a sua passagem a membro permanente, como é vontade do presidente.
E não deixa de ser curioso que José Sócrates tenha vindo afirmar o apoio a uma possível candidatura do presidente Lula à liderança da ONU, precisamente no momento em que a sua magistratura de influência é alvo de críticas, internas e externas.
Como português, é com enorme satisfação que vejo a crescente afirmação do Brasil no mundo e desejo ao presidente Lula o maior sucesso.
E quando se aproxima o final do seu mandato, apetece-me citar um ditado popular português:
"Atrás de mim virá, quem de mim bom fará..."

domingo, 16 de maio de 2010

EXEMPLAR

Tive ocasião de assistir a uma pequena parte da conferência de imprensa conjunta de David Cameron e Nick Clegg, após o acordo para a constituição do novo governo britânico.
Não sei quanto tempo a coligação irá durar, nem é isso que agora importa, mas é inegável que o modo como os dois líderes resolveram as diferenças existentes, sobrepondo-lhes os interesses do país, merece ser realçado.
As declarações do novo chefe do governo, David Cameron, sobre o primeiro-ministro cessante, Gordon Brown, aliadas à frontalidade e elevação com que os dois líderes assumiram as suas diferenças, embora declarando-se empenhados no sucesso de um governo comum, demonstram bem como é diferente a política em Inglaterra.
Com os vôos tão baratos entre Lisboa e Londres e com a quebra da cotação da Libra a ajudar, bem podiam os líderes dos principais partidos políticos portugueses aproveitar para fazerem um estágio na mais velha democracia do mundo...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

OS PADRINHOS...

Acidentalmente, tive ocasião de rever, na noite de ontem, a Parte II desse excelente filme que é "O Padrinho".
Se já era minha convicção que existe uma íntima ligação entre as emoções que um filme pode despertar em nós e o nosso estado de espírito, essa convicção foi substancialmente reforçada.
Com efeito, quando vi o filme pela primeira vez, já lá vão vários anos, retive a imagem de uma excelente produção sobre a vida dessa criminosa organização secreta que é a máfia, os seus negócios e o inexorável comportamento dos seus chefes, visando a conquista e conservação do poder, mas tudo me pareceu distante, localizado, datado.
Agora, ao revisitar o filme, mais velho e com um estado de espírito diferente, num momento particular da minha vida, tudo me pareceu menos ficcional e bem mais próximo do comportamento de alguns "padrinhos" que se me revelaram ao longo da última década.
Para muitos "padrinhos"dos nossos dias, tal como para Don Vito Corleone, os valores da família, da lealdade, da amizade, esgotam-se no momento em que se tornam conflituais com os seus interesses. E não hesitam em recorrer a todos os meios necessários à concretização dos seus objectivos, por mais abjectos que sejam.
Ontem, ao rever "O Padrinho - Parte II", voltei a sentir a sensação de repulsa e revolta que sentira da primeira vez, perante os comportamentos mafiosos retratados no filme, mas reforcei a convicção de que a "Cosa nostra" continua a ter um significativo número de fiéis seguidores, ainda que possam não integrar, formalmente, a organização ...

EM VIA DE EXTINÇÃO?


Que me perdoem os meus amigos sportinguistas, mas não resisti a esta pequena provocação, a propósito do estudo publicado pela revista Science, parcialmente divulgado pela TVI24, que abaixo reproduzo.
A fazermos fé nas conclusões do estudo da Science, é bom que os lagartos se cuidem, até porque, a manter-se o longo período de jejum, em matéria de conquistas do campeonato nacional de futebol, existe um sério risco de extinção, a longo prazo.
Tal como o estudo refere, se não se alimentarem suficientemente, de títulos, acrescento eu, acabarão por morrer, não se reproduzem e desaparecerem.
E eu, que sou benfiquista, não desejo o desaparecimento dos lagartos. Continuem a ganhar poucas vezes, mas não desapareçam.
Afinal, as vitórias do Glorioso, sem ter os lagartos para amolar, não teriam o mesmo sabor...

"Um grupo de 26 cientistas de 11 países concluiu que os lagartos são uma espécie em vias de extinção. A culpa é do aquecimento global.Os investigadores calculam que 40 por cento das populações de lagartos serão extintas até 2080. Se falarmos em espécies, 20 por cento vão desaparecer até lá, caso o padrão de emissões de gases-estufa se mantenha como actualmente.«Os lagartos são elementos indicadores muito bons das relações com a temperatura do ambiente, porque são muito sensíveis às variações de calor», explica o investigador Carlos Duarte Rocha, ao Globo.Para os especialistas, ainda há tempo de evitar estas extinções, desde que a poluição reduza efectivamente. É que os vivem regulam a tempertura do corpo pela temperatura do ambiente. «O lagarto se expõe ao sol para atingir uma determinada temperatura corpórea, depois vai para a sombra, depois volta para o sol a fim de «fazer manutenção»», explica Rocha.«Mas com a desregulação resultante do aquecimento» já não conseguem fazê-lo. Daí forma-se um ciclo vicioso: não aguenta a temperatura, abriga-se, e fá-lo tão rapidamente que não se alimenta o suficiente e, ao fim de algum tempo, acaba por morrer. Não se reproduz, a espécie desaparece."

O Estudo vem publcado na revista Science link externo.


JESUS...

Na verdade, a criatividade de alguns portugueses é simplesmente admirável.
Sem qualquer desrespeito pelo Papa Bento XVI, não resisto a publicar esta imagem, que acabei de receber de um amigo.
Ao renovar o seu contrato com o Glorioso SLB, por mais dois anos, Jorge Jesus tornou-se o sumo pontífice da nação benfiquista, responsável pelo milagre operado no futebol praticado, que conduziu à reconquista do título de campeonato nacional.

A VISITA DO PAPA A PORTUGAL

Chegou ao fim a visita do Papa Bento XVI a Portugal.
Tenho a convicção de que todos, crentes, ou não, reconhecem o sucesso desta visita, apesar de ter ocorrido num período em que a igreja católica tem estado debaixo de fogo, devido aos casos de pedofilia.
Bento XVI encarregou-se, ainda antes da partida do avião que o conduziria a Lisboa, de condenar os comportamentos desviantes de alguns membros do clero, de forma clara e inequívoca, e o apoio popular a esta visita tratou de calar aqueles que a criticavam, seja pelos custos envolvidos, seja pela tolerância de ponto concedida aos funcionários públicos.
Bento XVI, que tem a seu desfavor o facto de ter sucedido a João Paulo II, talvez o mais mariano e popular de todos os Papas, demonstrou não ser apenas um brilhante intelectual e viu a sua popularidade substancialmente aumentada, entre os portugueses.
Como agnóstico, embora incapaz de ficar indiferente ao culto mariano e em particular ás celebrações do 13 de Maio, em Fátima, fiquei feliz com o modo como decorreu esta visita.
E a mensagem de Amor e de Verdade que o Papa Bento XVI nos quis deixar deve merecer uma séria reflexão, independentemente das convicções religiosas de cada um.
Crentes, ou não, é preciso que tenhamos esperança num mundo melhor e que saibamos contribuir para a sua construção, com a mesma alegria e entusiasmo com que milhares de fiéis receberam o Papa Bento XVI.
No momento da sua partida, como português, apenas três palavras:
Obrigado Santo Padre!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O PIB DO NOSSO DESCONTENTAMENTO...


A notícia chegou, surpreendente:
O PIB português cresceu 1% no primeiro trimestre deste ano, contra 0,2% da média dos países que integram o Euro.
Más notícias para os profetas da desgraça, pensei.
E dei comigo tentando encontrar os motivos para este inesperado comportamento da economia portuguesa:
-A conquista do campeonato nacional pelo glorioso Sport Lisboa e Benfica, hipótese que tive de abandonar, apesar de legítima, pois só será aplicável ao crescimento no segundo trimestre, e seguintes;
-Um milagre de Nossa Senhora, também não aplicável, até porque o primeiro trimestre não é dado a milagres, como todos sabemos, e a Virgem Maria tem manifestas preferências pelo mês de Maio, também ele incluído no segundo trimestre do ano;
-A visita do Papa, pensei, mas a chegada de Bento XVI a Portugal, embora coincidindo com o anúncio da boa nova, também não serve de justificação, atendendo ao período a que a notícia se refere
-Foi o investimento público, admiti, mas a hipótese teve que ser abandonada dada a reconhecida escassez deste, durante o período em análise.
Esgotadas as hipóteses enunciadas e norteado por tudo o que tem sido dito e escrito por comentadores, economistas, jornalistas e políticos, admiti que pudesse tratar-se de um engano.
Voltei ás notícias e confirmei. Era mesmo verdade!
O INE e o EUROSTAT confirmavam que não se tratava de mais uma manobra do Governo para enganar os portugueses.
A economia portuguesa crescera, de facto, 1%, no primeiro trimestre de 2010, ou seja, 0,8% mais do que as que integram a zona euro.
Surpresa das surpresas, esse crescimento estava baseado no comportamento das exportações, apesar do fraco grau de competitividade das empresas portuguesas, no qual muitos se baseiam para tentar precarizar, ainda mais, o emprego de significativa parte dos portugueses.
Não fiquei descansado, porque o actual estado da economia e o seu grau de endividamento não são de molde a deixar ninguém descansado, continuando a ser necessário fazermos um esforço sério no sentido reduzirmos, significativamente, a despesa pública.
Mas confesso que que me deu um certo gozo ver contrariados alguns velhos do Restelo, cujo número parece tender a aumentar com o decorrer dos séculos...

terça-feira, 11 de maio de 2010

AFINAL HAVIA OUTRO...

Agora fica claro, finalmente, o motivo de tanta irritação e falta de desportivismo...
Vão ter que ter muita Paciência...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

EM HORA DE BALANÇO


Como normalmente sucede quando chega ao fim um grande empreendimento, é hora de fazer um balanço de mais um campeonato nacional de futebol.
E a primeira conclusão só pode ser a de que é inequívoco que o Benfica foi um justíssimo vencedor, se é que existem vencedores injustos em provas de regularidade, apesar do empenhamento de portistas e bracarenses em provar o contrário.
O Sporting Clube de Braga, contra todas as expectativas, foi a grande revelação, com o seu jovem treinador, Domingos Paciência, a confirmar a competência demonstrada ao serviço da Académica de Coimbra, conquistando o segundo lugar da prova.
O Futebol Clube do Porto, ao contrário do que afirmam alguns comentadores, acabou por fazer uma época ao nível das anteriores, como o comprova a pontuação alcançada, mas que apenas lhe veio a garantir o terceiro lugar, por culpa do brilhantismo de benfiquistas e bracarenses.
Já o Sporting Clube de Portugal acabou por ter mais uma época decepcionante, com problemas e casos sucessivos.
A excelente época do seu principal rival, o Benfica, contribuiu, ainda mais, para evidenciar as fragilidades de um clube que, nos últimos anos, parece ter feito da conquista do segundo lugar no campeonato o seu grande objectivo desportivo.
Decepcionante foi a perda do 5º lugar pelo Guimarães, na última jornada, jogando em casa contra o seu adversário directo, o Marítimo, que está de parabéns e volta a estar presente numa competição europeia.
Um merecido prémio de consolação para muitos madeirenses, depois da tragédia que se abateu sobre a ilha no início do ano...
No fim da tabela, registe-se a despromoção de dois históricos do futebol português, o Leixões e o Belenenses, que serão substituídos por Beira Mar e Portimonense, regressos que se saúdam.
Competitivamente, foi um campeonato fraquinho, como o demonstra a diferença pontual entre o primeiro e o quarto classificado, parecendo acentuar-se o nivelamento, por baixo, entre as equipas portuguesas.
E é por isso que quem gosta de futebol não pode deixar de defender que se faça uma séria reflexão sobre o modo como estão organizados os quadros competitivos nacionais, na procura de um modelo que possa servir os interesses do futebol português, mesmo que contra as conveniências conjunturais de alguns clubes e dirigentes...
Alguém tem que dar o primeiro passo para que essa discussão se faça e eu gostaria de ver os dirigentes do meu Benfica empenhados nessa cruzada, assumindo a liderança do processo.
É urgente rever os regulamentos da Liga, como ficou demonstrado ao longo da época, numa sucessão de casos infelizes, e a direcção que vier a ser eleita terá de dar prioridade a esta tarefa.
O papel dos "stewards" tem de ser reconsiderado e a optar-se pela sua manutenção deverá caber à Liga de Clubes a responsabilidade pela sua contratação.
Caso contrário, não será de estranhar que se assista à repetição de muitas das cenas deploráveis que vimos esta época e de muitas que não vimos, apesar de igualmente graves...
Os castigos a clubes e dirigentes que induzam à violência, directa ou indirectamente, terão de ser exemplares e haverá que ter mão pesada relativamente ao comportamento das claques, dentro e fora dos estádios.
O problema da violência no futebol tem de ser olhado com outros olhos.
Não é apenas um problema de ordem pública, como muitas vezes se pretende fazer crer, e a justiça desportiva não pode ter contemplações para com vulgares desordeiros, mesmo que beneficiando da cobertura, mais ou menos discreta, dos clubes que dizem apoiar.
É urgente que se uniformizem critérios em matéria de arbitragem, mas que não se fiquem apenas pelo papel. A profissionalização dos árbitros pode dar uma ajuda nessa matéria, embora me pareça que, por si só, não resolverá o problema.
Apesar das muitas resistências nesse sentido, estou em crer que a constituição de um Tribunal Desportivo, com magistrados nomeados pelos seus pares, seria um importante contributo para a resolução de muitos dos problemas disciplinares e de segurança que afectam o futebol português, contribuindo, de forma significativa, para pôr termo ao insustentável clima de suspeição que alguns teimam em alimentar.
É preciso criar iniciativas que tragam mais espectadores aos estádios, sendo essencial encontrar um equilíbrio entre os horários dos jogos e os interesses televisivos.
Não acredito que alguém possa esperar ter muitos espectadores a assistir a um jogo de futebol que se inicia ás 21 horas de um domingo...
Uma última palavra relativamente ao papel dos jornalistas e comentadores, o qual, a meu ver, também merece uma reflexão.
A influência crescente da comunicação social está bem evidenciada no número de programas televisivos dedicados ao futebol, sendo legítimo exigir, de jornalistas e comentadores, maior independência e espírito crítico, ao mesmo tempo que lhes devem ser asseguradas condições para que possam cumprir, livre e responsavelmente, o seu trabalho.
Terminou o campeonato nacional e vem aí o campeonato do mundo, com a selecção nacional a congregar o apoio de todos os portugueses que gostam de futebol, na esperança de uma boa prestação.
Nas próximas semanas, todos seremos adeptos de um clube especial: Portugal.
Faço votos para que a nossa selecção possa surpreender o mundo, na África do Sul, tal como o fez Bartolomeu Dias, em 1488, dobrando o Cabo da nossa Boa Esperança desportiva...

SÓ FALTA A SELECÇÃO...

Manecas Barbeiro chegara ao Café Central mais cedo do que era costume.
Na véspera estivera no Estádio da Luz e assistira à conquista de mais um título de campeão nacional de futebol, por parte do seu Benfica.
-Ora muito bom dia para todos, com cordiais saudações benfiquistas.
-Bom dia Manecas e parabéns, respondeu-lhe o Silva. A coisa ainda esteve complicada por uns momentos, mas acabou por se compor.
-Complicada? Ó Silva, isso é conversa de portistas e bracarenses, porque a verdade é que nunca chegou a haver dúvidas, pois o Braga, não só começou a perder, como nunca esteve a ganhar.
-Bem sei, mas depois do empate o Benfica oscilou um pouco.
-Sim, mas daí a dizer-se que a coisa esteve complicada vai uma grande diferença. Até porque nunca o Benfica deixou de ter o controlo do jogo.
-Lá isso é verdade, admitiu o Silva. De qualquer modo, o que importa é que estão de parabéns.
-E vão 32! O resto é conversa! A propósito, o Nando e o Monas já cá estiveram?
-Ainda não. E se queres saber acho que nem virão, para não terem que te aturar.
-Pois olha Silva, se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé e eu vou apanhar esses dois. O Monas Picheleiro deve estar cá com uma cachola...
-Coitados, deixa-os lá. Já basta o castigo de verem o seu principal rival sagrar-se campeão.
-Não basta nada, Silva. Não basta nada. O Monas vai ter que levar comigo. Tenho que lhe dar os parabéns pelo honroso terceiro lugar do Porto, conquistado com todo o mérito. E o Nando também está de parabéns pelo quarto lugar dos lagartos. Tenho a certeza que serão dignos representantes de Portugal na Liga Europa, atirou com ar trocista.
-És terrível Manecas. Deixa os homens em paz que a grandiosidade das vossas comemorações já é castigo suficiente.
- Pois sim, mas tudo isso eles merecem e muito mais. Temos de ser uns para os outros, atirou, com um sorriso sarcástico. Bem, sendo assim, vou-me embora, que ainda quero passar na farmácia, para dar os parabéns ao Nando. Se o Monas Picheleiro aparecer por aí diz-lhe que lhe quero falar e que tenha paciência, que para o ano há mais...
E saiu, sorridente, feliz com a conquista do seu Benfica e com a mente ocupada por um único pensamento
-Para ser um ano em cheio só falta a selecção fazer um brilharete no Mundial...

PARABÉNS GLORIOSO!


Tal como se esperava, o Sport Lisboa e Benfica sagrou-se campeão nacional de futebol.
Como benfiquista, este é um momento de grande alegria e quero aproveitar para dar os parabéns aos dirigentes, equipa técnica, jogadores e adeptos, fazendo votos para que esta vitória represente o início de um prolongado ciclo de sucessos, quer a nível nacional, quer internacional.
Pela classificação alcançada, o Sporting Clube de Braga merece especial destaque e os elogios que lhe têm sido dedicados são inteiramente merecidos.
Domingos Paciência, um jovem treinador, depois do bom trabalho efectuado na Académica de Coimbra, confirmou a sua qualidade.
Mas se o trabalho de Domingos é digno dos maiores elogios, o mesmo não pode dizer-se sobre as suas afirmações, as quais parecem estar demasiado marcadas pela "escola" do clube que representou durante vários anos, o Futebol Clube do Porto, e é pena.
Para saber ganhar é preciso saber perder e as declarações do jovem técnico evidenciam que é um mau perdedor. Pena ter-se esquecido que o Braga foi o clube mais beneficiado pelos erros de arbitragem ao longo da presente época desportiva...
Talvez que ainda não tenha conseguido libertar-se da influência do seu antigo presidente, Pinto da Costa, o qual nunca hesitou em recorrer a todo o tipo de argumentação para desvalorizar os êxitos dos adversários, particularmente quando se trata do Benfica, por mais justos que eles sejam, como sucedeu este ano.
Infelizmente, seguramente inspirados nas infelizes declarações de dirigentes e técnicos, verificaram-se alguns confrontos entre adeptos, no Porto e em Braga, sendo que a Casa do Benfica nesta cidade acabaria por ser vandalizada, no que se começa a tornar-se um perigoso hábito. Uma vergonha!
Torna-se, por isso, ainda mais importante realçar a sensatez dos discursos do presidente e do treinador do Benfica na hora da vitória, que aqui saúdo. O futebol português dispensa discursos incendiários...
A dimensão das comemorações e a sua dispersão, a nível nacional e internacional, são o espelho da incontestável grandiosidade do Benfica e os seus adeptos e simpatizantes bem mereceram esta vitória.
Parabéns Glorioso!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

LEMBRANDO CABRAL...


Em Portugal, desde 1974 que as comemorações do 1 de Maio são quase integralmente dedicadas ao Dia do Trabalhador, o que, decerto modo, não deixa de ser natural.
Contudo, nesse mesmo dia 1 de Maio celebra-se um dos acontecimentos mais importantes dos descobrimentos portugueses, que foi a tomada de posse da "Ilha de Vera Cruz", ou seja, o actual Brasil, por parte de Pedro Álvares Cabral, em nome do 14º Rei de Portugal, Dom Manuel I, "Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, e Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc".
Isto apesar de se saber, comprovadamente, que Duarte Pacheco Pereira, ilustre astrónomo, geógrafo e navegador português, chegou ao Brasil cerca de um ano e meio antes de Cabral, tendo a descoberta sido mantida em rigoroso segredo.
Num momento em que o projecto europeu se encontra debaixo de fogo, por motivos mais ou menos especulativos e não só, e quando tantos de entre nós reclamam uma maior atenção para o nosso relacionamento com os países da CPLP, não é demais relembrarmos esse glorioso feito português e reconhecermos, com orgulho, o nosso legado nesse maravilhoso país, que é o Brasil.
Tenho para mim que, apesar dos progressos da última década, os portugueses ainda não interiorizaram que somos nós quem mais tem a ganhar com o aprofundamento do relacionamento entre os dois países e que o Brasil é muito mais do que o país do samba, das praias, das mulatas e do futebol.
Ao contrário do que viria a acontecer com Pedro Álvares Cabral, é preciso que estes acontecimentos não caiam no esquecimento, confinados ao manuais escolares, ou já nem isso...
Só conhecendo e lembrando a nossa história poderemos conhecer-nos melhor como povo e como nação e esse conhecimento pode ajudar-nos a traçar o rumo e os caminhos do futuro.
Assim não nos falte "a arte e o engenho"...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

É HORA DE ARREPIAR CAMINHO...


Acabo de tomar conhecimento do comunicado da SAD do Futebol Clube do Porto, a propósito dos incidentes ocorridos no Porto, antecedendo o jogo com o Benfica.
Confesso-me perplexo e indignado com o teor do comunicado, não como benfiquista, mas como desportista e amante do futebol.
A SAD do Porto não nega nada do que se passou, nem o podia fazer, e muito menos apresenta um pedido de desculpas pelo sucedido, como seria natural entre gente civilizada...
Antes prefere socorrer-se de incidentes, igualmente lamentáveis e condenáveis, passados há vários anos, e de outros exemplos menores, para tentar justificar o injustificável e isso não lhe fica bem.
A linguagem e argumentação utilizadas não honram a instituição Futebol Clube do Porto, nem os seus dirigentes, sendo um total absurdo que continuem a tentar desvalorizar o mérito do seu adversário num campeonato em que o Porto não demonstrou capacidade competitiva para renovar um título que lhe pertenceu nos últimos quatro anos e que vai acabar no terceiro lugar, a significativa distância pontual do primeiro.
Falo com a legitimidade de quem sempre condenou todo e qualquer tipo de violência, dentro e fora dos relvados, independentemente das simpatias clubísticas de quem a pratica e de quem nunca pactuou com os desmandos das claques, sem cuidar de saber o clube que dizem apoiar, e que as apoia.
Não posso, por isso, deixar de considerar de muito mau gosto e lamentar que, dirigentes com responsabilidades venham evocar um fatídico incidente ocorrido num jogo entre os seus rivais, para justificarem o inqualificável comportamento dos seus adeptos, durante o fim-de-semana.
Eu assisti a essa célebre, por trágica, final da Taça de Portugal, entre Benfica e Sporting, durante a qual um "very light" lançado para o ar acabou por atingir, mortalmente, um adepto do Sporting e posso afiançar que o clima de animosidade entre os adeptos não teve qualquer comparação com aquele que vivi durante a tarde de ontem, no estádio do dragão.
Talvez seja tempo de os dirigentes alterarem, ainda que temporariamente, o modo como se deslocam para os estádios e assistem aos jogos dos seus clubes, misturando-se com os adeptos, sem qualquer tipo de segurança pessoal.
Pode ser que percebam, finalmente, que não é possível continuarem por este caminho, sob pena de serem moralmente responsáveis por uma tragédia que, a manter-se o clima de crispação que se vive, acabará, inevitavelmente, por acontecer.

CONTINUEM ASSIM, MAS DEPOIS NÃO SE QUEIXEM...


Ontem estive no estádio do dragão, a assistir ao jogo do Porto, contra o Benfica.
Digo contra, propositadamente, e não com, pois antes, durante e depois do jogo vivia-se um ambiente de batalha e não o de um encontro de futebol entre clubes rivais.
Escrevo sem conhecer a opinião de especialistas e comentadores sobre o que se passou, quer no campo, quer fora dele, mas ciente de que a continuar assim, o futebol português vai por muito mau caminho.
Mas, vamos por partes:
1. Em matéria de futebol, o Porto acabou por ganhar bem um encontro em que os jogadores do Benfica me pareceram desconcentrados, até apáticos, em vários momentos do jogo.
Admito que os cartões amarelos com que o árbitro "brindou" 3 jogadores, na fase inicial do jogo, possam ter tido influência no comportamento da equipa, mas não pretendo valorizar, demasiado, esse aspecto. Aliás, Jorge Jesus esteve muitíssimo bem ao desvalorizar os erros de arbitragem, nos comentários finais ao jogo.
Mas também não excluo que tenha havido algum excesso de confiança por parte de uma equipa que demonstrou, ao longo da época, ser claramente superior ao adversário, conjugado com uma natural ansiedade, que se compreende.
Seja como for, o Porto ganhou bem, mas não duvido que o Benfica acabará por ver consagrada a sua superioridade neste campeonato, no seu estádio e perante o seu público, no próximo domingo.
Melhor assim, digo eu, pois perante tudo aquilo a que assisti no fim-de-semana, não sei o que poderia ter acontecido se o Benfica tivesse assegurado a conquista do título no Porto...
2. O que se passou antes do jogo, só pode ser qualificado com uma palavra: vergonhoso!
Com esta nossa mania das originalidades, alguns órgãos de comunicação social entrevistaram, no sábado, o líder de uma das claques do Porto, para avaliarem da possibilidade de existência de possíveis confrontos, o qual se aprestou a afirmar que ia ser muito difícil impedi-los, face à frustração dos seus "comandados" com tudo o que se passou durante a época desportiva.
Está gravado, pelo que ninguém pode argumentar que foi apanhado de surpresa..
Curiosamente, também no sábado, o jornal Record publicava uma entrevista com um antigo jogador do Porto, na qual ele sugeria que o seu clube poderia colocar uns "stewards" no túnel de acesso ao relvado, para provocarem os jogadores do Benfica...
Mas estas declarações não parecem ter sido suficientes para alertar as autoridades, nem mesmo quando conjugadas com a notícia da compra de centenas de bolas de golfe, por parte da claque portista, pelo que o autocarro em que seguia a equipa do Benfica acabaria por ser apedrejado e bolado, em duas ocasiões distintas, uma delas à entrada para o estádio...
3. O ambiente de hostilidade entre os adeptos dos dois clubes, antes e durante o jogo, não tem qualificação possível.
Não falo das claques organizadas, porque essas, infelizmente, já nos habituaram a esse triste espectáculo de falta de educação, que é o menos que se pode dizer sobre o comportamento selvático com que as claques brindam os opositores. E nesta matéria não existem santos, são todos pecadores.
Mas também é evidente que esses comportamentos só são possíveis porque alguém facilita a entrada de petardos, "very light", bolas de golfe, paus e outros artefactos, pelo que, no mínimo, se pode questionar a eficácia do trabalho dos "stewards" e das forças policiais, quando do controlo das entradas no estádio...
Mas o mais chocante, como disse, nem foi o comportamento das claques, mas sim o ódio que vi espelhado na cara e nas atitudes de adeptos supostamente "normais", sendo muitos os que, com idade para terem juízo, deram mostras de total fanatismo e tiveram comportamentos provocatórios incompreensíveis.
Sentia-se, acreditem que não é exagero, um verdadeiro clima de ódio entre os adeptos, pronto a descambar em violência ao mínimo pretexto.
Durante o meu regresso a Lisboa, foi-me impossível deixar de reflectir sobre o que se passou e reforcei a convicção de que o futebol português não vai no bom caminho, enquanto se verificarem comportamentos como aqueles a que assisti.
Devo admitir que cheguei a recear pela minha integridade física, sobretudo a partir do momento em que alguns adeptos do Porto se aperceberam que na bancada lateral, em que me encontrava, estava um reduzido número de apoiantes do Benfica, identificados quando cometeram a "imprudência" de aplaudir único golo marcado pelo seu clube.
Quando um espectador que paga €65 por um bilhete para assistir a um jogo de futebol, sente que não estão criadas condições para que o possa fazer em segurança e se vê obrigado a abandonar o estádio antes do jogo terminar, receando pela sua integridade física, é o próprio espectáculo que está em causa.
Foi isso que aconteceu, ontem, a vários benfiquistas, mas quero deixar claro que este tipo de comportamento não é exclusivo dos adeptos do Porto e não ignoro a existência de situações semelhantes envolvendo adeptos do Benfica, do Sporting e de outros clubes, todos condenando com igual veemência.
Mas pergunto-me como podem as autoridades e os organizadores de um espectáculo, cada vez mais caro, dar-se ao luxo de pactuar com este clima de violência e intimidação?
E interrogo-me por quanto mais tempo continuarão os dirigentes a alimentar esta fogueira de suspeição e ódio entre clubes, que deveriam ser capazes de conviver em saudável rivalidade, permanecendo indiferentes ás suas nefastas consequências para o futebol, que tanto dizem defender?
Ninguém ignora que a rivalidade é essencial ao futebol e a toda a indústria que a ele está associada, mas muito mal estão as coisas quando se permite que as paixões que lhe estão subjacentes ultrapassem determinados limites. Ou, pior ainda, quando se chega ao ponto de serem alguns dos intervenientes a incentivar essa ultrapassagem...
Dentro das quatro linhas, o futebol português está longe de ser um exemplo de "fair play" e de respeito pelos adversários, sendo comum o recurso à simulação, quer para ganhar tempo, quer para se "cavarem", expressão tão do agrado das gentes do meio, faltas inexistentes e as respectivas punições.
É verdade que a falta de qualidade das arbitragens também não ajuda, mas não é menos verdade que os intervenientes nada fazem para facilitarem o trabalho dos árbitros e contribuírem para o respeito pela verdade desportiva. Bem pelo contrário.
Mas não deixa de ser curioso que, em nome dessa verdade desportiva, antes e depois dos jogos, assistamos a discursos inflamados de jogadores, técnicos e dirigentes, que não hesitam em recorrer a todo o género de insinuações e suspeições para justificarem o insucesso desportivo.
E vale a pena acrescentar que muitos destes comportamentos e práticas contam com a preciosa colaboração dos meios de comunicação social, onde muitos comentadores e analistas tentam disfarçar, sob a capa do jornalismo, a clubite aguda de que enfermam, cuja contribuição para o actual estado em que se encontra o futebol português não pode ser menosprezada...
Em matéria de segurança nos estádios e em volta deles, parece-me claro o processo de acelerada degradação, com os famosos "stewards" a comportarem-se, cada vez mais, como adeptos do clube que os contratou, em vez de assumirem a função de auxiliares na manutenção da ordem, como lhes competia, e a crescente e indesculpável apatia das autoridades policiais face a comportamentos que colocam em causa a ordem pública.
Perante tudo isto e o muito mais que se poderia dizer, os responsáveis pela Liga, pela Federação e até o próprio Governo, preferem assobiar para o lado...
Tudo isto me ocorreu durante o regresso a Lisboa e interrogando-me sobre se poderá continuar a ser assim, por muito tempo, acabei por concluir:
Poder, até pode, mas depois não se queixem...

PS: Uma nota final para louvar a sensatez do comunicado emitido pela SAD do Benfica, na sequência da vandalização do autocarro que transportava os jogadores e equipa técnica.
Em contraponto, o silêncio da SAD do Porto sobre os incidentes foi ensurdecedor...