sábado, 30 de abril de 2011

COISAS E LOISAS


Coisas lia os jornais, e não resistiu:
- Apre, que a chuvada de granizo de ontem, em Lisboa, vai estender-se ao Norte, e ao Centro, do País.
Loisas, entretida com a leitura das revistas, retorquiu:
- Ajuda dos deuses.
- Qual deuses, qual carapuça! Metereologia, isso sim.
- Seja. Ajuda meteorológica.
- Mas que ajuda, mulher de Deus?
- Uma ajuda divina, aos nossos políticos.
- Ora, ora, deixa-te de brincadeiras.
- Brincadeiras nada. Reparaste que as pedras de granizo eram anormalmente grandes?
- E o que quer isso dizer, mulher?
- Ah tu não sabes?
- Eu não.
- Trata-se do contributo divino para a batalha política.
- Tens cada uma...
- Claro que sim. Deus não dorme. Como, por cá, os problemas só se resolver à pedrada, resolveu mandar mais munições.
O Coisas deu uma gargalhada.
- És terrível. Mas, pensando bem, pode ser que tenhas razão, rematou.
Mas Loisas já nem respondeu, de tão enlevada que estava, com o vestido da Kate...

EM "FUTEBOLÊS" NOS DESENTENDEMOS...


Quando era jovem, tinha dificuldade em compreender o progressivo afastamento dos portugueses em relação à política, e aos políticos.
Talvez influenciado pela minha passagem pela política, no longínquo período de 1974/78, aceitava a dificuldade de muitos, incluindo a minha, de se submeterem a uma disciplina partidária, mas considerava inadmissível a crescente indiferença dos portugueses, perante a escolha de quem deveria assumir a governação.
Com o passar dos anos, e quase sem que disso me apercebesse, também eu me comecei a afastar da contenda política, enfadado pela facilidade com que os nossos políticos, na luta pela conquista do voto, sobrepunham os interesses partidários aos dos eleitores, e do país.
Afinal, ainda que imperceptível para muitos de nós, aquilo que se estava a passar, não era mais do que um fenómeno de crescente "futebolização" da vida política, e os resultados estão à vista de todos.
Nem a situação de emergência em que o país se encontra, que obrigou ao pedido de ajuda externa, parece ser suficiente para chamar à razão os nossos políticos, tal é o seu empenho em sobrepor a partidarite, e a caça ao voto, aos interesses de Portugal, e dos portugueses.
E nada parece ser suficiente para travar o enredo quotidiano, entre os que insistem em ignorar os prejuízos que estão a causar a Portugal, e à sua imagem externa.
Como pode alguém manifestar surpresa perante as dúvidas dos finlandeses, quanto ao apoio financeiro a Portugal, quando os nossos dirigentes partidários parecem incapazes de distinguir o essencial do acessório?
Quando, após a confirmação da conquista do campeonato nacional de futebol, alguém decidiu mandar apagar as luzes, no Estádio da Luz, e ligar o sistema de rega, foi o nome do Sport Lisboa e Benfica que foi posto em causa, e não o de quem tomou a decisão. Quem o fez, apesar da transitoriedade do seu cargo, foi incapaz de perceber que estava a macular a história, o prestígio, e a honra, de um Clube centenário, que não lhe pertence, e que lhe deveria merecer maior respeito.
Quando os nossos políticos trocam insultos, insinuações, e acusações, na praça pública, comportam-se como se ignorassem que é a credibilidade, e o bom nome, de Portugal que está em causa, e não o dos seus adversários.
E também eles parecem não entender que, a transitoriedade dos cargos que ocupam não lhes confere quaisquer direitos sobre o País, que têm o dever, e obrigação, de respeitar.
Este tipo de atitudes e comportamentos pode até ajudar a empolgar os mais ferrenhos, mas não deixará de afastar os mais razoáveis, e sensatos, para prejuízo de todos.
Na política, como no futebol, acredito que Portugal merece melhor!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

DO PORTO, À REALEZA



Ontem, o FCPorto voltou a passear a sua classe, derrotando o Villareal, por 5-1, num jogo que perdia,por 1-0, ao intervalo, tornando-se o grande favorito para conquistar a Liga Europa.
Benfica e Braga deixaram a decisão para o segundo jogo, pois a vantagem tangencial do Glorioso, por 2-1, deixa tudo em aberto.
Quase garantida, está uma final, inédita, entre equipas portuguesas.
Hoje, o dia será dominado pelo casamento real, de William e Kate, com direito a uma exaustiva cobertura televisiva.
Dom Duarte, apesar da "velha aliança", terá de satisfazer-se com a condição de comentarista da RTP...
No que me diz respeito, não posso deixar de saudar esta pausa, no rol de desgraças informativas que caracterizam o nosso quotidiano, aproveitando para desejar aos noivos as maiores felicidades.
E, goste-se ou não, os ingleses sabem como fazer estas coisas, sendo muito poucos os que conseguirão ficar indiferentes ao evento.
Ausente, mas omnipresente, estará a falecida princesa Diana, de quem a noiva parece ter herdado o estilo.
Se o casamento vai, ou não, salvar a monarquia ingles, isso são outros trocados, mas, seja como for, em homenagem aos meus amigos ingleses, aqui fica a minha real saudação:
"God Bless the Wedding"!
"God Save The Queen"!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

GERAÇÃO À RASCA?


Passo a reproduzir o texto de um email que recebi, que não resisto a partilhar convosco, e cujo autor desconheço, mas a quem quero dar os parabéns, por chamar a nossa atenção para pequenas minudencias, guardadas no baú do tempo.
Direi, apenas, que, apesar de ser possível acrescentar várias outras "maravilhas" daquele tempo, existem motivos para que a minha geração se sinta feliz, quando faz um balanço, global, da evolução portuguesa.
E um bocadinho de decoro, não faria mal a ninguém...

E como éramos felizes com o que tínhamos...

Geração à rasca foi a minha.
Foi uma geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser diferente ou pensar que todos deveriam ter acesso à
saúde, ao ensino e à segurança social.
Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul.
De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles.
De grávidas sem assistência e de crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de
44,9%. Hoje é de 3,6%.
Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de
facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães
solteiras porque sim, pais biológicos, etc.
A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país e que podia, sem permissão, ler-lhe a correspondência.
Os televisores daquele tempo eram a preto e branco, uns autênticos caixotes, em que se colocava um filtro colorido, no sentido de obter melhores imagens, mas apenas se conseguia transformar os locutores em "Zombies" desfocados.
Hoje, existem plasmas, LCD ou Tv com LEDs, que custam uma pipa de massa.
Na rádio ouviam-se apenas 3 estações, a oficial Emissora Nacional, a católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos os Gato Fedorento, só ouvíamos Os Parodiantes de Lisboa, os humoristas da época.
Havia serões para trabalhadores todos os sábados, na Emissora Nacional, agora há o Toni Carreira e o filho que enchem pavilhões quase todos os meses. A Lady Gaga vem cantar a Portugal e o Pavilhão Atlântico fica a abarrotar. Os U2, deram um concerto em Coimbra em 2010, e UM ANO antes os bilhetes esgotaram.
As Docas eram para estivadores, e o Cais do Sodré para marujos. Hoje são para o JET 7, que consome diariamente grandes quantidades de
bebidas, e não só...
O Bairro Alto, era para a malta ir às meninas, e para os boémios.
Éramos a geração das tascas, do vinho tinto, das casas do fado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de Carvalho, a Vadeca ou a Sasseti.
As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que na nossa juventude enviávamos lá da guerra aos pais, noivas, namoradas, madrinhas de guerra, ou amigos que estavam por cá.
Agora vivem na Internet, da socialização do Facebook, de SMS e E-Mails cheios de "k" e vazios de conteúdo.
As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas em Fiat 600, ou então nas viagens para as antigas colónias para combater o "inimigo".
Quem não se lembra dos celebres Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrosos navios em que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza... ...a viagem de ida.
Quer a viagem fosse para Angola, Moçambique ou Guiné, esses eram os nossos cruzeiros.
Ginásios? Só nas colectividades.
Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam doentes.
Coca-Cola e Pepsi, eram proibidas, o "Botas", como era conhecido o Salazar, não nos deixava beber esses líquidos. Bebíamos, laranjada, gasosa e pirolito.
Recordo que na minha geração o País, tal como as fotografias, era a
preto e branco.
A minha geração sim, viveu à rasca.
Quantas vezes o meu almoço era uma peça de fruta (quando havia), e a sopa que davam na escola. E, ao jantar, uma lata de conserva com umas batatas cozidas, dava para 5
pessoas.
Na escola, quando terminei o 7ºano do Liceu, recebi um beijo dos meus pais, o que me agradou imenso, pois não tinham mais nada para me dar.
Hoje vão comemorar os fins dos cursos, para fora do país, em grupos organizados, para comemorar, tudo pago pelos paizinhos..
Têm brutos carros, Ipad's, Iphones,PC's, .. E tudo em quantidade. Pago
pela geração que hoje tem a culpa de tudo!!!
Tiram cursos só para ter diploma.
Só querem trabalhar começando por cima.

Afinal qual é a geração à rasca?

O BENFICA, E A FINAL DA LIGA EUROPA


Há cerca de um ano atrás, e já depois de o Benfica ter sido eliminado da Liga Europa, o treinador do Benfica, Jorge Jesus, declarava, confiante, que pretendia ganhar a Liga dos Campeões, este ano.
Ninguém acreditou, naturalmente, mas ficava o registo de um discurso positivo, galvanizador dos jogadores, e dos adeptos.
Transcorrido um ano, e na véspera de iniciar a disputa, com o Sporting de Braga, para o apuramento para a final da Liga Europa, o que vem Jesus dizer-nos:
Que preferia não ter de enfrentar o Braga, e que são todos candidatos ao apuramento.
Que grande motivação, para jogadores, e adeptos...
Com quem preferia Jesus jogar? Com o Arrentela, sem desprimor, para esse simpático clube?
Preferia ter de fazer uma viagem à Rússia, reduzindo o tempo de descanso dos jogadores, que já acusam um enorme desgaste?
Francamente, há qualquer coisa que me escapa, nos comportamentos, e discursos, do treinador do Benfica, e de que não gosto.
O que se passou com Jorge Jesus, que justifique tão radical mudança de atitude, em relação à época passada?
Será que o treinador não sente que o Benfica tem obrigação de conseguir o apuramento?
Como sócio do Benfica, não posso esconder a minha perplexidade...
Desejo, naturalmente, o maior sucesso para o FCPorto, nesta eliminatória, mas não me passa pela cabeça admitir que o meu Benfica não esteja na final...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

NO RESCALDO DE MAIS UM FRACASSO...


"First things first":
Parabéns ao FCPorto, pelo apuramento para a final da taça de Portugal.
Parabéns a André Vilas Boas, pela lição táctica que deu a Jorge Jesus.
Parabéns aos jogadores do Benfica, pelo modo como se bateram, mesmo quando o seu treinador demonstrou ser incapaz de reagir, perante um resultado que afastava a equipa da final.
Prestadas as homenagem, quero partilhar algumas reflexões, a pretexto do que se passou, ontem, no jogo da segunda mão da meia final da taça de Portugal, que o Benfica perdeu, em casa, por 3-1, após ter ganho o primeiro jogo, no Porto, por 2-0.
E quero começar por apresentar o meu pedido de desculpas a Vilas Boas, um jovem treinador que eu não imaginei que pudesse ter a categoria que tem demonstrado.
Não só no campo, mas também fora dele, onde a educação e elegância das suas declarações contrastam com o comportamento das principais figuras do futebol português.
Já em relação a Jorge Jesus, treinador do meu Benfica, vejo-me forçado a reconhecer que o homem não é talhado para os grandes momentos.
Chegada a hora de decidir, o treinador do Benfica vacila, inventa, atemoriza-se, como voltou a ficar demonstrado, no jogo de ontem.
E esta minha convicção, que resulta de uma análise global, aos jogos decisivos, desde que Jesus assumiu o comando do futebol profissional do Benfica, sai reforçada quando o adversário se chama FCPorto.
Nesses jogos, o desastre é total, e Jorge Jesus parece fazer questão de demonstrar o seu medo, não só no modo como escolhe, e organiza, a equipa, como também na deferência para com o adversário, antes e depois do jogo.
Onde anda o Jesus determinado, da época passada, com um discurso confiante, motivador, e moralizador, dos jogadores?
Qual a origem dos repetidos "bloqueios" do treinador do Benfica, e do anormal estado de desorientação que evidencia, sempre que defronta o Porto?
A que se deve tanta deferência para com Pinto da Costa?
Será que é por lhe ter oferecido emprego, no final da época passada?
Ou será que Jesus ainda alimenta o sonho de vir a ser treinador do FCPorto?
O Porto ganhou bem, mas o segundo golo foi irregular.
Porque ignorou Jesus, nas suas declarações, esse facto? Será que teria feito o mesmo se o adversário tivesse sido o Sporting, ou o Braga?
E não posso deixar de estranhar que, Pinto da Costa, que não hesita em achincalhar os seus opositores, mesmo aqueles que com ele trabalharam, como José Couceiro, e tem um ódio de estimação ao Benfica, seja sempre tão pressuroso, na defesa de Jesus.
A menos que se trate de mais uma das suas ironias, pois o treinador do Benfica tem evidentes responsabilidades nos péssimos resultados do Benfica.
Ontem, por exemplo, depois das substituições, e quando restavam poucos minutos para o jogo terminar, foi confrangedor ver Carlos Martins e Fábio Coentrão a pedirem instruções sobre o lugar onde deveriam jogar, a um treinador perdido, sem chama, incapaz de liderar uma reacção.
E por falar nas substituições, ás pinguinhas, guardadas para o final de um jogo em que o Benfica precisava de marcar mais um golo, cabe perguntar o que levou Jesus a esperar pelo minuto 88, para fazer entrar Weldon no jogo?
Enfim, goste-se ou não, a verdade é que o treinador do Benfica entregou a eliminatória ao FCPorto, de forma inexplicável.
Dirão alguns, em sua defesa, que o treinador venceu o campeonato, no ano passado, mas a esses eu relembro que o rival era o Braga, e o sofrimento foi enorme, num ano em que o Porto esteve bastante aquém daquilo que seria de esperar.
E com excepção dessa conquista, Jorge Jesus tem claudicado, sempre, nos momentos decisivos.
E é por isso que, depois desta eliminação, e caso se revele incapaz de conduzir o Benfica à final da Liga Europa, me atrevo a sugerir-lhe que retome a coragem demonstrada no ano passado, ao pedir aumento do ordenado para não ir treinar o FCPorto, e apresente o seu pedido de demissão.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

ASSIM NÃO VALE...


Na sua edição de hoje, o jornal Diário Económico divulga os resultados de uma sondagem da Marktest, sob o título "Portugueses apontam Sócrates como maior culpado da crise", em artigo assinado por Francisco Teixeira, que passo a reproduzir:

Uma esmagadora maioria de portugueses (86%) critica a actuação do Governo e do Presidente durante a crise.

A esmagadora maioria dos portugueses considera que o Governo deveria ter reagido mais cedo à pressão insustentável dos mercados financeiros e que o Presidente da República deveria ter sido mais activo ao longo da actual crise financeira. Em ambos os casos, 86% dos portugueses inquiridos pela Marktest dão nota negativa ao comportamento de Sócrates e Cavaco Silva.
Este estudo qualitativo realizado para o Diário Económico e TSF retrata o actual momento que o País atravessa e aponta as soluções políticas que devem sair das próximas eleições.
Entre as personalidades com responsabilidades políticas em Portugal, o primeiro-ministro é apontado como o principal responsável (65%) pela actual crise. E ao contrário do que ainda hoje garante o líder socialista, o PEC IV apresentado pelo Governo não era solução: 67% dos inquiridos garante mesmo que não evitaria um pedido de ajuda externa caso a oposição, a 23 de Março, tivesse viabilizado a actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento que o Governo colocou a votos no Parlamento.

Como primeira constatação, começo por fazer notar que, quem fez o título da notícia optou por poupar Cavaco, ao desagrado dos portugueses, embora isso não seja nada a que não estejamos habituados.
Afinal, bater no suspeito do costume, na actual conjuntura, rende, porque "é fácil, é barato, e dá milhões", para usar o "slogan" publicitário conhecido...
Mas quem se der ao trabalho de ler o corpo da notícia poderá verificar duas coisas:

- O título da notícia está construído para prejudicar a imagem do primeiro ministro;
- Os resultados desta sondagem, ou o que se lhe quiser chamar, não representam absolutamente nada, nem é legítimo que se lhes chame, "estudo qualitativo".

E passo a explicar porquê:

Se a ideia era demonstrar que Sócrates é o culpado pela crise que se vive, então era essa a pergunta que deveria ter sido feita. Eles saberiam dizer, aí sim, sem margem para dúvidas, o que pensam a esse respeito.
E se, por outro lado, a ideia fosse demonstrar que os portugueses não gostam de Sócrates, nada como perguntar-lhes, directamente, sem rodeios. E eles responderiam, simplesmente, sim, ou não.
Em qualquer dos casos, aí sim, poderiam ser retiradas conclusões quanto aos resultados, atendendo à objectividade das perguntas.
Mas perguntar aos portugueses se consideram que a aprovação do PEC IV evitaria o pedido de ajuda externa, sem lhes perguntar, simultâneamente, se sabem o que era o PEC IV, e quais os efeitos das medidas nele previstas, na dívida pública, é, perdoem-me a expressão, "andar a brincar com coisas sérias".
Isto porque, existem fundados motivos para suspeitar que, nem metade dos inquiridos faz a mínima ideia do que era o PEC IV, tem noção do que é a Dívida Pública, ou conhece o que é o Produto Interno Bruto.
E jogar com a ignorância dos portugueses, com a finalidade de influenciar o resto da opinião pública, seja com que objectivo for, é feio, muito feio. Além de ser, éticamente, condenável.
Lembro-me, por exemplo, da enorme celeuma, e discussão, em torno do modo como estava formulada a pergunta sobre aborto, quando da realização do referendo, com o argumento de que as conclusões poderiam não corresponder à vontade dos portugueses.
Pois, meus amigos, este é um caso semelhante, com a única diferença de, neste inquérito, terem sido feitas perguntas, que são verdadeiros abortos, cujas respostas não permitem as conclusões que muitos gostariam.
Assim não vale...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

PARABÉNS, PAI


Se fosses vivo, meu querido Pai, completarias, hoje, mais um aniversário.
Mas, contrariamente ao que era costume, seria um dia triste para ti, com a morte do nosso querido Gonçalves da Silva, cujo funeral terá lugar amanhã. Mas isso tu já deves saber...
Recordar o teu aniversário é, naturalmente, lembrar a mãe, a avó Rogélia, o avô Chico, o tio Carlos Alberto, enfim, todos os que nos eram tão queridos, e já partiram.
Mas a minha costela católica dá-me a ténue esperança de que possam estar todos juntos, celebrando, como nos bons velhos tempos, mais um dia 18 de Abril.
Se assim for, aqui ficam beijos, e abraços, para todos, com o pedido de que se divirtam, como era de costume, e bebam um copo à nossa saúde.
Mas este é o teu dia, meu querido Pai, pelo que tens direito a beijos especiais, daqueles do do tamanho do universo, na certeza de que chegarão até ti, seja qual for a parte dele onde te encontres.
Por cá, não haverá festa. Apenas celebramos muitas recordações, com muita tristeza, e uma enorme saudade.
Até sempre, Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo!

domingo, 17 de abril de 2011

MORREU O GONÇALVES DA SILVA!


Faltavam poucos minutos para as 10 da manhã, quando o telefone tocou.
Do outro lado, o Carlos Manuel, seu filho, dava-me a notícia que eu esperava nunca ter de receber:
- O velhote não aguentou!
O velhote a quem ele se referia, era o pai, Fernando Gonçalves da Silva, o "Gordo", para os amigos.
Um homem bom, um "coração de vaca", como tantos diziam, tamanha era a pureza, e nobreza, do seu carácter.
Um dos raros Homens genuinamente bons, que tive o privilégio de conhecer.
UM GRANDE AMIGO!
Conheci-o como meu primeiro chefe de secção, na banca, na secção do ultramar, do Banco Português do Atlântico, no dia 7 de Março, do ano de 1973, e apesar da forte amizade que o unia ao meu pai, seu colega no Banco, estava longe de imaginar que acabara de conhecer um Homem que me viria a tratar como um filho, até ao final da sua vida.
Apenas foi meu chefe dois anos, até meados do ano de 1975, tempo mais do que suficiente para aprender a admirar-lhe a bondade, lealdade, dignidade, e integridade, bem como o seu imenso prazer em viver a vida.
Fadista nato, e grande admirador de Alfredo Marceneiro, imitava a sua voz, rouca, em fados cuja letra sabia de cor, sendo em seu redor que se animavam as festa de convívio, entre familiares, e amigos, que tinham lugar em minha casa.
Tantos são os episódios vividos em conjunto, e tantas as memórias e recordações, que se torna difícil em escolher um, para ilustrar o Homem de quem vos falo.
Ainda assim, escolho relato-vos um episódio que evidencia a marca distintiva desse Grande Homem, que era o Gordo:
Corria o início de 1974, e os bancários estavam em greve.
As paralisações, que se estendiam por toda a banca, com concentração em volta dos Bancos, começaram por ser, se bem me recordo, de cinco de minutos, depois dez, quinze, e por aí diante, até à meia hora.
Todos os trabalhadores da secção do ultramar aderiram à greve, incluindo o Gordo, naturalmente, que fez questão de nos esclarecer que, apesar de solidário, se via obrigado a abrir as portas do Banco, na Rua de São Nicolau, no horário previsto.
Ao segundo, ou terceiro, dia de paralisação, chegava a ordem, para que ele identificasse todos os funcionários que tinham aderido.
A resposta foi curta, e imediata, e o seu superior hierárquico, homem conhecido, e reconhecido, pela dureza de tratamento, com os subordinados, ao receber a informação de que todos estavam no local de trabalho, à hora indicada, mandou chamá-lo.
Sabia bem, por ser do conhecimento de todos, que a informação que recebera não correspondia à verdade, e pretendia vê-la corrigida.
Mas o Gordo resistiu, estoicamente, sem recear eventuais represálias, e protegeu os seus colaboradores, e amigos, até ao fim.
Estávamos a poucos dias do 25 de Abril, em plena ditadura, e nunca chegámos a saber quais poderiam ter sido as consequências desse seu acto.
Mas acredito que essa sua atitude possa ter contribuído para retardar a sua promoção, na carreira, mesmo em pleno período democrático. Há coisas que nunca se esquecem...
Porém, as memórias de tantas coisas boas que vivemos, juntos, que afluem ao meu cérebro, em catadupa, neste momento de profunda tristeza, são impossíveis de descrever.
De olhos turvos, e ainda a procurar refazer-me do choque, acrescento, apenas, que a Amizade e Admiração, que comecei por sentir por ele, se foi fortalecendo, com o tempo, a ponto de se ter transformado em Amor.
Perdi um segundo pai, e é por isso que escolhi a foto acima, para ilustrar estas linhas.
Ao recordar a memória do meu pai, e do Gordo, o meu profundo desejo é o de que possam estar, agora, em amena cavaqueira, onde quer que estejam, perpetuando os maravilhosos momentos de Amor, e Alegria, que proporcionaram a todos os que lhes eram queridos.
E não resisti a fazer uma adaptação da letra de um dos fados mais conhecidos de Alfredo Marceiro, "O Louco", por eles tantas vezes cantado, em dueto, para lhes dizer o que me vai na alma, neste momento de profunda tristeza:

O lenço que me ofertaram,
tinha um coração no meio,
e agora, que me deixaram,
eu fui-me ao lenço... e guardei-o!

À minha querida Tia Idalina, sua mulher, deixo um longo beijo, e um abraço, muito apertado, do filho que ela não teve, mas adoptou, sempre com imenso amor, e carinho.
Ao Carlos Manuel, seu único filho, e bom amigo, deixo um abraço cúmplice, de quem sabe o que é a angústia, e o sofrimento, na hora da perda de um pai.
Aos restantes familiares, e amigos, quero expressar os meus sentidos pêsames.
Com a morte do Gordo ficámos, todos, muito mais pobres.
ATÉ SEMPRE, AMIGO!

MOURINHO, SÓCRATES, E OUTRAS AFINIDADES...


Tive oportunidade de assistir ao jogo entre o Real Madrid e o Barcelona, e não dei o meu tempo por perdido.
Mourinho voltou a dar razão, uma vez mais, aos que o consideram o melhor treinador do mundo, e conseguiu o "milagre" de empatar, tendo um jogador a menos, nos últimos 40 minutos d0 jogo, com a equipa que muitos consideram, justamente, a melhor equipa do mundo.
O Real Madrid, depois de uma primeira parte em que demonstrou poder vencer o Barcelona, viu-se a perder, por 1-0, por via de uma grande penalidade, justa, mas, com um jogador expulso, não só conseguiu empatar o jogo, como evidenciou uma superioridade que muitos julgavam não estar ao seu alcance.
Mourinho, o "mago" da conquista da Liga dos Campeões, pela Inter de Milão, voltou a passear a sua arte de organizar uma equipa de futebol. E foi bonito de ver!
Curiosamente, depois do jogo, e numa rápida passagem pelo Twitter, deparei-me com artigo, num blog, onde o autor considerava Mourinho e Sócrates como filhos de Maquiavel, mestres da táctica.
E porque achei interessante a comparação, propus-me reflectir um pouco a esse respeito, tentando encontrar semelhanças entre as actividades que ambos exercem, e que mexem com a vida de milhões de portugueses.
Como ponto de partida, despertou a minha atenção o facto de, em matéria de vocabulário, existirem afinidades evidentes: no mundo da política, como no do futebol, é recorrente a utilização de termos como corrupção, manipulação, mentira, fraude, batota, para citar apenas alguns. Sem esquecer outros, como estratégia, ou táctica, de aplicação mais generalizada, e com sentido menos pejorativo.
No futebol, como na política, constatei que, parte dos eleitores optou por se organizar em claques de devotos, com a missão de aplaudir os dirigentes, abafar as críticas, e motivar as hostes, sendo que os eleitos se encarregam de lhes proporcionar as condições para desenvolverem essa actividade.
E observei, também, que, no que respeita ás consequências da prática de actos ilícitos, existe um evidente paralelismo, sendo poucos os "casos" que chegam a tribunal, e muito menos os que resultam em condenação.
A culpa tende a morrer solteira, e, com excepção de um ou outro figurante, é muito baixa a probabilidade de um dirigente ser brindado com uma estadia no chilindró.
Política e futebol, pelo dinheiro, poder, e influência, que movimentam, e lhes são genéticos, congregam interesses da mais diversa ordem, existindo o sentimento, entre muita e boa gente, de que nem todos serão legítimos.
Também a estreita ligação entre a classe dirigente e o sector financeiro, que contribui para a sua eleição, assim como a excessiva influência deste nas decisões, é factor comum ás duas actividades, apesar de não merecer os favores de boa parte do eleitorado.
Assim como não são bem aceites as crescentes transferências de dirigentes, da política para o futebol, e vice-versa, havendo quem sugira que, o à-vontade que demonstram nessas mudanças, é revelador da identidade existente.
Seja como for, a verdade é que, apesar de muitos considerarem que somos induzidos a aceitar, como verdade, tudo o que nos querem impingir, sempre com a preciosa ajuda do marketing, são poucos os que não se resignam ao estafado recurso à figura do inimigo externo, quando se trata de desviar as atenções, de resultados adversos. E esse é outro elemento comum, o que leva alguns maldosos a afirmarem que, quando alguns dirigentes advogam mudanças profundas, o seu verdadeiro objectivo mais não é do que procurar garantir que tudo fica na mesma.
Mas outra afinidade, importante, entre política e futebol, consiste no facto de a crítica raramente ser bem aceite, e de se estimular pouco a participação dos eleitores, excepto quando se trata de eventos destinados ao apoio, ou consagração, dos líderes.
Reparo, agora, que a hora vai adiantada, e a escrita longa, dois excelentes motivos para dar por terminadas estas linhas.
Mas não sem uma nota final: a lembrança de que os portugueses envolvidos na política, e no futebol, constituem amostras, representativas, de um universo mais amplo, que somos todos nós...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

AMIZADE, E DIFERENÇAS DE OPINIÃO


Decerto que, todos os que me concedem o privilégio de ler os meus escritos, já notaram que a política tem ocupado, nos últimos tempos, um lugar de destaque, contra o que é meu hábito.
Sucede que, os acontecimentos recentes, em Portugal, tornaram quase obrigatório que assim fosse, por imperativo de consciência.
Curiosamente, tenho recebido, decerto que com as melhores intenções, alguns reparos, e recomendações, de amigos, incentivando-me a abandonar o tema, sempre com o mesmo argumento:
- Eh pá, não faças isso, não ganhas nada, a não ser inimizades. Ainda por cima pões-te a defender o Sócrates, que está na mó de baixo, e isso não é bem visto junto daqueles que virão a ser Governo.
A todos, sem excepção, respondo do mesmo modo:
Agradecendo o conselho, que registo, mas deixando claro que não é da minha natureza deixar de dizer, ou escrever, o que penso, com receio de poder merecer a discordância, e a crítica, de quem quer que seja.
Até porque nunca compreendi, nem compreendo, que se criem inimizades com base em diferenças de opinião, embora não ignorando que tal acontece, pelo que nada mais posso fazer do que lamentar que assim seja.
Quando escrevo a defender Sócrates, e o seu Governo, faço-o com a convicção de quem pensa ter razão, embora sabendo que muitos não concordam comigo, sempre de forma cordata, e sem ofender quem quer que seja.
Do mesmo modo que, quando falo de algum excesso de autoritarismo de Sócrates, ou de alguma falta de humildade nos seus comportamentos, tenho consciência de que a minha opinião não é partilhada por muitos dos seus seguidores.
Mas respeito as opiniões de todos, e exijo que respeitem as minhas, desde que expressas com a civilidade exigida ás pessoas de bem, sabendo que alguns dos princípios que defendo têm adversários, que me recuso a olhar como inimigos.
Infelizmente, na política, como no futebol, existem demasiados exemplos de radicalização de atitudes, e comportamentos, que sempre considerei inaceitáveis, e tenho procurado combater, ainda que sem grande sucesso.
Mas não tenciono deixar de ser quem sou, para agradar a quem quer que seja, e muito menos com o intuito de poder vir a beneficiar de eventuais favores, que nunca procurei, nem desejo.
Quero poder debater, livremente, e sem quaisquer constrangimentos, política, futebol, economia, religião, ou qualquer outro tema, tendo sempre presente que a linha liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros.
Orgulho-me de poder contar, entre os meus amigos, com pessoas que têm, em diversos domínios, opiniões diferentes das minhas, mas cujo carácter, generosidade, e integridade, cimenta uma relação indestrutível.
A todos os que me expressaram a sua preocupação, deixo o meu renovado agradecimento.
Aos que ficam desagradados com o que escrevo, respondo que estão no seu direito, mas que é no livre debate das ideias, e no respeito mútuo, que encontraremos os alicerces para nos tornamos melhores cidadãos.
Aos que partilham ideias próximas das minhas, deixo a garantia de continuar a escrever, fiel aos meus princípios e convicções.
Nunca serei capaz de considerar alguém como inimigo, com base em diferenças de opinião, mas se alguém assim me considerar, por discordar daquilo que escrevo, pode dar por adquirida a certeza de que nunca poderá vir a ser meu amigo.

O SEU A SEU DONO...


Reproduzo, abaixo, o texto da página, da internet, da Agência Financeira. (http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/robert-m-fishman-new-york-times-tvi24-mercados-resgate-fmi/1246431-1730.html#).
Escrito por um académico estrangeiro, talvez este artigo possa merecer a atenção dos portugueses, com a credibilidade acrescida de o seu autor não ser alguém envolvido no ambiente de politiquice prevalecente em Portugal, quando se trata de analisar as causas que motivaram o pedido de ajuda externa, e não só.
Acredito que, quem se der ao trabalho de ler este texto, não dará o seu tempo como perdido, e ficará, certamente, com uma noção bem mais clara sobre o distanciamento entre o debate político nacional, e a realidade.
Sem mais, aqui fica a reprodução.

New York Times: «Portugal não precisava de ajuda»
Artigo de Robert M. Fishman lembra que há quem esteja pior que nós e que os mercados estão a pôr em causa a liberdade política


Afinal, ao que parece Portugal não precisava assim tanto de ajuda. Pelo menos, no «mar da inevitabilidade» da ajuda externa, defendido por um sem número de especialistas, surge uma «ilha» vinda dos EUA. O artigo do New York Times recupera a tese de que Portugal foi vítima dos mercados, lembra que há quem esteja bem pior que nós e ainda tem o «desplante» de afirmar que nos anos 90, Portugal teve uma «performance económica forte».

Robert M. Fishman, professor de sociologia na Universidade de Notre Dame, nos EUA, escreveu aquilo que Mário Soares já tinha dito. A pressão dos mercados deve ser um aviso às democracias. O professor afirma que a crise que começou com os pedidos de ajudada da Grécia e da Irlanda e seguiu um «caminho feio».

O pedido de ajuda de Portugal nada tem a ver com o seu défice. «Portugal teve uma performance económica forte nos anos 90 e estava a gerir a recuperação da recessão global melhor do que muitos países da Europa», escreveu.

Como foi dito há alguns meses, e silenciado cada vez mais com o aperto crescente dos mercados, Portugal ficou «sob pressão injusta e arbitrária de negociantes de obrigações, especuladores e analistas de crédito que, por miopia ou razões ideológicas, já conseguiram expulsar um governo democraticamente eleito e, potencialmente, amarrar as mãos do próximo».

Mercados que são um perigo, uma vez que deixados sem regulamentação estas «forças» ameaçam eclipsar a capacidade democrática dos governos (quem sabe mesmo dos EUA) de tomar as suas próprias decisões sobre os impostos.

Para Fishman, a crise em Portugal é completamente diferente da instalada na Grécia e na Irlanda. «Não há uma crise subjacente», defende, salientando que as instituições económicas e políticas não falharam e conseguiram importantes vitórias, antes de sermos submetidos às ondas de ataques dos especuladores.

O resgate que aí vem não irá resgatar Portugal, mas sim empurrá-lo para uma política de austeridade impopular que atinge quem mais precisa. São as bolsas estudantis, as reformas, o combate à pobreza e os salários de funcionários públicos que vão sentir na pele o «resgate».

Para o professor, não é Portugal que está a fazer a crise, até porque a dívida portuguesa está bem abaixo de países como a Itália e o défice tem diminuído «rapidamente» com os esforços do Governo. Fishman aponta ainda que no primeiro trimestre de 2010, Portugal teve uma das melhores taxas de recuperação económica, acompanhando ou mesmo ultrapassando os vizinhos do Sul e até mesmo a Europa Ocidental.

Aliás, se há alguém que não deve ser culpado do estado do país é o primeiro-ministro e os políticos portugueses. A recente crise política nada tem a ver com incompetência portuguesa, mas decorre da normal actividade política democrática, já que a oposição considerou que podia fazer melhor levando o país a eleições.

As razões do ataque a Portugal são então duas. Por um lado, um cepticismo no modelo de economia mista de Portugal. «Os fundamentalistas do mercado detestam as intervenções keynesianas, nas áreas da política de habitação em Portugal - o que evitou uma bolha imobiliária e preservou a disponibilidade de baixo custo de rendas urbanas - a assistência de renda para os pobres. Por outro lado, a falta de perspectiva histórica é outra explicação. O crescimento do país nos anos 90 levou a uma melhoria nos padrões de vida e a uma taxa de desemprego das mais baixas da Europa.

Para Fishman, os ataques dos mercados condicionam não só a recuperação económica de Portugal, mas também a sua liberdade política. Se o 25 de Abril foi um ponto de partida para uma «onda democratização que varreu o mundo», para o autor, a entrada do FMI em Portugal, em 2011, pode ser o início de uma onda de invasão da democracia, sendo que as próximas vítimas poderão ser a Espanha, a Itália, ou a Bélgica.

A PRETEXTO DE UM GRANDE SUSTO...


Foi excelente, para o futebol português, que Benfica, Braga, e Porto, tenham conseguido o apuramento para as meias-finais da Liga Europa. Aqui ficam os meus parabéns!
Mas se o Porto aproveitou para passear a sua classe, em Moscovo, voltando a golear o Spartak, para Benfica, e Braga, foi dia de aflição.
Contudo, o feito do Braga é tanto mais meritório quanto se tenha em consideração a expulsão de Paulo César, quando faltava mais de uma hora para o fim do jogo, e a escassa vantagem que lhe dava o empate, a um golo, no jogo da primeira mão.
Incompreensivelmente, ou talvez não, nem os três golos que tinha de vantagem foram suficientes para livrar o Benfica, e os benfiquistas, de um tremendo susto, ao estar a perder, por 2-0, quando eram decorridos, apenas, 25 minutos de jogo.
Como benfiquista, e treinador de bancada, tenho dificuldade em entender várias das opções de Jorge Jesus, cuja "criatividade" tende a aumentar quando disputa jogos importantes, e tentarei explicar, sucintamente, o que quero dizer:
1. A utilização de César Peixoto, que não faz parte, normalmente, da equipa base do Benfica, não só não costuma ser bem sucedida, como é reveladora dos receios do treinador, com reflexo nos índices de confiança da equipa.
Foi assim, por exemplo, nos jogos contra o FCPorto, que se saldaram por derrotas, em que desarrumou a equipa para encaixar Peixoto, e poderia ter sido assim ontem, não fora o golo de Luisão, num "timing" perfeito, já que Peixoto não tem condições para desempenhar o lugar que é de Pablo Aimar.
César Peixoto, que não é responsável pelas decisões do treinador, esforça-se por corresponder, com as limitações que se lhe conhecem, mas acaba por ser, várias vezes, o alvo da ira de muitos adeptos, injustamente.
2. As frequentes mudanças no centro da defesa não contribuem para dar tranquilidade aos jogadores, com reflexo na quantidade de golos sofridos, deixando a impressão de que o treinador não sabe quem escolher para parceiro de Luisão, e ficando claro que nenhum deles lhe merece particular confiança.
Sidney, Fábio Faria, e Jardel, são tudo menos defesas tranquilos, e confiantes, como fica evidenciado sempre que o Benfica sofre a pressão do adversário, com a agravante de saberem que não podem confiar em Roberto, para emendar um eventual erro.
As trocas de bola, na defesa, terminam, demasiadas vezes, com uma charutada de Luisão, sendo evidente que a equipa sai muito menos vezes, para o ataque, com a bola dominada, em contraste com o que sucedia na época passada.
Ainda no sector defensivo, parece claro que Fábio Coentrão rende muito mais na posição de defesa lateral, do que no meio campo, ou mesmo a extremo. A sua capacidade para criar desequilíbrios, no apoio ao ataque, fica muito prejudicada quando o treinador o elege para outras funções, mas Jesus não parece convencido disso.
Já no lado direito da defesa, e quando Maxi Pereira está menos bem, como aconteceu ontem, o Benfica não dispõe de um substituto à altura. E as adaptações de Jesus, como foi o caso da recente utilização de Ailton, evidenciam o que pensa sobre jogadores como Luís Filipe, sendo legítimo perguntar porque decidiu conservá-lo no plantel.
Na baliza, Roberto, apesar de algumas boas defesas, não tem condições, nem categoria, para ser o titular. Com evidentes deficiências no posicionamento, e péssimo a sair dos postes, nem a elevada estatura ajuda o guarda-redes do Benfica no desempenho da sua função, chegando a ser chocante a sua incapacidade para se impor, como deveria, na pequena área. Isto sem entrar em consideração com os regulares franguinhos, responsáveis pelo afastamento, precoce, do Benfica, da luta pela conquista do campeonato nacional.
A intranquilidade da defesa do Benfica começa, a meu ver, com a presença de Roberto, e nem a necessidade de justificar o dinheiro gasto na sua contratação deveria impedir o treinador do Benfica de dar oportunidade a Júlio César, ou a Moreira.
3. Do meio do campo para a frente, se é verdade que Saviola não atravessa um bom momento, não é menos verdade que o argentino rende muito mais quando joga com Pablo Aimar, mas Jesus, nas suas escolhas, parece empenhado em provar o contrário, nem sequer me parecendo válido o argumento de que a equipa perde capacidade de marcação, com os dois em campo.
Já Óscar Cardozo é, a meu ver, um caso perdido, sempre que a bola não lhe chega, redondinha, ao pé esquerdo. É lento, trapalhão, com pouca mobilidade, e cabeceia mal, pelo que tenho dificuldade em perceber a sua utilização, em jogos em que o Benfica adopta maiores cautelas defensivas.
Além de que deve ser frustrante, para Kardec, e Weldon, verificarem que não são opção, ante a comprovada ineficácia do paraguaio.
Eis, pois, de forma sucinta, o que me preocupa, e não entendo, nas as opções de Jorge Jesus.
Decerto que muitos não estarão de acordo comigo, mas também nisso reside a beleza do futebol, um jogo de regras simples, fáceis de entender, que propicia aos adeptos a tentação, fácil, de serem treinadores de bancada.
Desejo, naturalmente, que o meu Benfica vença a Liga Europa, mas temo que a criatividade de Jorge Jesus possa contribuir, como aconteceu ontem, para aumentar os sobressaltos, nessa caminhada.
Oxalá eu esteja enganado...

domingo, 10 de abril de 2011

UM AZAR DO CARAÇAS...


Nos dias que correm, quando alguém quer criticar o primeiro ministro, o mínimo que faz é vir lembrar-nos que se trata de um "mentiroso".
E eu, que acredito que quando se chama mentiroso a alguém, quem o faz está, seguramente, isento desse pecado, tenho de concluir que, os nossos principais dirigentes partidários, do CDS ao Bloco de Esquerda, com passagem pelo PSD, PCP e Verdes, são, graças a Deus, pessoas incapazes de cometer esse terrível pecado.
Tal como sucede, sem dúvida alguma, com os analistas políticos, os diversos comentaristas, ou os milhares de compatriotas, que se rebelam contra o "mentiroso" Sócrates, na comunicação social, em manifestações de rua, nas redes sociais, ou na blogosfera.
E eu, que sou um crédulo, fico feliz, e orgulhoso por viver num país onde a elite política, jornalística, social, tem um absoluto compromisso com a verdade.
E é uma honra saber que, são aos milhões os meus compatriotas que são escravos do seu compromisso com a verdade, cumprindo todas as suas obrigações para com a sociedade, e o Estado.
Sim, porque aquele minúsculo grupo de cidadãos que acusa os políticos de serem todos iguais, se recusa a acreditar neles, e manda ás malvas as eleições, ou vota em branco, não passa de gente caluniadora, e anti-patriota, que confunde todos os outros com Sócrates, quando eles têm um currículo imaculado.
Não duvido, pois, que, afastando-se Sócrates, e elegendo qualquer dos líderes da oposição, nos livramos da mentira, não só na política, e na governação, mas também nos negócios, na comunicação social, enfim, na sociedade.
Sim, porque no nosso país ninguém mente, e das raras vezes em que isso possa ter acontecido foi, seguramente, por fenómeno de osmose, ante a proximidade de Sócrates.
Grande país o meu, que tem uma elite, económica, política, e social, que renega a mentira, e tantos trabalhadores que a verberam, seja no trabalho, nas suas obrigações para com a sociedade, e o Estado, ou mesmo no relacionamento com os seus amigos, e conhecidos.
E quando o malandro do ministro das finanças holandês vem dizer que a oposição, se ganhar as eleições, tem de se comprometer a respeitar os compromissos assumidos, só pode ser por ignorância, ou porque pensa que os nossos políticos, oposicionistas, são uns mentirosos, como no país dele.
Pensando bem, sou forçado a admitir que tenho um azar do caraças: devo ter conhecido todos os mentirosos que existem no país, de tão poucos que são...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

REAVIVANDO A MEMÓRIA...


Permitam-me que comece por dizer que, respeito todas as opiniões, desde que expressas de forma civilizada, ainda que sejam, frontalmente, contrárias ás minhas.
Gosto da determinação do primeiro ministro de Portugal, embora a moda vá noutro sentido, e tenho bons motivos para isso.
Não porque lhe deva algum favor, que nem sequer o conheço, mas porque demonstrou, e demonstra, uma determinação, e coragem política, incomum, entre os nossos políticos.
Para ser mais claro, e sem ser exaustivo:
1. O primeiro governo de Sócrates revelou coragem, e determinação, ao afrontar imensos interesses instalados, na sociedade portuguesa. Lembro, a título de exemplo, a reforma das pensões, e do regime de segurança social, a avaliação dos professores, ou o encerramento de maternidades, e centros de saúde, sem condições, e a redução das férias judiciais;
2. O primeiro governo de Sócrates reduziu o peso da dívida pública, no PIB, para um nível abaixo dos 3%, mesmo sabendo que isso teria custos eleitorais;
3. Na sua maioria, os portugueses aprovaram a governação de Sócrates, dando ao primeiro ministro uma nova vitória, nas eleições de 2009, ainda que sem maioria absoluta.
Sem grandes lucubrações, goste-se, ou não, foi assim que se passou.
Entretanto, em 2008, teve início uma crise internacional, que muitos afirmam ter sido a maior de sempre, cujo impacto nas economias, e não só na nossa, foi subestimado por políticos, banqueiros, analistas e, até, economistas, extremamente reputados, com excepção dos pessimistas incorrigíveis.
Ao novo governo, e a Sócrates, pode censurar-se o facto de ter demorado a reagir, e o seu excessivo optimismo, na análise da situação, mas, até nisso, esteve muito bem acompanhado, internacionalmente, e uma manifestação de optimismo é, a meu ver, o mínimo que se pode pedir a um primeiro ministro, em tempo de crise. Isto apesar de eu saber que existe quem prefira o discurso da "tanga"...
Com a evolução da situação, e depois de, acompanhando os nossos parceiros comunitários, injectar uma fortuna na economia, para evitar a recessão, começam a surgir os problemas de deficit excessivo, em Portugal, e noutros países europeus.
Mas a contribuição das agências de "rating", e dos especuladores, para o agravamento do problema, não pode ser ignorada. Curiosamente, as mesmas agências de "rating" sobre as quais o relatório do Congresso americano, numa análise à sua contribuição para a crise, diz o seguinte:
"Concluímos que as falhas das agências de classificação de créditos foram essenciais no mecanismo de destruição financeira"!
Registo que, a conclusão é do Congresso dos EUA, e não minha, apesar de essas mesma agências continuarem a desenvolver a sua actividade, como se nada se tivesse passado, e com os resultados que todos conhecemos.
Mas, voltando ao tema deste post, o que é certo é que Portugal, com o ajoelhar da Grécia, e da Irlanda, ante a especulação internacional, com a cumplicidade, por omissão, da comunidade europeia, se tornou no alvo seguinte dos especuladores.
Sócrates, e Teixeira dos Santos, tentaram resistir, estoicamente, a quem empurrava Portugal para uma solução "à Grega", ou "à Irlandesa", interna e externamente.
Só que o Governo não tinha maioria absoluta, e todos sabiam, desde o dia em que se conheceram os resultados eleitorais, que a oposição pretendia fazer cair o Governo no final deste ano, como reconheciam diversos analistas políticos, de vários quadrantes.
Acresce que, havia as eleições presidenciais, e Cavaco Silva precisava do apoio de parte do eleitorado do PS, para assegurar a reeleição.
Como bom político que é, apesar de não gostar de ser tratado como tal, refugiou-se no silêncio e evitou confrontos com o Governo, até se apanhar com a reeleição no bolso.
Reeleito, e indiferente à crise, Cavaco Silva proferiu um discurso de tomada de posse arrasador, para o Governo, convidando a oposição a agravar a situação de instabilidade que se vivia, e a provocar eleições.
Tenho para mim, embora admita estar enganado, que o ódio se sobrepôs aos interesses do Estado, mas as coisas são como são.
O resto da estória é mais recente, e está fresca na memória de todos.
Mas será bom lembrar que não houve quatro PEC's, como diz a oposição, mas apenas dois, que tiveram de ser reformulados, face ao, súbito, agravamento do custo da dívida pública. E quem se der ao trabalho de comparar a evolução das taxas para a dívida pública portuguesa, e fizer uma análise, comparativa, da acção do Governo, pode verificar isso mesmo.
Enganar aos portugueses, por omissão, é, por exemplo, pretender ignorar, deliberadamente, o efeito da crise, e comparar números actuais, com números de há seis anos, com o intuito de obter benefícios eleitorais.
E não quero terminar sem referir que, diga-se o que se disser, José Sócrates tem sido alvo de uma campanha, sem precedentes, visando o seu assassinato político, sem quaisquer tipo de escrúpulos por parte dos seus opositores.
Certo que, algumas vezes, se terá posto "a jeito", mas nem isso pode servir para justificar os comportamentos de muitos que se lhe opõem.
A política portuguesa está, infelizmente, a tornar-se cada vez mais parecida com o futebol: no sectarismo, na linguagem, na falta de respeito pelo adversário. E é lamentável que assim seja.
E poucos são os meios de comunicação social, e os analistas políticos, que conseguem disfarçar as suas preferências, na hora relatarem os acontecimentos, como lhes competia.
Melhor seria que declarassem, à partida, os seu interesse, para que ninguém fosse levado a confundir uma análise comprometida com uma análise isenta. Todos teríamos a ganhar com isso.
Chegados à situação actual, vamos, de novo, para eleições, e o povo decidirá, como lhe compete, a quem caberá governar o país, neste momento difícil.
Aguardemos...

EM JERUSALÉM, NÃO!


Porque a vida tem que ser levada com alguma graça, e num momento em que as tensões, políticas, futebolísticas, e outras, prevalecem, na sociedade portuguesa, aqui vos deixo uma anedota, para começarem bem o vosso fim de semana, com votos de que seja carregado de boa disposição:

Pinto da Costa teria morrido e houve uma reunião no Porto para decidir onde seria enterrado.
Reinaldo Teles sugeriu:
-Deve ser enterrado no Porto. Afinal, aqui é a sua cidade natal.
Então, um bêbado, benfiquista, que não se sabe como entrou na reunião, disse, com aquela entoação típica dos bêbados:
- No Porto pode... Só não pode em Jerusalém!!!
Como estava bêbado, ninguém lhe deu qualquer importância.
Manuel Serrão disse:
- Acho que deve ser no Porto, mas perto do estádio do Dragão, onde fez a sua carreira como presidente do F.C.P.
O bêbado, mais uma vez, interveio:
- Junto ao Dragão pode... Só não pode em Jerusalém!
De novo, ninguém lhe deu ouvidos.
Miguel Sousa Tavares finalmente sugeriu:
- Porto, não! Deve ser enterrado em Lisboa, pois era uma celebridade, e todas as celebridades devem ser enterradas na Capital.
E o bêbado, novamente:
- Em Lisboa pode... Só não pode em Jerusalém!!!
Aí, os distintos portistas perderam a paciência com o fulano:
- Porquê tanto medo que o Pinto da Costa seja enterrado em Jerusalém?
E o bêbado, benfiquista, respondeu:
- Porque, uma vez, enterraram lá um gajo, e ele RESSUSCITOU!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

VOCÊ NÃO CUIDA DA SUA IMAGEM?


O burburinho, em torno das imagens de Sócrates, na TVI, quando ele pede a um colaborador para ver como resultava melhor, a sua imagem televisiva, é de um ridículo extraordinário.
E não deixa de ser curioso que, gente tão vaidosa, ou mais, do que ele, se tenha aprestado a criticar o primeiro-ministro.
Mas eu pergunto: Conhecem alguém que vá à televisão, e não se preocupe com a imagem?
É que eu não conheço nenhum, e conheço muita gente que já lá foi.
Esta sanha contra José Sócrates começa, a meu ver, a ser ridícula, de tanto diabolizarem o homem.
Que não se goste dele, que não se aprove a sua governação, que se seja seu adversário político, tudo bem.
Mas insultar, ofender, e tentar enxovalhar o primeiro-ministro, a propósito de tudo, e de nada, não só não é sério, como não enobrece quem o faz...
E é caso para perguntar: Você não cuida da sua imagem?
Se não cuida, é mau sinal...

terça-feira, 5 de abril de 2011

O "SHOW" TEM QUE CONTINUAR...


Confesso-me sem paciência para ler, ou ouvir, mais notícias sobre a situação no Médio Oriente.
Charles Chaplin comparou, um dia, a vida a uma enorme peça de teatro, que não permite ensaios. E eu acrescento que, com a globalização, a peça passou a desenrolar-se num teatro gigantesco, com cada vez menos actores principais, mas muito mais figurantes, e um público de centenas de milhões.
O guião resulta de uma co-autoria entre os principais dramaturgos ocidentais, sendo a encenação ajustada ás audiências, mas com todos os actos a terminarem de forma semelhante, favorecendo os interesses dos patrocinadores.
Os actores principais, como seria de esperar, concentram todas as atenções, e conhecedores da sua força não hesitam em ignorar, ou distorcer, o guião, a seu belo prazer, para defesa dos seus interesses.
Afinal, nesta enorme peça de teatro, como na selva, é o mais forte quem continua a ditar as leis.
Os figurantes, a quem é dado a conhecer o guião, mas vedada a possibilidade de influenciar o desfecho, acabam por se submeter ás exigências dos encenadores, e participar na representação, assegurando, deste modo, um papel nos próximos actos, e o direito à presença em palco, enquanto as primeiras figuras agradecem os aplausos.
Ou seja, garantem um lugar na fotografia, o que é escassa consolação para quem aceita hipotecar a dignidade.
Do outro lado, numa imensa plateia, está o público, na sua maioria seduzido pelo brilho das estrelas, e pela imagem que delas projectam os meios de comunicação social.
Alguns espectadores, rebeldes, contorcem-se nas cadeiras, esperneiam, havendo, até, quem ouse uma ou outra vaia, mas nada com força suficiente para impedir a exibição da peça. Nem a polícia dos costumes o permitiria, naturalmente.
Todos assistem à representação na esperança de um final feliz, como lhes foi vendido, todavia o que lhes oferecem é uma enorme tragédia, normalmente de péssima qualidade.
Mas "show" tem que continuar...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

PORTO CAMPEÃO


O Futebol Clube do Porto voltou a sagrar-se campeão nacional, de futebol, conquistando o seu 25º título.
Até aqui, nada de novo, pois o avanço pontual sobre o Benfica, segundo classificado, desde há muito que augurava essa possibilidade.
A conquista, com sabor a mel, para os dragões, e a fel, para todos os benfiquistas, foi garantida no estádio da Luz, com a vitória do Porto, por 2-1, o que lhe permitiu manter a invencibilidade no campeonato.
Por mais que nos custe, aos benfiquistas, há que reconhecer que se trata de uma conquista merecida, o que nem sempre foi o caso, num passado recente, e só nos resta dar os parabéns aos nossos adversários.
Infelizmente, não parece ter sido esse o entendimento dos responsáveis do Benfica, ao mandarem desligar a luz eléctrica, e accionar o sistema de rega, quando os jogadores do Porto ainda comemoravam a vitória.
Foi um comportamento leviano, como demonstram as declarações do subintendente da PSP, Costa Ramos, responsável pela segurança no estádio, e uma enorme falta de respeito, para com o adversário, que em nada dignificam os responsáveis pela decisão.
Já aqui escrevi, por diversas vezes, sobre a influência das atitudes dos dirigentes dos clubes no comportamento das claques, e nos actos de vandalismo, e selvajaria, por elas praticados, e aquilo que penso aplica-se aos dirigentes de todos os clubes, sem excepção.
Como benfiquista, só posso lamentar que os dirigentes do meu clube respondam, "à letra", aos responsáveis do Porto, porquanto lhes critico o método, e o estilo, com particular destaque para Pinto da Costa.
Adoptar uma política de "olho por olho, dente por dente", como parecem ter decidido os dirigentes do meu clube, pode ser muito popular, junto de alguns sectores benfiquistas, mas apenas contribui para o aumento da violência, verbal, e física. E nem o Sport Lisboa e Benfica, como se tem visto, nem o futebol português, têm nada a ganhar com esse tipo de comportamentos.
Não é demais realçar que, se anos houve em que as conquistas do Porto foram alvo, legitimamente, de contestação, este não é, seguramente, o caso, e o Benfica apenas pode queixar-se de si próprio.
O Porto é um justo vencedor, e merece os parabéns por esta conquista.
Ao Benfica recomenda-se que reveja o "filme" desta época, para evitar cometer os mesmos erros, no futuro.
Sugiro que comece pela baliza, reconhecendo que a fortuna gasta na contratação de Roberto foi um erro, já que a ele se devem muitos dos pontos perdidos no início do campeonato.
E para terminar o que começou, brindou-nos com um monumental "frango", logo no início do jogo, que acabaria por ser determinante no resultado, e na antecipação da conquista do título.
Mas também Jorge Jesus, com tendência para "inventar", normalmente mal, quando se trata de jogos importantes, deve reflectir sobre a responsabilidade que lhe cabe, neste insucesso. Até porque o Benfica ainda tem a possibilidade de conquistar a Liga Europa, e será bom que não repita os erros do passado...
Dito isto, convém lembrarmos que o Benfica está na final da Taça da Liga, e tem todas as condições para chegar à final da Taça de Portugal.
Ainda há, portanto, muita coisa para conquistar, esta época, e ganhar a Liga Europa permitiria ajudar a atenuar este desaire...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

ATÉ QUANDO?...


Mais uma “guerrilha” entre Benfica e Porto, desta vez a propósito da entrada do material das claques, no recinto desportivo.
Comunicado para cá, comunicado para lá, e o caldo entornado, como de costume.
Claro que o Porto, que deu o mote, tem, formalmente, razão, quando fala da legalização das claques do Benfica, uma verdadeira dor de cabeça, que vai ter de ser resolvida, mais tarde ou mais cedo.
Mas não é menos verdade que o Porto aproveitou mais esta situação para criar um novo conflito, desnecessário, entre os dois clubes, tanto mais que adoptou um comportamento idêntico, no jogo da primeira volta.
É mais um episódio, lamentável, a juntar aos antecedentes que todos conhecemos, e pelo caminho que as coisas estão a levar, não é difícil prever que, um destes dias, a violência vai resultar em tragédia.
Depois, virão os lamentos, e recriminações, do costume, mas talvez tenha de ser assim mesmo, para as autoridades se disporem a tomar medidas drásticas, e os dirigentes perceberem que não podem continuar a contribuir, directa ou indirectamente, para o clima de crispação, e violência, que se vive nos estádios, e fora deles.
E também seria bom que a imprensa desportiva deixasse de se limitar a reproduzir as declarações dos dirigentes, ou a dar a conhecer estas situações, sem assumir uma posição crítica. Para defesa do futebol português, que é quem, em última instância, dá emprego a esses profissionais.
No passado, os responsáveis do Porto, com Pinto da Costa à cabeça, têm sabido gerir muito bem estes conflitos, mesmo quando não são provocados por eles, o que nem é o caso, para deles tirarem proveito. Espero, como benfiquista, que desta vez possa ser diferente…
Seja como for, parece-me inegável que estão criadas, infelizmente, as condições para que voltem a surgir problemas, antes, durante, ou depois do jogo, e os dirigentes dos dois clubes não poderão declarar-se inocentes, o que é lamentável.
E é pena, porque o futebol português tinha muito a ganhar com uma rivalidade, saudável, entre os dois clubes, e com a cooperação entre ambos, visando as muitas reformas que é necessário fazer.