A banalização da difusão de notícias de crimes, catástrofes naturais, atentados, gera, em grande parte dos cidadãos, estou disso convicto, uma certa indiferença perante a tragédia.
Mas também penso que, durante a quadra natalícia, quando todas as mensagens, por mais hipócritas que sejam, e muitas delas são, apontam no sentido da solidariedade, do amor ao próximo, do respeito pela pessoa humana, e pelas liberdades fundamentais, as tragédias e catástrofes, mesmo as naturais, tendem a "mexer" mais connosco.
Admito ter sido isso que aconteceu comigo, ao tomar conhecimento do que se passou em Angra dos Reis, num local paradisíaco, onde um um grupo de pessoas encontrou a morte, dormindo, após ter comemorado a passagem do ano, quando projectara momentos de diversão e se dispusera a pagar caro por eles.
Infelizmente, pagaram caro, muito caro mesmo, o atrevimento do Homem, em contrariar as leis da natureza, insistindo em construir desordenadamente...
Tivesse a catástrofe tido lugar daqui a uns meses e, acredito, o choque seria menor, pois teria sido antecedida pelas mortes "habituais", no Iraque, Paquistão, ou Afeganistão, em consequência da guerra de guerrilha, ou na China, na Tailândia, ou Japão, fruto de fenómenos naturais. E o espírito natalício tinha-se desvanecido...
Dizer que a morte é a coisa mais natural da vida, é uma "lapalissada" de todo o tamanho, admito, mas, sendo verdade, tenho sérias dúvidas que seja natural o modo como nos habituámos, no ocidente, a conviver com este tipo de notícias.
Dirão alguns, com razão, que, historicamente, já foi maior o número de mortes por catástrofes naturais, ou em consequência de actos violentos, e que a grande diferença, nessa capacidade para nos chocar, reside na "proximidade", decorrente da velocidade na difusão da informação.
Sabemos mais agora, com mais detalhe, e mais rapidamente, do que sabíamos no passado...
Mas talvez porque, socialmente, se tornou bem aceite o ideal de um mundo mais pacífico, e mais seguro, a tragédia passou a vender melhor, como atestam as capas de jornais, e as aberturas dos telejornais.
Apesar disso, não se me afigura natural que, no século XXI, em países civilizados, se explorem, até ao tutano, as tragédias, e desgraças, alheias, em nome de interesses comerciais. Não ignoro que rende muito, mas não é aceitável...
E como ainda não me consegui libertar do espírito natalício, embora sabendo que é pedir demasiado, atrevo-me a sugerir que, no início desta nova década, a comunicação social passe a privilegiar outras notícias, em detrimento das tragédias, demonstrando respeito pela memória dos que partem, e pela sensibilidade dos que ficam...
Não ignoro, contudo, que há sempre um amigo, ou familiar, que gosta de aparecer no retrato, mesmo por maus motivos, nem que a tragédia vende, é notícia, mas, como para tudo, existem limites...
As mortes em Angra chocaram-me, confesso, pelas circunstâncias, mas ajudaram-me a reflectir, sobre este assunto. Muitas outras se seguirão, ao longo do ano, igualmente trágicas, e mais, ou menos, mediatizadas.
Por isso, aqui fica registado o meu pesar, para este caso, e para todos os que vierem a ocorrer, ao longo de 2010, porque eu, confesso, sou dos que mudo de canal, ou de página, quando o tema é a tragédia....
Prefiro a comédia, e o riso, ao fado da "desgraçadinha", ainda que, como diz o povo, mas o povo nem sempre tem razão, isso possa ser entendido, socialmente, como sinónimo de "pouco siso"...
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