segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

EM DEFESA DOS "IMPUROS"...



A notícia tem uns dias, e chegou-me através do jornal "Folha de S.Paulo":
Candidatas a professoras, no Estado de São Paulo, depois de aprovadas, em concursos, chumbaram, no exame médico, por serem obesas.
E não resisti a pensar, para comigo: Depois dos fumadores, chegou a vez da perseguição aos obesos.
Já, em tempos, escrevi, neste mesmo blog, que as movimentações existentes, nos Estados Unidos, contra a obesidade, não indiciava nada de bom, já que, como todos sabemos, é a partir dos EUA que se difundem as grandes limitações aos direitos individuais, em nome do direito colectivo, como sucedeu com o tabaco.
Uma vez adoptadas, essas restrições propagam-se à Europa, via Grã-Bretanha, e à América Latina, via Brasil.
E se tomarmos como exemplo o que sucedeu com o tabaco, com estados americanos a aprovarem a proibição de se fumar nas ruas, mas não a sua venda, poder-se-à dizer que os "gordos" estão em maus lençóis...
Nunca percebi, que não por motivos de mero fundamentalismo, o que leva um país a limitar os direitos dos cidadãos, e de alguns empresários, ao impedir a existência de espaços para fumadores, em locais públicos, desde que assegurada a possibilidade de não contaminação, dos cidadãos "normais".
E não adianta, sequer, a utilização do argumento dos custos, para o estado, com a saúde dos que fumam, porque os impostos que esses "impuros" pagam, pelo consumo do tabaco, chegam, e sobram, para financiar o gasto.
Sucede, apenas, que os "puros, normais e sãos", resolveram acantonar os "impuros, anormais e potencialmente cancerosos", com medo da contaminação, em nome dos superiores interesses da saúde pública.
Nem os contaminados com HIV, ou outras doenças contagiosas, sofrem, publicamente, semelhante discriminação.
E não deixa de ser irónico que esse movimento tenha surgido num país onde a saúde é um dos maiores negócios do mundo, no qual o estado tem feito o que pode para se demitir das suas responsabilidades, para com os cidadãos, nessa matéria...
Mas, neste mundo hipócrita e tão politicamente correcto, ninguém ousou pôr em causa o excesso de zelo, para com os fumadores, e abriu-se a porta para que os "gordos" sejam os senhores que se seguem...
Eu, que nada tenho contra os gordos, pelo contrário, acho, até, que isso lhes confere alguma bonomia, não tenciono, tal como fiz, e faço, com o tabaco, ficar calado, ou conformar-me com a medida.
E porque esta triste notícia me chega de um país que eu adoro, e que tem, entre os seus cidadãos mais ilustres, um dos "gordos" mais famosos do mundo, não resisti a interrogar-me sobre o que pensará, de tudo isto, Jô Soares.
E se, um destes dias, por ser manifestamente "gordo", e se orgulhar disso, (lembram-se do programa "Viva o Gordo e Abaixo o Regime"?), vier a ser proibido de apresentar o seu programa na Globo? Ou de publicar mais um dos seus excelentes livros, pelo simples facto de ser "gordo"?
Vão longe os tempos em que eu ouvia dizer que "gordura é formosura", mas nem o mais profético dos "gordos" poderia imaginar que viria a ser socialmente discriminado, pelo facto de a sua gordura o desconsiderar como pessoa "normal".
E, confesso, temo que esta sociedade de pessoas "normais", que já quase criminaliza o tabaco, mas fala em liberalizar as drogas, não se contente em ficar por aqui...
Há umas décadas, não tão distantes quanto isso, também houve quem pensasse que havia uma raça superior, naturalmente loira e de olhos azuis, e quem, com receio da contaminação, e em nome da sua preservação, ordenasse a prisão e destruição das raças "impuras". Tudo, é claro, em nome de um mundo melhor, e mais "limpo"...
Chamaram-lhe, mais tarde, histeria colectiva, a mesma em que parecem mergulhados, em nome de princípios politicamente correctos, muitos humanos, "normais", do nosso tempo. E nem as democracias, que sobrevieram à guerra, e à perseguição aos "impuros", ou os tão propalados direitos dos cidadãos, parecem capazes de a evitar...

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