António Costa e Rui Rio, presidentes das câmaras municipais de Lisboa e Porto, respectivamente, lamentaram, hoje, que tenha sido necessária uma intervenção externa, para que os principais partidos portugueses chegassem a acordo, quanto ás medidas necessárias para retirar o país da difícil situação em que se encontra.
Esta posição de convergência, muito rara na nossa política, veio realçar uma das principais qualidade dos seus defensores: bom senso!
A política portuguesa sempre se pautou, com poucas e honrosas excepções que só confirmam a regra, por um conjunto de originalidades, das quais a mais relevante reside na total incapacidade dos nossos políticos para estabelecerem acordos de regime.
A menos que algum estrangeiro nos venha dizer o que tem que ser feito, e então descobrimos, como neste caso, que todos defendiam isso há muito tempo, embora fossem incapazes de chegar a um acordo.
Na velha tradição portuguesa, e contrariando um célebre "spot" publicitário da fábrica de bolachas "A Nacional", tudo o que é estrangeiro é bom, pelo que basta a chancela externa para assegurar convergências, até aí inimagináveis.
Na sua originalidade, os políticos portugueses revelam uma gritante incapacidade de diálogo e tolerância, mesmo sobre temas em que estão de acordo, e expressam-se numa linguagem que apenas contribui para acentuar divergências. E esta é uma prática generalizada, sendo muito poucos os que não contribuem para este triste espectáculo.
Os recursos ao FMI, no passado, o acordo agora alcançado, ou aquele célebre estudo sobre a economia portuguesa, encomendado a Porter, que custou uma fortuna, para nos vir dizer aquilo que já sabíamos desde os bancos da faculdade, são exemplos da sua incapacidade para distinguirem o essencial do acessório, e resolverem, entre eles, os problemas nacionais.
São as idiossincrasias da classe política portuguesa...
E não deixa de ser curioso que nós, portugueses, sempre tão críticos para com tudo e todos, aceitemos, com resignação, o insulto, a dissimulação, a calúnia e a mentira, por acção, ou omissão, como se fossem comportamentos inerentes à actividade política. E não são!
Como já aqui escrevi, anteriormente, os comportamentos dos nossos políticos estão a aproximar-se, perigosamente, daqueles que nos "habituámos" a ver nos dirigentes do nosso futebol, com tudo o que isso implica de conflitualidade e falta de civilidade, que se reflectem na degradação da vida política.
E nem o facto de serem cada vez menos respeitados pelos eleitores parece ser suficiente para os fazer arrepiar caminho.
Resta saber, agora que quase todos reconhecem a necessidade de se executarem as medidas acordadas com a "troika", como vão os dirigentes dos nossos principais partidos políticos conseguir um acordo que permita honrar esse compromisso, na próxima legislatura.
Se tivermos em consideração a conflitualidade e falta de respeito reinantes, parece tratar-se de uma missão impossível, tanto mais quanto tenhamos em consideração que se vai seguir uma campanha eleitoral.
Talvez fosse tempo de meditarem sobre as sábias palavras de Winston Churchill:
"Um político converte-se em estadista quando começa a pensar nas próximas gerações, e não nas próximas eleições".
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