"Só me defendi. Dei-lhe um estalo depois de ela me bater. Não me quis explicar porque queria que eu fosse outra vez de castigo para a sala de estudo", explicou ao CM a aluna de 13 anos que agrediu uma professora anteontem na escola EB 2,3 Aires Barbosa, em Esgueira, Aveiro.
"Não tinha o direito de bater na minha filha", continuou a mãe, desempregada, de 32 anos, que tem mais cinco filhos menores. Uma das filhas, com 14 anos, também estuda naquela escola. "Se a professora tivesse carinho pelos alunos isto não tinha acontecido, andava a implicar com ela há três meses", lamentou o pai.
Correio da Manhã, 18 de Março de 2009
A educação está, constantemente, e para mal dos nossos pecados, em evidência, quase sempre pelos piores motivos.
As agressões entre alunos e professores ocupam lugar de destaque na imprensa falada, e escrita, como se de fenómeno novo se tratasse, embora sem a perspectiva crítica que, a meu ver, se impunha.
Sejamos sérios, agressões de alunos a professores sempre houve, do inverso nem se fala, pelo que, o que pode causar espanto não é a sua existência, mas a frequência com que ocorrem.
E mesmo o comportamento de muitos pais, ou "encarregados de educação", ao alhearem-se do comportamento escolar dos filhos, sendo reprovável, não constitui nenhuma novidade.
Pode até nem ser verdade, mas fica-se com a sensação de que é mais importante divulgar, e explorar, o acontecimento, do que em reflectir sobre as causas que lhe estão subjacentes.
E é urgente que se reconheça que a culpa do actual estado de coisas pertence a todos, ninguém está isento.
Os políticos, de todos os quadrantes, para quem a temática da educação parece valer mais como "arma" eleitoral do que como pilar fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
Os sindicatos, para quem os direitos adquiridos parecem ter primazia sobre o interesse social, ou sobre o direito dos alunos a um ensino de qualidade.
Os meios de comunicação social, que, preocupados com as tiragens e as vendas, parecem esquecer a sua função informativa, e formativa, atribuindo a estes casos um relevo absolutamente desproporcionado, enquanto tratam pouco, e muitas vezes mal, a temática que lhe está subjacente.
Os pais, a quem cabe um papel importantíssimo, mas que, por diversos motivos, se demitem de o exercer, dando a ideia de querer transferir para a escola a responsabilidade de educar os seus filhos, o que deveria constituir uma das mais importantes missões da sua vida.
Os alunos, a quem o sistema se destina, ou devia destinar, que procuram obter resultados com o mínimo esforço possível, facto que não é novo, ou de estranhar, transportando para a escola a educação recebida, ou falta dela.
Os professores, a quem incumbe transmitir conhecimentos e avaliar o nível dos alunos, que deixam transparecer a ideia de que não quererem ser avaliados, e parecem mais interessados em defender interesses corporativos, do que em contribuir para a melhoria do sistema.
Neste contexto, o que fazer para ultrapassar a situação ?
Talvez que o melhor fosse começarmos por reconhecer que muito mudou, nas últimas décadas, em matéria social, económica e política e que o sistema de educação, terá se saber integrar, adequadamente, essas transformações. Sob pena de não conseguir cumprir, eficazmente, a função a que se destina.
Não é mais aceite, como foi prática corrente, que o professor pregue um belo tabefe ou um par de réguadas a um aluno, porque preferiu conversar com um colega a dar atenção à sua exposição. Como também não é aceite que um adolescente não cumpra um período mínimo de escolaridade, ou que um pai utilize o seu cinto com outra finalidade que não seja a de lhe segurar as calças.
E não é aceitável que, a política de educação não tenha em conta os interesses de todos os intervenientes, ou que a escola não combine a sua função de transmissora de conhecimento com outras actividades, de natureza cultural e desportiva.
São coisas que deixaram de ser socialmente aceites, e ainda bem, digo eu.
Por isso se torna importante que reconheçamos que, as transformações ocorridas, e foram muitas, e a muitos níveis, afectaram, de forma muito significativa, não só os comportamentos como também as relações de força entre as partes envolvidas no processo. E isso terá que ser reflectido num novo modelo escolar.
A fase de transição, em que o sistema se encontra, embora natural, está a durar demasiado tempo, sendo imperioso definir, e pôr em prática, um modelo que, respeitando os interesses das partes, permita cumprir a função essencial de ensinar a pensar e transmitir conhecimento.
É preciso que a educação deixe de ser joguete nas mãos de governo, partidos, professores e sindicatos, e que todos, em conjunto com os pais, concentrem as suas energias na procura das soluções adequadas.
A questão da violência nas escolas, sendo importante, não é, com certeza, o principal problema do nosso sistema educativo, pelo que não deve ser-lhe dada mais atenção do que aquela que, efectivamente, merece.
Quando todos sabemos que os alunos estão, hoje, muito menos bem preparados do que estavam há 35 anos, será bom que, a revolução do 25 de Abril, constantemente, invocada para reclamar direitos, seja também evocada para lembrar deveres.
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