Cetra era o escudo usado pelos Lusitanos. Este é o meu cetra, para defesa das minhas opiniões e evitar que a memória se perca...
sábado, 31 de julho de 2010
CARTA AO TONY
Olá, Tony!
Desculpa que te trate por tu, mas o tratamento por você não me pareceu adequado à tua pessoa. E, além do mais, somos, ambos, da colheita de 1954, que as más línguas dizem ser uma das melhores colheitas da década, o que faz com que exista, entre nós, uma certa cumplicidade.
Claro que, a avaliar pelo teu exemplo, a colheita de 54 sai muito dignificada, ainda que saibamos que foram raras as castas, como a tua, que deram origem a vinhos de excelência. Digamos que, num bom ano, tu, Tony, foste um caso à parte.
Perdoa-me que te trate por Tony, mas tratar por António Feio um ser humano tão bonito, não dava jeito nenhum. E tu já deves estar habituado a isso, sobretudo depois do sucesso das "Conversas da Treta".
Ah, e já agora, o Tony é com y, propositadamente, que é letra mais parecida com o v, de vitória, uma palavra que descreve bem a tua passagem por esta vida.
Bem sei que a tua vitória deve escrever-se com letra maiúscula, mas entenderás que Tony com y maiúsculo não dava muito jeito. Por isso, fica assim mesmo.
Sabes, fiquei muito chateado com esta coisa da tua morte, não só porque os tipos como tu não deviam morrer, fisicamente, antes dos 80, ou mais, mas também porque já me tinha habituado à ideia de que acabarias por conseguir matar o bicho de riso, como chegaste a sugerir, numa das tuas entrevistas.
Além disso, é um crime que o Zézé tenha ficado órfão de amigo, e nós órfãos dessa vossa magnífica parelha, que funcionava na perfeição, e nos proporcionou tantos momentos de alegria e boa disposição. Não há direito!
É claro que eu sei que a morte é a coisa mais natural da vida, mas caramba, uma vida como a tua bem merecia que não houvesse pressa nenhuma nessa inevitabilidade.
No que me diz respeito, lamento que só tenha começado a saber mais sobre a tua pessoa depois de conhecida a tua doença, mas nunca é tarde para te dizer o quanto fiquei impressionado com o modo como soubeste lidar com a adversidade.
Considero-te um exemplo de coragem, de resistência, e, porque não dizê-lo, de amor, como ficou demonstrado na última fase da tua vida. Amor aos teus e amor ao próximo, amplamente evidenciados nas tuas entrevistas.
E que enorme ironia, que um Homem, de apelido Feio, possa ter sido tão bonito.
Sabes, Tony, é a morte, prematura, de pessoas como tu, que me faz pensar que muitos dos problemas, e complicações, com que nos debatemos, no dia-a-dia, não passam, afinal, de uma grandessíssima treta...
Onde quer que estejas, Tony, aceita um sincero, e prolongado, abraço, no qual vai expressa a minha, profunda, admiração, e o meu enorme respeito, pelo Homem, e Actor, de eleição, que soubeste ser.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
OLÁ, PAI!
Olá, Pai!
Tenho andado para te escrever, mas tem-me faltado a força e a coragem.
Sabes, é muito bom lembrar a tua memória, mas não é nada fácil conviver com a ausência. Tu sabes como é...
Por cá, as coisas vão correndo e o teu neto, Frederico, está melhor do que nunca. Cresceu muito, pessoal e profissionalmente, e está a fazer um excelente trabalho, o que tem sido um descanso para mim, e me tem dado tempo para digerir um conjunto de acontecimentos e situações que seriam, há uns anos, inimagináveis. Enfim, coisas desta vida...
Mas não te escrevi para te maçar com assuntos que, como sabes, sempre procurei evitar, mas antes para te pôr ao corrente de algumas novidades.
Desde logo, quero dizer-te que, o teu Belenenses lá se conseguiu inscrever na Liga de Honra, e vamos lá ver se conseguem voltar a subir, este ano. Não vai ser fácil, mas estou a torcer por vocês, apesar do meu benfiquismo militante.
O meu Glorioso vai de vento em popa, mas isso é outra conversa...
Sabes, o engenheiro Jardim Gonçalves e o Cristopher de Beck vão ter que ir a tribunal, na sequência daqueles problemas no BCP. Uma pena!
Eu sei que entendes o que eu quero dizer, e que não estou a fazer nenhum juízo de valor sobre eventuais comportamentos menos correctos, que possam ter existido.
Custa-me, como sei que te custa, ver pessoas que desempenharam um papel tão importante na transformação do nosso sistema bancário, terminarem a sua carreira deste modo. Respeito todas as opiniões mas, confesso, acho que não mereciam.
E sabes, cada notícia relacionada com eles faz-me lembrar o nosso velho Banco Português do Atlântico, aquela grande escola profissional, e de vida, que tanto nos marcou, aos dois. Acho que estou a ficar velho...
A propósito, imagina tu que me tenho lembrado, imensas vezes, de quando olhava para ti e achava que começavas a ficar velho. Isto porque estou com mais idade do que aquela que tu tinhas, à época, e só agora me dou conta do disparate que estava a cometer.
Enfim, a vida é assim, mas achei que ias gostar de saber...
Mudando de tema, a RTP-Memória dedica, hoje, a sua emissão aos 50 anos de carreira do Nicolau Breyner. Uma homenagem bem merecida!
Estava a ver um bocado do programa e a recordar aquela tua expressão tão característica: "aquele gajo é um corda dos antigos!"...
Lembras-te daquele espectáculo de fim de ano, com ele e o Herman, em que faziam o Sr Contente e o Sr Feliz? Um pagode!
Sabes, nem sei bem explicar porquê, mas a verdade é que estava a ver o Nicolau e a recordar-me dos teus famosos flagrantes da vida real. Dei comigo a rir, sózinho...
Vês, meu querido e velho Pai, eu é que devo estar a ficar velho e acho que vou envelhecer bem mais rápido do que tu. Estou mais azedo e sem um décimo da graça que tu tinhas com a minha idade, apesar de tudo o que passaste...
Uma notícia muito desagradável, para todos os que apreciam o humor, foi a da morte do António Feio, ontem à noite. Um homem admirável, que resistiu à doença com uma nobreza pouco comum.
Lembras-te dele? Era aquele que fazia, com o José Pedro Gomes, as "Conversas da Treta", que tanto no fizeram rir juntos...
O humor português sofreu uma tremenda perda, mas consola-me a ideia de pensar que vocês poderão estar juntos, algures no Universo, rindo, a bandeiras despregadas, com as piadas dele e os teus flagrantes da vida real.
Sabes, Pai, vou terminar...
Não gosto de despedidas, nem isso existe entre nós.
Digo-te, apenas, que tenho Saudades!
Dá beijinhos à Mãe...
quinta-feira, 29 de julho de 2010
AINDA SOBRE A FAMOSA "GOLDEN SHARE"...
A polémica que antecedeu a venda da participação que a PT detinha na Vivo está, finalmente, encerrada.
Como diz o povo, "tudo está bem, quando acaba bem".
Contudo, e para memória futura, existem aspectos que convirá recordar, que mais não seja para que, em casos futuros, a experiência nos possa ser útil.
Por isso, abaixo reproduzo um excelente artigo de Ferreira Fernandes, publicado, hoje, do Diário de Notícias, o qual, de form sucinta, chama a nossa atenção para alguns aspectos, relevantes, deste processo, coisa só ao alcance dos grandes jornalistas.
Um ponto é tudo
'Golden share', certa ou errada?
por FERREIRA FERNANDES
A 2 de Julho, depois de a golden share impedir a venda da Vivo, escrevi uma crónica aqui. Golden share, certa ou errada? Disse: 1) os capitalistas votaram, uns "sim" e outros "não", segundo os seus interesses; 2) o Governo votou "não" porque sendo o seu interesse o do País, havia argumentos nacionais para a PT guardar a ligação ao Brasil. Disse isso, mas acrescentei a hipótese de o Governo - que estivera certo em marcar uma posição - poder ter cometido um disparate financeiro. É que havia gente sábia, como Belmiro de Azevedo (que construiu a Sonae), que garantira: "É muito difícil haver outra oportunidade como esta para vender." E Ricardo Salgado (dono do BES), que dissera que a Telefónica, irritada por não comprar a Vivo, podia comprar a PT toda... Então, golden share, certa ou errada? Escrevi a 2 de Julho: "(...) daqui a dias, se a Telefónica pagar os 7,15 mil milhões já prometidos, a PT não perdeu nada e o Governo marcou uma posição. Se forem menos de 7,15 mil milhões arrecadados, então, o Governo errou. Daqui a dias vamos tirar a limpo." Tiramos a limpo: foram 7,5 mil milhões. E não foi só uma posição afirmada, a portuguesa PT vai mesmo continuar no Brasil. Passei um mês com a dúvida dos ignorantes. Se calhar bom é ter certezas, como Belmiro de Azevedo. Quando fez a OPA à PT disse que ia vender a Vivo à Telefónica. Foi há três anos e era por 2 mil milhões de euros.
Sem comentários...
terça-feira, 27 de julho de 2010
ATEANDO FOGOS...
Com o calor, voltaram os incêndios. Uma realidade com a qual nos habituámos, a conviver, nesta época do ano.
À hora a que escrevo, estão activos 16 incêndios em Portugal Continental. Embora, a avaliarmos pelo que nos diz a comunicação social, tudo indique que tenhamos tido menos incêndios do que em anos anteriores, o que não pode deixar de constituir motivo de satisfação.
O aproveitamento do tema para a querela partidária, do qual começam a surgir indícios, sempre me fez alguma confusão, tanto mais que este assunto só parece merecer a atenção dos partidos políticos, e dos media, quando do aparecimento e deflagração dos fogos.
E é nestes momentos que ouvimos falar de falta de bombeiros, de equipamento e de material, como se estas não fossem questões a ser tratadas antes do início do calor...
Num país onde, por falta de meios, "todos ralham e todos têm razão", como diria o Eça, acredito que os meios existentes possam ser insuficientes, mas o aproveitamento da situação, para fins partidários, causa-me tanta repulsa quanto as gargalhadas num velório, junto ao corpo do defunto e à enlutada família.
Se existem coisas a corrigir, e não duvido que sim, que se tratem no momento próprio, em vez de se fazer o aproveitamento político da tragédia...
Quanto aos incendiários, bem,quanto a esses, chego a lamentar que o seu castigo não possa ser aplicado à luz do Código de Hamurabi, e da sua Pena de Talião.
É que para um maneta é muito mais difícil atear um fogo...
segunda-feira, 26 de julho de 2010
OBRIGADO AVÓ!
Hoje é Dia Mundial dos Avós.
Apercebi-me deste facto ao folhear o Diário de Notícias, que traz uma interessante reportagem sobre três casos de avós que criaram os netos, substituindo-se aos pais, que se desinteressaram pelas crianças. Uma, infeliz, tragédia, mais frequente do que se imagina...
A notícia fez-me recordar, naturalmente, os meus avós, mesmo aqueles que só conheci por fotografia, como o meu avô Raimundo.
A minha bisavó Francisca, o meu avô Chico, a minha avó Aurora e a minha avó Rogélia, todos lembro com muita saudade, e enorme ternura.
Mas a minha avó Rogélia...!
Fala-se muito das preferências de pais, e avós, por um determinado filho, ou neto, mas a verdade é que nós, netos, também temos as nossas preferências, o que me parece perfeitamente natural. A minha, era a avó Rogélia!
Infelizmente, nenhum dos meus avós está vivo, e apesar das boas recordações que guardo, de todos, é a minha avó Rogélia que sempre me vem, primeiro, à memória, sempre que se fala de avós.
Vivendo com os meus pais, fruto de uma viuvez precoce, foi ela quem acabaria de nos criar, a mim e aos meus irmãos, depois do acidente de automóvel que vitimou a minha mãe, e do qual o meu pai só conseguiu recuperar ao fim de muito tempo.
Com poucos estudos, apenas a quarta classe, era uma mulher extremamente inteligente e dotada de uma enorme sagacidade, e sensibilidade.
Tinha o seu feitiozinho, é verdade, mas era de uma enorme generosidade.
Cozinheira "de mão cheia", adorava receber, e fazer a festa, nunca mostrando má cara ante a, inesperada, chegada de "mais um", para a refeição, antes evidenciando uma rara boa disposição, que conservou na velhice, apesar das agruras da vida, e foram muitas.
Não substituiu a nossa mãe, porque nada, nem ninguém, pode substituir uma mãe, mas foi determinante na nossa educação e fez tudo o que estava ao seu alcance para que nada faltasse aos netos.
Por isso, neste Dia dos Avós, e sem prejuízo do enorme respeito, e carinho, que me merece a memória de todos, aqui fica a minha especial homenagem à minha avó Rogélia, que apesar de já não estar connosco, fisicamente, nunca deixará de estar presente no meu coração, e na minha memória, com uma enorme saudade...
Obrigado Avó, por tudo o que fez por mim, e pelos meus irmãos!
COM O MAR NÃO SE BRINCA...
Está desaparecido, no mar, desde ontem à tarde, um jovem de 13 anos, na praia da Praia Grande, perto de Sintra.
A notícia recordou-me os meus tempos de juventude, quando a Praia Grande e a Praia das Maçãs eram parte, obrigatória, do meu plano de férias de verão.
Lembrei-me que era raro o ano em que o mar, com a sua violência, não reclamava a vida de vários jovens, e adultos, qual rei cruel castigando os seus desobedientes súbditos com a pena capital.
Os frequentadores da Praia Grande e da Praia das Maças sabem, ou deviam saber, que o mar é perigoso, com correntes muito fortes, mesmo quando, à vista desarmada, parece calmo e inofensivo.
Apesar dos avisos e recomendações, são muitos os que continuam a ignorar o perigo, tal como eu e os meus amigos fizemos, por diversas vezes, pagando com a vida essa ousadia.
Só espero que o desaparecimento deste jovem, alvo de grande cobertura mediática, possa servir de exemplo para os banhistas. Os que frequentam a Praia Grande e todos os outros.
Como dizia o meu avô Chico:
"Com o mar não se brinca..."
sábado, 24 de julho de 2010
ANTI-...
Surge na primeira página do jornal Expresso de hoje, remetendo para as páginas interiores da revista: Costinha, director desportivo do Sporting Clube de Portugal, declara-se sportinguista e anti-benfiquista.
Lendo a entrevista, fica mais fácil entendermos o que pensa Costinha:
"Sou sportinguista e anti-benfiquista. Não gosto do Benfica. Respeito-o, é uma grande instituição, mas é o meu rival.(...)".
Vamos por partes:
1. Uma rápida consulta ao dicionário Priberam da Língua Portuguesa, ajuda-nos a perceber o significado do que disse o director desportivo do Sporting:
anti-
(grego anti, em face de, do lado oposto)
pref.
Elemento que indica oposição (ex.: anticristão).
2. Admitindo que Costinha conhece o significado da expressão que utilizou, coisa de que não tenho a certeza, podemos concluir que, para além de sportinguista, assume a sua oposição ao Benfica, que considera o seu principal rival.
3. Consultando o mesmo dicionário, vejamos o que nos é dito sobre o significado do termo rival:
rival
adj. 2 gén.
1. Que rivaliza.
2. Que aspira às mesmas vantagens que outrem; competidor.
3. Que tem méritos proximamente iguais aos de outrem.
s. 2 gén.
4. Pessoa rival.
4. Assim sendo, parece legítimo concluir que Costinha assume a sua oposição ao Benfica, não só porque não gosta do Clube, como o próprio afirma, mas também porque talvez aspire a que o Sporting possa vir a ter um palmarés semelhante, ou considere que o seu clube tem méritos aproximadamente iguais aos do Glorioso.
Aparentemente, nada mais natural!
Acontece que, infelizmente, para Costinha e para os sportinguistas, em matéria de palmarés desportivo, não só vai ficando cada vez mais difícil, para o Sporting, igualar o Benfica, como também se tem vindo a alargar, substancialmente, a diferença entre os dois clubes, com o Sporting a contentar-se, nestes últimos anos, em ser o primeiro dos últimos, a expressão é do próprio Costinha, de preferência ganhando o campeonato da segunda circular.
Na ânsia anti-benfiquista, que caracteriza muitos sportinguistas, o Sporting parece não ter percebido que deixou de ser, em matéria de palmarés, o segundo clube português, tendo sido, claramente, ultrapassado pelo Porto, que muito tem beneficiado com esse anti-benfiquismo.
Mas isso não parece preocupar Costinha...
Reconheça-se, contudo, que a entrevista de tem o mérito de, para além de nos dar a conhecer o que pensa o director desportivo do Sporting, nos ajudar a perceber, entre outras coisas, porque foi tão fácil a transferência de João Moutinho para o Porto. Afinal, Costinha não é, nem anti-portista, pelo contrário, nem tem no Porto o seu principal rival, apesar de o Porto ser o clube que mais títulos conquistou na última década e ter conseguido ficar, sempre, à frente do Sporting.
E se as afirmações de Costinha, na sua qualidade de adepto, não constituem uma novidade, antes colhendo a simpatia de uma boa parte de sócios e simpatizantes do Sporting, assumem dimensão diferente quando proferidas por um dirigente com as responsabilidades de director desportivo.
É que o estado a que o futebol português chegou tem muito a ver com o facto de existirem vários Costinhas como dirigentes, gente a quem a clubite impede de distinguir a árvore da floresta.
E nem sequer adianta explicar, aos Costinhas desta vida, que um dirigente não pode, nem deve, ser anti coisa nenhuma, sob pena de isso lhe retirar o discernimento, quando da tomada de decisões, pois são incapazes de entender que esse estado de espírito é incompatível com a realização das reformas de que o nosso futebol tanto necessita.
O futebol português só poderá resolver muitos dos seus problemas, e afirmar-se internacionalmente, quando os seus principais dirigentes, apesar do amor aos respectivos clubes, no respeito por uma sã rivalidade, tão necessária à modalidade, perceberem que, por este caminho, não vamos longe...
Costinha, que, como diz na entrevista, não depende do dinheiro do Sporting para sobreviver e está no Sporting por paixão, pode ter vários méritos, agradar aos adeptos anti-benfiquistas do seu clube, por mais que eles sejam, mas não se recomenda como dirigente desportivo, porque lhe falta discernimento e grandeza.
E é pena, porque a grande instituição que é o Sporting Clube de Portugal, e o futebol português, merece dirigentes de melhor qualidade...
sexta-feira, 23 de julho de 2010
ORAR, DESCANSAR...E PODER FAZER COMPRAS
É interessante ver as reacções à alteração legislativa, aprovada pela Governo, que permite que todo o comércio esteja aberto entre as 6 e as 24 horas, todos os dias da semana, passando a caber ás Câmaras Municipais decidir se autorizam, ou não, a prática de horários alargados.
A Igreja, apressou-se a criticar a decisão, em nome do respeito pelo Domingo, um dia de descanso e de oração, para os católicos, enquanto outros criticam a decisão pelo efeito que a abertura dos hipermercados pode ter nas vendas do pequeno comércio, ou porque entendem que se trata de uma forma de incentivar o consumismo.
Enfim, cada um puxa a brasa à sua sardinha, o que, sendo compreensível, ilude, a meu ver, a questão central.
A abertura do comércio aos domingos é, acima de tudo, uma questão de conveniência, numa sociedade onde as pessoas têm cada vez menos tempo disponível, durante a semana, para efectuarem as suas compras.
E se é verdade que o Domingo está consagrado como um dia de descanso e oração, não deixa de ser verdade que são cada vez menos os católicos, e menos ainda os que praticam a oração, preferindo que lhes seja dada a possibilidade de aproveitarem o seu dia de descanso para fazerem as suas compras. Embora, convenhamos, as duas coisas não sejam incompatíveis...
Confesso que também não me preocupa, nem considero relevante saber, se os donos dos hipermercados irão ganhar, ou não, muito dinheiro com isso, antes preferindo pensar que esta liberalização de horários pode contribuir para criar mais alguns empregos, ainda que não muitos, e que os consumidores ficam com maior liberdade de escolha.
E embora sabendo que a afirmação que vou fazer não é politicamente correcta, considero lamentável que não seja obrigatório que o comércio, em todas as zonas turísticas do país, não seja obrigado a estar aberto todos os dias da semana.
Quem já passou pela baixa lisboeta, numa tarde de domingo, pode imaginar como se sentirá um turista, perante o encerramento da esmagadora maioria dos estabelecimentos comerciais...
Admitindo poder estar errado, acredito que, do ponto de vista da promoção do turismo, seria muito bom que o comércio estivesse aberto ao domingo, lojas e restaurantes, com horários alargados.
E que me perdoe a Igreja, e os críticos desta ideia, mas todos os dias são bons para a oração, e as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas já não se compadecem com a rigidez de algumas práticas comerciais.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
PRESIDENTE LULA: "WHERE THERE'S A WILL, THERE´S A WAY"
Tive ocasião de ver a brilhante e emocionada entrevista que o Presidente Lula da Silva deu, ontem, à TV Record, e confesso que me emocionei.
A poucos meses de abandonar a presidência, a emoção e o entusiasmo com que o Presidente fala do Brasil e da obra realizada, aliados à sua, natural, simplicidade, permitem entender porque mantém, junto do povo brasileiro, ao fim de dois mandatos, um índice de popularidade sem paralelo na história do país, e se tornou numa das figuras políticas mais populares e respeitadas, a nível mundial.
Durante a entrevista, o Presidente Lula emocionou-se e chorou, quando lembrou episódios da sua acção governativa para com os mais desfavorecidos.
(http://noticias.r7.com/videos/presidente-lula-se-emociona-em-entrevista-exclusiva-a-rede-record/idmedia/f9144075a505e27b80ce45ac6dd0e679.html)
Foram lágrimas sinceras de um operário, metalúrgico de profissão, como o próprio fez questão de lembrar, que o povo brasileiro, um dia, em boa hora, decidiu eleger como Presidente da República Federativa do Brasil.
A história se encarregará de fazer justiça à obra, notável, do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em prol do seu país, e, em particular, da melhoria das condições de vida das classes mais desfavorecidas.
Eu, que sendo português amo o Brasil, de paixão, não fui capaz de ficar indiferente perante aquele homem sábio, que na sua simplicidade conseguiu demonstrar, aos brasileiros e ao mundo, que por mais importante que seja a formação académica de cada um, nada substitui a experiência da vida, ao serviço de um ideal.
O Presidente Lula é um modelo de tenacidade, sagacidade e dedicação a uma causa, a dos brasileiros mais desfavorecidos, que conseguiu compatibilizar com o pragmatismo da gestão governativa, contribuindo para a afirmação do Brasil na cena internacional, económica e politicamente.
Aqui fica a manifestação da minha admiração, e profundo respeito, pelo seu percurso e pela sua obra, que podem ser, exemplarmente, retratados, através do recurso a uma simples, e magnífica, expressão inglesa:
"Where There's a Will, There's a Way"
ORGULHO BENFIQUISTA
O presidente do Sport Lisboa e Benfica entregou, ontem, em nome da Fundação Benfica, três casas novas, a vítimas da tragédia que se abateu sobre a Madeira, neste início do ano.
Curiosamente, pelo menos um dos beneficiados, que perdeu toda a família na tragédia, nem sequer era simpatizante do Clube.
Esta iniciativa, que honra e enche de orgulho todos os benfiquistas, contribui para dar do Clube a sua verdadeira dimensão, a qual ultrapassa, em muito, a sua, brilhante, vertente desportiva.
Como benfiquista, quero louvar a iniciativa e agradecer a todos os seus dirigentes, na pessoa do seu presidente, Luís Filipe Vieira. O meu sincero Obrigado, pela iniciativa.
Como nos diz Kahlil Gibran, na sua obra "O Profeta", pela voz de Al-Mustafá, o eleito e bem amado:"É bom dar quando vos é pedido, mas melhor é dar sem que vo-lo peçam, e com entendimento".
Ao assim procederem, os dirigentes do Clube obtiveram, seguramente, uma das maiores e mais brilhantes vitórias, da centenária e gloriosa história do Sport Lisboa e Benfica!
quarta-feira, 21 de julho de 2010
UM PROJECTO DE PROPOSTA DE REVISÃO CONTITUCIONAL...
O conhecimento do projecto de proposta de revisão constitucional, apresentado pelo PSD, está a provocar um coro de críticas e uma agitação que, a meu ver, são injustificados.
Desde logo, porque se trata de um projecto, que ainda terá de ser aprovado pelos órgãos próprios do partido, mas também porque a aprovação de qualquer proposta de revisão constitucional requer uma maioria parlamentar de 2/3 dos deputados.
E reconheça-se que, o projecto de proposta tem o mérito, goste-se, ou não, e eu não gosto, de dar a conhecer a visão da nova direcção do PSD sobre matérias tão relevantes como o papel do Estado, na sociedade portuguesa, os poderes do Presidente da República ou o Serviço Nacional de Saúde.
Que Pedro Santana Lopes, Alberto João Jardim e outros membros do PSD sejam críticos, e possam sentir-se incomodados, parece-me natural. Afinal, trata-se de um projecto que reflecte a visão da direcção do seu partido, assistindo-lhes, na sua qualidade de militantes, o direito de expressarem as suas discordâncias.
Assim como me parece bastante útil que a comunicação social procure dar a conhecer, aos portugueses, o que pensam alguns especialistas, como é o caso do Professor Jorge Miranda, um brilhante constitucionalista que pode ser considerado como um dos "pais" desta Constituição. E é desejável que todos possamos conhecer a lógica subjacente à actual Constituição da República Portuguesa, para melhor podermos avaliar o sentido de eventuais alterações.
Que os partidos políticos, sindicatos e organizações patronais se pronunciem, também é natural, e desejável, para que possamos conhecer as propostas alternativas, bem como as manifestações de interesse, por parte dos diversos sectores da sociedade.
Mas um debate desta importância não pode ser conduzido de forma a iludir os portugueses, procurando ignorar que se trata, apenas, de um projecto de proposta, ainda que com o enorme peso político de ter sido apresentada pelo maior partido da oposição.
Todos os debates sobre os principais temas da vida nacional são bem-vindos, desde que contribuam para esclarecer, de forma séria, o que pensam os nossos dirigentes e a nossas elites, e as propostas que têm para nos apresentar, visando o desenvolvimento do nosso País, não devendo existir temas tabu.
Mas fazer este enorme alarido, em torno de um projecto de proposta, sem deixar claro quais as suas reais possibilidades de aprovação, pode contribuir para "vender" muito, ou ser, politicamente, vantajoso, mas não ajuda ao esclarecimento dos portugueses, nem me parece aceitável.
Bem sei que, em política, o que parece é, e disso se podem queixar muitos dos nossos políticos, incluindo o actual primeiro-ministro, mas num momento tão difícil para o País, económica e financeiramente, seria desejável um comportamento diferente, por parte da nossa classe política.
"Errare Humanum Est", mas cometer, sistemáticamente, o mesmo erro, é burrice.
Depois admirem-se com o afastamento dos portugueses da política e o crescimento da abstenção...
terça-feira, 20 de julho de 2010
TAPANDO O SOL COM UMA PENEIRA...
Está a iniciar-se mais uma época futebolística e renova-se a esperança dos adeptos numa boa prestação desportiva dos seus clubes.
Mas seria bom que todos os que gostam de futebol, e não apenas do seu clube, fizessem ouvir a sua voz na defesa de uma competição em que os adversários se respeitem, não haja lugar a violência e impere a verdade desportiva.
Com uma nova liderança, a Liga de Clubes de Futebol Profissional terá, espera-se, a possibilidade de começar a agir em conformidade com as promessas do novo presidente, quando da tomada de posse, para benefício do futebol português.
Já ao nível federativo, não parecem existir grandes motivos de esperança, mantendo-se a situação de perda do estatuto de utilidade pública desportiva, sem que ninguém pareça muito preocupado com isso, e neste ninguém incluo, naturalmente, o Governo, que não pode, nem deve, ficar indiferente. É preciso por cobro a esta situação, que devia envergonhar todos os responsáveis...
Na arbitragem, com a ascensão de três novos árbitros, para preencherem o quadro principal, o que se perdeu em experiência ganhou-se em juventude, o que poderá não ser, forçosamente, mau. Assim os diferentes agentes desportivos se disponham a não dificultar, ainda mais, a vida dos árbitros, até que a FIFA se digne aprovar o recurso à tecnologia, para facilitar o seu trabalho e contribuir para um maior respeito pela verdade desportiva. Mas, infelizmente, também a esse nível as preocupações não parecem ser muitas...
A experiência ensina-nos que não existem motivos para que possamos esperar grandes reformas no futebol português, apesar de, há muito, se revelarem necessárias, mas isso não deve constituir motivo de resignação, bem pelo contrário.
O modelo e a estrutura das diferentes competições merece uma reflexão, profunda, o mesmo sucedendo com todos os aspectos relacionados com o marketing, e a publicidade.
Questões como o preço dos bilhetes, ou os horários dos jogos, são importantes, mas a sua resolução não chega para melhorar, significativamente, o problema da falta de espectadores nos estádios. O problema é mais profundo e precisa ser tratado de forma global, envolvendo todos os agentes desportivos, patrocinadores e os órgãos de comunicação social.
A justiça e disciplina desportivas precisam de tratamento diferente e requerem uma análise séria. A, prometida, criação um tribunal desportivo, dará um enorme contributo para a diminuição da conflitualidade, permitindo que o esforço e energias dos dirigentes possam passar a ser canalizados para o que é essencial, pelo que se espera que possa ser concretizada, rapidamente.
O problema da violência, dentro e nas imediações dos estádios, terá de merecer maior atenção, para que o nosso futebol se possa tornar num espectáculo para as famílias, atraindo uma muito maior presença das mulheres, tal como já vem sucedendo com os jogos da selecção nacional.
E é urgente que se reconheça que, o sucesso do nosso futebol, nos anos mais recentes, a nível de clubes e da selecção sénior, não encontra correspondência na estrutura organizativa que lhe está subjacente.
É preciso reavaliar os quadros competitivos e a excessiva presença de estrangeiros, até nas camadas jovens, que começa a ter um impacto que não pode ser menosprezado, bem como as implicações do excessivo endividamento dos clubes, e tomar as medidas adequadas.
Enfim, urge melhorar a qualidade e competitividade do futebol português, mas, com o início das competições e o inevitável aumento da conflitualidade, temo que pouco se venha a fazer nesse sentido.
Mas gostaria muito de estar enganado, até porque acredito que, com a crescente importância da indústria do futebol e num contexto de crise das economias desenvolvidas, não irá ser possível, por muito mais tempo, continuar a tapar o sol com uma peneira...
domingo, 18 de julho de 2010
BENFICA: O ROLO COMPRESSOR ESTÁ DE VOLTA
A pré-época já começou e ainda não escrevi nada sobre o meu Benfica. Imperdoável!
A verdade é que tenho assistido aos jogos com expectativa, sobretudo quanto à qualidade dos novos reforços.
Ainda que sabendo que estes jogos são "a feijões" e se destinam a permitir aos treinadores integrarem os jogadores novos e efectuarem os ajustamentos necessários ao modelo de jogo que pretendem, a verdade é que não deixam de nos dar indicações sobre as movimentações da equipa e a qualidade técnica de quem chegou.
Apesar de já ter sofrido uma derrota, o que não aconteceu na época passada, e de ter empatado, hoje, com os holandeses do Groningen, este Benfica deixa-me satisfeito e permito-me, até, dizer que ganhará o torneio de Guimarães, tal como no ano passado, derrotando, amanhã, a equipa da casa.
Gosto das novas aquisições, Gaitan, Jara e Fábio Faria, pena a lesão de hoje, e dou o benefício da dúvida a Roberto, porque acredito nas escolhas de Jesus, apesar da infelicidade dos golos sofridos na sua estreia e de uma certa ideia de insegurança que transmite.
Para quem está em início de época, o modo como a equipa se movimenta, marca e troca a bola, no meio-campo adversário, faz-me prever que os benfiquistas terão mais uma época de alegrias e excelentes exibições.
Apenas desejo que se consiga evitar a saída de alguns dos jogadores mais influentes, embora compreenda que algumas ofertas são irrecusáveis e existem necessidades financeiras que é preciso acautelar.
Mas estou confiante e acredito que o Benfica não deixará de encontrar as soluções adequadas, para compensar eventuais saídas, de modo a garantir uma época desportiva igual, ou melhor, do que a do ano passado.
Ainda que podendo estar a ser influenciado pelo meu benfiquismo, considero que o Benfica actual, mesmo em início de época e sem cinco dos seus melhores jogadores, que estiveram no Mundial, já está a praticar um futebol agradável, demonstrando um razoável equilíbrio entre os sectores e a agressividade que caracterizou a equipa na época passada.
E é por tudo isto que, em síntese, me permito sugerir aos nossos adversários que se cuidem, porquanto, ou muito me engano, ou o rolo compressor está de volta!
sábado, 17 de julho de 2010
CARTA DO ESTADO À NAÇÃO
Portugueses
Como bem sabeis, e embora o termo tenha caído em desuso, vós representais a Pátria, a Nação.
Eu, administrado por um Governo e um Parlamento, sou suposto ser governado, em vossa representação, por cidadãos por vós eleitos, democraticamente.
Nem sempre assim foi, como bem sabeis, mas o objectivo desta carta não é falar da minha história, que é também a vossa, embora mal não vos fizesse que a tentásseis conhecer um pouco melhor, para melhor entenderdes as causas dos problemas que nos afligem. Mas isso são outros vinte cinco tostões e o objectivo desta carta é falar-vos do debate que ocorreu esta semana, no Parlamento, sobre o estado em que me encontro, ou melhor, em que nos encontramos...
Sabeis todos que as coisas não têm estado nada fáceis, se é que alguma vez o foram, em matéria de economia e finanças, sobretudo a partir da crise internacional de 2008, cujo impacto nos países da União Europeia veio agravar, ainda mais, os problemas com que nos debatemos e evidenciar as fragilidades do sistema em que se tem baseado o crescimento do País.
É claro que esta coisa das crises não é uma novidade, nem para mim, nem para muitos de entre vós e como dizia um dos mais ilustres portugueses, Eça de Queiroz, em 1890, num texto sobre os "Novos Factores da Política Portuguesa", "É a nossa pobreza geral que complica singularmente a nossa crise política. Em casa onde não há pão todos ralham e todos têm razão - porque é deste modo que o provérbio deve ser entre nós emendado.".
Desde há muitos que vos habituastes a gastar acima das vossas possibilidades e se é verdade que, nas últimas décadas, se registou uma significativa melhoria do vosso nível de vida, não é menos verdade que isso foi conseguido à custa de crescente endividamento das vossas famílias e de um acentuado crescimento do consumo, em detrimento da poupança.
É claro que eu também ajudei, como me competia, criando postos de trabalho, pagando mais e melhores salários a todos os que para mim trabalham, criando um serviço nacional de saúde gratuito, alargando o regime de segurança social e de reforma a um maior número de cidadãos, instituindo o salário mínimo, o rendimento mínimo garantido, o rendimento social de inserção, criando mais escolas e universidades, construindo estradas, barragens, pontes, etc., etc., etc.,...
Tal como vós, endividei-me excessivamente, apesar de ter contado com a ajuda de importantes verbas dos fundos comunitários, a que eu, tal como vós, nem sempre dei a melhor utilização, os quais contribuíram, durante muito tempo, para nos dar a ilusão de que poderíamos continuar a viver acima das nossas possibilidades.
Sucede que a crise financeira de 2008 veio relembrar-nos que a realidade não se compadece com devaneios e não nos resta alternativa senão reconhecermos que não podemos continuar a gastar acima dos nossos recursos e que teremos de fazer sacrifícios para reduzirmos o nosso elevadíssimo nível de endividamento. Teremos, disse bem, porque eu, Estado, terei de reduzir, substancialmente, os meus gastos, tal como vós tereis de reduzir os vossos consumos e contribuir para a redução da minha dívida, pagando, com os vossos impostos, mais pelo conjunto de bens e serviços que coloco à vossa disposição.
E não vos deixeis iludir pelo debate, no Parlamento, esta semana, ou pelos discursos, mais ou menos elaborados, dos políticos que me servem, pois a todos cabe uma enorme responsabilidade no estado de penúria em que me encontro. Todos, repito, para que não restem dúvidas. Por acção ou omissão.
Neste processo de endividamento excessivo em que nos encontramos, não existem imaculados, no sector público como no privado.
A mim, engordaram-me, todos os governos, sem excepção, não cuidando de verificar se eu tinha condições para poder sustentar tantos encargos. A vós, induziram-vos ao consumo e deram-vos a ideia de que este estado de coisas poderia continuar, eternamente.
Como era de esperar, os nossos financiadores estão a querer cobrar a factura e a União Europeia, comandada pela arrogante Alemanha, quer que ela seja paga a um ritmo que não é compatível com paninhos quentes, antes exigindo uma terapia de choque.
Portugueses,
Esta carta que vos escrevo não tem outro objectivo que não o de vos relembrar que não chegámos a este estado de coisas por obra de um governo, de uma maioria ou de um presidente. Todos foram responsáveis, sem excepção, utilizando-me para a sua política eleitoral e para a defesa de interesses, mais ou menos inconfessáveis, de diferentes grupos. Em maior ou menor grau, todos o fizeram.
E é por isso que, como Estado, não mais assistirei a debates sobre a Nação, enquanto não houver maior decência no modo de abordar este tema.
O actual primeiro-ministro tem cometido erros de diversa natureza, mas parece-me inegável o seu desejo de me reformar, e se mais não fez, muito se deve à oposição de muitos dos que agora clamam: presidência, partidos, sindicatos, organizações patronais, etc., como se não lhes coubessem responsabilidades no processo.
Tendes vós um ditado segundo o qual "mais vale cair em graça do que ser engraçado" e o primeiro-ministro, a quem, apesar dos erros cometidos, não se pode negar um claro propósito reformista, como pode ser atestado por médicos, professores, magistrados, funcionários públicos, pensionistas, etc., de há muito que deixou de estar nas boas graças de vários dos sectores mais influentes do País, incluindo a comunicação social...
E termino voltando a citar Eça de Queiroz e o texto que acima mencionei, para demonstrar que a situação que estamos a viver não é nova, nem irresolúvel, assim haja vontade política de colocar os interesses de todos acima da querela política e não nos falte a arte e o engenho:
"o interesse de quem tem o poder (...) está todo e unicamente em acertar. Senão já por dever de consciência e de patriotismo, ao menos por egoísmo, por vantagem própria e individual, por ambição do mesmo poder, o esforço constante de um governo deve ser acertar. Entre nós têm-se visto governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por frio sistema. Há períodos em que um erro mais ou um erro menos realmente pouco conta. No momento histórico a que chegamos, porém, cada erro, por mais pequeno, é um novo golpe de camartelo friamente atirado ao edifício das instituições;".
E como alguém disse, desculpem qualquer coisinha...
Receba, a Nação e cada um dos portugueses, um forte abraço de profunda e sincera amizade, com um optimismo responsável e a certeza de que eu e vós, Nação, haveremos de sobreviver a mais esta crise, com maior ou menor dificuldade, mesmo que alguns teimem em colocar os seus interesses acima dos daqueles que se comprometeram a servir. Sempre assim foi e sempre assim será.
Este que vos serve e se subscreve,
O Estado
terça-feira, 13 de julho de 2010
CONTRA A DISMNÉSIA...
Transcrevo uma notícia do jornal i, de hoje:
"O Financial Times dedica seis páginas a Portugal e no qual refere que José Sócrates é um “optimista inveterado” e que demonstra um optimismo que, no seu entender, representa “combater as dificuldades com coragem".
O jornal afirma ainda que “não há país que tenha feito mais reformas que Portugal nos últimos cinco anos”.(...)".
http://www.ionline.pt/conteudo/69040-financial-times-afirma-que-jose-socrates-e-um-optimista-inveterado
Num momento em que o Governo e o Primeiro-Ministro estão sob intensa pressão, permanente, e o líder da oposição se declara preparado para governar, embora considere não ser este o momento para fazer cair o Governo, vale a pena reflectirmos sobre o que diz o Financial Times.
E se "não há país que tenha feito mais reformas que Portugal, nos últimos cinco anos", talvez não seja mau relembrarmos quem impediu a prossecução das mesmas...
HOMENAGEM
Morreu o Professor Rogério Fernandes Ferreira, economista e advogado, doutorado em Gestão, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, e um dos mais brilhantes especialistas, portugueses, em contabilidade e fiscalidade.
Neste momento de luto, aqui fica a minha singela, mas sentida, homenagem ao Professor, cuja obra foi determinante na minha formação contabilística e fiscal, como sucedeu com todos aqueles que passaram pelo ISEG.
À família, enlutada, quero apresentar os meus sentidos pêsames.
Descanse em Paz, Professor!
segunda-feira, 12 de julho de 2010
À NOITE, O FUTEBOL
Terminou o Campeonato do Mundo de Futebol e, com ele, um dos melhores programas desportivos de sempre.
Refiro-me ao "À Noite, o Mundial", que ocupou as noites da RTP-N durante 30 dias e me surpreendeu pela sua elevadíssima qualidade. Isto apesar de saber, antecipadamente, que contava com a moderação de Carlos Daniel, que considero o melhor moderador, nacional, de programas desportivos, e a presença de Luís Freitas Lobo, um comentarista cujo nível só é comparável com o que de melhor existe a nível mundial.
Amante do futebol, procuro assistir aos programas desportivos das diferentes televisões, pelo que sinto ser meu dever realçar que, perdoem-me os que neles estão, ou estiveram, envolvidos, alguns dos quais conheço pessoalmente e me merecem apreço, ou amizade, a RTP-N conseguiu apresentar-nos algo de verdadeiramente inovador, que merece ser tomado como referência, ultrapassando, de longe, toda a concorrência.
Pela primeira vez, num programa dedicado ao futebol, pude assistir, de forma sistemática, à análise do jogo e das opções técnicas e tácticas que lhe estão subjacentes, efectuada por especialistas, remetendo para segundo plano as questões de arbitragem, embora sem omitir os erros cometidos.
Inteligentemente concebido, o programa articulou belos momentos musicais com excertos de grandes momentos da história do futebol e comentários sobre os diferentes aspectos relacionados com o jogo. Tudo isto compatibilizado com uma adequada participação dos adeptos, seja através da sua presença em estúdio, como foi o caso de Luís Filipe Menezes, ou utilizando as redes sociais, como a blogosfera ou o Facebook.
Contrariamente ao que é habitual, em programas sobre futebol, discutiu-se o jogo, na sua forma mais abrangente, e com isso saíram a ganhar todos os amantes da modalidade.
E seria uma pena se, depois desta tão bem sucedida experiência, a RTP não replicasse o modelo, desta vez para tratar o futebol nacional, dando precioso contributo para que os adeptos possam conhecer melhor o jogo que os apaixona e promovendo o debate sobre as questões de fundo que lhe estão subjacentes.
Como bem demonstrou o "À Noite o Mundial", também no futebol é possível uma televisão cumprir, plenamente, as funções de serviço público que lhe estão atribuídas, exercendo um papel educativo e formativo, recusando modelos assentes em polémicas estéreis, resultantes das opções clubísticas dos intervenientes, que em nada contribuem para a sua dignificação e promoção.
NO RESCALDO DO MUNDIAL
Terminou o Campeonato do Mundo de Futebol, o primeiro realizado em solo africano.
A Espanha foi uma surpreendente, mas merecida, campeã, conquistando o seu primeiro título na história da competição.
Goste-se, mais ou menos, do futebol praticado, parece-me incontestável que a Espanha foi a melhor e mais equilibrada de todas as selecções, facto que contribui para atenuar a mágoa pela eliminação de Portugal.
Já tive ocasião de referir, em "post" anterior, o que penso deste Mundial, mas quero acrescentar que, o facto de eu considerar que a competição esteve longe de atingir o brilhantismo que eu gostaria, isso em nada diminui a conquista espanhola, que daqui aproveito para saudar.
Diego Forlan foi considerado, muito justamente, o melhor jogador do torneio e, na sua pessoa, acabou por ser homenageada a selecção do Uruguai, cuja entrega e abnegação, "reforçada" pelo brilhantismo de Forlan e do jovem Luís Suarez, demonstrou que não chega ter jogadores de eleição para fazer uma equipa de excelência e obter bons resultados.
Mas, deste Mundial ficam, também, como marca indelével, a presença desse grande Homem e Humanista que é Nelson Mandela, na cerimónia de encerramento, bem como a inesquecível participação do arcebispo Desmond Tutu, na cerimónia de abertura, saudando os participantes.
Na África do Sul, o futebol foi, uma vez mais, um exemplo do modo como o desporto pode servir para ajudar a promover a sã convivência entre os povos, independentemente da raça, cor, ou credo religioso.
E que melhor final para este Mundial do que aquele emocionado e apaixonado beijo do guarda-redes e capitão da selecção espanhola, Iker Casilhas, à sua namorada, Sara, quando ela, tentando conter, sabe Deus a que custo, as suas emoções, o entrevistava, em directo, para a estação televisiva para a qual trabalha?
Futebolísticamente falando, este pode não ter sido um dos melhores Mundiais a que assistimos, mas parece-me inegável que ficará na história como um dos mais marcantes, do ponto de vista das emoções.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
FAZENDO A BARBA...
Acabara de me barbear.
Senti que tinha a barba mal feita, através da passagem da mão esquerda pelo rosto, embora o espelho, na minha frente, não me permitisse detectar esse facto.
O recurso aos óculos, que deixara em cima da mesa-de-cabeceira, permitiu-me perceber duas tristes realidades:
A barba estava, efectivamente, mal feita e a minha vista já não me permitia que me escanhoasse como antigamente, sem o recurso àquele par de vidrinhos, alinhados horizontalmente.
Lembrei-me do meu pai.
Não sei, exactamente, o momento em que ele começou a usar óculos. Mas tenho a nítida lembrança do dia em que, ao beijá-lo, lhe fiz a observação:
-Pai, tens a barba mal feita!
A resposta não se fez tardar, com um sorriso, um daqueles sorrisos que só o meu pai sabia fazer, sorrindo com o rosto todo:
-Pois é, filho, sem óculos já não vejo nada. Deixa lá...
Vai longínquo esse dia, talvez tenham passado uns trinta anos, não sei, mas, agora, sei que chegou a minha vez.
Por isso, meu querido filho, se me vires barbeado ás três pancadas, já sabes que se tratou de mais uma tentativa, vã, é certo, para evitar recorrer aos óculos. Mas a idade tem destas coisas...
Para ti, meu querido e velho pai, apesar de já não poder partilhar contigo a sensação, quero que saibas, onde quer que estejas, que, agora, entendi o que me querias dizer com aquele "deixa lá"...
Finalmente, percebi o pleno significado do que me disseste naquele dia:
Esta coisa de ter que fazer a barba com óculos é uma enorme maçada!
segunda-feira, 5 de julho de 2010
A "VENDA" DO CAPITÃO...
Não sei o que pensam os meus amigos sportinguistas da venda de João Moutinho ao Futebol Clube do Porto, mas eu, confesso, se o meu Benfica vendesse, a um dos seus principais rivais, o seu capitão de equipa, ficava "em brasa".
É que, sem questionar que o Sporting tivesse de vender o jogador, para fazer face às suas necessidades de tesouraria, permitir a transferência de João Moutinho para o Porto deve ter tido o efeito de um tremendo balde de água fria, despejado, em dia de inverno, sobre a cabeça da maioria dos adeptos do clube.
Pinto da Costa mostrou, uma vez mais, que é um especialista neste tipo de contratações, tendo conseguido nova vitória psicológica, desta vez à custa do Sporting, num tabuleiro em que tem que se lhe reconhecer a mestria...
E eu, que sou adepto do Glorioso, que tem a águia como símbolo, só posso dizer que o Sporting foi passarinho...
UM MUNDIAL SEM MAGIA
Quando se atingiram os quartos-de-final do Mundial 2010, poucos seriam aqueles que se atreveriam a vaticinar o afastamento do Brasil e da Argentina.
Quando havia, até, quem admitisse que as meias-finais poderiam ser disputadas apenas entre selecções da América do Sul, eis que duas equipas europeias, Holanda e Alemanha, despacham, de forma concludente, os dois principais favoritos à conquista da prova, digo eu, enquanto a Espanha conseguia a qualificação graças a mais um momento de classe de Iniesta e Villa, face a um Paraguai a praticar excelente futebol, depois de o Uruguai ter eliminado o Ghana a muito custo, graças a um penalti desperdiçado no último minuto.
Enfim, quem imaginaria que o Uruguai seria a única equipa da América Latina a estar presente nas meias-finais da competição? Eu, seguramente, não.
Poder-se-à dizer que este tem sido um Mundial marcado pela eficácia defensiva e pelo pragmatismo, o que, sem retirar mérito a quem optou por esse modelo de jogo, me leva a pensar que esta competição já não tem o brilho de outrora. A competição, ou o futebol...
Acredito que o vencedor do mundial sairá do confronto entre a Alemanha e a Espanha, mas como, até agora, não acertei uma, até pode ser que não e ainda estejam para acontecer mais surpresas, embora a Holanda tenha futebol para vencer a Alemanha.
Enfim, se é verdade que este Mundial evidenciou a superioridade das equipas europeias, não é menos verdade, que me perdoem os adeptos da táctica, que a competição perdeu toda a sua magia...
quinta-feira, 1 de julho de 2010
O FUTEBOL E A POLÍTICA
O "cartoon" de Luís Lopes, publicado na revista Sábado, que acima reproduzo, é bem ilustrativo da velha percepção de que dando futebol ao povo, ele se esqueceria da política.
Tal como Karl Marx proclamava a religião como sendo "o ópio do povo", existe a ideia, em boa parte dos nossos políticos, de que "a malta quer é bola" e em lha dando, tudo o resto passará para segundo plano.
Terá sido assim, nos tempos do Estado Novo, quando o povo era obrigado a engolir a doutrina oficial, sem hipótese de escolha, com os mais ousados, em matéria de defesa da democracia, a terem garantido um visitador da PIDE e uma visita guiada aos calabouços, com direito a estadia, em regime de pensão completa.
Nos tempos que correm, democracia é coisa de que não nos podemos queixar, existindo, até, situações em que se poderia dizer que é tanta a democracia, que se corre o risco de que vire bagunça, como se tem visto em muitas das nossas escolas. Mas adiante...
Felizmente que, nos nossos dias, existe total liberdade de expressão e livre acesso à informação, com canais televisivos, jornais e revistas para todos os gostos, já para não falar da Internet, que nos proporciona escolhas intermináveis.
Mas se, para efeitos desta análise, reduzirmos a amostra e nos cingirmos ás escolhas televisivas, em canal aberto, é verdade que, durante o mês de Junho, o futebol teve lugar de destaque, o que não pode ser surpreendente, atendendo a que se trata da fase final de um campeonato do mundo, do desporto mais popular ao cimo da Terra, que ainda por cima contava com a participação da selecção portuguesa, coisa pouco frequente na história da competição.
Deu-se, é um facto, na comunicação social, mais relevância ao futebol, em detrimento da política, ou, direi eu, sabendo que estou a ser politicamente incorrecto, da politiquice.
Só que, contrariamente ao que sucedia durante o Estado Novo, não faltou em Portugal debate político, assim como não faltou, felizmente, futebol, tendo sido dada a possibilidade, a quem se interessa pelos dois temas, de escolher entre assistir à controvérsia sobre a cobrança de portagens nas SCUT ou a jogos de futebol entre selecções que integram os melhores praticantes do Mundo.
No que me respeita, a opção foi o futebol, apesar de ter um inegável interesse pela política, até porque a política portuguesa parece, na grande maioria dos casos, reger-se por princípios futebolísticos, adoptando, com demasiada frequência, procedimentos semelhantes àqueles que podemos verificar entre os menos civilizados amantes da modalidade.
E não faço, sequer, a comparação com os apoiantes da nossa selecção, felizmente a esmagadora maioria dos portugueses, porque esses, apesar das críticas ao treinador, na hora da derrota, nunca deixam de apoiar a equipa e sabem reconhecer o mérito do adversário.
Ao contrário, o comportamento da maioria dos nossos políticos assemelha-se ao do mais ferrenho dos adeptos dos nossos principais clubes, para quem o importante é a vitória da sua equipa, independentemente do modo como é conseguida, sem demonstrar qualquer respeito pelos adversários e, muito menos, reconhecer os seus méritos e capacidades.
Infelizmente, a nossa selecção foi eliminada da competição, deixando o campo aberto ao gladiatório político, para reocupar o centro da informação e da notícia, podendo os portugueses passar a "maçar a cabeça com questões económicas, sociais e políticas", tratadas com a isenção que todos conhecemos...
E para relaxarem de tanta maçada, as televisões, em canal aberto, não deixarão de os contemplar com doses, maciças, de brilhantes telenovelas, cujo carácter educativo é, amplamente, reconhecido...
Felizmente que Julho é um mês de férias, já com algum futebol, e em Agosto regressa o campeonato!
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