Vamos por partes:
- Os governos de José Sócrates não tiveram os cuidados devidos com a divida pública e a evolução do deficit;
- A crise internacional, que eclodiu em 2007 veio agravar, substancialmente, os desequilíbrios da economia portuguesa.
Dito isto, vejamos a evolução, cronológica, dos acontecimentos, a partir da apresentação do chamado PEC4:
- Governo Sócrates anuncia agravamento dos impostos e reduções nas prestações sociais, no âmbito do chamado PEC4, para o qual obteve o acordo, prévio, da União Europeia;
- Oposição considera inadmissível o aumento da carga fiscal, nomeadamente PSD e CDS, indicando que a solução passava pela redução da despesa pública. PSD e CDS chegaram a avançar que tinham soluções para a redução da despesa pública em mais de mil milhões de Euros;
- PEC4 é chumbado e Sócrates apresenta a demissão;
- Portugal solicita auxílio financeiro à União Europeia e ao FMI,
- Passos Coelho, tal como Paulo Portas, em campanha, reiteram estar contra o aumento dos impostos e das prestações sociais, apostando na redução das "gorduras" do Estado;
- A troika chega a Portugal, para avaliar a situação do País, e depois de reunir com os responsáveis dos principais partidos políticos, apresenta um programa para os próximos 3 anos;
- PSD faz da redução da TSU o principal cavalo de batalha da sua campanha eleitoral e reitera que a solução dos problemas do País passa pela redução da despesa pública;
- PSD ganha as eleições e forma governo, maioritário, com o CDS;
- Governo anuncia congelamento dos salários da função pública, e um imposto extraordinário correspondente a 50% do 13º mês, mas esclarece que o esforço financeiro a realizar será de 1/3 em impostos e 2/3 em cortes na despesa pública;
- Governo anuncia aumento do IVA sobre a factura de electricidade e dos passes sociais;
- Governo anuncia agravamento da taxa de IRS e cortes na deduções fiscais.
Muito mais se poderia dizer, sobretudo se tivermos em atenção os aumentos já anunciados, mas penso que, o que escrevi chega, para justificar a minha conclusão.
Quando reuniu com a troika, o PSD ficou a saber, se é que não conhecia, o estado das contas públicas portuguesas, com excepção do "buraco" da Madeira.
Apesar disso, insistiu em fazer uma campanha em que nunca falou do aumento de impostos, ou da redução das prestações sociais, e deduções fiscais.
Muito menos revelou a intenção, apenas anunciada após a eleição, de tomar medidas que excedem as exigências da troika.
Deste modo, parece legítimo concluir, sem correr o risco de ser injusto, que a vitória eleitoral do PSD se ficou a dever, em muito, a um embuste bem programado...