sábado, 29 de janeiro de 2011

FROM DAVOS WITH...


Em Davos, por estes dias, reúne-se, anualmente, a nata política e financeira do planeta, para reflectir.
Os mais maldosos, dizem que que é a neve e o esqui que os atrai, outros, menos mordazes, falam de uma generalizada sessão de terapia, à americana, para banqueiros e políticos de todo o mundo.
Seja como for, a verdade é que eles reflectem, falam, e os mercados ouvem, reagindo em conformidade. Goste-se, ou não.
Eu, que faço os possíveis por me manter actualizado, coisa difícil num mundo com excesso de informação, lá vou tentando seguir o que dizem os gurus, para ver se consigo perceber para onde caminha a economia mundial, a Europa, e, naturalmente, o meu país.
Infelizmente, nada do que leio é muito animador, e não fora o facto de eu saber que, em Davos, estão reunidos os craques da política e da finança, dos quatro cantos do mundo, poderia ser levado a pensar que eram todos portugueses, tal a onda de cepticismo e pessimismo que os assola, quanto ao futuro da zona euro, e das economias do sul da Europa.
De ontem, destaco duas entrevistas, as de Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, e de George Soros, ex-gestor de fundos de investimento, agora convertido em filantropo, que podem ser ouvidas na página do britânico Financial Times, e que recomendo,
( http://video.ft.com/v/767834647001/Zoellick-Euro-leaders-too-slow ).
Para o Sr Zoellick, e no que diz respeito à zona euro, os líderes não estão a agir tão rapidamente como deveriam, para resolverem a crise da dívida pública. Nada que já não nos tivesse sido dito, por mentes igualmente brilhantes, mas na boca do presidente do Banco Mundial a coisa assume um peso diferente.
Já para Soros, que costumava tirar vantagens financeiras, pela via dos fundos que geria, do impacto das suas afirmações nos mercados, as políticas que estão a ser seguidas, pelos líderes da zona euro, podem perpetuar uma Europa a duas velocidades, um conceito muito em voga, antes da criação do euro.
Certo é que, as duas entrevistas, juntas, não auguram nada de bom, a menos que a governança europeia atalhe caminho, e tome medidas, efectivas, para proteger as economias mais débeis, reabilitando a velha noção de convergência, que tão esquecida tem andado, ultimamente.
Curiosa, no entanto, é a posição de Soros, talvez por se ter tornado um filantropo, quando defende que não podem ser apenas os contribuintes a pagar as consequências desta crise, da qual os bancos acabaram por sair beneficiados. Mudam-se os tempos. mudam-se as vontades?
Mas para não acabar com o factor surpresa, fico-me por aqui, e recomendando-vos que oiçam as declarações destas duas personalidades.
Só espero que, ao contrário de mim, retirem conclusões animadoras, quanto ao que nos espera, no futuro próximo...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

UMA MANIFESTAÇÃO OBSCENA


Que um grupo de escolas privadas se sintam prejudicadas, pela alteração das condições dos contratos que celebraram com o estado português, é perfeitamente legítimo.
Que os donos dessas escolas, acompanhados dos pais, e encarregados de educação, dos alunos que as frequentam, como o SOS Movimento Educação, decidam manifestar o seu desagrado, face à decisão do governo, é normal, e mais não fazem do que exercer um direito que lhes assiste.
Que os proprietários das escolas queiram continuar a beneficiar de um privilégio que lhes foi concedido, num tempo em que a escola pública não tinha condições para garantir o ensino em determinadas regiões do país, e que os pais, e encarregados de educação, dessas crianças queiram continuar a beneficiar dessa benesse, é natural, e nada tem de reprovável.
E que o governo tenha decidido, depois de avaliar a situação em que se encontram essas escolas, terminar, ou reduzir, o montante dos subsídios a conceder, ao abrigo desses contratos, num período de acentuada crise financeira, não é menos legítimo, e aceitável.
Os seja, dependendo do ponto de vista, qualquer das partes tem motivos para justificar as suas posições, e comportamentos, ainda que a mim me pareça que, exigir liberdade de escolha, num regime de excepção, em que o estado, quer dizer, todos nós, paga a factura, não faz sentido nenhum.
Mas enfim, até aqui, tudo bem.
Decide quem tem o poder, e o dever, de o fazer, reclama quem acha que se sente prejudicado, com, ou sem, razão.
Mas quando, nesses protestos, os pais e encarregados de educação, utilizam as suas crianças para transportar caixões, querendo significar o funeral desses privilégios, as coisas mudam de figura.
Porque é torpe a utilização de crianças para defesa de causas cujos contornos ignoram, e todos os adultos que participaram naquela manifestação deviam sentir-se envergonhados.
Se a justeza da decisão da ministra da educação me suscitasse algumas dúvidas, elas ter-se-iam dissipado, ante o espectáculo degradante que nos proporcionaram os donos dessas escolas, e alguns pais e encarregados de educação de alunos que as integram.
Quem não hesita em utilizar crianças, despudoradamente, para defesa dos seus interesses particulares, não merece que lhe confiem a sua educação, e muito menos ser subsidiado para o fazer.

GALA EUSÉBIO


Foi bonita a "Gala Eusébio", uma homenagem ao "pantera negra", pela passagem do seu 69º aniversário e de 50 anos sobre a sua chegada a Portugal, que teve lugar no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e foi transmitida, em directo, pela RTP.
Eusébio da Silva Ferreira, expoente máximo do futebol nacional, bem merece a homenagem que lhe foi feita, como homem e desportista, pelo que quero aqui deixar o meu elogio à iniciativa, conjunta, do Benfica e da RTP.
É sempre agradável ver as grandes figuras nacionais, como é o caso de Eusébio, obterem, em vida, o reconhecimento que merecem, e como benfiquista, senti-me particularmente orgulhoso, com esta homenagem.
Longe do país, mas acompanhando a gala através da RTPi, quero expressar o meu desejo de que o Eusébio possa continuar a comemorar muitos, e bons, aniversários, na companhia de todos os que lhe são queridos e deixar-lhe, aqui, um forte e sentido abraço.
Bem-Haja, por tudo o que fez pelo Sport Lisboa e Benfica, e por Portugal.

domingo, 23 de janeiro de 2011

ENGANAR NÃO VALE...


Vamos por partes:
Simpatizo com Rui Rio, que me parece um dos mais capazes políticos portugueses.
Assisti ao debate na RTPi em que ele participou, e onde se referiu ao dinheiro que tinha perdido na compra de obrigações de um banco irlandês, para justificar o comportamento de Cavaco Silva, quando comprou, e vendeu, acções do BPN.
Já aqui expliquei a minha posição sobre este assunto, mas lamento que um político que eu prezo, e não são muitos, possa querer comparar o incomparável, tratando-nos como burros.
Mas eu explico:
Rio Rio perdeu dinheiro na compra e venda de obrigações COTADAS, enquanto Cavaco vendeu acções NÃO COTADAS, realizando uma substancial mais valia.
Vender, com lucro, acções não cotadas em bolsa, não está ao alcance de todos. E muito menos com um lucro substancial...
Já referi, por diversas vezes, que não considero, a menos que se prove o contrário, que se conheçam dados que incapacitem Cavaco para o exercício do cargo de Presidente da República Portuguesa, só que isso não quer dizer que Cavaco não deva explicar como conseguiu vender acções não cotadas, com um lucro tão substancial.
Assim como é inegável que Cavaco beneficiou, no mínimo, de um tratamento de favor, relativamente a todos os outros accionistas.
Cavaco, e os seus apoiantes, podem continuar a assobiar para o lado, fazendo de conta que está tudo bem, mas depois não estranhem que os eleitores se abstenham de votar.
Imaginem se tivesse sido José Sócrates a comprar, e vender, as acções do BPN...

DEPOIS ADMIRAM-SE...


Em dia de eleições presidenciais, em Portugal, e face a um nível de participação muito baixo, alguns políticos optam por culpar os eleitores, ao mesmo tempo que apelam à sua participação.
E que tal começarem a olhar para a qualidade da actividade que exercem, e para os seus resultados?
É sempre difícil ser juiz em causa própria, mas cego maior do que o que não vê, é aquele que não quer ver.
Se é verdade que votar é um direito, não votar também o é, e o exercício desse direito tem de ser motivado, não com slogans e frases feitas, vazios de conteúdo, mas através da prática política, quotidiana.
Ou será que os políticos portugueses ainda acreditam que podem continuar a tratar os eleitores como se fossem débeis mentais, por muito mais tempo, sem que isso tenha consequências?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

VAI DAR CAVACO...


Chegados ao final da campanha eleitoral, para a primeira volta, que levará à escolha do novo presidente da república portuguesa, parece-me legítimo que se questione o resultado dos debates entre os candidatos, bem como as respectivas campanhas.
Do meu ponto de vista, nada de significativo, ou seja, mais do mesmo.
Para os que apreciam a chicana política, e admito que sejam bastantes, a polémica em torno do envolvimento do candidato Cavaco Silva com algumas figuras do chamado "caso BPN" deve ter-lhes proporcionado alguns momentos de diversão, mas não terá, a meu ver, consequências eleitorais significativas.
Além de que não se trata de algo verdadeiramente novo, porquanto o tema da compra e venda de acções da SLN já tinha sido comentado, ainda que com um tratamento mediático bem diferente daquele que foi concedido aos casos que, pretensamente, envolviam José Sócrates.
Como diz o povo, "mais vale cair em graça do que ser engraçado", e as coisas são como são...
Até a compra da nova casa de férias de Cavaco Silva, e algumas irregularidades no seu licenciamento, não mereceriam qualquer destaque especial, não fora o facto de ter sido adquirida ao senhor Fantasias, colaborador próximo do ex-presidente do BPN.
Mas os portugueses também conheciam o caso da marquise e o resultado foi o que conhecemos...
Enfim, muita fantasia e especulação em torno das ligações do actual presidente ao "caso BPN", mas nenhuma evidência da existência de factos que o desqualifiquem para o exercício do cargo.
Mais interessante, e a carecer de melhor explicação, terá sido o aviso para o perigo de uma subida das taxas de juro, em caso de necessidade de uma segunda volta, e para os custos adicionais que a mesma acarretaria.
Teria sido bom que o candidato tivesse explicado melhor o que queria dizer, mas não acredito que Cavaco Silva tivesse intenção de advogar quaisquer limitações à democracia.
Apenas lhe dava jeito que o assunto ficasse resolvido desde já, e tratou de arranjar umas justificações de última hora. Não foi feliz.
Já Manuel Alegre, que também não nos brindou com nenhuma ideia nova, acabará por pagar a factura da sua primeira candidatura, contra o seu ex-amigo Mário Soares, e do constante ziguezaguear entre o PS e o Bloco de Esquerda, facto que muitos militantes do PS não esquecem.
Cá se fazem, cá se pagam...
Fernando Nobre, que passou boa parte da campanha a justificar porque se candidatou, esteve aquém das expectativas, não trazendo nada de novo ao debate, e deveria te-lo feito.
Fica a "originalidade" de ter sido uma candidatura sem suporte partidário, apesar de apoiada, para não dizer incentivada, por Mário Soares, e pelos soaristas.
Soares que, a meu ver, também será um perdedor nestas eleições, ainda que indirectamente...
Enfim, tudo junto e ponderado, é razoável admitir a reeleição de Cavaco Silva, logo na primeira volta, como indicam as sondagens, o que me parece ser a melhor escolha, de entre as alternativas existentes, para o país.
É que, além de acreditar que Cavaco fará tudo o que estiver ao seu alcance para preservar a estabilidade política, estou, também, convicto de que, após provar o travo amargo da suspeita, relativamente ao seu envolvimento no "caso BPN", não lhe será tão fácil assobiar para o lado, quando o alvo voltar a ser José Sócrates.
Aguardemos, pois, as cenas dos próximos capítulos...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

DEPOIS DE PRONTO...



Depois de um período de ausência, pareceu-me tempo de retomar a escrita.
Enquanto os portugueses, numa conjuntura adversa, se preparam para nova eleição presidencial, com a mais do que provável reeleição de Cavaco Silva, as hostes partidárias concentram-se na maximização do aproveitamento político da crise e na estratégia a seguir, após a eleição.
Dizer, como tantas vezes sucede, que "cada povo tem o governo que merece", para apoucar o Executivo, e os portugueses que o elegeram, é pecar por defeito, pelo que me atrevo a sugerir a substituição dessa expressão por "cada povo tem os líderes, e os políticos, que merece". Seria mais adequada, por mais abrangente, e descreveria melhor o estado de desconfiança, descrença e apatia que parece assolar o país.
Mas seja uma, ou outra, a expressão utilizada, a verdade é que, em ambas, somos nós, os portugueses, quem fica muito mal no retrato.
Mas um povo que conta com uma significativa percentagem de saudosistas do passado, que parecem ter esquecido tudo o que de bom foi conseguido desde a restauração da democracia, e foi muito, não pode aspirar, digo eu, a ficar bem na fotografia, seja ela a cores, ou a preto e branco.
Gerir e tomar decisões implica, excepto para alguns iluminados, cometer erros. E o factor distintivo entre os mais e menos capazes reside, justamente, na capacidade de aprender com o erro e evitar a sua repetição, embora este pareça ser um princípio que poucos portugueses estão dispostos a aceitar, e é pena.
Diz o povo que "a necessidade aguça o engenho", mas as nossas elites parecem empenhadas em desmenti-lo, dado que as necessidades têm vindo a aumentar, sem que, com elas, tenham surgiram soluções engenhosas, para a resolução dos problemas que afectam o país...
Quem ouve e lê o que diz a maioria dos nossos líderes, aos mais diversos níveis, fica com a impressão que, tal como o professor Cavaco Silva, eles "nunca se enganam e raramente têm dúvidas", estando de posse das soluções para todos os problemas. Contudo, ou não as apresentam, ou, quando o fazem, é muito raro encontrar-se um traço inovador, que as credibilize como alternativa ás soluções adoptadas.
Em regra, a critica centra-se mais na forma, do que no conteúdo, isto quando o discurso não tem objectivos meramente ideológicos, ou eleitorais...
Embora apontando vários erros aos governos chefiados por José Sócrates, e é sempre possível apontar vários erros a qualquer governo, ficaria de mal comigo se não admitisse que admiro a coragem e a tenacidade do primeiro-ministro português, apesar de saber que se trata de um reconhecimento politicamente incorrecto, sobretudo num momento em que malhar no chefe do executivo parece ser o principal desporto nacional.
Ainda assim, sinto que esse reconhecimento lhe é devido, num momento difícil para o país, e para o governo, sobretudo no início de um ano que muitos apostam vir a ser o último da era Sócrates, por tudo o que de bom foi feito, e pelo esforço reformista de que já deu provas.
Como diria o meu querido, e falecido, pai, utilizando uma expressão herdada do meu avô, e que retrata o meu sentimento para com aqueles que, nunca apresentando alternativas, estão sempre prontos para criticar a obra feita, ou a sugerir que era óbvia, e não apresentava qualquer dificuldade, "depois de feito, é um instantinho".
Votos de um Feliz Ano de 2011 para todos!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A MINHA MENSAGEM DE ANO NOVO


De mansinho, como quem não quer a coisa, o ano de 2011 chegou e instalou-se.
Terminado o mês da boa vontade, em que todos desejam Saúde, Sorte, Paz, Amor, Felicidade, "et caetera" e tal, a conhecidos e desconhecidos, temos pela frente onze meses em que tudo voltará a ser como dantes, com amigos, conhecidos, desconhecidos, inimigos, intrigas, fofocas, muito escárnio e muito maldizer. Enfim, o costume...
Segundo muitos, este será o ano em que Portugal vai ter de pedir ajuda ao FMI, Cavaco será reeleito Presidente da Republica Portuguesa e o Parlamento será dissolvido, o que, para inicio de ano, não está nada mal...
Mas eu, que fugi da chuva e do frio, e entrei no novo ano na praia, estou cheio de energia, e encaro 2011 com moderado optimismo.
Acredito que Portugal não terá de recorrer ao FMI, que o Parlamento não será dissolvido, a menos que as coisas corram mesmo muito mal, em termos do controlo da despesa pública, e que Cavaco será eleito na primeira volta.
Assim sendo, e no que à política diz respeito, antevejo um 2011 com muita politiquice, com a classe política, sem excepção, a tratar os cidadãos eleitores como se fossem débeis mentais, ou seja, uma política de continuidade...
Na economia, e na linha do que nos tem vindo a ser anunciado, vai ser o apertar do cinto, para quem não tem cinto, ou já o aperta no ultimo furo, porque apesar das queixas e lamurias de boa parte da nossa classe média, é ela que alimenta a nossa gigantesca economia paralela...
E se muitos dos que se queixam cumprissem com as suas obrigações, a dívida pública não teria, seguramente, a dimensão que lhe conhecemos.
Mas a rapaziada cá do burgo é assim mesmo, e enquanto os tribunais, e a administração pública, continuarem a funcionar como funcionam, resta-nos ir cantando e rindo, ainda que levados, levados sim...
Já na bola, outro dos grandes desígnios nacionais, o ano de 2011 promete muitas alterações, para que tudo fique na mesma, como muito bem ilustra a novela em torno das eleições para a Federação Portuguesa de Futebol.
O Porto, que tratou de se acautelar em 2010, deverá ser campeão e o meu Benfica prepara-se para regressar ao "para o ano é que é", que deve ser a frase mais ouvida lá para os lados da segunda circular, nas últimas décadas...
Quanto ao resto, será, em 2011, a vidinha do costume, com as habituais queixas dos agricultores, dos pescadores, dos funcionários públicos, dos professores, dos profissionais de saúde, dos polícias, dos militares, dos juízes, dos banqueiros, dos pequenos, médios e grandes empresários, dos sindicatos, dos reformados, dos pobres, dos remediados, dos ricos, enfim, todos a ralhar, e todos a ter razão, numa casa onde o pão não abunda e o que existe está muito mal distribuído...
Por isso, meus caros, amigos e inimigos, conhecidos e desconhecidos, a minha mensagem de Ano Novo é simples, e muito curta:
Votos de muita saudinha para vocês todos, que o custo dos medicamentos está pela hora da morte!
E se, feitas as contas, no final de 2011, ainda sobrarem uns trocados, não os joguem na lotaria, ou no euromilhões, que essa coisa de ser rico deve ser uma enorme maçada...