quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O MEU BEM-ME-QUER !


Nasceu uma flor no meu jardim.
Nada mais natural, dir-me-ão vocês, que sabem que nos jardins costumam nascer flores.
Só que esta não é uma flor de adorno, não foi plantada, muito menos regada, apenas surgiu, do nada, no meio da relva.
Não sei como se chama, mas sei que parece um malmequer, pelo que decido designá-la como tal.
Um malmequer pequenino, frágil, pétalas de um amarelo vivo, que contrastam com o verde escuro da relva onde surgiu, que os raios solares ajudam a realçar.
Fiquei a admirar o meu malmequer por momentos, seduzido pela sua beleza simples.
Afinal, aquele malmequer, que em breve desaparecerá, por acção da minha jardineira, é bem o espelho do mundo em que vivemos e do ciclo a que se convencionou chamar de ciclo da vida.
Frágil, como todos os bebés, e sem os devidos cuidados depressa desaparecerá, para dar lugar a novos malmequeres e contribuir para enriquecer a terra de onde brotou.
Belo, como tudo o que é pequenino, guarda a frescura e a vitalidade da juventude, mas nunca será considerada uma planta de adorno. Nasceu torto, no local errado, e como diz o ditado, o que nasce torto...
Também assim sucede com a vida de milhões de seres humanos, que nasce torta, em locais e hora errados, uma cruz que irão carregar, na esmagadora maioria dos casos, ao longo de uma vida de sobrevivência, até que o ciclo se complete.
Pena que isso não leve o Homem a usar a sua suprema inteligência para preservar e respeitar a Natureza, e os outros Homens...
Pararmos, por momentos que fosse, para apreciarmos as maravilhosas belezas que a Natureza nos proporciona, quotidianamente, parece estar fora dos nossos propósitos, e é pena, porque aprendíamos mais sobre a Vida.
E tal como sucederá com o meu malmequer, também nós, mais tarde ou mais cedo, iremos ceder o nosso lugar a outros homens, integrando e completando o ciclo.
Pensei em tudo isto e quedei-me a olhar o meu malmequer.
Tive a tentação de o arrancar da relva, para o guardar, mas resisti. Existem situações em que matar plantas e animais pode ser equiparável a um assassinato.
E decidi, também, que não ia contar-lhe as pétalas, como fiz tantas vezes, quando era criança, pois tenho a certeza que, neste caso, depois da reflexão que me proporcionou, este é, seguramente, um Bem-Me-Quer!
O meu Bem-Me-Quer!

1 comentário:

  1. As reflexões as quais nos remetem as pequenas coisas, que ocasionalmente passariam despercebidas e que por um olhar atento em dado momento as captamos, em geral trazem à tona o que há de essencial em nós e que talvez não tenhamos percebido, atraídos que somos frequentemente pelas grandes coisas. Contudo, o fundamental é que tenhamos capacidade de percebê-las grandes, mesmo que se apresentem com tanta simplicidade.
    Excelente texto, meu amigo Rui.
    Um abraço,
    Celêdian

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