quinta-feira, 25 de novembro de 2010

OS ADVERSÁRIOS MERECEM RESPEITO


Sou o sócio nº 5.964 do Sport Lisboa e Benfica, e passei a subscrever o MEO para poder ter acesso à Benfica TV.
Hoje, depois da derrota frente ao Hapoel, de Telavive, tive ocasião de assistir a alguns minutos do programa "Debate" e confesso que me senti envergonhado.
Ver os comentadores do programa tratar o estádio do dragão por "antro" e os sportinguistas por "lacaios" do Porto deixou-me incrédulo e incomodado.
Vamos por partes:
-Que um sócio, ou simpatizante, do Benfica, quando participa em programas em directo, utilize uma linguagem menos própria, ou mesmo grosseira, para com os adversários, é algo que pode acontecer, mas que deveria merecer, de imediato, uma chamada de atenção, por parte dos moderadores;
-Que benfiquistas, participantes num debate, eventualmente pagos, ou não, utilizem uma linguagem ofensiva, para com os nossos adversários é algo de inconcebível e altamente reprovável, que envergonha o Clube e quem autoriza, ou não se opõe a, esse tipo de comportamentos.
Os comentadores do referido programa eram três jovens, muito a tempo de aprenderem que os adversários devem ser tratados com respeito e que as Instituições estão muito acima do comportamento de alguns fanáticos intolerantes que as integram. E que quem não se dá ao respeito, não pode esperar ser respeitado.
Desrespeitar o Futebol Clube do Porto, o Sporting Clube de Portugal, ou qualquer outro adversário, no canal de televisão do Clube, pode conseguir uns quantos apoiantes, mas não honra o Sport Lisboa e Benfica, e envergonha, estou certo disso, a maioria dos benfiquistas.
Como sócio do Benfica, cumpre-me afirmar que verbero este tipo de comportamentos, que considero indignos de quem se orgulha de pertencer a um Clube secular, que sempre respeitou os seus adversários.
Apesar de saber que de pouco, ou nada, servirá, aqui fica o meu protesto e o apelo aos dirigentes benfiquistas para que ponham termo, de uma vez por todas, a este tipo de práticas, e comportamentos.
O Sport Lisboa e Benfica, com o seu glorioso historial, merece melhor.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ENQUANTO É TEMPO...


O Benfica acaba de ser derrotado, por 3-0, pelo Hapoel de Telavive, ficando, desde já, afastado da disputa pela passagem à fase seguinte da Liga dos Campeões.
Como benfiquista, a minha desilusão é total.
E de nada serve vir falar, como faz Jorge Jesus, das oportunidades criadas, do número de remates e de cantos ou da percentagem de posse de bola.
A verdade é que nada disso ganha jogos, mas sim os golos que se marcam, e os que não se sofrem.
O Benfica foi uma equipa pouco criativa, não soube reagir ao primeiro golo do adversário, afunilou demasiado o jogo e foi demasiado lenta.
Agora resta-nos esperar que não exista mais nenhuma surpresa desagradável e acreditar que iremos disputar a Liga Europa...
Mas parece-me necessário que se faça uma reflexão sobre o que tem sido este primeiro terço da época desportiva e se identifiquem as razões que levam a equipa, cuja qualidade todos reconhecemos, a ter tantas prestações infelizes e a revelar-se apática, em momentos em que se lhe exigia garra e determinação.
E também a equipa técnica, com destaque para Jorge Jesus, terá de reflectir sobre as suas opções, quer no que diz respeito à disposição da equipa em campo, quer quanto à escolha dos jogadores a utilizar, já que me parece inequívoco que têm sido cometidos demasiados erros.
Reajam, antes que a decepção se apodere de todos, jogadores, equipa técnica, dirigentes, sócios e simpatizantes, e uma época que se iniciou com elevadas e legítimas expectativas, face ao elevadíssimo investimento efectuado, venha a redundar numa monumental desilusão.

EM NOME DOS MAIS CARENCIADOS...


Os números ainda não estão apurados, mas os sindicatos já se apressam a informar-nos que se trata da maior greve de sempre, com um número de adesões superior ao que se registou em 1988.
Sobre os números, assistiremos, decerto, à trapalhada do costume, com o Governo e sindicatos a indicarem-nos números substancialmente diferentes e os órgãos de comunicação social a inclinarem-se num, ou noutro, sentido, de acordo com as simpatias dos analistas. Enfim, mais do mesmo...
Contudo, e a fazer fé em várias notícias publicadas, a adesão à greve terá sido quase nula, em empresas privadas de vários sectores.
Seja como for, o prejuízo causado à economia do país será enorme, pelo que, apenas numa tentativa de contextualização do tema, aqui deixo algumas reflexões:
1. Sendo esta greve, sobretudo, uma greve da função pública, e existindo muitos mais funcionários públicos do que em 1988, não será normal que o número de grevistas seja superior?
2. Com os professores em greve e as escolas fechadas, quantos dos grevistas terão sido forçados a aderir, por não terem com quem deixar os filhos?
3. Independentemente da sua posição face ao Governo, quantos serão os portugueses convencidos de que haveria alternativa a estas medidas de austeridade e quanto serão os que receiam que as medidas tomadas possam vir a revelar-se insuficientes, para acalmar os mercados financeiros?
Estas são, se me fosse dada essa possibilidade, as três perguntas que eu gostava de ver respondidas, a propósito da greve geral de hoje.
Claro que muitas outras se poderiam colocar, como o efeito da adesão, sempre elevada, dos trabalhadores dos transportes públicos no número de grevistas, ou a curiosidade de a esmagadora maioria dos grevistas serem aqueles que, trabalhando para o Estado, têm os seus postos de trabalho garantidos...
Infelizmente, Portugal atravessa uma situação económica e financeira particularmente difícil e existem sectores da população a passar por momentos muito difíceis.
Mas não deixa de ser irónico que muitos daqueles que mais protestam sejam quem mais beneficia do sistema que nos conduziu à situação actual.
E se o mesmo empenho, mobilização e gastos, para a realização desta greve geral, assim como o valor do dia de trabalho perdido, tivessem sido utilizados para beneficiar os mais carenciados, não teria sido mais útil para todos?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O "MILAGRE" IRLANDÊS...



Num momento em que, em Portugal, se envidam esforços para separar a situação económica portuguesa da irlandesa, passo a transcrever um brilhante artigo da jornalista Miriam Leitão, retirado da página do jornal "O Globo" na Internet, que descreve de forma simples e concisa os problemas com que a Irlanda se confronta.
(http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2010/11/23/as-crises-sao-iguais-343098.asp)

Enviado por Míriam Leitão - 23.11.2010 | 15h00m
COLUNA NO GLOBO


As crises são iguais

O que um país de 4,5 milhões de habitantes, com menos gente que no Rio de Janeiro, pode fazer ao mundo? Outra dúvida: como um país que foi apontado como exemplo durante anos e que cresceu em ritmo chinês pode estar em recessão, com deflação, e com risco de dar calote na dívida? Terceira questão: como negociar com um país cujo governo está caindo?
As dúvidas irlandesas derrubam mercados e preocupam. O Partido Verde disse que sairia da coalizão de governo e dois parlamentares independentes avisaram que não votarão o Orçamento. O primeiro-ministro, Brian Cowen, está resistindo mas disse que depois da aprovação do Orçamento vai dissolver o Parlamento. As autoridades do BCE, FMI e Reino Unido estariam negociando um pacote bilionário, que significa a metade do PIB da Irlanda, com um governo com os dias contados.
Esse é mais um dos inusitados desse mistério irlandês. O melhor aluno da classe está em recuperação. Por 20 anos, a Irlanda foi exemplo de disciplina fiscal: reduziu a dívida pública de 108% do PIB, em 1986, para 25%, em 2007 (vejam no gráfico). O PIB cresceu em média 7,4% ao ano de 1995 a 2007. Falava-se de milagre irlandês. O país era apontado como exemplo e havia mil explicações para o seu sucesso.
O problema é que parte do crescimento é resultado de uma bolha imobiliária. O preço dos imóveis subiu 315% de 1996 a 2007. De lá para cá, caiu 36%, tirando renda das famílias e causando prejuízos bancários bilionários.
— A crise da Irlanda em muitos aspectos se parece com a dos americanos e ingleses: uma economia que estava crescendo fortemente, com liquidez enorme a juros baixos e pouca regulação. Os bancos ficaram muito expostos a ativos imobiliários, com alavancagem excessiva. Em 2008, a bolha imobiliária estourou e tanto o sistema financeiro quanto as famílias ficaram com problemas — conta o economista Roberto Padovani, do WestLB.
A notícia que causou espanto ontem foi o tamanho do resgate anunciado à Irlanda, de 90 bilhões, ou metade do PIB irlandês. Outro número inacreditável é a projeção de déficit do governo para este ano: 32% do PIB.
Parece até erro. Isso tudo é déficit ou dívida? É mesmo déficit, que fará a dívida subir para 93% este ano, e superar a marca dos 100% no ano que vem. Todo o esforço feito em 20 anos pelo tigre celta foi por água Abaixo em apenas três anos, de 2008 a 2010.
O governo explicou que o socorro ao sistema financeiro é responsável por 20% do déficit de 2010. Ele expõe a fragilidade dos bancos, que, por um lado, foram atingidos pela bolha imobiliária e, por outro, sofreram de crise de confiança e saques dos correntistas. Do pacote, imediatamente serão repassados de >EuC2< 8 a 12 bilhões aos bancos, para impedir que eles fiquem sem liquidez. Desde 2008, eles já receberam 45 bi, contando a injeção de 12 bi de setembro. É o segundo socorro em três meses.
O problema é agravado porque o governo irlandês está endividado e agora ficará mais. Ou seja, o risco do sistema financeiro está se transformando em risco de dívida soberana, na medida em que os governos assumem os problemas bancários.
Em outubro, a Moody's colocou sob perspectiva negativa o rating Aa2 da Irlanda e agora diz que o mais provável é que ela perca de uma vez o grau de investimento. Esse é um dos vários problemas da questão. Por um lado, o pacote de auxílio vai aumentar ainda mais a dívida do governo. Por causa disso, haverá diminuição do rating, que tornará os empréstimos mais caros daqui para frente. Por outro, as medidas de austeridade fiscal devem diminuir a demanda e isso pode ter reflexo no crescimento e na arrecadação do governo.
Parece o oposto da célebre frase da obra de Tolstoi “Ana Karenina”, de que todas as famílias felizes são iguais; as infelizes o são cada uma à sua maneira. Os países em suas tragédias econômicas parecem todos iguais. Os bancos emprestaram irresponsavelmente, as pessoas foram ficando mais endividadas, pensando que estavam ficando ricas. Quando a bolha estoura, os ativos entram em queda livre, o governo aumenta os gastos para salvar os bancos e evitar o colapso da economia. Por causa do socorro, o déficit aumenta, os governos têm que pagar juros altos nas suas dívidas, as agências de rating rebaixam a avaliação dos países, alguma entidade estrangeira resgata o país e impõe ajustes. A dívida sobe mais ainda e os bancos exigem mais juros para rolar a dívida. Parece uma pessoa frágil com um trem vindo na direção contrária.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A ARTE DA OCULTAÇÃO E DA MENTIRA...


O ministro da justiça japonês, Minoru Yanagida, resignou ao cargo, após admitir que era fácil desempenhar o cargo, bastando, para tanto, utilizar duas frases, sempre que se encontrasse em dificuldade para responder ás perguntas que lhe eram dirigidas.
As duas frases, segundo o ex-ministro, seriam "não vou comentar casos específicos" e "estamos a tratar do assunto, de acordo com a lei e os indícios".
A notícia chegou-me através do jornal inglês "The Guardian", na sua página na Internet, guardian.co.uk, e confesso que me fez sorrir...
Afinal, estas, ou frases muito semelhantes, são das mais utilizadas por ministros de governos, de todo o mundo, o que, pelo menos para os japoneses, significa um desrespeito para com o parlamento nacional e a opinião pública.
Ainda que, na prática, o senhor Yanagida se tenha limitado a dizer aquilo que todos já sabíamos, ou seja, quando em situações de aperto, nada como ser evasivo nas respostas. No Japão, como no resto do mundo.
E sendo este um dos casos em que dizer a verdade saiu caro, a um político, não resisti a interrogar-me se, sendo a política "a arte do possível", como alguém disse, ela não se estará, também, a transformar na arte da ocultação e da mentira...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DE SOL A SOL






Como prometido, aqui fica uma imagem da capa do livro da Senhora Dona Mariana José de Matos, com o meu profundo agradecimento e reconhecimento.
A Senhora Dona Mariana nasceu na vila de Beringel, concelho de Beja, em 1928, e foi convencida a publicar os seus poemas pelo seu neto, como nos conta no livro.
Aqui vos deixo um dos poemas:

Céu

Olhei o Céu
O Sol
Vi tudo no firmamento
À noite
Vi as estrelas
Assim estive algum tempo
Entreguei-me
Aos sonhos meus
Será naquele Céu...
Que não alcanço
Será ali
Que vive Deus?

5 de Março de 1999

O MEU PROTESTO


A cimeira da NATO, que decorre em Lisboa, entre hoje e amanhã, tem agitado a vida da capital portuguesa e merecido, naturalmente, uma ampla cobertura mediática.
Aproveitar a cimeira para dar a conhecer aos portugueses os objectivos da Aliança Atlântica, parece-me um bom propósito, que corresponde, afinal, ao que deve ser a tarefa dos verdadeiros jornalistas.
Mas utilizar as siglas da Organização do Tratado do Atlântico Norte, (OTAN ou NATO), para confundir alguns portugueses, e explorar a sua ignorância, parece-me uma atitude deplorável, que não abona em favor de quem o faz.
Infelizmente, uma estação de televisão portuguesa não resistiu ao facilitismo e resolveu apresentar, no seu jornal da tarde, uma reportagem com a qual pretendia, não só demonstrar que grande parte dos portugueses não sabem o que significam as siglas, e desconhecem a finalidade da Organização, como também explorar esse desconhecimento, com a agravante de o repórter se ter atrevido a confundir os entrevistados, jogando com as duas siglas.
Quando os jornalistas se queixam, tantas vezes com razão, de que são impedidos de fazer o seu trabalho, ou de o fazerem nas melhores condições, será bom que aproveitem, também, para reflectirem sobre a qualidade do seu trabalho e o seu dever, como profissionais.
É que, afinal, em nome das sacralizadas audiências, não pode valer tudo...
Tenho consciência de que não servirá para nada, mas aqui fica o meu protesto!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

UMA "AVÓ" MARAVILHOSA...


O meu pai costumava referir-se a alguns episódios ocorridos durante a sua vida como "flagrantes da vida real", presumo que influenciado por uma rubrica da velha revista da Reader's Digest, com o mesmo nome.
Ontem, a propósito de algo que me aconteceu no supermercado, voltei a lembrar o meu querido pai e as suas evocações...
Enquanto pagava os produtos adquiridos, abeirou-se da zona dos caixas uma senhora que cumprimentou, de forma efusiva, todas as empregadas, revelando a existência de alguma intimidade.
Ante a pergunta, tão portuguesa, "está boa?", que lhe foi dirigida, respondeu, sem hesitação:
- Eu estou bem, sim, felizmente. Não me queixo de nada.
Mais habituado a ouvir um "mais ou menos" ou "vai-se andando", não consegui deixar de prestar atenção à conversa com referida senhora, cuja jovialidade contrastava com a idade que aparentava, enquanto ela acrescentava que não tinha paciência para queixas e lamurias e lamentava o facto de nós, portugueses, que temos a felicidade de viver num país extraordinário, nos queixarmos, permanentemente, de tudo.
Não resisti e meti conversa, dando-lhe os parabéns pela sua atitude, tão pouco comum entre nós.
Depois de me dizer o seu nome e acrescentar que tinha um filho da minha idade, e um neto, que adora, referiu os seus 82 anos, que a sua aparência física, destreza e jovialidade, estavam muito longe de evidenciar.
Surpreendentemente, e quando me despedia, com dois beijinhos, a Senhora Mariana José de Matos virou-se para mim e disse:
- Sabe, já fiz tudo o que era minha obrigação fazer. Tive um filho, plantei uma árvore e escrevi um livro. E tenho aqui uma cópia, que era para oferecer a uma amiga, mas é com o maior gosto que a ofereço a si.
Primeiro, estupefacto, depois, comovido, aceitei e agradeci a gentileza e generosidade, lamentando não ter ali nada de meu para lhe oferecer em troca, a não ser o meu respeito, consideração e enorme gratidão.
Anotei os seus telefones e disse-lhe que não deixaria de publicitar o que aconteceu.
Despedi-me, desejando-lhe as maiores felicidades, muita saúde e longa vida, e aqui estou, como prometido, a publicitar o seu livro de poesias, "De Sol a Sol", editado em 2001 pela Junta de Freguesia de Santa Isabel, em Lisboa, e a prestar-lhe esta singela homenagem.
Obrigado, Senhora Dona Mariana Matos!
E talvez porque me fez recordar a minha avó Rogélia, que teria comemorado mais um aniversário no passado dia 7 de Novembro, senti-me invadido por uma complexa mistura de sentimentos...

PS: Infelizmente, não me é possível colocar aqui, como gostaria, uma fotografia do livro da Senhora Dona Mariana Matos, o que prometo fazer, logo que possa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS...


Porque me parece uma perspectiva interessante, sobre o papel do actual Presidente da República, nesta crise, candidato a novo mandato, passo, sem mais comentários, a reproduzir o artigo que Miguel Sousa Tavares publicou no semanário Expresso, no passado dia 30 de Outubro.

Mais cinco anos para quê?

Miguel Sousa Tavares (www.expresso.pt)
0:00 Quinta feira, 4 de Novembro de 2010

O problema com o candidato Cavaco Silva é que ele nem sequer pode, no limite, usar o argumento do candidato Tiririca, no Brasil: "vote em mim, pior do que está não fica". É que estamos bem piores agora do que estávamos há cinco anos.
Acho que raras vezes assisti a um discurso político tão vazio de ideias, tão pouco mobilizador e tão destituído de alguma forma de grandeza como aquele com que Cavaco Silva anunciou ao país o que o país já sabia desde sempre: que quer mais cinco anos em Belém. Se a ocasião era para explicar as razões dessa vontade, a única coisa que ficou clara foi o desejo pessoal de continuar onde está. Mas isso já eu sabia desde o dia inaugural de Cavaco Silva como Presidente, quando Rui Ochôa fez aquela inesquecível fotografia de toda a família Cavaco Silva subindo a rampa do palácio para tomar posse dele: era o instantâneo de uma ambição longamente perseguida e, enfim, satisfeita.

Não vem mal ao mundo que os políticos gostem de exercer o poder para que foram eleitos: piores são os que dizem que não gostam. Mas também deviam, por pudor democrático, explicar ao que vêm e porque hão-de os eleitores igualmente ficar contentes ou esperançados quando eles são eleitos. Quando Cavaco Silva diz que se candidata em nome do futuro e da esperança, convém parar para pensar no assunto. Nos últimos vinte e cinco anos, desde 1986, ele ocupou por quinze anos o cume do poder, apenas tendo de se submeter a um interregno de dez anos, esperando que Jorge Sampaio terminasse os seus dois mandatos - pois que, desde 1926, não há memória de Presidente algum ter deixado de cobiçar e obter tantos mandatos consecutivos quantos Salazar ou a Constituição de 76 lhes permitiram.

Nesses longos quinze anos de poder que já leva, Cavaco Silva passou dez como primeiro-ministro e dispôs de condições únicas e irrepetíveis: maiorias absolutas, paz social, dinheiros europeus a perder de vista. Não vou agora fazer o diagnóstico desses anos, limitando-me a recordar que, quando ele saiu, disse e escreveu que tinha feito todas as "reformas da década" e do futuro: da justiça, da educação, do fisco, da saúde, do financiamento da segurança social, da habitação, das Forças Armadas, das empresas públicas, da flexibilização do mercado de trabalho e das finanças públicas. Palavra de honra que é verdade: ele garantiu que tinha feito tudo isto. E, como bem sabemos, nada disso estava e está feito - e por isso é que chegámos à beira do precipício.

Nestes cinco anos que leva de mandato presidencial, Cavaco Silva recebeu um país com problemas sérios e entrega ao julgamento dos eleitores um país à beira da falência, e não apenas financeira: também económica, social, educacional, jurisdicional, moral. Ficou quieto e calado quando o primeiro governo de Sócrates (o único a que se pode chamar governo), teve de impor a sua reforma do financiamento da Segurança Social aos sindicatos (a única reforma de Sócrates conseguida); falhou com a solidariedade devida quando Sócrates tentou tímidos passos, logo derrotados, para um princípio de reformas no ensino, na saúde ou na justiça. Quando Cavaco tomou posse, a justiça, por exemplo, era governada pelas respectivas corporações de magistrados: hoje, é governada pelos sindicatos representativos delas e o procurador-geral da República, cuja nomeação pertence ao Presidente, compara-se a si próprio à rainha de Inglaterra e é enxovalhado publicamente pelos subordinados que é suposto dirigir. Alguém escutou alguma palavra sobre isso a Cavaco Silva?

Invoca a sua autoridade de professor de Finanças para dominar bem esses assuntos, mas de que serviu ao país, nestes cinco anos, o seu doutoramento acerca das consequências da dívida pública? Diz que avisou o país e é mais ou menos verdade. Mas fê-lo muito depois de muita outra gente, demasiado tarde e sem coragem para dizer o que era necessário ser dito. Ficou igualmente calado quando viu o Governo enfiar-se no buraco do BPN (onde estavam tantos amigos seus) - e que já custou ao país, até agora, exactamente o mesmo que vamos ter de cortar no défice para o ano que vem; falou elipticamente sobre o desvario dos TGV, pontes, aeroportos e auto-estradas para ninguém, mas não dei por que se preocupasse em nada com a conta acumulada do desastre das parcerias público-privadas, onerando as finanças públicas das gerações que se seguem; deixou que o Governo escondesse a dimensão da derrapagem das contas de 2009 para não perder as eleições e agora, para não perturbar a sua própria campanha eleitoral, ficou calado e quieto até isso se tornar insustentável aos olhos de todos, na esperança de que Passos Coelho acabasse por lhe fazer o favor de aprovar o orçamento - um qualquer, que lhe permita entrar em campanha tranquilamente. Infelizmente, desde o primeiro dia até hoje, a mim, pelo menos, Cavaco Silva deixou-me sempre a sensação de estar a trabalhar diariamente para a reeleição. Exemplo extremo disso foi a lei do casamento homossexual, que ele promulgou para conquistar votos à esquerda, não se importando, para tal, de trair o seu eleitorado, as suas próprias ideias e até o sentido político da eleição do Presidente por sufrágio universal. E eu, que até defendi a lei, fiquei estarrecido com o despudor da pífia justificação que deu para a promulgar - um texto que devia ser estudado nas escolas, como exemplo de tudo aquilo que a política não deve ser.

Disse agora o candidato Cavaco Silva que só após "profunda reflexão" é que decidiu recandidatar-se. Todos sabemos que não é verdade e a prova disso é que ele nem se deu ao trabalho de adiantar uma só razão capaz de levar as pessoas a acreditar que os seus próximos cinco anos serão diferentes dos cinco anos passados. Diz que, depois da "magistratura de influência", vai ter uma "activa" (coisa que não se percebe o que seja ao certo, mas que parece fácil de anunciar agora). Escutando o seu discurso com muita atenção, cheguei à conclusão de que, segundo o próprio, só há duas razões para Cavaco pedir e justificar um segundo mandato: a primeira é porque, ao contrário do que eu sempre imaginei, o cargo é "particularmente exigente"; e a segunda, é porque ele é um homem notável.

O cargo é particularmente exigente, por exemplo, porque já lhe exigiu visitar 200 concelhos; porque o obriga a "uma grande capacidade para acompanhar os assuntos complexos das FA (para os quais jura estar bem preparado pela tropa feita em Moçambique, há cinquenta anos); porque tem de analisar e assinar os diplomas do Governo, "uma tarefa de grande responsabilidade, que exige um conhecimento profundo dos assuntos e uma grande disponibilidade de trabalho" (os tais jipes de diplomas que ele se queixa de ter de levar para férias); porque é preciso, como ele, "conhecer muito bem a situação económica" e ser, como ele, "uma personalidade respeitável e credível".

E quem, se não ele, poderia hoje estar em condições de assumir tão difícil tarefa? Quem, como ele, tem tão grande "visão de futuro", tão "elevado grau de exigência ética", quem é "tão avesso a intrigas políticas e partidárias", quem tem igual "honestidade, rectidão, e respeito à palavra dada", quem não permitiria, como ele, que "a função presidencial seja instrumentalizada por quem quer que seja" (e a inventona das escutas de S. Bento a Belém, congeminada entre o seu assessor de imprensa e o "Público"?)?

O seu grande trunfo eleitoral são, pois os auto-elogios que tão generosamente dedicou a si próprio. Nada mais: não teve uma palavra sobre o país, sobre os tempos que se vivem, sobre o que terá de ser feito e o que não pode continuar a fazer-se. Não expôs uma ideia, um pensamento, um simples desejo político - aos costumes disse absolutamente nada. É nisto, então, que temos de acreditar: que o cargo é terrível, mas, felizmente, o homem ao leme é excepcional. Assim como temos de acreditar que, embora tudo tenha andado para trás e com a sua bênção, as coisas estariam bem piores não fossem a sua (mal aproveitada) "magistratura de influência" e os seus "discretos esforços" - tão discretos que ninguém deu por eles.

O problema com o candidato Cavaco Silva é que ele nem sequer pode, no limite, usar o argumento do candidato Tiririca, no Brasil: "vote em mim, pior do que está não fica". É que estamos bem piores agora do que estávamos há cinco anos. E, por isso, não podendo vangloriar-se do passado, ele anuncia-se candidato "em nome do futuro". Agora, ele vai ser "activo". Mas, agora, como escreveu Cesare Pavese, talvez estejamos já mortos e não o saibamos.

Nota: Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Texto publicado na edição do Expresso de 30 de outubro de 2010

UM ARTIGO A NÃO PERDER...


Como já aqui afirmei, por diversas vezes, sou um confesso admirador da escrita de Miguel Sousa Tavares.
Pela sua actualidade e importância, permito-me transcrever o artigo publicado no Semanário Expresso, do passado dia 6 de Novembro, sem mais comentários...

Chega de ilusões e de tremendismo!

Miguel Sousa Tavares (www.expresso.pt)
0:00 Quinta feira, 11 de Novembro de 2010
Uma crise é sempre uma grande oportunidade para aprender lições: não interessa vencê-la se não aprendermos nada e logo voltarmos a cair noutra

Na vida das nações, como na vida das pessoas, as emergências têm de ser resolvidas segundo uma ordem eficaz de prioridades. Nós estamos numa emergência e a prioridade agora não é chorar sobre o leite derramado nem sequer entrar no jogo das culpas. De há uns vinte anos para cá, todos os governos têm culpas e quase todos nós também temos. Começa a ser cansativo ouvir agora tantos economistas - que, com raras excepções, estiveram calados vendo o monstro do despesismo e da dívida pública a acumular-se - a prometerem nada mais do que infinitos cenários de catástrofe. E chega a ser penoso ver o Presidente da República - depois de cinco anos de confortável acomodação, interrompida apenas esporadicamente por oblíquos avisos sotto voce - agora desabafar no Twitter ou no Facebook, como qualquer blogger desses que botam abaixo tudo o que vêem pela frente. Se há coisa que agora me irrita mais do que tudo são estas autodeclaradas virgens da política, fingindo que nestes vinte anos não estiveram lá, não tiveram responsabilidades nenhumas, não se confundem com 'eles'.

Não: queremos e precisamos de mais e melhor do que isso. Queremos atacar a crise e vencê-la, não baixar os braços, sem chegar a ir à luta. No meio do pessimismo, da descrença e das recriminações mútuas em que temos vivido nos últimos meses, existe ainda outro país, que trabalha, investe, cria, inventa, renova e não baixa os braços. Um país que ainda conta com trabalhadores que têm orgulho em trabalhar e não em meter baixa ou instalar-se no subsídio de desemprego; um país que ainda tem investigadores que apostam em ficar cá, músicos, arquitectos, artistas, que querem subir por si e não pela via dos subsídios; um país que ainda tem empresários que gostam do risco e investem o seu dinheiro e criam riqueza, não se limitando a aproveitar a crise para despedir e aumentar facilmente os lucros ou continuar a viver à conta e na expectativa dos contratos com o Estado, obtidos com caixas de robalos ou 'almoços de trabalho'. Esse Portugal - se o deixarem, se o não esmagarem com burocracias, indiferenças, desconfianças e todas as outras artimanhas com que desde sempre a mediocridade tentou minar o mérito - é o que nos vai tirar daqui, deste buraco, e devolver-nos a esperança perdida e o orgulho de que há muito abdicámos.

Mas as coisas têm prioridades. Nós vivemos à conta há tempo de mais, e um povo sério não gosta de viver à conta. Criámos um país de 'direitos adquiridos', onde todos se acham com direitos e ninguém reconhece deveres. Para satisfazer essa indolência moral, criámos um Estado que a todos acorre, tudo garante e tudo paga. Esse Estado, obviamente, não é sustentável nem é eticamente justo. Agora sabêmo-lo, ninguém de boa-fé pode dizer que não sabe. Agora, chegou a conta do merceeiro, a quem há anos pedimos fiado, e não há dinheiro para a pagar. Como não há dinheiro, como não produzimos o suficiente para pagar as contas do que gastamos, a solução é a clássica armadilha de pedir dinheiro emprestado para pagar dinheiro emprestado. Só que os juros são cada vez mais caros e a dívida vai aumentando todos os meses - até chegar ao ponto, a que já chegámos, em que parte substancial da riqueza produzida serve apenas para pagar juros... e manter a dívida. Não restam muitas dúvidas de que José Sócrates tem razão quando diz que não há razões económicas que justifiquem a dimensão da chamada crise da dívida soberana entre o clube dos PIGS da Europa, de que temos a desdita e a vergonha de fazer parte. É evidente que os celebérrimos 'mercados' são apenas um bando de abutres especuladores, contra o euro ou contra países vulneráveis escolhidos a dedo, que tiram todo o partido que podem da situação. É evidente que, quando tudo isto estiver resolvido, de uma forma ou de outra, o mundo vai ter de encontrar medidas para pôr termo a esse poder sinistro dos especuladores financeiros (que nos lançaram na crise e se aproveitam dela), que roubam o trabalho das pessoas, a poupança das famílias, a riqueza das nações. Ou o fará ou o capitalismo - tal como o conhecemos, fundado nas leis de 'verdade' do mercado - tem os dias contados.

Mas isso não invalida que nos tenhamos posto a jeito, e é sabido que os abutres só atacam os animais doentes ou mortos. A Espanha deixou crescer um cancro corrosivo formado pela especulação imobiliária, que só podia acabar mal; a Irlanda alavancou todo o seu tão apregoado milagre económico num sector financeiro cujos lucros sempre crescentes não tinham sustentação no crescimento real da economia e, quando estoirou, foi a economia que teve de pagar os crimes da finança; a Grécia capitulou perante as reivindicações incomportáveis dos sindicatos e, para as acomodar, pura e simplesmente falsificou as contas públicas para enganar a Europa, gastando o que não tinha; e Portugal deixou que a sua antiquíssima crença na omnipresença e omnipotência do Estado criasse uma clientela de dependentes incomportável e sugadora de metade da riqueza do país.

Foi isso que nos trouxe até aqui e é por isso que, neste momento, não havia alternativa senão engolir um orçamento de que ninguém pode gostar e que todos sabem que, se correr bem no seu objectivo único - controlar o descontrolo do défice - vai adiar outra vez e por mais uns largos anos a nossa eternamente adiada aposta num desenvolvimento económico a nível europeu. Mas, como explicou Manuela Ferreira Leite, melhor do que todos, não havia alternativa: era isso ou a falência a curto prazo. Há quem defenda antes a falência e há quem não queira saber do simples facto de todas as semanas termos de pedir dinheiro emprestado para continuarmos a funcionar: pode ser que a justificação tenha algum sentido racional ou económico (que não ideológico), mas ainda ninguém o demonstrou. Ainda ninguém nos disse como seria a alternativa - para o Estado, para as empresas, para as famílias - se, para o ano que vem, em lugar de um défice de 4,6% previsto neste orçamento, continuássemos a manter um défice real de 8%, como neste desgraçado ano que nunca mais acaba.

Portanto, a ordem das prioridades é esta: descer o défice em 2011, em 2012, em 2013 e até quando for preciso, para atingir, não os 3% de Maastricht, mas os 0% - ou seja, até atingirmos o ponto em que viveremos apenas com aquilo que temos; depois, começarmos a pagar a dívida acumulada, a factura das PPP, tudo o que levianamente andámos a chutar para as gerações seguintes; e, finalmente, começar a desmantelar tudo o que há de supérfluo, de inútil e de irresponsável financeiramente no Estado que construímos, para que o país seja sustentável, para que desçam os impostos e se possa premiar quem merece, salvaguardando o 'Estado social' para os que verdadeiramente necessitam e o justificam e que temos capacidade de pagar sem matar a economia. A seguir a isso, e se houver interesse em tal, os 'politólogos' ou os historiadores vão ter farta matéria de estudo para apurarem ao certo quem, quando e como foi responsável por estes anos perdidos, todas estas oportunidades desperdiçadas, tanto dinheiro mal gasto.

Mas, para já, só nos resta sobreviver e aprender a lição. Uma crise é sempre uma grande oportunidade para aprender lições: não interessa vencê-la se não aprendermos nada e logo voltarmos a cair noutra. E só há uma maneira de o fazermos: falar verdade, falar toda a verdade. Dizer o que muitos não gostam que seja dito e o que outros têm medo de dizer. O tempo das promessas impossíveis já lá vai.



Nota: Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Texto publicado na edição do Expresso de 6 de novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

COIMBRA E O SEU ENCANTO...


A pretexto da inauguração de uma nova sala de espectáculos, o Theatrix, passei mais um fim-de-semana em Coimbra, em casa dos meus amigos António e Zé Preto, anfitriões inexcedíveis nas suas atenções para comigo.
Ao longo dos últimos anos da minha vida, cada deslocação a Coimbra traduziu-se, sempre, em belos momentos de alegria e boa disposição, na companhia de vários, e bons, amigos, e esta não fugiu à regra.
Desde a visita inicial ao Gilinho, até ao "Still Is", com passagens obrigatórias por casa dos pais da Zé, para um excelente jantar, pelo "Piolho" e a inauguração do Theatrix, tudo esteve excelente e merece ser recordado.
Pena foi que a Briosa não tivesse conseguido um resultado positivo, frente ao Sporting, o que teria permitido juntar o útil ao agradável, mas a ida ao estádio foi, como é de costume, outro dos momentos altos da estadia.
Estádio de Coimbra que tem, agora, o interesse adicional de se situar aí um novo escritório de advogados, de que a minha amiga Zé é sócia, e que está lindíssimo.
Uma nota menos agradável foi a ausência do Luís Borges, o nosso Silvinha, que resolveu, numa péssima noção dos "timings", ausentar-se para New York. Mas diz quem presenciou, que já se penitenciou muito por isso...
Pela minha parte, fica a "ameaça" de retornar em breve, tanto mais que, como diz o meu amigo António, tenho o quarto pago ao mês...
Mas ontem, quando deixava Coimbra, não pude deixar de recordar a célebre frase, "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida", para concluir, rapidamente, que, afinal, não é bem assim.
A sempre bela e encantadora cidade de Coimbra, na verdade, continua a conservar todo o seu encanto, mas na hora da despedida, não é ele quem sobressai, mas a recordação e a saudade dos amigos.
Sinto-me, e sei que sou, um verdadeiro privilegiado, por ter tão bons amigos Coimbrinhas, a quem envio um grande abraço e quero agradecer a amizade e carinho com que sempre me distinguem.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

UM VEADO NO BAR...


"Veado invade bar nos EUA(...)".

A notícia vem dos Estados Unidos, da cidade de Bluffton, no estado de Ohio, e chegou-me através da página da globo.com,
(http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia), acompanhada de fotografias, entre as quais a que acima reproduzo.
Antes de ver as fotos, a minha reacção foi de admiração, já que eles são cada vez mais e, que me conste, frequentam, diariamente, os bares das mais diversas cidades do mundo. Mas enfim...
Relutante, continuei e leitura e percebi.
Afinal, trata-se de um veado dos autênticos, pelo que é perfeitamente justificável o destaque que lhe foi conferido.
É que os outros, aqueles em quem eu inicialmente pensara, começam a ser tantos e são tão omnipresentes, que deixou de se justificar a importância que lhes dão...

sábado, 6 de novembro de 2010

A LUZ DE LISBOA


Por exigência profissional e forte desejo pessoal, tenho viajado bastante, ao longo da vida.
Em consequência, já tive ocasião de conhecer cidades encantadoras, desde a majestosa Paris, à maravilhosa cidade de Rio de Janeiro.
Na impossibilidade de as citar a todas, lembro Londres, Madrid, Estocolmo, Viena, Buenos Aires, Hong Kong, Banguecoque ou São Paulo, como cidades fascinantes, mas em todas as que visitei, e foram muitas, encontrei motivos de fascínio e encantamento.
Sou de opinião que todas as cidades, tal como os países, têm o seu encanto. Todas, sem excepção.
E acredito até que, a imagem que guardamos de uma cidade ou de um país pode ser muito influenciada pelo nosso estado de espírito, no momento da visita, ou pelas incidências da própria viagem.
No que me diz respeito, tenho a perfeita noção que os incidentes ocorridos durante uma viagem a Moscovo e Leninegrado (hoje São Petersburgo), influíram, negativamente, na imagem que delas guardei, o mesmo tendo sucedido quando da minha primeira viagem a Nova Iorque.
Seja como for, tenho-me educado no sentido de procurar o melhor de cada cidade e de cada país, que tenho o privilégio de visitar, na certeza de que todos têm os seus encantos e desencantos, evitando fazer comparações desnecessárias e injustificáveis.
Tenho para mim que todas as comparações são odiosas e, apenas a título de exemplo, considero incompreensíveis e inconsequentes muitas das comparações que vejo fazer entre Lisboa e o Porto, cidades que, apesar de diferentes, são ambas belas e encantadoras, ainda que cada uma à sua maneira.
Adoro a maioria das cidades do meu País, de Faro a Vila Real, em Trás-os-Montes, com passagem por Évora, Portalegre, Santarém, Coimbra, ou Braga, apenas para citar algumas, todas belas e com enorme charme.
Mas devo confessar que Lisboa, que considero uma das mais belas cidades do mundo, é a minha favorita. Pela sua beleza natural, pela simbiose entre passado e presente, pelo seu charme, por tantos outros atributos, comuns a todas as nossas cidades, e pela sua inconfundível luminosidade.
E esta madrugada, quando regressava a Lisboa e se iniciava mais um glorioso dia de sol de inverno, tive a felicidade de rever a luminosidade de Lisboa, em todo o seu esplendor, e de assistir ao amanhecer, a partir da margem desse rio encantador que é o Tejo.
E em presença dos principais atributos que tornaram Lisboa fonte de inspiração de tantas obras de arte, lamentei não ser poeta e não saber pintar...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A SER VERDADE...


Sem aduzir qualquer comentário, passo a reproduzir cópia de uma mensagem que me foi enviada por um amigo.
Aproveito para esclarecer que não faço a mínima ideia se o programa existe, mas a credibilidade que me merece a pessoa que me enviou leva-me a crer que sim.
O resto, deixo à consideração de cada um...

"Chama-se "Agora é que conta", passa na TVI" e é apresentado por Fátima Lopes. O programa começa com dezenas de pessoas a agitar uns papéis. Os papéis são contas por pagar. Reparações em casa, prestações do carro, contas da electricidade ou de telefone. A maioria dos concorrentes parece ter, por o que diz, muito pouca folga financeira. E a simpática Fátima, sempre pronta a ajudar em troca de umas figuras mais ou menos patéticas para o País poder acompanhar, presta-se a pagar duzentos ou trezentos euros de dívida. "Nos tempos que correm", como diz a apresentadora - e "os tempos que correm" quer sempre dizer crise - , a coisa sabe bem. No entretenimento televisivo, o grotesco é quase sempre transvestido de boas intenções.
Os concorrentes prestam-se a dar comida à boca a familiares enquanto a cadeira onde estão sentados agita, rebolam no chão dentro de espumas enormes ou tentam apanhar bolas de ping-pong no ar. Apesar da indigência absoluta do programa, nada disto é novo. O que é realmente novo são as contas por pagar transformadas num concurso "divertido".
Ao ver aquela triste imagem e a forma como as televisões conseguem transformar a tristeza em entretenimento, não consigo deixar de sentir que esta é a "beleza" do Capitalismo: tudo se vende, até as pequenas desgraças quotidianas de quem não consegue comprar o que se vende.
Houve um tempo em que gente corajosa se juntava para lutar por uma vida melhor e combater quem os queria na miséria. E ainda há muitos que não desistiram. Mas a televisão conseguiu de uma forma extraordinariamente eficaz o que o séculos de repressão nem sonharam: pôr a maioria a entreter-se com a sua própria desgraça. E o canal ainda ganha uns cobres com isso. Diz-se que esta caixa mudou o Mundo. Sim: consegue pôr tudo a render. Até as consequências da maior crise em muitas décadas.

Entretanto a apresentadora recebe 40.000€ por mês. Foi este o valor da transferência da SIC para a TVI. Uma proposta irrecusável segundo palavras da própria.".

AS NOTÍCIAS DO NOSSO DESCONTENTAMENTO...


Qualquer observador externo, que decida analisar o que lê, e ouve, em Portugal, não poderá ficar indiferente ao clima, profundamente depressivo, em que o país se encontra mergulhado.
Não falo das dificuldades, que são reais e de todos conhecidas, mas sim da total ausência de esperança, subjacente ao discurso político das oposições e ás notícias da comunicação social.
Estranharia, seguramente, esse observador, que, por exemplo, num país onde os licenciados não abundam, contrariamente à propalada ideia de que existem doutores a mais, pudesse surgir tanta gente a opinar sobre a evolução da Economia ou a qualidade da proposta de Orçamento Geral do Estado, para 2011.
Mas nós somos assim, como tão bem se apercebeu a célebre Tia Georgina, do saudoso Raul Solnado, que tinha "a mania de dizer coisas".
Política à parte, não é difícil compreendermos que a situação económico-financeira em que o país se encontra tem raízes profundas, não foi gerada pelos últimos anos de governação, e está intimamente relacionada com a nossa elevadíssima vulnerabilidade externa e fraca competitividade relativa. Mas enfim, deixemos os profissionais da Economia tratar disso, até porque eu, apesar de ser economista, me sinto um ignorante face a tudo o que leio e oiço...
Voltando ás notícias e ao observador externo, e para que não pensem que é má vontade, da minha parte, deixo, para vossa apreciação e sem mais comentários, os títulos de alguns jornais portugueses, de hoje, tal como disponibilizados pela "jornaiserevistas.com", no seu resumo diário de imprensa.
E se alguém, no seu perfeito juízo, acreditar que, com este clima, é possível mobilizar os portugueses para a enorme tarefa que é a de modernizar e desenvolver o país, só me resta voltar a lembrar Raul Solnado e desejar-lhe que faça o favor de ser feliz.

Diário de Notícias
Mercados acentuam desconfiança
Merkel diz que novas regras "vão morder"
Portugal vende hoje mil milhões de dívida
Sócrates insiste no TGV suspenso no acordo com o PSD
Teixeira dos Santos afasta 'ilusão' da renegociação do défice


Correio da Manhã
Boliqueime: Carro despista-se
Agride bombeira que assistia mãe
Kate McCann: Petição por Maddie
Lisboa: Choque com dois feridos
Lumiar: Atropelada por táxi


Público
Ambiente de tensão entre Governo e PSD com TGV a ameaçar 2011
As quatro ideias que Sócrates diz que o OE tem, mas que não convencem a oposição
Man Ferrostaal admite repor 4,8 milhões de euros da garantia
E se em vez do carro e do avião, o Estado usasse a videoconferência para reuniões?
Políticos e gestores públicos obrigados a declarar património sempre que este aumente 23.750 euros


Jornal i
Submarinos. Procuradora confirma relacionamento amoroso em tribunal
Complexidade. Só três juízes em todo o país estão em exclusividade num processo
Saúde promove 43 funcionários e despromove-os após notícia
Orçamento. PSD jura que não volta a dar "a mão" ao governo
Se o amor está no metro, grupo no Facebook ajuda a reencontrá-lo


Jornal de Notícias
Eleições nos EUA ainda sem vencedor declarado
Benfica vence Lyon mas apanha susto
Buraco nas contas pode ser apenas de 140 milhões
Banca teve lucros de 4 milhões por dia
Justiça perde quatro anos a decidir destino de casaco velho


Diário Económico
Orçamento é hoje aprovado na generalidade
Miséria
Lucros da banca sobem 5% com aumento das comissões
Dilma garante câmbio flutuante e combate ao dumping
Benfica derrota Lyon por 4-3

Jornal de Negócios
Debate do Orçamento: "Afinal de quem é a culpa?"
Cavaco diz ver com "muita apreensão" desprestígio dos políticos
Martifer vende participação na EDP por 40 milhões
Acções da PT negoceiam 50% acima do preço da OPA da Sonae
Bolsas ibéricas estão "extremamente subavaliadas"

terça-feira, 2 de novembro de 2010

LIGUEM AO BARROSO...


O fim-de-semana, prolongado, dera-me, aparentemente, um novo ânimo para enfrentar uma semana que se sabia, à partida, ser dominada por más notícias e previsões catastróficas para a economia e o país.
Aparentemente, digo bem, porque me bastou a leitura do editorial, no jornal i, para voltar a cair no profundo estado de letargia em que me encontrava.
Não há salvação!
Desde logo porque Carlos Ferreira Madeira me pede para imaginar uma reunião com Barroso, Sarkosy e Merkel, o que é exigir demais, para um cidadão deste cantinho à beira mar plantado, que já se vê em palpos de aranha para imaginar uma reunião entre Coelho e Sócrates.
Mas o pior estava para vir...
Discorrendo sobre discordâncias de método mas acordo nos princípios (onde é que eu já terei visto este filme?), Ferreira Madeira avança para o Tratado de Lisboa e o Pacto de Estabilidade e Crescimento, para concluir que, mais dia menos dia, o país entrará em incumprimento e os mecanismos de salvação que ajudaram a Grécia já não estarão disponíveis para os troianos que nós somos.
Caramba, senti cá um arrepio...
Abatido, respirei fundo e ganhei coragem para continuar a leitura.
Como se não bastasse de desgraças, Madeira afinfa-lhe, sem se deter, com o Orçamento de Estado para 2011, que considera mau, ou péssimo, e informa-me que o pior está para vir.
Perdi o fôlego...
Respirei fundo, tomei uma água, e reganhei alento para continuar.
Pumba! Somos o 9º país com maior risco da dívida soberana, bem sei que é baseado no mercado dos "credit default swaps", mas ainda assim, a dívida já ultrapassa os 200% do PIB, a confiança bateu no fundo e não há margem para crescimento económico.
Faltou-me o ar, e parei...
Fui à janela e enchi o peito de ar. Caramba, nem o tempo ajuda, pensei...
Quase refeito, embora cambaleante, obriguei-me a terminar a leitura.
Catrapuz! "A insolvência do país vem aí. Só não se sabe quando".
Madeira acabara de me dar o golpe final.
Já nem a tanga do Barroso, aquele que ele pede para imaginar na reunião, nos resta. Só umas alparcatas rotas e comidas do sol, compradas, em bom tempo, com um subsídio comunitário destinado à Formação...
Pensei em desistir e começar a ler livros sobre a falência dos países. Quem sabe aí encontro alguma solução que possa servir ao nosso caso.
Mas resolvi deixar isso para mais tarde e, num derradeiro esforço, continuei a leitura.
Aleluia! Graças a Deus, afinal, "Portugal não acaba"!
Caramba, também podia ter dito mais cedo. Este tempo todo a convencer-me de que sim e afinal parece que não. Não há direito. Não se faz. Quase me matava do coração. Sim, que eu sou cardíaco e tenho que ter cuidado com as emoções fortes.
Aliviado, decidi prosseguir.
Ora bolas! Vamos ter de "recomeçar do zero". Até as alparcatas vamos ter que devolver. Nem com uma sunga, daquelas muito curtinhas, nova moda para o Verão masculino, podemos ficar. Zero!
Senti-me arrasado. Pobre ainda vá que não vá, mas sem nada?
Voltei à janela, para apanhar ar. Sentia-me desvanecer, mas consegui arribar.
Ganhei coragem, e continuei.
Finalmente, lá estava a solução. "vamos precisar de novo mecanismo europeu" e de "telefonar" a Merkel, Sarkosy e...Barroso.
Caramba, podia ter dito logo. Não se faz uma pessoa sofrer assim, por causa do custo de uma chamada internacional. Bem sei que estão caríssimas, mas mesmo assim.
Enfim, o importante é que há salvação, pensei. É que cheguei a temer o contrário e já me imaginava como um palestiniano, lutando pela reconquista de um Portugal desaparecido. Mas Deus é grande!
Aliviado, voltei a ler a solução.
E eis que do meu espírito se apoderou uma enorme perplexidade.
Ligar à Merkel e ao Sarkosy, está bem, faz sentido, e como o Sócrates até se dá bem com eles, com uma pequena cunha a coisa ajeita-se. Mas ao Barroso?
A menos que seja para lhe pedir para pagar uma parte da factura que cá deixou, quando decidiu mudar de ares...
Mas a minha capacidade intelectual não me permitia mais esforços.
Fechei o jornal, pedi um segundo café, e comecei a trautear o refrão de uma bela canção brasileira: "você abusou, tirou partido de mim, abusou"...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A PRESIDENTE


Como era esperado, Dilma Vana Rousseff venceu as eleições presidenciais no Brasil, tornando-se na primeira mulher do país a ser eleita presidente.
O seu primeiro discurso foi equilibrado e revelador da influência que o Presidente Lula exerce nela, esperando-se que possa cumprir os compromissos eleitorais assumidos, e reafirmados no seu primeiro discurso, após a eleição.
Em contraste, o candidato derrotado, José Serra, não conseguiu esconder a frustração causada pela derrota, cometendo a deselegância de só fazer o seu discurso depois de Dilma, fazendo uma declaração arrogante e sem muito sentido, para quem acabava de ser derrotado por uma diferença de cerca de 12 milhões de votos.
Posso estar enganado, mas acredito que, politicamente, Serra é o passado, e o próximo candidato a presidente, pelo PSDB, será Aécio Neves, um político de reconhecidos méritos, cuja mensagem de felicitações a Dilma, já indicia, a meu ver, essa sua intenção.
Seja como for, o sucesso de Dilma será o sucesso do Brasil e dos brasileiros, e por isso lhe desejo as maiores felicidades, esperando que a nova presidente prossiga, como fez o Presidente Lula, o aprofundamento das relações com Portugal.