quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

PREPARANDO 2010

Era grande a agitação na aldeia Fé Em Deus.
Davam-se os últimos retoques na preparação da verbena que iria animar a passagem do ano.
As mulheres aguardavam, pacientemente, a sua vez, no salão da France Cabeleireira, para darem um jeito no cabelo, e deixarem aos cuidados da manicura o restauro das unhas, desgastadas pela lida da casa.
No salão, naturalmente, as conversas eram dominadas pelas últimas notícias da moda, o último episódio da novela, e uma, ou outra, coscuvilhice.
Já no Café Central, onde se reuniam boa parte dos homens, o futebol dominava as conversas, embora também se falasse de automóveis e dos atributos físicos das actrizes da nova novela.
O Manecas e o Nando ocupavam a sua mesa habitual, trocando algumas alfinetadas quanto ás perspectivas de evolução dos seu clubes, durante a segunda metade do campeonato.
O padre Manuel, que acabara de entrar, acercou-se deles, para os cumprimentar, e logo foi convidado a sentar-se.
-Faça o favor de se sentar, senhor padre, será um prazer oferecermos-lhe um cafezinho, disse o Nando, enquanto puxava de uma cadeira.
-Obrigado meus filhos, tomei café há pouco, mas faço-vos companhia, com o maior prazer. Como sabem, a minha especialidade não é o futebol, pelo que temo não estar ao nível, para discutir o assunto convosco.
-Pode até nem saber muito de futebol, mas a verdade é que o padre Manuel é um grande treinador de almas, o que já não é pouco, retorquiu o Manecas.
-Sim senhor, ora aí está uma metáfora aplicada no momento certo, e com graça, admitiu o padre.
-O padre Manuel é que não sabe, mas aqui o Manecas está feito um ás nessas coisas. Imagine que, agora, até é poeta, gracejou o Nando.
-Pois muito me contas, meu filho. Poeta? E podem-se conhecer esses poemas, perguntou o padre, surpreso, ao perceber que o Manecas tinha outros interesses, fora da profissão, para além do futebol, e do seu Benfica.
-São coisas menores, padre Manuel, não valem o papel onde são escritas. Na verdade, não passam de um entretenimento de um simples barbeiro.
-Ainda assim, meu filho, tinha muito gosto em poder conhecer o que escreves.
-Anda lá, ó Manecas, saca lá do bloco, e lê, para o senhor padre, o poema que fizeste, sobre o ano novo.
-Isso mesmo, meu filho, faz-me lá essa vontade, insistiu o padre.
-Bem, pois seja, mas não quero que isto se torne num hábito, que a minha profissão é de barbeiro, e não de escritor, que não tenho jeito para tanto.
E lá abriu o seu bloco de notas, um pouco embaraçado, iniciando, pausadamente, a leitura:

Findou-se um ano, e logo outro começa
Como o acto seguinte, numa peça
Só que esta é mais difícil, mais comprida
A estória é mais complexa, mais travessa,
O povo cai, levanta-se, ou tropeça
Ao longo desta longa peça, que é a vida.
Com o novo ano, renovam-se as esperanças
Com sonhos, e desejos, quais crianças
Apesar dos escolhos e das contrariedades
Formulam-se votos, enquanto o tempo avança
Com alguns, poucos, sinais de esperança
Num mundo melhor e respeitador das liberdades.

- Tenho dito, completou o Manecas, como sempre fazia, terminada a leitura dos seus poemas.
-Nada mal, meu filho, nada mal, confesso-me impressionado, positivamente, afirmou o Padre Manuel.
-Foi o que eu lhe disse, senhor padre, para um barbeiro, até que nem está nada mal. Ainda acaba a escrever outro hino para o Benfica, chacoteou o Manecas, que nunca perdia uma boa oportunidade.
-Nem sequer respeitas a presença do senhor padre, meu lagartão de uma figa, ripostou o Manecas, entre sorrisos. Eu respondia-te, mas como estamos em época de concórdia...
-Meus filhos, vocês são muito divertidos, e boa companhia, mas tenho de ir andando.
-Com certeza, senhor padre, responderam, quase em coro, levantando-se, reverentemente. Encontramo-nos logo, na verbena. Feliz Ano Novo!
-Obrigado, meus filhos, feliz final de ano e que o ano de 2010 venha recheado de Paz, Saúde, e Amor, para todos. E tu, Manecas, continua a escrever, que faz bem ao espírito.
-Assim farei, senhor padre, para me entreter.
-Fiquem na Paz de Deus, rematou o padre, enquanto se afastava.
E lá seguiu, a passos largos, na direcção da igreja, com o poema do Manecas Barbeiro na lembrança.
-Quem diria que o Manecas era dado á poesia? A vida é uma caixinha de surpresas...

FELIZ ANO NOVO

Que o Ano de 2010, possa trazer, a todos, mais Saúde, Harmonia, Solidariedade e Paz, são os meus votos.

EM NOME DA PAZ E DOS DIREITOS HUMANOS...



Fui apanhado de surpresa, com as mensagens de Natal, das tropas americanas, no Iraque, transmitidas pela televisão.
As mensagens, em si, nada têm de especial, mas a sua semelhança com aquelas que me habituei a ver, e ouvir, na televisão portuguesa, dos nossos militares, durante a guerra colonial, despertou em mim um sentimento estranho. Afinal, estamos na era da internet e do telefone sem fios...
Á época, era eu um jovem, essas mensagens, numa televisão a preto e branco, despertavam-me um sentimento de revolta, perante a possibilidade de ser obrigado a participar numa guerra que eu não considerava minha, nem via motivos para a sua existência.
Agora, ao ouvir aquelas mensagens, aquela exposição da intimidade, sem sentido, senti reviver em mim o mesmo sentimento de revolta.
Ouvir as mensagens daqueles jovens, a partir de um país que ocuparam, e destruíram, ilegítimamente, em nome de uma mentira, montada pela administração americana, e corroborada pelos seus principais aliados, incluindo o governo português, fez-me recordar os anos da nossa guerra colonial.
O "adeus, até ao meu regresso", com que a maioria dos militares portugueses terminava as suas mensagens, repete-se, cerca de 40 anos depois, na boca das tropas americanas.
Só que para muitos deles não haverá regresso, como não houve para tantos dos nossos...
E se, para muitos portugueses, a manutenção da guerra se aceitava, em nome da defesa dos nossos interesses coloniais, e dos nossos colonos, ao povo americano não resta, sequer, esse consolo.
Em defesa dos seus interesses petrolíferos, ainda que sem o admitir, a administração americana iniciou uma guerra sem sentido, sacrificou a vida de centenas de jovens americanos, e criou um enorme imbróglio naquela região do globo, já de si muito complicada.
E ás tropas americanas, apesar de compostas por voluntários, ao contrário das tropas portuguesas de então, apenas resta a esperança de que a administração Obama ponha fim a uma presença militar sem sentido, e os mande regressar a casa, de onde nunca deviam ter saído.
Quando isso suceder, é possível que se repita aquilo a que assistimos nas antigas colónias portuguesas, com as diferentes facções envolvidas numa guerra fratricida pelo controlo do país, mas as coisas são como são, e não como muitos de nós gostávamos que fossem...
E já vai sendo tempo de nós, ocidentais, deixarmos de pretender dar lições aos restantes povos do mundo, sobre o modo como devem organizar-se, e gerir os seus destinos...
Ao ouvir estas mensagens de Natal, no final desta primeira década do século XXI, uma pergunta invadiu o meu pensamento:
Até quando continuarão, as grandes potências, a fazer a Guerra, supostamente em nome da Paz, e da defesa dos Direitos Humanos?


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

VERSEJANDO...

Era a hora do almoço, e o Manecas Barbeiro tomava a sua bica, no Café Central, escrevinhando no seu bloco de notas.
-Boas, diz o Nando, acercando-se dele. Estás muito caladinho, ó Manecas, o que é que se passa?
-Olá Nando, pelos vistos queres conversa, respondeu-lhe o Manecas, guardando o bloco.
-Eu? Conversa? Nada disso, fiquei foi admirado, por te ver tão caladinho, sentado aqui no canto, escrevendo.
-É verdade, há dias assim...
-E o que escrevias, pode saber-se?
-Nada de especial, versejava, a propósito do novo ano.
-Mais um hino aos lampiões, tá visto.
-Nada disso, coisa bem mais séria, mas, mudemos de tema. Queres um café? Ó Silva, um café aqui pró Nando, que forreta como ele é, se eu não pagar ele não bebe.
-Mas que rico sacaninha me saíste, ó Manecas. Forreta, eu? Até sabes que não é verdade.
-Deixa lá isso, ó Nando, não te amofines. Foi só para mudar de conversa.
-Que era, justamente, o que eu não queria. Podem-se ver, esses versos, perguntou, sem conseguir esconder a curiosidade.
-Poder, podem, mas são coisa sem valor, apenas para passar o tempo, enquanto penso na vida.
-Então venham de lá esses versos, que a gente gosta de conhecer os dotes artísticos dos nossos. Não é verdade, ó Silva?
-O Nando tem razão, ó Manecas. Afinal, de que te servem os versos, se os não leres para ninguém?
-Isto são coisas minhas, um entretém sem qualquer valor. Mas, se vocês insistem, cá vai.
E, abrindo o seu bloco, o Manecas iniciou, compenetrado, a leitura dos seus versos:

Mais um ano que termina
Com festas, e adrenalina
Celebrando um novo ano
Muita festa nos salões
Gente e mais gente, aos milhões
Tudo num perfeito engano
O ano que vai chegar
Pode, até, nos bafejar
Mas nunca será perfeito
Porque para quem nada tem
Nem saúde, nem vintém
Será um ano sem jeito
A Paz, a Saúde, o Pão
Não chegam a todos, não
Frustrando a nossa vontade
E lembrá-lo, nesta hora
Em que o mundo comemora
Tem uma finalidade
Já terminado o Natal
Uma quadra especial
De Paz e Boa Vontade
Lembremos, no Novo Ano
Sem tibieza ou engano
Que sem solidariedade
Aquilo que celebramos
E as coisas que desejamos
São mera trivialidade...

-Tenho dito, acrescentou o Manecas.
-Ó Silva, para um barbeiro, até que nem está nada mal, não senhor, atirou o Nando. Saíste-me cá um poeta...
-Eu já sabia, ler poesia a um farmacêutico, é o que dá. Pérolas a porcos, é o que é...
-Ó Manecas, não ligues. Eu gostei, atalhou o Silva, sempre conciliador.
-Ora muito boa tarde para bocês, disse, bem alto, o Monas Picheleiro, que acabava de chegar. Estabam a discutir mais alguma contratação? Debe ser da época dos saldos, agora chegam aos magotes...
-Ó Monas, tu queres fazer o grande favor de te ires encher de moscas? Atirou, de imediato, o Manecas. Olha, e já agora, enquanto vais, aproveita e paga os cafés, que nós temos que ir trabalhar.
E lá se levantaram, o Manecas e o Nando, com este a dizer-lhe, em surdina:
-Agora estiveste bem, ó Manecas. O Monas nem estrebuchou...
E lá se dirigiram para a porta, ouvindo, distintamente, ao longe, a voz do Monas:
-Ó Silva, desta bez bem me lixaram, aqueles morcões...

TENHAMOS FÉ...

- Bom Dia, siô Manecas, pode ser agora, perguntou o Edson Brasuca, com a jovialidade de sempre.
-Bom Dia, Edson, claro que pode. Senta-te, rapaz, respondeu-lhe o Manecas, apontando para a sua cadeira de barbeiro. Ainda bem que te encontro, pois ando, há dias, para te fazer umas perguntas, a propósito dos jogadores brasileiros que o Benfica comprou.
-Bem, o siô Manecas sabe que eu leio os jornais esportivos daqui, mais como o dinhero não dá pra tv a cabo, não sei muito disso, não.
-Então tu não és flamenguista?
-Sou si siô.
-E o Airton não foi comprado ao Flamengo?
-Foi comprado ao "mengão" si siô.
-E tu não o conheces, nunca o viste jogar, nem uma vez, interrogava o Manecas, deixando transparecer, pelo semblante, uma certa desilusão.
-Para falar a verdade, eu sei quem ele é sim, mas nunca vi ele jogar, a não ser em pequenos resumos que passaram na ESPN-Brasil, quando eu estava de férias. E o siô Manecas sabe como é, num dá pra avaliar jogador por resumo não. Apesar que, se jogou no "mengão", não deve ser mau de bola não.
-É, tens razão, concordou o Manecas, conformado. E os outros ? Ouviste falar dos outros? Do Kardec? Do Éder Luís?
-Desses nunca ouvi falar, não siô. Só sei o que li nos jornais esportivos.
-Mas o Kardec jogou pela selecção brasileira de sub-20, devias conhecer, insistiu o Manecas, já desanimado.
-Sim, siô Manecas, mas o siô sabe como é. A gente, no Brasil, acompanha pouco as outras selecções. O que importa, mesmo, é a selecção principal. É como aqui em Portugal, não é, não?
-É, na verdade, aqui também acontece o mesmo, reconheceu o Manecas, decepcionado com a falta de conhecimento do Edson Brasuca, sobre as novas contratações do Glorioso.
-Sabe sô Manecas, eu até que gosto de futebol, e adoro o meu "mengão", mas não tenho o hábito de torcer por nenhum clube português, não. Mas agora, com mais três brasileiros no time, acho que vou passar a torcer pelo Benfica, mesmo. É o time mais brasileiro de Portugal, depois do Nacional da Madeira, eu acho.
-Ora até que enfim que dizes qualquer coisa de jeito, ó Edson. E fazes muito bem em torcer por nós, que o Glorioso vai ser campeão este ano.
-Isso eu não sei não, mas que vou passar a torcer, eu vou sim.
-Bem, está bom assim, ou queres que corte mais um pouco, perguntou o Manecas, ajeitando o espelho, para que o Edson pudesse ver o cabelo, aparado, na nuca.
-Está perfeito, siô Manecas, beleza.
O Edson Brasuca, levantou-se, pagou o corte, e, preparando-se para sair, disse:
-Desculpe se não fui de maior utilidade, siô Manecas. Mas vou tentar saber, por meus primos, se os caras são bons de bola, mesmo. Depois eu conto pro siô.
-Obrigado Edson, és um excelente rapaz. Sempre simpático e bem disposto. Vou aguardar as tuas notícias.
-Pode deixar, siô Manecas, pode deixar.
E lá se foi, a caminho do Café Central, onde o esperava mais um dia de trabalho.
Já o Manecas, enquanto arrumava os pentes, e o secador, pensava, com os seus botões:
-Bem, se o Jesus os escolheu, é porque devem ser bons. O Edson só não os conhece porque está longe, não acompanha... Deus queira que sejam bons... Tenhamos fé...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

PONGOLLE


-Bom dia, Nando, tens Pongolle?
-Bom Dia, Manecas. Pongolle, para que raio é isso, questionou o Nando, tentando lembrar-se se tinha, em "stock", algum medicamento, com esse nome.
-Ai tu não sabes? Que raio de farmacêutico me saíste. Acho que é um remédio para reforçar o meio campo, fabricado em França, vendido a Espanha, mas que não deu muito bom resultado, e foi exportado para Portugal, lá para as bandas de Alvalade, explicou o Manecas, rindo a bom rir.
-Mas que grande safardana me saíste. Está um homem descansado, no seu trabalho, e vem este lampião, de uma figa, dar-lhe cabo do juízo, retorquiu o Nando.
-Que raio de lagarto és tu, que nem sabes o nome dos teus jogadores. E olha que este nem tens desculpa, que tem nome de medicamento...
-É para ajudar a tratar-vos da saúde...
-Ou a vocês, que estão bem precisados. Não vos bastava os coxos que lá têm, ainda foram buscar o João Pereira, que disse que ia para "morrer" em campo. Ainda se fosse para correr...
-Fala, fala. Estás é com inveja de não terem sido vocês a ir buscá-lo.
-Inveja, eu? Ele não tinha lugar no Glorioso. E então agora, que descobriu que era lagarto desde pequenino, nem para jogar nas reservas servia...
-Sim, sim, vai falando. Eu, se fosse a ti, preocupava-me era em saber onde é que vocês vão buscar dinheiro para tantas contratações. Devem ter descoberto petróleo no Seixal...
-Já que falas nisso, lembro-me de ver uns fulanos a instalar umas plataformas, da última vez que lá estive. Pensei que era para as bancadas, mas, quem sabe, se calhar era mesmo para a extracção do petróleo...
-Brinca com coisas sérias, brinca, que já perdeste o estádio, e, por este caminho, perdes a SAD também...
-Amigo, vamos mas é ao nosso cafezinho, que estamos atrasados. Já que não me vendes o medicamento que te pedi, preciso, urgentemente, de um café.
-Mas qual medicamento, pediste alguma coisa, questionou o Nando, sem se lembrar do início da conversa.
-Claro que pedi, um Pongolle, em comprimidos, que não gosto de xaropes...
-Mas que grande malandro me saíste, ó lampião. Vamos lá ao nosso café...
E lá foram, discutindo as contratações, recentes, dos seus clubes, mas dominados por um pensamento comum:
De onde será que vem o dinheiro para pagar tudo isto?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

NO ÁTRIO DA IGREJA

Depois da missa de Domingo, como é de costume nas aldeias de Portugal, as famílias ficam á conversa no átrio da igreja. Assim aconteceu, também, na aldeia Fé em Deus, com o padre Manuel, á porta, despedindo-se de cada um dos fiéis.
-Então, senhor padre, como foi a sua consoada, perguntou o Manecas Barbeiro, depois cumprimentar o sacerdote.
-Muito boa, meu filho, como sempre acontece, em casa do presidente Sesismundo. A sua mulher, a senhora Dª Mafalda não deixa escapar nenhum pormenor. Foi uma consoada maravilhosa. E a vossa, meu filho?
-Boa, senhor padre, dentro do possível. Este ano, eu e a minha Laura passámos em casa, só os dois. O senhor padre sabe como é, nestas ocasiões parece que fica, ainda, mais viva, a memória de todos os que partiram, e dos que estão ausentes...
-Eu sei, meu filho, mas há que pensar que os que partiram responderam ao chamamento do Senhor, e quanto aos ausentes, o importante é que estejam bem de saúde, e na Graça de Deus.
-Claro que sim, padre Manuel, mas, apesar disso, não é possível evitar a saudade, insistiu o Manecas, não resistindo a pensar porque é que o Senhor não se lembrou de chamar os seus pais um pouco mais tarde...
-Meu filho, foi essa a vontade de Deus, e temos de a aceitar, insistiu o padre, como que lhe adivinhando o resto dos pensamentos.
Entretanto, a Laura Enfermeira, que acabara de se despedir da Dª Mafalda, fazia, discretamente, sinal ao Manecas, para que se lhe juntasse.
-Bem, padre Manuel, vou indo. Desejo-lhe um bom resto de domingo.
-Obrigado, meu filho, também para ti. Vai em paz, e que o Senhor te acompanhe.
E lá foi o Manecas juntar-se á mulher, a caminho de casa, remoendo as palavras do padre.
-Que chamamento especial teria o Senhor para os meus pais, e avós, para me privar, tão cedo, da sua companhia, cogitava. Tanta gente, que eu conheço, que há muito merecia ter ido, e não foi chamada...
-Então homem, em que pensas, perguntou-lhe a Laura? Algum problema?
-Nada, mulher, nada. Pensava na vida...

sábado, 26 de dezembro de 2009

WALTER MARQUES


Morreu Walter Marques.
A notícia chegou-me há pouco, abrupta, através da página do jornal Record, na internet.
Confesso-me em estado de choque e sem saber bem o que dizer, ou escrever.
Aqui lhe presto uma curta, mas sentida, homenagem, recordando o Homem e o Amigo, que só a minha ausência no estrangeiro impede de acompanhar até á sua última morada, no Cartaxo.
Fisicamente, Walter Marques deixou o nosso convívio, mas a sua memória permanecerá bem viva, entre todos os que o admiravam, respeitavam, e com ele tiveram o privilégio de conviver, ou fazer amizade.
Aos seus familiares, quero deixar os meus sentidos pêsames.
Que descanse em paz !

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL

Era a véspera de Natal, e todos afluíam ao Café Central, para tomarem a sua bica, e comprarem os últimos doces para a consoada.
Estava cheio o Central, e havia no ar um delicioso aroma, que facilitava a boa disposição, já de si melhorada pelo espírito natalício.
Ali estavam, o Padre Manuel, o Dr Sesismundo, o Manecas Barbeiro, o Nando Farmacêutico, o Monas Picheleiro, o Edson Brasuca, para satisfação do Silva, não só porque era bom para o negócio, mas porque era homem de paz e concórdia, e gostava de ver os seus amigos em amena cavaqueira, no melhor espírito natalício.
O tema era, naturalmente, a consoada, e a chegada de parentes, para celebrarem aquela que é a grande festa da família.
-Bem, amigos, como é Natal, e eu não quero ferir o espírito da quadra, não vou falar do Glorioso, embora isso fosse bom para o negócio do Nando, que nunca vendeu tantas aspirinas, e remédios para a azia, como este ano, disse o Manecas, quando já estava de saída.
-O senhor presidente já viu isto? Estas lampiões não têm emenda, atirou, logo, o Nando, dirigindo-se ao Sesismundo. Eu já lhe disse para ter calma, que o campeonato ainda não acabou, mas não há nada a fazer.
Já o Monas Picheleiro, portista de gema, contrariamente a outras épocas, permaneceu calado, como se não tivesse ouvido a provocação do Manecas.
Mas o Edson Brasuca, sorridente, como era de costume, teve reacção imediata:
-Xii Sô Manecas, vc é dimais mêmo! Nem no dia de Natal dá uma folga aos amigo, não!
Foi a risada geral.
-Tá certo, Edson, tens razão, retiro o que disse. E antes de ir, quero deixar a todos um forte abraço de amizade e desejar que tenham um Feliz, e Santo Natal. Encontramo-nos logo á noite, na missa do galo.
E lá se foi, não sem, antes, abraçar, um por um, todos os seus amigos, e lhes entregar, de presente, um emblema do seu Glorioso, que mandara comprar para a ocasião.
Ainda teve tempo de ouvir o Padre Manuel:
-Feliz, e Santo Natal, meu filho. Que o Senhor te acompanhe!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

NA FARMÁCIA



Acabava de sair de casa, ostentando um largo sorriso, que deixava transparecer o que lhe ia na alma.
O seu Benfica ganhara, e o Manecas Barbeiro dirigia-se, a passos largos, para a Farmácia da Fé, do seu amigo Nando, com a intenção de lhe amolar o juízo.
Ao chegar, assomou-se á porta, e atirou:
-Ó Nando, viste por aí o Porto?
-Olha que pardal, exclamou o Nando. Já estava a estranhar o teu atraso. Tás de parabéns, sim senhor.
-Viste como é? Espero que os lagartos tenham aprendido alguma coisa. E nem precisámos do Aimar...
-Deixa-te de bazófias, que o campeonato ainda não acabou.
-Pois sim, mas candeia que vai á frente, alumia duas vezes. e a nossa dá uma luz vermelha, e das fortes.
-Ó que caraças, hoje ninguém te atura.
-Podes crer.
-Vamos mas é tomar o cafezinho ao Silva.
-Vamos, vamos, que eu estou doido para encontrar o Monas Picheleiro. Aposto que a mona lhe cresceu, ainda mais, esta noite.
E lá se puseram a caminho.
Poucos passos andados, avistaram o Monas.
-Acelera, que o morcão não pode fugir, pediu o Manecas, acelerando o passo.
Já mais perto, junto á entrada do café, o Manecas não resistiu:
-Ó Monas, viste por aí o FCP? Que grande banho levaste ontem!
-Olá, já te estranhava.Também não foi bem assim. Não foi nenhum vanho, carago, a não ser pela chuva que caiu.
-Tá bem tá, nem criaste ocasiões de golo, e o Lucílio ainda vos perdoou um penalti, escandaloso. Aquele foi maior do que a Torre do Clérigos.
-Lá bens tu com as tuas coisas. Prontos, ganhaste. E até que ganhastes bem, mas não abuses(os nervos do Monas estavam a começar a evidenciar-se, nas falhas de concordância gramatical).
-Já estás a quatro pontos, é que é, e se não te pões a pau, e o Domingos não der um jeitinho, vais direitinho para a UEFA, que é uma pressa.
-Tu tem lá calma, que o campeonato ainda não acabou. Até parece que já és campeão.
-Campeão, campeão, ainda não sou, mas vou ser. Podes escrever.
-Escrebo, escrebo. Escrebo mas é que tu, com tanta bazófia, ainda te lixas.
-Tá bem, deixa lá, eu lixo-me e tu vai apontando. Mas para te consolar, eu pago o café. A ti e ao Nando, que está aqui caladinho que nem um rato. Levam no toutiço, mas pago eu. É tudo á minha conta, exclamou, rindo.
E lá entraram no café, com o Manecas Barbeiro, ufano, pensando com os seus botões:
-Deixa-me aproveitar a ocasião, que nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Vou amolar-lhes, o juízo o mais que puder. Agora quem ri sou eu, finalmente...

sábado, 19 de dezembro de 2009

SOLTEIROS E CASADOS


O jogo terminara, com a vitória, tangencial, do Sporting, ante a Naval, e o Nando Farmacêutico tentava justificar, aos que se reuniram em volta do televisor, no Café Central, que o importante era a vitória, para recuperar a moral dos adeptos, dirigentes, e jogadores, sportinguistas.
-O jogo não foi muito bom, é verdade, mas o importante é que ganhámos, insistia o Nando.
-Não foi muito bom? Isso é um eufemismo de todo o tamanho, diz-lhe o Manecas Barbeiro. Vocês não jogam nada, é o que é.
-Ó Nando, na berdade, a coisa foi fraquinha, acrescentou o Monas Picheleiro, que, como qualquer tripeiro que se preze, ainda trocava, muitas vezes, o v pelo b.
-Tá bem, deixem lá, eu quero ver se amanhã vocês fazem melhor, atalhou o Nando, procurando desviar as atenções para o jogo entre os principais rivais.
-Ó Nando, nem te metas nisso, porque se há equipa que tem jogado futebol, neste campeonato, é o Glorioso. Aliás, o Carvalhal devia obrigar os lagartos a ver o jogo, para ver se aprendem alguma coisa, provocou o Manecas Barbeiro.
-Ó Manecas, tu não te estiques, que amanhã podes ter uma surpresa, atirou-lhe o Monas.
-Tá bem tá, fia-te na virgem e não corras, e depois queixa-te que nem á UEFA vais. Só espero que o árbitro, amanhã, não comece a inventar, como é costume.
-Olá, já estás a arranjar desculpas?
-Qual desculpas, qual quê. Tá mas é calado, que em matéria de título, a procissão não mete anjinhos, diz-lhe o Manecas, já irritado, só de imaginar que a coisa podia correr mal.
Acabamos de ver um jogo entre solteiros e casados, e tu ainda vens para aqui com conversas?
Vamos mas é descansar, que já é tarde, e eu tenho que estar em forma para amanhã, sentenciou.
Na verdade, já começara a sentir um nervoso miudinho...
Estranhamente, todos concordaram em ir dormir, colocando um ponto final nas picardias.
-Boa Noite Silva, até amanhã, despediram-se, quase em coro.
E lá foram, cada um entregue aos seus pensamentos:
-Um jogo de solteiros e casados. Na verdade, não andou longe disso, magicava o Nando.
-Só espero que o Di Maria, o Aimar, e o Ramires não façam falta. A coisa pode ser complicada, pensava o Manecas.
-Será que o Jesualdo consegue pregar uma partida ao Jesus, questionava-se o Monas, ansioso.
Amanhã logo beremos...

A CIMEIRA





As notícias do fracasso da Cimeira de Copenhaga não podem ser consideradas surpreendentes, bem pelo contrário.
Como diz o povo, "de boas intenções está o inferno cheio", e a verdade é que, sempre que os chefes de estado, e de governo, se reúnem, com o objectivo de estabelecerem metas para a redução das emissões de Co2, a probabilidade de não haver acordo é, enorme.
Existem demasiados interesses em jogo, e, para os governos, é sempre mais fácil restringir liberdades individuais, do que mexer com interesses económicos...
Numa cimeira que reuniu 193 países, ter apenas 30 a assinar uma "nota" final, é mais do que um resultado frustrante, é um "flop" de todo o tamanho, por mais que alguns dirigentes se esforcem por "tapar o sol com uma peneira".
Agora, as esperanças transferem-se para 2010, no México, onde terá lugar nova Conferência, ou Convenção do Clima, como alguns gostam de lhe chamar.
Mas se nos lembrarmos que o Protocolo de Quioto demorou 7 anos para entrar em vigor, após a sua ratificação por países responsáveis por, apenas, 55% das emissões, não existem motivos para estarmos optimistas.
Afinal, apesar das nobres declarações de intenção, rever os objectivos definidos em Quioto, e é disso que se trata, parece tão difícil quanto foi a sua ratificação...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

NO CAFÉ CENTRAL

O Presidente da Junta de Freguesia, Dr Sesismundo, tomava o seu café, enquanto lia o jornal local.
-Parabéns, senhor Silva, ficou bonito o seu anúncio. Sim senhor.
-Obrigado, senhor presidente, agradeceu, orgulhoso, o Silva.
-Então e o Natal, como vai ser ?
-Nada de especial, senhor presidente. Sempre igual, nestes últimos anos.
-Noto-lhe uma certa tristeza na voz, ou estou enganado?
-Para falar a verdade, o Natal traz-me muitas recordações, sobretudo daqueles que já partiram, e quando a idade avança, e não há crianças, este período acaba por ser mais de introspecção do que de festa...
-É, na verdade, as crianças e a família são a alma do Natal, anuiu o Sesismundo, pensando que, nesse ano, não teria a presença dos netos, para lhe alegrarem a ceia.
-Sabe, presidente, a verdade é que, apesar de ser uma quadra festiva maravilhosa, o Natal tornou-se num grande evento comercial, talvez grande demais para o meu gosto.
E o modo como uma grande parte das pessoas vive o dia a dia contrasta com a mensagem que pretendem fazer passar, no Natal.
A solidariedade, o respeito pelo próximo, a paz, a concórdia, são pouco mais do que conceitos, que muitos apregoam, mas a poucos preocupa.
E talvez seja por isso, e pelo desaparecimento de queridos familiares, e amigos, que o Natal, para mim, deixou de ter o significado de outros tempos...
-Ó Silva, é melhor mudarmos de conversa, que já me está a dar uma certa nostalgia, atalhou o Sesismundo, que já não conseguia tirar da cabeça a ausência do filho, e dos netos, e não estava de maré para grandes reflexões.
-Tem razão, presidente, é melhor mudarmos sim.
Então o que me diz ao facto de o Braga chegar ao fim do ano na frente do campeonato? Estão de parabéns, e é bom para o campeonato. Não acha ?
E lá ficaram, falando de futebol, que esse não convida a grandes reflexões...

NO BARBEIRO

O Manecas abriu a porta do estabelecimento, com um sorriso rasgado de orelha a orelha.
Afinal, o seu Benfica, mesmo jogando com a equipa suplente, conseguira vencer o AEK.
A sua única tristeza era o facto de o Di Maria, o herói do jogo, não poder jogar contra o Porto.
-Enfim, o que não tem remédio, remediado está, pensou.
Mal podia esperar o seu encontro com o Nando Farmacêutico para lhe enfrenisar o juízo.
Não foi preciso esperar muito para que o Nando chegasse, como era de costume, para irem tomar a bica, no Central.
-Ora boas, com esse sorrisinho, posso adivinhar que estavas á minha espera, atirou o Nando, para ver se desarmava o adversário.
-É claro, o que é que esperavas? Eu, ontem, bem te avisei. Com o Glorioso não se brinca, exclamou o Manecas.
-Pronto, levas a taça, atalhou Nando, tentando evitar que o Manecas lhe xingasse mais o juízo. Agora só quero ver que figura é que vocês vão fazer, no domingo, contra os morcões.
-Fica descansado que nós tratamos do caso deles, apesar de, para vocês, isso não fazer diferença nenhuma, porque o campeonato já era.
-Bem, vamos mas é ao cafezinho, que se faz tarde, interrompe o Nando, desejoso de terminar aquela conversa.
-Vamos lá, então, que hoje és tu a pagar, anuiu o Manecas, dando uma trégua ao rival, e amigo, de sempre.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

NO CAFÉ CENTRAL

O Manecas Barbeiro aproveitava uma pausa, e tomava um cafezinho, enquanto contava ao Silva, o dono do café, como o Edson Brasuca se conseguira safar do aperto em que o Presidente Sesismundo o queria meter, a propósito do casamento entre homossexuais.
Eis que chega o Nando Farmacêutico, que, ao vê-los rindo, atirou:
-Tanta alegria, Ó Manecas. Pode ser que chores logo á noite. Vais-te ver grego com o AEK!
-Ó Silva, você já viu este finório, que nem vergonha tem? Ontem levou para o tabaco do Hertha e ainda se atreve a falar de bola.
-Tá bem tá, o nosso resultado não contava para nada, o apuramento estava garantido e nós estamos a guardar-nos para o campeonato, justificou o Nando.
-A guardarem-se para quê? Para ver se vão á UEFA?
Também o nosso resultado não conta, esclareceu o Manecas, até vamos jogar com as reservas. Aliás, o Jesus já disse que prefere ganhar ao Porto, e perder este jogo.
O Silva, apesar de nunca deixar perceber a sua simpatia clubística, não se conteve:
-Pois é, por essas e por outras é que vamos perdendo pontos na UEFA, e qualquer dia até o campeão nacional vai ter que disputar a pré-eliminatória da Liga dos Campeões...
-Nisso tens razão, ó Silva, mas tens que compreender que a prioridade é o campeonato, e com a qualificação resolvida, há que poupar jogadores, tentou justificar o Nando.
-Eu não entendo nada, ó Nando, e a mim tanto se me dá, como se me deu, mas o que eu vejo é que, lá fora, as equipas jogam dois dias por semana, e ninguém vem com essa conversa da poupança. Mas enfim...
-Mas não é por pouparem jogadores que os lagartos perdem. Jogue com jogar, eles perdem na mesma, provocou o Manecas.
-Não te ponhas a pau não, e levas hoje e no domingo, replicou o Nando.
-Eu sei que é o que tu querias, vocês estão feitos com os murcons, é o que é, mas eu já te avisei, não te ponhas a pau não, e ainda acabas a lutar para não descer, atirou o Manecas, corrosivo.
-Murcons? Isso é forma de tratar o grande Futebol Clube do Porto, carago, reagiu o Monas Picheleiro, que acabara de entrar.
-Já só cá faltavas tu, ó Monas. Não me bastava o Nando...
-Ó Monas, hoje os lampiões vão ver-se gregos...
-Podes ter a certeza, ó Nando. É a preparação para domingo, provocou o Monas, com um largo sorriso.
-Riam, riam, que quem ri no fim ri melhor. Ó Silva, quero pagar, que tenho que fazer, e não me apetece aturar estas melgas. E já agora, paga também o café deles, que o vencedor é generoso, disse o Manecas, tomando ares de superioridade, pelo seu gesto.
Fiquem com Deus, até logo. Não se esqueçam de assistir ao nosso jogo, para ver se aprendem qualquer coisa...
E lá se foi, sem conseguir esconder o nervoso miudinho que o invadia, como sempre acontecia nos dias em que jogava o seu Glorioso...

NO BARBEIRO

Era grande o rebuliço na Fé Em Deus, uma pequena aldeia, no interior do país.
Do Café Central, á barbearia do Manecas, ninguém falava de outra coisa, que não fosse a notícia do casamento entre homossexuais.
Na cadeira, com a cara coberta de espuma, depois de amaciada a pele, com um pano bem quente, que o Manecas Barbeiro era bom de ofício, o Padre Manuel, escutava, pacientemente, o Dr Sesismundo, professor, e presidente da Junta de Freguesia.
- Mas diga-me lá, senhor padre, se já se viu semelhante coisa. Casamento entre homossexuais? Para que precisam eles de casar?, questionava o Sesismundo.
- Como o senhor presidente sabe, a igreja não aprova esses casamentos, embora a decisão da hierarquia seja a de não polemizar esse assunto, excessivamente, ao contrário do que aconteceu em Espanha.
-Eu sei, senhor Padre Manuel, mas confesso que lido mal com este assunto. Reconhecer os direitos a uma união de facto é uma coisa, agora casar ? Para quê ? Se existir igualdade de direitos, que outro motivo pode justificar essa pretensão, senão o de colocar em causa a instituição que é o casamento ?
Eu sei que o meu partido apoia essa causa, embora haja muitas divisões, mas ninguém me consegue explicar, direitinho, os motivos para esse apoio, insistia o Sesismundo.
Foi então que o Manecas, que escutava a conversa, em silêncio, não resistiu e atirou:
- Modernices, é o que é, modernices. Com tanto problema para resolver no país e esta gente nisto...
- Tem razão, ó Manecas, como se já não tivessemos problemas, de sobra, anuiu o Sesismundo.
- Mas é preciso calma, disse o Padre Manuel, porque existem questões legais que não são pacíficas, e ainda hoje li, nos jornais, que alguns contitucionalistas de renome, consideram que o casamento entre homossexuais é inconstitucional. Aguardemos, com serenidade.
Estava a conversa neste ponto quando entra o Edson Brasuca, um mineiro, flamenguista, que trabalhava no Café Central, que todos admiravam, pela sua permanente simpatia e boa disposição.
-Bom Dia! Tudo jóia ? Ainda demora muito, sr Manecas?
-Tem para uma meia hora, que depois do Padre Manuel, ainda tenho o senhor presidente.
-Não tem problema não, eu espero, respondeu o Edson Brasuca, sorridente, sentando-se ao lado do Sesismundo.
-Olhe lá, ó Edson, o que é que você me diz sobre esta questão do casamento entre homossexuais, interrogou o Sesismundo, desejoso de continuar a conversa.
-Xi, presidente, não sei não, viu, essa coisa é complicada mesmo, respondeu o Edson, enquanto magicava uma resposta que lhe permitisse sair da situação, airosamente.
-Então quer dizer que você não tem opinião? Lá no Brasil como é ?, insistiu o Sesismundo.
-Para falar a verdade, senhor presidente, opinião eu não tenho, não senhor. Mas lá no Brasil tinha um carioca, jornalista, e humorista, de nome Sérgio Porto, que escrevia com o pseudónimo de Stanislaw Ponte Preta, que um dia escreveu o seguinte: "Pelo jeito que a coisa vai, em breve, o terceiro sexo estará em segundo.", disse o Edson, sorrindo.
Foi a gargalhada geral.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

MUDAM-SE OS TEMPOS...

O ambiente, em casa do Manecas Barbeiro, estava pesado.
A sua mulher, a Laura Enfermeira, preparava-lhe um café e procurava desdramatizar a situação:
-Ó homem, deixa lá isso, afinal, o que importa é que ainda temos a maioria da SAD.
-Até quando, mulher ? Até quando ?, respondia-lhe o Manecas Barbeiro, com os olhos lacrimejantes.
O Manecas acabara de chegar da Assembleia Geral do Glorioso, que aprovara e entrega do "seu" Estádio da Luz á SAD, coisa que ele nunca acreditara que pudesse vir a acontecer...
-Tem calma, e toma o café, dizia-lhe a Laura, cuja paixão benfiquista passava pelos resultados, no futebol, e nem entendia bem porque é que o marido ficara transtornado com o resultado da assembleia. Afinal, é tudo Benfica, pensou, enquanto puxava uma cadeira, para se sentar ao lado do marido.
Mas o Manecas Barbeiro continuava inconsolável.
- Como é que eu te vou explicar que o Benfica não é só futebol, nem a cor das camisolas, mulher ? Como ?
E continuou:
- Será que tu não entendes que, pelo caminho que vamos, a perda da maioria na SAD, é apenas uma questão de tempo ? Que o Benfica, aos poucos, está a perder a alma ?
-Toma o café, homem, estás branco, respondeu-lhe a Laura, preocupada com estado do marido, e mais interessada em acabar com a conversa.
O Manecas tomou o seu café, e manteve-se em silêncio, de cabeça baixa.
A Laura ia jurar que ele chorava...
-Vamos dormir, homem. Precisas descansar.
-Vai andando, mulher. Já lá vou ter.
E por ali se quedou, por algum tempo, sentado á mesa, a pensar nas mudanças que ocorreram no seu Benfica, em menos de década e meia...
Como vão longe os tempos em que os sócios exigiam, estatutariamente, que o Estádio da Luz permanecesse na posse do Clube, pensou.
E lembrou as duas comissões nomeadas, em Assembleia Geral, para acompanharem a venda dos terrenos da urbanização norte, e a aplicação do dinheiro, em contraste com a facilidade com que, os dirigentes seguintes, venderam o património...
-Os tempos mudaram, este Benfica já não é o mesmo. Estou a ficar velho, murmurou.
E encaminhou-se para o quarto, para mais uma noite de insónias...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

TOMANDO UMA BICA...

Estavam no Café Central, principal ponto de encontro da vila.
O Nando Farmacêutico, um sportinguista ferrenho, e o Manecas Barbeiro, ferrenho benfiquista, trocavam piropos a propósito dos seus clubes do coração:
- Ó Nando, eu se fosse a ti estava mas é calado, que este ano, com um bocadinho de sorte, vocês lutam mas é para não descer, atirou o Manecas, em jeito de provocação
-Tá bem tá, dizia o Nando, o ano passado, por esta altura, também falavas assim, e depois foi o que se viu...
-Eh pá, nem compares! O ano passado era o espanhol o treinador. Com o Jesus a conversa é outra!
-Dizes tu, retorquiu o Nando. Ele é Jesus, mas não faz milagres, como se viu no sábado, em Olhão...
-Fez melhor do que o vosso Carva...lhal, que nem o nome o ajuda, coitado, atirou-lhe o Manecas Barbeiro, já num tom menos amistoso...
Foi então que o Silva, proprietário do estabelecimento, a quem não se conheciam, como a qualquer comerciante que se preze, opções clubísticas, ou preferências políticas, decidiu entrar na conversa, para pôr um pouco de água na fervura:
-Deixem-se dessa conversa, que ainda acabam chateados. É todos os anos o mesmo. Vocês discutem e quem fica a rir é o Monas Picheleiro...
Fez-se silêncio.
O Nando Farmacêutico e o Manecas Barbeiro olharam-se, lembraram-se que, pé ante pé, o Porto estava encostado ao líder do campeonato, e imaginaram o Monas Picheleiro a dar-lhes cabo do canastro...
-Bem, até logo, a farmácia espera-me, atirou o Nando. Vejam lá se ganham aos morcões, no sábado, disse, pensando que o melhor era sair, antes que o Monas chegasse...
-Tá bem tá, até logo, respondeu o Manecas, sem conseguir esconder alguma inquietação...
Que raio, será que ainda não é desta, interrogou-se, baixinho?
E se os gajos ganham no domingo?...

domingo, 13 de dezembro de 2009

PAUL SAMUELSON



Acabo de ser surpreendido pela notícia da morte de Paul Samuelson, divulgada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde este professor, e Prémio Nobel da Economia, em 1970, leccionava desde 1940.
Pelo seu livro, "Economia: Uma Análise Introdutória", estudei e tomei contacto, pela primeira vez, com as explicações matemáticas da oferta, da procura, e da formação dos preços, no velho Instituto Superior de Economia (ISE).
Lembro-me que, naquela época, a única tradução, para português, do livro de Samuelson, de leitura obrigatória, no ISE, era editada pela Fundação Calouste Gulbenkian, com uma inconfundível capa castanha, e que tive de aguardar uns meses para conseguir adquiri-lo, pois a procura excedia, em muito, a oferta.
Outros tempos, em que não havia internet, e a biblioteca era o único recurso para acedermos á leitura de um livro cuja edição se encontrava esgotada.
Claro que havia sempre o recurso ás fotocópias, na cantina, de partes do livro, emprestado por uma "alma generosa", ou dos excertos disponibilizados pela Associação de Estudantes...
Estudado, e respeitado, no mundo inteiro, Samuelson deixou-nos, aos 94 anos, mas o seu legado permanecerá.
Triste com a notícia da sua morte, estou-lhe grato pelos conhecimentos que me proporcionou, e por isso quero prestar-lhe, aqui, esta singela homenagem.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O BENFICA, A SAD E A BENFICA ESTÁDIO



Tenho sido contactado por alguns benfiquistas, para conhecerem a minha opinião quanto á integração da Benfica Estádio na Benfica SAD.
Num "post" que escrevi, neste blogue, no dia 23 de Maio, sob o título "A BENFICA ESTÁDIO E A SAD", penso ter sido suficientemente explícito quanto aos motivos que me levam a não apoiar a realização dessa operação.
Sempre defendi que se deveria analisar todo o processo que conduziu á constituição da SAD, para se reavaliarem, se necessário, os fluxos financeiros ocorridos entre as sociedades detidas pelo Benfica, e entre estas e o Clube.
E tenho dificuldade em aceitar que, tendo a SAD sido criada com património do Clube, e sendo uma sociedade cotada em bolsa, com accionistas cujos interesses não são, necessariamente, os mesmos que os do Benfica, se valorize a empresa, em detrimento do Clube.
Tanto mais que o Clube entrega, anualmente, á SAD, 90% das quotizações, o que significa que são os sócios do Benfica quem está a contribuir para a valorização do património dos outros accionistas...
Quando a SAD foi constituída, ficou com os activos, e o Benfica com as dívidas, mas nem por isso foi capaz de gerar fundos que lhe permitissem tornar-se, financeiramente, independente...
Se a Benfica SAD, beneficiando de todo o património futebolístico, da marca Benfica, da utilização dos direitos de imagem, e de "marketing", e da quase totalidade das quotizações, não consegue criar valor para o Clube, para que serve, afinal ?
Ao aceitarem transferir o último activo do Benfica, verdadeiramente valioso, e a manter-se a política dos últimos anos, os benfiquistas estão, implícitamente, a aceitar que um qualquer investidor privado possa vir a controlar a SAD, pela via de futuros aumentos de capital, que o Clube não terá condições de acompanhar.
Sei que existem benfiquistas que defendem essa posição, que eu respeito, só que não é a minha.
E continuo a defender que, um assunto desta importância deveria ser debatido, com os sócios do Clube, antes de ser apresentada, á Assembleia Geral, uma proposta, para votação.
Mas os sócios do Benfica são soberanos, e resta-me desejar que, seja qual for a decisão que tomarem, não venham a arrepender-se, como aconteceu num passado não muito distante...

NATAL

A menos de 15 dias da noite de Natal, começaram a chegar as mensagens...
Amigos, conhecidos, e até pessoas com quem me cruzei, esporádicamente, ao longo da vida, deram início a um ritual que, na esmagadora maioria dos casos, apesar da beleza do conteúdo das mensagens, pouco mais é do que o cumprimento de uma "obrigação".
E dei comigo a pensar como, com o passar dos anos, a partir dos 50, comecei a reduzir a minha participação no ritual, talvez porque tenha percebido, finalmente, que muitas das pessoas que me mandam mensagens estão, na verdade, pouco preocupadas com a qualidade do meu Natal...
Acrescento, até, que, com a maioria dessas pessoas, o meu contacto se resume a duas mensagens anuais, via sms:
Uma no Natal, e outra no Ano Novo.
Ainda que em número não significativo, alguns estendem esse contacto a quatro mensagens, não se esquecendo do meu aniversário, nem da celebração da Páscoa, à qual, confesso, não atribuo nenhum significado.
E é para poupar, a todos, esse custo, tanto mais que estamos em período de crise, e o dinheirinho faz falta para outras coisas, que quero declarar, formalmente, que todos os meus "conhecidos", e os "falsos amigos", estão dispensados dessa formalidade.
Para com todos os meus amigos, e familiares que se incluam nessa categoria, eu me encarregarei de tomar a iniciativa, mais perto da noite de Natal, telefonando-lhes, para ter o prazer de ouvir a sua voz e lhes expressar aquilo que, do coração, lhes desejo.
A todos os outros, a cujas mensagens não deixarei de responder, por mera questão de educação, limitar-me-ei a desejar-lhes o mesmo que, do coração, me desejarem a mim...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

MEMÓRIAS


O dia 8 de Dezembro será, sempre, uma data especial.
Os católicos, que não é o meu caso, celebram a festa da Imaculada Conceição, da Virgem Maria, instituída pelo Papa Sisto IV, em 1477.
Eu casei-me, há 33 anos, neste mesmo dia, pela igreja, para agradar á família, sendo que o meu sogro, que nunca reconheceria um casamento não religioso, acabou por levar a filha ao altar, e abandonar a cerimónia...
O divórcio não me apagou as recordações desse dia, nem faria sentido que assim fosse.
Muitos dos que me acompanharam, e me eram tão queridos, já não estão entre nós, e nesta data sempre evoco a sua memória...
Recordo o meu pai, as minhas avós, em particular a Rogélia, que nos criou, o meu tio Carlos Alberto, o meu sogro, com quem viria a desenvolver uma sólida amizade, enfim, uma extensa lista de desaparecidos...
Do casamento viria a resultar o tesouro mais precioso, o meu filho, de quem tanto me orgulho, e, por ele, sempre estarei grato, á Ana, sua mãe.
Devo, aliás, confessar que, nunca consegui entender como é que duas pessoas que viveram juntas, unidas, ou não, pelo casamento, se transformam, quando se separam, em verdadeiros inimigos, capazes de fazerem as maiores barbaridades um ao outro...
E muito menos entendo que, quando existem crianças, elas possam servir de joguete entre os pais, ao serviço de uma estratégia para magoar o outro...
Olho para trás e não posso deixar de me sentir satisfeito, porque, apesar do divórcio e dos momentos menos bons que lhe estiveram associados, mantenho com a Ana, e com a sua família, uma relação de amizade, e respeito, que sempre preservarei.
Mas porque falei de pessoas que já faleceram, quero aproveitar para recordar John Lennon, assassinado neste mesmo dia, em 1980, bem como o maestro, e músico, Tom Jobim, um dos expoentes máximos da música brasileira, falecido, neste mesmo dia, em 1994.
Assim é a vida, feita de momentos bons, outros nem tanto, de encontros, desencontros, memórias...
E se é verdade que recordar é viver, o mais importante é o futuro, e esse eu encaro com o maior optimismo !

domingo, 6 de dezembro de 2009

BURLÕES...


Corria o ano de 1925, e neste mesmo dia 6 de Novembro era preso Artur Virgílio Alves dos Reis, talvez o maior burlão, português, de sempre.
Na véspera, dia 5, o jornal "O Século", o mais importante jornal diário dessa época, revelara a burla, que consistiu na emissão de 200 mil notas falsas, de 500 escudos, após um período de investigação quanto á origem dos fundos do Banco de Angola e Metrólope, fundado por Alves dos Reis.
Quando se fala de Alves dos Reis, cuja burla está contada em livros, e motivou uma série televisiva, sempre se realça a sua inteligência, o seu poder de sedução, e de manipulação, características, afinal, comuns a todos os grandes burlões.
E dei comigo a pensar nos burlões dos nossos dias, igualmente ousados, mas menos inteligentes, que tendem a especializar-se no abuso de confiança...
Chegam devagar, janotas, falinhas mansas, tentando conquistar confiança, e fazer amizade, preparados para darem o golpe, logo que surja a oportunidade...
Com mais meios á sua disposição, e jogando com a morosidade da justiça, dispensam a inteligência de Alves dos Reis, bastando-lhes copiar, dele, a ousadia, imitar-lhe os modos e a falta de escrúpulos.
Existem muitos burlões por aí, só que uma grande parte deles não acaba na prisão, como sucedeu com Alves dos Reis. e é pena...
A nós, os que acreditamos que os fins não justificam os meios, e defendemos uma sociedade baseada noutros valores, resta-nos estar atentos, e fugir, sempre que possível, dessas "más companhias"...

sábado, 5 de dezembro de 2009

QUE JUSTIÇA ?

A imagem acima, símbolo da Justiça, só poderia ser reproduzida em ponto pequeno, quando aplicada ao sistema de justiça português.
Não tanto pelo modo como não são resolvidos alguns processos mediáticos, mas pelo tempo que demora a obtenção de uma sentença, pelas suspeitas de promiscuidade entre políticos, funcionários, e magistrados judiciais, pelas fugas de informação...
E são essas fugas de informação, tão frequentes no nosso país, que motivam este meu escrito.
Recebi, ontem, via "e-mail", cópia da transcrição das conversas entre Armando Vara e José Sócrates, que, ao que julgo saber, a Procuradoria Geral da República teria mandado destruir...
A transcrição está feita em papel timbrado dos Serviços do Ministério Público, da Comarca do Baixo Vouga, sediados na P Marquês de Pombal, em Aveiro...
Não me parecendo correcto referir-me ao seu conteúdo, não posso deixar de notar que, afinal, talvez não fosse mau que, o mesmo, tivesse sido tornado público, oficialmente, na medida em que seria um importante contributo para o esclarecimento do que foi o debate político sobre as escutas, e a "asfixia democrática", durante o processo eleitoral...
Mas o motivo deste meu comentário é outro, relacionado com o modo como estes documentos, supostamente confidenciais, surgiram a circular na internet.
Como pode um cidadão acreditar na preservação do segredo de justiça, quando se publicam documentos confidenciais, envolvendo conversas telefónicas do primeiro-ministro ?
O que fez o Ministério Público para identificar o autor, ou autores, desta fuga de informação ?
Que garantias temos nós, cidadãos, de que os serviços do Ministério Público não estão, afinal, ao serviço de interesses políticos ?
Enquanto Portugal não resolver os problemas relacionados com a sua Justiça será impossível a transformação, para melhor, da sociedade portuguesa.
Só com uma Justiça rápida, eficaz e independente, será possível fazer avançar outros sectores da sociedade portuguesa, em particular a economia. Mas embora isso não seja uma novidade, para ninguém, poucos parecem interessados em alterar o "Statu quo"...
Como diria Millôr Fernandes, "O problema é que o crime é perto. E a justiça mora longe."...

PS: Posteriormente á publicação deste "post", tive conhecimento, através da leitura do jornal i, na internet, que o documento que está a circular, na internet, é falso.
Mantendo tudo o que escrevi, resta-me perguntar se a Procuradoria vai mandar investigar a origem desta falsidade ?

SERÁ QUE NOS SAIU A FAVA ?

Em período natalício, Portugal não foi feliz, no corte do "bolo-rei", que foi o sorteio para a fase final do mundial de futebol 2010.
Com Brasil e Costa do Marfim no grupo, que dispensam apresentações futebolísticas, e uma Coreia do Norte de boa memória, resta-nos desejar que não nos tenha saído a fava...
Á partida, o primeiro jogo, no dia 15 de Junho, contra a Costa do Marfim, tem todas as condições para vir a ser decisivo na escolha de quem acompanhará o Brasil na passagem á fase seguinte.
Embora, como lembrarão alguns, a bola seja redonda e não existam vencedores antecipados, acredito que, ganhar, ou não, o primeiro jogo, será determinante para as aspirações portuguesas.
Claro que, como todos os portugueses, acredito numa boa campanha da selecção nacional, mas reconheço que a passagem á fase seguinte não será tarefa fácil.
E vale realçar que a selecção, para além do seu valor, que é muito, contará, seguramente, com o precioso apoio da vasta comunidade emigrante portuguesa, na África do Sul, o tal 12º jogador...
E é esse 12º jogador que pode dar um importante contributo para que, tal como sucedeu com Bartolomeu Dias, em 1488, a selecção nacional possa dobrar, na África do Sul, em 2010, o seu Cabo da Boa Esperança, e colocar bem alto o nome de Portugal.
Tenhamos Esperança...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A ORDEM E NÓS...



Manuel Machado foi hospitalizado na sexta-feira devido a uma intervenção cirúrgica, a uma hérnia, aparentemente, mal sucedida.
A avaliar pelo que se conhece, as coisas ter-se-ão complicado, e Manuel Machado tem "prognóstico reservado", sabendo-se que se encontra em coma induzido.
Como é natural, por se tratar de um treinador de um clube que disputa a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, a comunicação social tem tentado saber mais pormenores sobre os motivos que levaram Manuel Machado a regressar ao hospital, e ao agravamento do seu estado de saúde.
Surpreendentemente, a Ordem dos Médicos, pela voz do seu bastonário, Dr Pedro Nunes, veio "proibir qualquer médico de dar informações sobre a matéria", alegando que "não se conhecem os contornos".
Convenhamos que, esta posição da Ordem é, no mínimo, estranha, ainda que não seja original...
Que contornos é que não se conhecem ?
Os médicos não sabem o que pode ter corrido mal ?
E se sabem, porque estão proibidos de prestar declarações ?
Terá havido erro médico ?
Se ninguém fala, todas as suposições são legítimas, tanto mais que ainda continua fresco, na memória dos portugueses, o episódio com os doentes internados no Hospital de Santa Maria, com problemas oftalmológicos, que acabaram perdendo a visão porque alguém trocou os medicamentos...
Se é "natural" que a Ordem procure proteger os seus associados, essa protecção deixa de fazer sentido quando estão em causa os interesses dos cidadãos, e o seu direito á informação.
E, a meu ver, a Ordem dos Médicos tem, em primeiro lugar, obrigações para com os cidadãos, que os seus associados estão obrigados a tratar, da melhor maneira possível, o que não exclui, naturalmente, o direito ao erro...
Explicar o que se passou, e está a passar é, salvo melhor opinião, o que melhor serviria os interesses de todos.
Mas será que a Ordem dos Médicos se preocupa com os interesses de todos ?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O SÍMBOLO PERDIDO


Terminei, ontem, a leitura deste livro de Dan Brown.
A meu ver, mais um excelente livro de "suspense", carregado de códigos, misticismo, acção, terminando, como sempre sucede com este autor, de forma surpreendente.
Num arrebatadora viagem por Washington, e pela sua arquitectura, Brown conduz-nos ao interior da Maçonaria, e dos seus rituais, associando romance e informação científica, num estilo inconfundível, que muito aprecio.
Desta obra, cuja leitura me atrevo a recomendar, acho interessante destacar a seguinte frase:

(...) Nós somos criadores, mas ainda assim ficamos ingenuamente fazendo o papel de criaturas. (...)

Uma noção interessante, a exigir reflexão, mas que não se aplica, seguramente, a Dan Brown, a quem desejo que possa continuar a criar obras de qualidade, para satisfação dos seus leitores.
Um excelente presente de Natal !

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O TRATADO DE LISBOA

Hoje, dia 1º de Dezembro, de 2009, dia da Restauração, em Portugal, entrou em vigor, na União Europeia, o Tratado de Lisboa.
Ironia do destino...
Neste mesmo dia, corria o ano de 1640, e os portugueses celebravam a sua libertação do jugo espanhol, enquanto agora celebram a entrada em vigor de um Tratado que reduz o peso dos pequenos estados, como Portugal, no processo europeu de tomada de decisão, e relativamente ao qual, 26 chefes de governo, incluindo o nosso, assumiram o compromisso de não o submeter a referendo, excepção feita á Irlanda, por motivos constitucionais...
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
A UE passa, agora, a ter um Presidente da União, cooptado pelos chefes de governo, que representa "os povos", interna e externamente, por um período de 5 anos, mas que esses mesmos povos não terão o direito de eleger.
Mas Cavaco Silva, o nosso Presidente, considera que este é "um dia de esperança, para os europeus".
Haja, pois, esperança...
Também a partir de hoje, a UE tem um Ministro do Negócios Estrangeiros, eufemisticamente designado Alto Comissário, que será o seu porta-voz a nível internacional, com as suas embaixadas e o seu corpo diplomático. Aparentemente, a diplomacia portuguesa perde peso, na defesa dos seus interesses específicos.
Mas isso não parece ser coisa que incomode o nosso ministro Luís Amado...
Com a entrada em vigor do Tratado, o Conselho de Ministros da União passará a poder aprovar as suas decisões por "dupla maioria" ( pelo menos 55% dos Estados-Membros, o que corresponde a 15 em 27, que representem, no mínimo, 65% da população europeia), abandonando o sistema de "tripla maioria" do Tratado de Nice.
Mas José Sócrates, o nosso Primeiro-Ministro, considera que o Tratado "tornará a Europa mais forte"...
E Portugal, pergunto eu, cuja população representa pouco mais de 2% da população europeia, com tendência para diminuir ? Fica mais forte, ou mais fraco, no contexto da União ?
Resta-nos o consolo de que "todo o mundo é composto de mudança"...
Sou, quero afirmá-lo, a favor da União Europeia, mas não sou federalista, como já devem ter notado.
Mas porque sou português, e europeu, quero uma União cujas decisões resultem do máximo divisor comum dos interesses dos seus povos, no respeito pela identidade de cada um, e não da imposição da vontade dos mais fortes...
E é o reforço da posição dos mais fortes que, a meu ver, está consagrado neste Tratado, que muito poucos leram, na íntegra, incluindo eu, mas muitos se aprestaram a aclamar...
Natural é o regozijo dos burocratas europeus, para quem esta entrada em vigor é, seguramente, "motivo de grande orgulho", como afirmou o Presidente da Comissão, Durão Barroso, já que conseguiram, mais uma vez, o "grande avanço" de evitar que tenha sido reconhecido aos povos, que, supostamente, representam, o direito de se expressarem em referendo, com a conivência, é claro, dos governos dos respectivos países.
Porreiro pá !
Haverá sempre um "lugarzinho na União, como refúgio para os fracassos domésticos...
Afinal, se sempre coube ás elites assumir a liderança das grandes transformações históricas, porque haveria, agora, a populaça, de se querer intrometer em assuntos cuja compreensão os transcende?...
E é por isso que sempre fico surpreendido com a reacção dos políticos, e burocratas, face aos elevadíssimos níveis de abstenção, nas eleições europeias.
Com a construção da União Europeia entregue ao vanguardismo de alguns, num Continente que, não por acaso, o mundo, apelida de "Velho", que motivos tem um cidadão para participar num processo, em que a sua opinião não só não é pedida, como não é desejada ?
Embora sem aderir ao foguetório nacional, desejo, do coração, estar enganado, e faço votos para que a União Europeia possa reforçar-se, de facto, no respeito por todos os países, e povos, que a integram...
Para que os meus netos não tenham de aprender, nos manuais de História Universal, como uma promissora União entre países, e povos, na Europa, foi de vitória em vitória, até á derrota final...